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EDITORIAL

A nova cara do mundo

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Acabaram-se as dúvidas: o mundo inteiro admitiu explicitamente a supremacia norte-americana. Inúmeros dirigentes precipitaram-se para Washington, oficialmente para expressar o seu pesar mas, na realidade, para demonstrar uma fidelidade incondicional...

Ignacio Ramonet - (01/12/2001)

Passados três meses dos acontecimentos do dia 11 de setembro, já é tempo de se fazer um primeiro balanço de tudo o que mudou na geopolítica planetária e irá afetar as nossas vidas. Dando seqüência ao ciclo iniciado em 9 de novembro de 1989, com a queda do Muro de Berlim, um novo período histórico se processa, indiscutivelmente, a partir de agora.

Tudo começou naquela fatídica terça-feira, 11 de setembro, com a descoberta de uma nova arma: um avião de carreira, com os tanques repletos de combustível, transformado em um míssil de destruição. Até então desconhecida, essa monstruosa bomba incendiária atinge os Estados Unidos da América de surpresa, por várias vezes e ao mesmo tempo. Tamanha foi a violência do choque que o mundo inteiro ficou estarrecido.

Bater forte, bater nos espíritos

Dando seqüência ao ciclo iniciado com a queda do Muro de Berlim (1989), um novo período histórico se processa, indiscutivelmente, a partir de agora

De saída, o que muda é a própria percepção do terrorismo. Fala-se, imediatamente, de “hiperterrorismo1 ”, querendo com isso dizer que nada será como antes. Um limite – impensável, inconcebível – acabava de ser superado. O ataque foi de tamanhas proporções que não tinha paralelo algum. A ponto de nem se saber como o chamar. Atentado? Ataque? Ato de guerra? Os limites da violência extrema parecem ultrapassados. E não há como voltar atrás. Todo mundo sabe que os crimes de 11 de setembro, inaugurais, se irão repetir2 . Talvez em outro lugar, em circunstâncias distintas, mas se repetirão. A história das guerras ensina que sempre que surge uma nova arma, por mais monstruosos que sejam seus efeitos, ela sempre volta a ser empregada. Foi o caso do uso de gás em combate, a partir de 1918, assim como a destruição de cidades por bombardeio aéreo, a partir de Guernica, em 1937. E ainda é, aliás, o pavor latente, cinqüenta e seis anos após Hiroshima – o terror nuclear...

A agressão de 11 de setembro revela por parte de seus autores, simultaneamente, uma crueldade fantástica e um altíssimo grau de sofisticação. Quiseram bater forte, bater no centro vital, bater nos espíritos. E tentaram produzir pelo menos três tipos de efeitos: os danos materiais, o impacto simbólico e o choque na mídia.

Os danos materiais são sobejamente conhecidos: a destruição de cerca de 4 mil vidas humanas, as duas torres do World Trade Center, um setor do Pentágono e, provavelmente, se o quarto avião não tivesse caído na Pensilvânia, a Casa Branca. Mas toda essa destruição não constitui, aparentemente, o principal objetivo. Pois os aviões poderiam ter sido dirigidos, por exemplo, contra centrais nucleares, ou barragens, provocando uma devastação apocalíptica e dezenas de milhares de mortos3 ...

O narcisismo de Osama bin Laden

Os limites da violência extrema parecem ultrapassados. E não há como voltar atrás. Todo mundo sabe que os crimes de 11 de setembro se irão repetir

O segundo objetivo era o de abalar as imaginações, denegrindo, ofendendo e degradando os principais signos da força dos Estados Unidos – os símbolos da sua hegemonia imperial em termos econômicos (o World Trade Center), militar (o Pentágono) e política (a Casa Branca).

