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março 2002



IRÃ

Morte pela seringa na Europa

Diante do fato social do uso de drogas, a repressão tem seus limites. Os países com práticas mais liberais – como a Holanda – e os mais rigorosos – como a Suécia – apresentam taxas de incidência quase similares”


Cédric Gouverneur

Os viciados têm uma taxa de mortalidade 20 a 30 vezes superior à da média. A heroína matou, por exemplo, 43 ingleses e irlandeses no inverno 2000-2001

Marginalização, criminalidade (23% dos detentos franceses já se drogaram com heroína), doenças infecciosas (20% dos usuários são soropositivos na França), overdoses e envenenamentos (de 7 mil a 8 mil mortes todos os anos na Europa)... Dantesca, a visibilidade social da heroína supera amplamente seu consumo, que é relativamente pequeno. Em seu Relatório 2001, o Observatório Europeu das Drogas e Toxicomanias (OEDT) avalia a proporção de “usuários problemáticos” 1 na União Européia da seguinte maneira: de 5 a 8 em cada 1.000 habitantes, na Grã-Bretanha, Itália e Portugal; de 3 a 5, na França, Espanha e Irlanda; e de 2 a 3, na Alemanha, Holanda e Bélgica.

Os viciados têm uma taxa de mortalidade de 20 a 30 vezes superior à da média. A heroína misturada a produtos tóxicos matou, por exemplo, 43 britânicos e irlandeses durante o inverno 2000-2001. Amplamente divulgados, os malefícios da heroína parecem hoje dissuasivos: o consumo está estagnado ou em baixa na maioria dos países europeus, exceto na Irlanda e na Finlândia – na região de Helsinque, até aumentou em 40% em dois anos.

Luta contra as máfias

Os tratamentos de substituição da heroína pela metadona, por exemplo, parecem eficazes: diminuição da criminalidade, melhoria do estado de saúde etc.

“O homem descobriu primeiro o fogo ou a droga?”, é a pergunta de um recente clip de prevenção produzido pelas autoridades francesas, que apresenta homens das cavernas fumando psicotrópicos. Diante do fato social do uso de drogas, a simples repressão tem seus limites: a OEDT observa que “os países que aplicam práticas mais liberais – como a Holanda – e os que têm uma abordagem mais severa – como a Suécia – apresentam taxas de incidência quase similares”. Por outro lado, os tratamentos de substituição para a heroína, à base de metadona, por exemplo, parecem eficazes: “diminuição da criminalidade, melhoria do estado de saúde, inserção social”, segundo a OEDT.

Vêm sendo feitas experiências de receitas à base de heroína, por médicos da Grã-Bretanha, Holanda, Bélgica, Suíça e Alemanha. Em janeiro de 1997, depois de cinco overdoses mortais num único dia em Bremen (Baixa Saxônia), foram os próprios delegados de polícia de dez metrópoles alemãs que pediram aos poderes públicos a distribuição da droga, a fim de reinserir os viciados, controlar a composição dos produtos e vencer as máfias, suprimindo seu mercado. (Trad.: Regina Salgado Campos)

1 Uso por via intravenosa, ou uso por longo tempo ou regular, de opiáceos, de cocaína e de anfetaminas. Essa definição exclui os consumidores ocasionais, assim como os consumidores de ecstasy e de maconha. O relatório de 2001 da OEDT está disponível no endereço: http://annualreport.emcdda.org