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dezembro 2002



GEOPOLÍTICA

Aproveitando o ensejo...

Le Monde diplomatique transcreve, abaixo, alguns trechos do livro ’At Camp David, Advise and Dissent’, de autoria dos jornalistas Bob Woodward e Dan Baltz. A edição de 31 de janeiro de 2002 do jornal ’The Washington Post’ já divulgara estes trechos


Philip S.Golub

“…Condoleeza Rice perguntou se (os Estados Unidos) deveriam planejar uma campanha militar para além do Afeganistão. Neste contexto, a questão do Iraque voltou a ser objeto de discussão (...).

Segundo Paul Wolfowitz, Saddam Hussein era, sem dúvida, responsável pelos ataques do dia 11 de setembro, ao menos indiretamente, e todos deviam admiti-lo

Todos (os participantes) concordam quanto ao fato de que o secretário-adjunto da Defesa, Paul Wolfowitz, era o principal defensor da estratégia iraquiana. Terceiro adjunto de Cheney durante a guerra do Golfo (de 1991), ele havia considerado um erro deixar a campanha terrestre (no Iraque) terminar de modo abrupto e incompleto. O governo de George W. Bush tentara, desde o início, minar Saddam Hussein (…). Rumsfeld e Wolfowitz haviam examinado (antes do 11 de setembro) uma série de opções militares tendo por alvo o Iraque, mas nada fora decidido. (Na reunião de Camp David), Wolfowitz afirmou que Saddam Hussein estava, sem dúvida, na origem do terrorismo e que os ataques do 11 de setembro haviam criado uma oportunidade para atacar (o regime iraquiano). Segundo ele, Saddam Hussein era um perigoso dirigente decidido a obter armas de destruição em massa e, provavelmente, a utilizá-las. Era, sem dúvida, responsável pelos ataques do dia 11 de setembro, ao menos indiretamente, e todos deviam admitir isso.

Em reuniões anteriores, Rumsfeld já levantara a questão iraquiana, mas com menos veemência. Durante a reunião (de Camp David), voltou a perguntar se não seria este o momento certo para atacar o Iraque. Enfatizando que as forças norte-americanas estariam no local e que os Estados Unidos, se quisessem ter credibilidade no que se refere à questão do terrorismo, deveriam de todo modo, num momento ou em outro, enfrentar a questão iraquiana, (sugeriu) que se aproveitasse a oportunidade. Colin Powell emitiu objeções, dizendo ao presidente (…) que era necessário atacar o Iraque no momento certo. Comecemos imediatamente pelo Afeganistão (teria defendido). Teremos, então, fortalecido nossa capacidade para enfrentar sem hesitação o Iraque, admitindo-se que possamos provar que o Iraque tenha desempenhado algum papel (nos atentados do dia 11 de setembro).”

(Trad.: Iraci D. Poleti)