Menos evidente que os dois primeiros, o terceiro objetivo dizia respeito à mídia. Numa espécie de golpe de Estado televisivo, Osama bin Laden – o suposto cérebro da agressão – procurou ocupar as telinhas, impondo-lhes suas imagens, as cenas de sua obra de destruição. Dessa forma, assumiu o controle, em detrimento do governo norte-americano4 , de todas as telas de televisão dos Estados Unidos (e, na prática, do mundo inteiro). Pôde, assim, revelar, demonstrar a insólita vulnerabilidade norte-americana, exibir na intimidade dos lares sua própria força maléfica, e dirigir, pessoalmente, a coreografia de seu crime.

Um tipo de narcisismo completado pela outra imagem dominante do início desta crise: a do próprio Bin Laden. Com uma caverna afegã ao fundo, o auto-retrato de um homem de olhar curiosamente meigo... Amplamente desconhecido até 11 de setembro, essa imagem fez dele, de um dia para o outro, o homem mais célebre do mundo.

Reivindicações pouco claras

Desde que um dispositivo técnico global permite a transmissão de imagens ao vivo de qualquer lugar do planeta, podia-se esperar o surgimento de um “messianismo pela mídia”. O “caso Diana”, especificamente, já nos havia ensinado que os meios de comunicação, muito mais numerosos que antes, funcionam, na realidade, mais unificados e uniformizados do que nunca. E também nos havia ensinado que, um belo dia, tudo isso serviria aos objetivos de algum tipo de profeta eletrônico5.

Os autores do ataque de 11 de setembro tentaram produzir pelo menos três tipos de efeitos: os danos materiais, o impacto simbólico e o choque na mídia

Bin Laden foi o primeiro. Por meio de sua agressão de 11 de setembro, teve acesso a todas as telas do mundo e pôde divulgar sua mensagem planetária. Gênio do mal ou um moderno Dr. Mabuse para alguns, Bin Laden conseguiu impor uma imagem de herói aos olhos de milhões de pessoas, principalmente no mundo árabe-muçulmano. Mais que um herói: um messias, “aquele que, designado e enviado por Deus, vem libertar a humanidade do mal”...

E que, com esse objetivo e da forma mais paradoxal que possa parecer, não hesita em inventar um terrorismo de novo tipo6 . Todo mundo percebe que, de agora em diante, estamos diante do terrorismo global. Global em sua organização, mas também em seu alcance e em seus objetivos. E que não reivindica coisas muito claras. Nem independência, nem um território, nem a concessão de políticas concretas, nem a instauração de um tipo específico de regime. A própria agressão de 11 de setembro não foi oficialmente reivindicada até hoje. Essa nova forma de terror manifesta-se como uma espécie de castigo, ou de punição, a um “comportamento geral”, pouco preciso, por parte dos Estados Unidos, e, de forma genérica, dos países ocidentais.

Comoção e solidariedade

Tanto o presidente George W. Bush, falando – antes de se retratar – em “cruzada”, quanto Osama bin Laden, descreveram o confronto em termos de choque de civilizações, e até guerra de religiões: “O mundo dividiu-se em dois campos”, afirmou Bin Laden. “Um, sob a bandeira da cruz, como disse o chefe dos hereges, Bush, e o outro sob a bandeira do islã7 .”

Com todas as telas de televisão dos EUA (e, na prática, do mundo inteiro) sob seu controle, Bin Laden dirigiu, pessoalmente, a coreografia de seu crime

Atacados pela primeira vez em seu próprio território8 , no santuário de sua própria metrópole, e de uma forma particularmente sangrenta, os Estados Unidos decidiram reagir abalando o equilíbrio da política internacional. Temendo uma ação vingativa precipitada e impulsiva, o mundo ficou, num primeiro momento, com a respiração suspensa. No entanto, por influência de Colin Powell, secretário de Estado – que se revelou a pessoa mais lúcida do governo norte-americano9 – os Estados Unidos conseguiram manter o sangue frio. E souberam aproveitar-se da comoção internacional e da solidariedade manifestada por quase todos os governos (com a exceção, notável, do Iraque) para reforçar sua hegemonia planetária.

