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UM MUNDO UNIPOLAR?

A aposta política de Vladimir Putin

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Em 22 de setembro, Vladimir Putin declarou que “a Rússia não tem escolha senão participar da coalizão contra o terrorismo”, porém não era o caso de comprometer tropas russas na operação comandada pelos Estados Unidos

Nina Bachkatov - (01/11/2001)

Houve quem concluísse, precipitadamente, que o presidente russo daria carta branca à “cruzada” de Washington contra o terrorismo internacional

A crise internacional desencadeada pelos atentados suicidas em 11 de setembro nas cidades de Nova York e Washington mostrou que o presidente russo, Vladimir Putin, nada tem de impulsivo: consciente dos trunfos, assim como das fraquezas de seu país, foi um dos primeiros a apresentar seus pêsames ao presidente norte-americano, George W. Bush, e a se oferecer para colaborar na luta contra o terrorismo internacional. Houve quem concluísse, precipitadamente, que ele daria carta branca à “cruzada” de Washington contra o terrorismo internacional. Isso significa esquecer que a Rússia não tem motivo algum para entrar de cabeça numa aventura da qual sofreria as conseqüências sem ter o comando da situação.

Na realidade, Putin percebeu de imediato que o mundo mudou no dia 11 de setembro e que a Rússia precisava se adaptar se quisesse preservar a iniciativa. Enquanto a população depositava flores e velas na calçada em frente à embaixada norte-americana, que já fora ponto de encontro de russos denunciando os bombardeios na Sérvia, o presidente se recolhia à residência de verão de Sotchi. Na bagagem, levava os comentários e análises dos últimos dias, o apoio das duas Câmaras do Parlamento e dos grupos políticos, assim como o conteúdo dos contatos feitos com dirigentes políticos do mundo inteiro. Num gesto eminentemente simbólico, a residência que escondera as sucessivas convalescenças do ex-presidente Boris Ieltsin, foi transformada numa versão russa de Camp David. Como seu homólogo norte-americano, o presidente russo percebeu que sua atitude diante da crise representava um teste decisivo para sua carreira política.

O perigo da intervenção direta

Como seu homólogo norte-americano, Vladimir Putin percebeu que sua atitude diante da crise representava um teste decisivo para sua carreira política

A posição russa e seus limites foram definidos em apenas duas intervenções pela televisão. Em 22 de setembro, Putin declarou que “a Rússia não tem escolha senão participar da coalizão contra o terrorismo, pois este só pode ser vencido por uma frente única constituída por todas as forças do mundo civilizado” e que não era o caso de comprometer tropas na questão. Dois dias depois, na véspera de uma visita à Alemanha bastante divulgada pela imprensa, Putin anunciou os “cinco pontos” da participação russa na coalizão internacional coordenada pelos norte-americanos contra o terrorismo1 . Cada palavra fora cuidadosamente pesada para não fechar nenhuma porta e possibilitar uma posição de recuo, caso os Estados Unidos agissem de maneira exorbitante e unilateral.

No pacote, Moscou oferecia o direito de usar seu espaço aéreo para vôos humanitários, mas principalmente informações e a sua experiência do território afegão. Tanto uma coisa quanto a outra levaram-no a recomendar prudência e a privilegiar a ajuda externa, considerada suficiente para que os afegãos se libertassem dos talibans. Os especialistas russos estão convencidos de que qualquer intervenção externa direta reforçará a união dos afegãos em torno do mulá Omar, podendo, inclusive, levar a Aliança do Norte a se insurgir contra os “intrusos” 2. Eles recomendam moderação nos meios empregados e sugerem um alerta permanente para as conseqüências políticas a longo prazo de operações militares que ultrapassem os limites dos alvos visados. Por fim, temem uma reação de solidariedade nos países muçulmanos membros da coalizão, no caso de operações criminosas contra civis3.

