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Sentindo-se depositário do voto de uma parte de seu povo, Ehud Barak quer manter Jerusalém como "eterna capital" de Israel; Arafat considera-se investido, pelos povos muçulmanos, do dever de manter os lugares sagrados do Islã sob proteção árabe
- (17/11/2000)
Quase deu. No mês de junho, a paz no Oriente Médio entre palestinos e israelenses parecia ao alcance da mão. Nos principais pontos de litígio — restituição dos territórios ocupados, Jerusalém Oriental e a questão dos refugiados — parecia ser possível chegar a um compromisso histórico. [1] É claro que se previam, mais da parte dos palestinos que dos israelenses, concessões que os extremistas de ambos os lados imediatamente qualificaram como "inaceitáveis", ou mesmo "sacrilégios". O projeto de acordo, no entanto, e apesar de suas imperfeições, permitia finalmente dar início, sete anos depois de Oslo, a uma autêntica dinâmica de paz. Erradicando a violência da região, após mais de 50 anos de guerras, essa dinâmica garantiria de forma definitiva a legítima aspiração à segurança, por parte de Israel, reconheceria o direito não menos legítimo dos palestinos a viverem num Estado soberano, e permitiria ao conjunto das nações do Oriente Médio que se dedicassem, enfim, ao essencial: o desenvolvimento econômico e social. A essa virtuosa espiral seguiu-se, desde o final de setembro, uma espiral assassina, de uma violência que agora ameaça incendiar toda a região.
Com a paz tão perto, como se tornou possível, subitamente, esse mergulho na atmosfera da guerra? É sabido que as negociações entre Yasser Arafat e Ehud Barak no mês de julho, nos Estados Unidos, permitiram constatar que, irritados com as constantes violações perpetradas pelas autoridades israelenses [2] e empurrados por uma população civil ofendida pelas humilhações da ocupação, os palestinos não se mostraram dispostos a fazer novas concessões. Especialmente no que se refere a Jerusalém Oriental, da qual têm a intenção de fazer a capital de seu futuro Estado. Eles pensavam ter o direito internacional a seu favor, já que a Resolução 242 das Nações Unidas obriga Israel a retroceder para suas fronteiras de antes da guerra de 1967, e portanto a restituir Jerusalém Oriental, conquistada durante esse conflito — e que abrange o conjunto da Cidade Velha, onde ficam os lugares santos das três religiões monoteístas: judaísmo, cristianismo e islamismo. Apesar de lhes caber a soberania, os palestinos ainda aceitavam deixar a Israel o bairro judeu da Cidade Velha e o Muro das Lamentações.
Sentindo-se depositário do voto de uma parte de seu povo, que deseja manter Jerusalém reunificada como "eterna capital" de Israel, Ehud Barak recusou a proposta. Considerando-se investido, pela totalidade dos fiéis e dos Estados muçulmanos, do dever de manter os lugares sagrados do Islã sob proteção árabe, Arafat também não podia ceder.
Esse duplo impasse — em torno de uma questão evidentemente política, mas de tons bastante religiosos — iria levar ao fracasso das negociações. Fracasso que os mais extremistas, de ambos os lados, aplaudiram como uma vitória. Sabiam que chegava a hora do confronto. As últimas tentativas de Barak — propondo que a capital palestina fosse instalada, com o nome de Al-Qods (designação árabe de Jerusalém), a menos de dois quilômetros da Esplanada das Mesquitas, que continuaria sob a tutela (mas não a soberania) palestina — não conseguiram deter a espiral de violência que já estava a ponto de ser desencadeada.
O que se seguiu já é conhecido: a provocação do general Ariel Sharon, que se dirigiu, acompanhado por mil policiais armados, à Esplanada das Mesquitas (Monte do Templo), os protestos dos civis palestinos, a brutalidade desproporcional da repressão, [3] as crianças e adolescentes palestinos abatidos a tiro, o ignóbil linchamento de dois militares israelenses em Ramallah, as expedições assassinas [4] contra árabes israelenses de Nazaré e em outras localidades etc. A desumanidade em ação. Uma regressão política na direção de um conflito étnico-religioso de tipo balcânico, como na Bósnia ou no Kosovo. E ainda com apelos, aqui e ali, por fanáticos de ambos os lados, à "limpeza étnica" e à "divisão das populações", como no Chipre. [5] Volta o desespero aos civis palestinos. E volta o medo na sociedade israelense, uma sociedade traumatizada que, em sua grande maioria, ainda é favorável a um acordo de paz.
Acordo esse que continua indispensável. Superpotência militar totalmente apoiada pela hiperpotência que são os Estados Unidos (e cuja vergonhosa parcialidade a favor dos israelenses os desqualifica como intermediários), Israel vai ter que mostrar justiça. Porque se trata de um jogo desigual: tanto na Cisjordânia quanto em Gaza, existe uma situação colonial clássica, com um colonizador e colonizados. A classe política israelense parece incapaz de avaliar os desafios do pós-sionismo, assim como parece não ter imaginação, nem audácia, nem compaixão. Terá ela a coragem de tomar as necessárias iniciativas? Começar por desmantelar, em Hebron e Gaza, as colônias ilegalmente criadas, quase sempre por fanáticos de extrema-direita super-armados? Abandonar a ilusão de que os palestinos aceitam qualquer coisa porque a correlação de forças lhes é desfavorável? Reconhecer que os palestinos lutam por sua liberdade e independência, e que a ocupação colonial da Cisjordânia e de Gaza — criminosa para com os civis — também é suicida para o próprio futuro do Estado judeu? [6] A geografia e o futuro condenam os dois povos a se entenderem.
Traduzido por Jô Amado.
[1] Ler, de Ignacio Ramonet, "Proche-Orient, l’espoir", Le Monde Diplomatique, junho de 2000.
[2] Após a assinatura dos acordos de Oslo, em 1993, o número de colonos judeus instalados no território palestino ocupado praticamente duplicou, passando de cerca de 100 mil para mais de 200 mil.
[3] A Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas condenou Israel, no dia 19 de outubro, pela "utilização desproporcional da força contra civis inocentes e desarmados" e considerou a atitude das forças de segurança israelenses um "crime de guerra".
[4] N.T.: No texto francês, Ramonet utiliza a palavra ratonnade, expressão pejorativa utilizada por militares franceses que organizavam expedições a aldeias árabes no Norte da África, onde populações inteiras, indefesas, eram chacinadas.
[5] Ler, de Alain Joxe, "Israël entre en guerre civile", Le Monde, 19 de outubro de 2000.
[6] Ler, de Gilles Paris, "La Palestine en miettes", Le Monde, 20 de outubro de 2000.