Comportamento de soberano

Já se sabia, desde dezembro de 1991 e do desaparecimento da União Soviética, que os Estados Unidos eram a única hiperpotência. Porém, aqui e ali, alguns recalcitrantes – a Rússia, a China, a França, de certa forma, etc. – hesitavam em reconhecê-lo. Os acontecimentos de 11 de setembro varreram as dúvidas: Moscou, Pequim, Paris e muitos outros admitiram explicitamente a supremacia norte-americana. Inúmeros dirigentes – entre eles, e em primeiro lugar, o presidente francês, Jacques Chirac – precipitaram-se para Washington, oficialmente para expressar o seu pesar, mas na realidade para demonstrar uma fidelidade incondicional... Todos compreenderam que aquele não era um momento para subterfúgios. “Quem não estiver conosco, está com os terroristas”, advertira Bush, acrescentando que se lembraria dos que, naquela hora específica, tivessem ficado passivos...

Uma outra imagem prevalece: a do próprio Osama bin Laden. Com uma caverna afegã ao fundo, o auto-retrato de um homem de olhar curiosamente meigo...

Uma vez constatada essa fidelidade universal – inclusive a da Organização das Nações Unidas (ONU) e a da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) –, Washington comportou-se de forma soberana, ou seja, sem dar a mínima importância aos conselhos ou desejos dos países reunidos. A coalizão constituída obedeceu a uma geometria variável. Coube sempre a Washington escolher a parceria, determinando de modo unilateral a missão que lhe cumpria e não deixando qualquer margem de manobra. “A participação da Europa nesta guerra”, avaliou um comentarista norte-americano, “dá-se em bases unilaterais que pressupõem a clara aceitação de uma única autoridade: o comando norte-americano10 .”

As expectativas de Bin Laden

E não somente na área militar. Na da informação, a “guerra invisível”, mais de cinqüenta países também puseram seus serviços às ordens da Central Intelligence Agency (CIA) e do Federal Bureau of Investigations (FBI). Pelo mundo afora, mais de 360 suspeitos foram detidos, acusados de manter vínculos com a rede Al-Qaida e com Bin Laden11 .

Se a supremacia dos Estados Unidos já era grande, agora é esmagadora. As outras potências ocidentais (França, Alemanha, Japão, Itália e até a Grã-Bretanha) fazem, a seu lado, figura de anões. A prova mais gritante do impressionante poder de intimidação que exercem os Estados Unidos foi dada a partir do dia 11 de setembro.

Ao mandar assassinar, no dia 9 de setembro, o comandante Massoud, chefe militar da Aliança do Norte no Afeganistão, Bin Laden acreditava eliminar um trunfo decisivo de que Washington se poderia servir após os atentados. Os Estados Unidos – pensou – deixariam de poder contar com o apoio da Aliança do Norte. Se insistissem em fazê-lo para derrubar o regime dos taliban, seu protetor, iriam esbarrar no Paquistão, uma potência militar temível, com 150 milhões de habitantes e de posse de armamento nuclear. Islamabad jamais aceitaria – pensava Bin Laden – a aniquilação do regime dos taliban, através dos quais conseguira realizar uma ambição ancestral: controlar o Afeganistão, reduzindo-o, na prática, a um protetorado.

Militares russos perplexos

Se a supremacia dos Estados Unidos já era grande, agora é esmagadora. As outras potências ocidentais fazem, a seu lado, figura de anões

Mais ao norte, a Rússia, estremecida com Washington em função da profunda discordância em torno do projeto, ambicionado pelo presidente Bush, do escudo antimísseis, também não iria colaborar com os norte-americanos nem lhes ofereceria facilidade alguma junto a seus aliados da Ásia Central, o Uzbequistão e o Tadjiquistão. De acordo com esse raciocínio, cujas características são claras, os Estados Unidos deveriam resignar-se, após o dia 11 de setembro, a bombardear de longa distância, com a ajuda de mísseis de cruzeiro. O que poderia ser uma resposta espetacular, mas sem grandes conseqüências...