O “mundo do século XXI”

Suas palavras foram cuidadosamente pesadas para possibilitar uma posição de recuo, caso os Estados Unidos agissem de maneira exorbitante e unilateral

Em troca de sua cooperação, a Rússia obteve o apoio político do Ocidente na guerra que trava na Chechênia – um gesto importante, pois, em termos de prioridades, a Chechênia vem bem antes do Afeganistão. Os ocidentais reconheceram o papel do fundamentalismo religioso e do terrorismo internacional no conflito da Chechênia; e também prometeram fechar as torneiras financeiras que alimentam os combatentes. Moscou chegou até a se dar o luxo de fechar um contrato de venda de equipamentos militares com o Irã, certo de que os Estados Unidos optariam pelo silêncio para não quebrar a sacrossanta aliança. Segundo um jornal russo, os equipamentos permitirão à Teerã “controlar de fato os oleodutos do golfo Pérsico4”.

Porém, os Estados Unidos acenaram com a possibilidade de compensações financeiras, propondo seu apoio à rápida entrada da Rússia na Organização Mundial do Comércio (OMC) e o reconhecimento, por parte desta, da economia russa como uma economia de mercado. Muita coisa para ser rejeitada, porém coisas secundárias: Moscou quer, acima de tudo, capitalizar politicamente uma crise internacional que vê como uma reviravolta completa do equilíbrio estratégico, para participar como um dos atores principais na criação do “mundo do século XXI”. No palco europeu, isso significa uma integração acelerada da Rússia na União Européia e, principalmente, novos termos de cooperação com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

A Rússia na “Otan que manda”

Os especialistas russos estão convencidos de que qualquer intervenção externa direta reforçará a união dos afegãos em torno do mulá Omar

O sinal não veio da União Européia, como os Russos esperavam (ainda que sem grandes ilusões), e sim da Otan. Logo após os atentados, sob a pressão de seus governos, os embaixadores da organização aprovaram por unanimidade a aplicação do artigo 5 do Tratado, que dispõe que um ataque contra um dos países membros é um ataque contra todos. Considerando o ataque terrorista como um ato de guerra, a Otan transformava-se, sem aprofundar o debate, de uma organização de defesa em uma organização de segurança. Uma vitória para os norte-americanos, mas também para os russos que, por razões distintas, desejavam o mesmo.

Para a Rússia, a partir do momento em que ela é parte de uma coalizão conduzida pelos Estados Unidos e que o secretário-geral da Otan reconhece que o terrorismo é uma questão de segurança, o que importa é encontrar novos mecanismos que a coloquem diretamente no centro das decisões da Organização. Isso coloca em uma nova perspectiva a questão de estender a ex-países comunistas o acesso à Organização, coisa que a Rússia jamais aceitou. Esses países serão sem dúvida membros da Otan, mas de uma outra Otan. Há quem ache até que a entrada da Rússia na coalizão “criaria novas condições de segurança”. É o caso de Vladimir Lukin, ex-embaixador da Rússia em Washington e atual vice-presidente da Duma. Por outro lado, se há mudanças na Otan, deverá também haver na União Européia, pois não é possível a coexistência, no palco euroasiático, de três entidades – a União Européia com sua estrutura militar, a Otan e a Rússia – sem que haja uma coordenação direta entre elas.

Objetivo é destruir o Taliban

Os militares russos temem uma reação de solidariedade nos países muçulmanos membros da coalizão, no caso de operações criminosas contra civis

Contudo, esses avanços não impedem que os russos tenham dúvidas quanto à finalidade da coalizão e à capacidade dos Estados Unidos de administrar uma crise de múltiplos aspectos.

Enquanto o presidente norte-americano adota uma postura de cowboy ou de cruzado para dinamizar o patriotismo de um povo que desconhece o que é conviver com a guerra em seu próprio território, o presidente russo fala a um país em que cada geração conheceu massacres e devastação, inclusive os que ocorrem atualmente na Chechênia. Ora, Moscou desconfia da mudança de política de Washington e da versatilidade da opinião pública norte-americana. Não acha que o povo norte-americano esteja disposto a ver seus soldados voltarem da Ásia ou de qualquer outro lugar em caixões. Se algo der errado no ataque ao Afeganistão, ou se as operações forem suspensas no meio do caminho, a Rússia não poderá, como podem os Estados Unidos, se retirar para o outro lado dos oceanos, após ter multiplicado desgastes políticos sem “resolver” o problema.

É claro que o interesse de Moscou é que se destrua o Taliban – muito mais do que o próprio Bin Laden – para poder contar, na sua fronteira Sul, com um regime estável e, se possível, democrático. Mas receia que Washington estenda sua cruzada a outros países como o Iraque, a Síria, o Líbano e a Líbia, que considera bases do terrorismo internacional.