Como demonstraram os fatos que se seguiram, Bin Laden estava completamente equivocado. Em menos de 24 horas, fortemente pressionado entre ajudar os Estados Unidos ou assumir riscos consideráveis na área estratégica prioritária – a questão da Caxemira, a rivalidade com a Índia e a detenção da arma nuclear – o alto comando paquistanês não hesitou. Sacrificou, como se sabe, o Afeganistão...

Quanto à Rússia, também ela não teve quaisquer dúvidas. No próprio 11 de setembro, foi Vladimir Putin que tomou a iniciativa de se comunicar com Bush, expressando-lhe a sua solidariedade. E esta foi tão longe na Ásia Central que a hierarquia militar ficou estupefata. Atualmente, até se discute a possível entrada da Rússia para a Otan12 ...

A segurança da globalização

Devido à evidente vulnerabilidade, Washington insiste na urgência de que seja criado o que se poderia chamar o aparelho de segurança da globalização

Essa nova atitude da Rússia significa, concretamente, que já não existe, em escala planetária, qualquer possibilidade de se formar uma coalizão militar capaz de se opor aos Estados Unidos. O domínio militar norte-americano é absoluto. A “punição” que vêm infligindo, desde 7 de outubro, ao Afeganistão, bombardeando-o noite e dia, representa uma advertência pavorosa a todos os países do mundo. Quem se opuser aos Estados Unidos se verá sozinho, contra eles, sem qualquer aliado, e exposto a sofrer bombardeios que o mandem de volta à idade da pedra... Uma lista dos eventuais próximos “alvos” foi publicamente divulgada nas páginas dos jornais norte-americanos: o Iraque, o Irã, a Síria, o Iêmen, o Sudão, a Coréia da Norte...

Uma outra lição do pós-11 de setembro é a de que a globalização prossegue e se afirma como a principal característica do mundo contemporâneo. Mas a atual crise revelou sua vulnerabilidade. É por isso que os Estados Unidos insistem na urgência de que seja criado o que se poderia chamar o aparelho de segurança da globalização. Com a adesão da Rússia, a entrada da China para a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o pretexto da luta mundial contra o terrorismo – que permite restringir as liberdades e o perímetro da democracia por toda parte13 – parecem existir atualmente condições para que esse dispositivo global de segurança seja rapidamente concretizado e confiado, sem dúvida, à nova Otan14 .

A proliferação de organizações parasitas

Atualmente, quem se opuser aos Estados Unidos se verá sozinho e exposto a sofrer bombardeios que o mandem de volta à idade da pedra...

Entretanto, há vozes discordantes, que atribuem à globalização liberal, pelo menos em parte, a responsabilidade pelos fatos do dia 11 de setembro. Por um lado, por ter ela agravado as injustiças, as desigualdades e a pobreza em escala planetária. Reforçando, dessa forma, o desespero e a raiva de milhões de pessoas dispostas a se revoltar ou, no mundo árabe-muçulmano, a aderir a grupos islamistas radicais – como a Al-Qaida – que apelam ao uso da violência extrema.

Enfraquecendo os Estados, desprezando a política e pondo abaixo as regulamentações, a globalização incentivou a proliferação de organizações de estruturas moles, não hierárquicas, não verticais, reticulares. Tanto as empresas globais quanto as ONGs, por exemplo, souberam aproveitar-se desse fato novo, multiplicando-se. Mas também proliferaram, nessas mesmas condições, organizações parasitas, aproveitando-se de maneira caótica desses espaços livres: máfias, redes de delinqüência, todo tipo de organizações criminosas, seitas e grupos terroristas15 .