Pondo os pés no Uzbequistão

Também aí se manifesta uma forte resistência à utilização do espaço aéreo russo (mesmo para operações humanitárias). A oposição imediata dos militares russos a essa utilização não é só uma questão de rigidez. Temem que o presidente russo esteja subestimando a complexidade técnica e os custos para tornar seus equipamentos de detecção compatíveis com os da Otan e da Comunidade dos Estados Independentes (CEI), caso o presidente não restrinja o uso do espaço aéreo russo aos aviões civis.

Em troca da cooperação, a Rússia obteve o apoio político ocidental na guerra da Chechênia – em termos de prioridades, mais importante que o Afeganistão

A questão da Ásia Central é ainda mais delicada. Logicamente, Putin teve de aceitar o que não podia impedir. Insistiu com os presidentes da Ásia Central para que “agissem no âmbito da CEI e utilizassem as instituições para consultas e decisões”. Mas, a partir de 24 de setembro, os presidentes das cinco repúblicas ofereceram seus serviços aos norte-americanos sob uma base bilateral. E, em 5 de outubro, quando cerca de mil soldados norte-americanos voaram para o Uzbequistão, os Estados Unidos realizaram dois sonhos ao mesmo tempo: impor o país como líder regional, como contrapeso à influência de Moscou; e pôr os pés na Ásia Central, após dez anos de esforços, em favor da coalizão contra o terrorismo.

Mudar a esfera de dependência

Moscou e os vizinhos do Uzbequistão temem que o sonho vire um pesadelo. Ao instalar centros de informação e de escuta às portas da Rússia, do Irã e da China, os norte-americanos colocam em risco o equilíbrio geoestratégico de toda uma região bastante delicada. Em países frágeis, como o Uzbequistão e o Tadjiquistão, a instalação de tropas norte-americanas a longo prazo pode levar a uma radicalização semelhante à que ocorreu na Arábia Saudita desde a Guerra do Golfo, com a permanência de 7 mil soldados norte-americanos. Isso acabaria por provocar o que se deseja combater.

Até o momento, a versão oficial que prevalece em Moscou é a de que os Estados Unidos não querem ir longe demais, e que tanto o presidente Bush como o secretário-geral da Otan se comprometeram a não instalar tropas na Ásia Central por tempo prolongado. De todo modo, diz-se que os países da Ásia Central e a Rússia continuarão unidos por uma série de tratados (econômicos, alfandegários, militares, antiterrorismo), o que nenhum dos signatários parece disposto a revelar.

Moscou quer capitalizar politicamente uma crise internacional para participar como um dos atores principais na criação do “mundo do século XXI”

Na realidade, por trás da unanimidade do princípio da participação russa na coalizão contra o terrorismo, há a convicção de que não será possível parar no meio do caminho e que, inevitavelmente, “a levará a b e b levará a c”. Paralelamente, como lembra Irinia Zviagelskaïa, orientalista e diretora do Instituto de Estudos Estratégicos de Moscou, um grande número de russos acredita que persiste o espírito da guerra fria, apesar das declarações oficiais. Para se convencer disso, basta ler os inúmeros editoriais norte-americanos que, muito rapidamente, voltaram à idéia fixa de que é preciso aproveitar qualquer ocasião para limitar a influência russa no espaço pós-soviético. O clichê, amplamente veiculado na União Européia, consiste em afirmar a necessidade de “defender a independência” dos novos Estados, quando na verdade se trata, quase sempre, e principalmente em matéria econômica, de mudar a esfera de dependência.

Os dilemas de Moscou

Quem duvida das mentiras de que os ocidentais são capazes em nome do velho princípio de que “os inimigos dos meus inimigos são meus amigos”, não precisa evocar a ajuda aos mujahidines afegãos ou ao incentivo a grupos religiosos estrangeiros como forma de incentivar o “pluralismo” nas regiões muçulmanas da extinta URSS. Menos de uma semana antes dos atentados, senadores norte-americanos visitavam a Ásia Central. Surpreenderam seus homólogos quirguizes, incitando-os a seguir o modelo afegão para defender cada centímetro de seu território, comparando o combate dos norte-americanos contra os colonizadores britânicos ao que o Quirguistão deveria conduzir contra a Rússia5.

Se os russos temem que seus interesses sejam sacrificados quando deixarem de coincidir com os do Ocidente, é também devido ao traumatismo criado pela experiência iugoslava. Moscou não quer ser uma “diplomacia Kleenex”, que é jogada fora após ter sido usada: receia que, após tirar proveito de sua colaboração, Washington a deixe de lado após ter rompido com seus antigos aliados. “Se a Rússia se unir ao combate internacional contra o terrorismo, será obrigada a apoiar o Ocidente e, conseqüentemente, abalar os laços tradicionais que mantém com os países árabes; se se mantiver à distância, isso significa que não terá problemas com os árabes, mas entrará inevitavelmente em conflito com o Ocidente”, explicava Andrei Fedorov, um dos diretores do eminente Conselho de Política Externa e de Defesa6. No mesmo dia, um outro jornal russo, Vremia Novostei, dizia que uma aliança com o Ocidente “morreria junto com Bin Laden”: os caminhos de Moscou e do Ocidente tornariam a separar-se7.

Sai “mundo multipolar”, entra “globalização”

Quando soldados norte-americanos foram para o Uzbequistão, os EUA realizaram dois sonhos: impor o país como líder regional e pôr os pés na Ásia Central

No entanto, apesar de tudo, a Rússia pegou a bola no ar. Seus diplomatas perceberam, desde o início, que os acontecimentos de 11 de setembro prenunciavam um reordenamento geopolítico. Manifestaram-se contra os equívocos do ministro russo das Relações Exteriores e contra as declarações contraditórias de militares e civis, assustados com a idéia de que Moscou pudesse ficar à margem do processo. A atitude do presidente russo os tranqüilizou de imediato, principalmente a decisão de refazer completamente o discurso que iria pronunciar no Parlamento alemão. A grande maioria da população aprovou a decisão e a imprensa deu provas de um profissionalismo inusitado, ao se recusar a fazer as matérias de cunho partidário que vinha fazendo desde a chegada de Putin ao poder.

As dificuldades inerentes à Rússia, a complexidade da tarefa e as restrições descritas acima explicam a insistência em favor de uma “instrumentalização” da coalizão que garantisse seu lugar no futuro. Ao mesmo tempo, Moscou considera o terrorismo internacional uma doença provocada pela globalização selvagem, à qual pretende pôr regras. É interessante observar que, desde os atentados, se tenha passado a escutar mais freqüentemente a palavra “globalização” que a locução “mundo multipolar”, que antes era o centro do pensamento russo.

Sem dúvida, o Kremlin continuará navegando à deriva, apresentando-se como a voz da sabedoria diante do extremismo dos Estados Unidos. Essa atitude impõe-se pela relativa fraqueza de seu país, pela sua história, pela psicologia de seu povo e pela complexidade de suas relações com o mundo árabe oriental, que de modo algum devem ser sacrificadas com a nova coalizão. Desde que foram lançadas as primeiras bombas em 7 de outubro, bastou ao presidente russo reforçar seu apoio à luta contra o terrorismo internacional, e a partir daí esperar seus desdobramentos...
(Trad.: Marinilzes Mello)

1 - Troca de informações, permissão de sobrevoar o espaço aéreo russo para missões humanitárias, contribuição para eventuais operações de resgate mesmo no Afeganistão, utilização de bases militares na Ásie Central e reforço da ajuda às forças da Aliança do Norte, dirigida pelo presidente Burhanuddin Rabbani.
2 - Em 25 de setembro de 2001, combatentes da Aliança do Norte declararam à ORT (Rádio e Televisão Francesa) que “qualquer tropa estrangeira que entrar sem a bandeira das Nações Unidas no território controlado por eles, será recebida a bala”.
3 - Exemplo disso é a declaração de Yuri Vorontsov, ex-embaixador em Cabul e em Washington, ao telejornal Vremia Novostei, Moscou, 27 de setembro de 2001.
4 - Nezavissimaya Gazeta, Moscou, 4 de outubro 2001.
5 - Delo No, Bishek, 5 setembro de 2001.
6 - Nezavissimaya Gazeta, 14 de setembro de 2001.
7 - Vremia Novostei, 14 de setembro de 2001.




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