A hora das empresas-Estado

A Al-Qaida é uma organização perfeitamente adaptada à era da globalização, com suas ramificações multinacionais, suas redes financeiras, suas conexões com a mídia

Nesse sentido, a Al-Qaida é uma organização perfeitamente adaptada à era da globalização, com suas ramificações multinacionais, suas redes financeiras, suas conexões com a mídia e recursos de comunicação, suas redes de abastecimento, seus pólos humanitários, seus meios de propaganda, suas filiais e sub-filiais...

Ao longo de sua história, o mundo conheceu cidades-Estado (Atenas, Veneza), regiões-Estado (na época feudal) e nações-Estado (durante os séculos XIX e XX), mas, com a globalização, surge agora a rede-Estado, e até o indivíduo-Estado, do qual Osama bin Laden é o primeiro exemplo evidente. Embora, pelo menos por enquanto, ele ainda tenha necessidade – como um bernardo-eremita precisa de uma concha16 – de um Estado vazio (a Somália, primeiro, agora o Afeganistão) para o ocupar, colocando-o a serviço de suas ambições.

Se a globalização incentiva isso hoje, amanhã incentivará o surgimento de empresas-Estado que, como Bin Laden, ocuparão um Estado oco, vazio, desestruturado, à mercê da desordem endêmica, para o utilizar para seus propósitos. Nesse sentido, Osama bin Laden terá sido, de alguma forma, um precursor apavorante.
(Trad.: Jô Amado)

1 - Ler, de François Heisbourg, Hyperterrorisme: la nouvelle guerre, ed. Odile Jacob, Paris, 2001; e também, de Pascal Boniface, Les Guerres de demain, ed. Seuil, Paris, 2001.
2 - Como deixar de se perguntar, após o dia 11 de setembro, se tem sentido prosseguir com a construção do futuro super-Airbus gigante, uma aberração ecológica, quando se sabe que, nas mãos de um piloto ensandecido, ele constituirá uma arma apavorante?...
3 - Aliás, ficou-se sabendo a partir de então que nem as centrais nucleares, nem as barragens, são construídas à prova de aviões-bomba...
4 - Washington compreendeu rapidamente a importância desse desafio e tentou revidar – em nossa opinião, de maneira equivocada –, proibindo imagens dos corpos das vítimas para não presentear os autores da agressão com o prazer de contemplarem o aspecto mais trágico da vulnerabilidade norte-americana.
5 - Ler La Tyrannie de la communication, principalmente o capítulo “Messianisme médiatique”, col. Folio Actuel nº 92, ed. Gallimard-Galilée, Paris, 2001.
6 - Ler, de Jean Baudrillard, “L’esprit du terrorisme”, Le Monde, 3 de novembro de 2001.
7 - Le Monde, 3 de novembro de 2001.
8 - Pearl Harbour (7 de dezembro de 1941) ficava situado no Havaí, que à época ainda era uma colônia dos Estados Unidos.
9 - Ler, de Paul-Marie de la Gorce, “Os objetivos de Washington”, Le Monde diplomatique, novembro de 2001.
10 - International Herald Tribune, Paris, 21 de novembro de 2001.
11 - International Herald Tribune, Paris, 24 de novembro de 2001.
12 - International Herald Tribune, Paris, 24 de novembro de 2001.
13 - “O Estado de direito terminou no instante seguinte ao dia 11 de setembro, nos Estados Unidos e na Europa”, declarou Freimut Duve, Le Monde, 7 de novembro de 2001; ler também, de de Patti Waldmeir e Brian Groom, “In liberty’s name”, Financial Times, Londres, 21 de novembro de 2001.
14 - International Herald Tribune, 21 de novembro de 2001.
15 - Ler, de Ignacio Ramonet, Geopolítica do caos, col. Folio Actuel nº 67, ed. Gallimard-Galilée, Paris, 2000. O livro foi publicado no Brasil pela editora Vozes.
16 - N.T. O bernardo-eremita é um tipo de caranguejo, desprovido de carapaça, e que ocupa as conchas vazias de algumas espécies de caramujos marinhos.




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