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O Líbano pós-11 de setembro

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Em uma dúzia de campos-gueto do pós-guerra civil libanesa, os refugiados palestinos não perdem um episódio da Intifada. Cada casa fica permanentemente ligada à televisão: as imagens, implacáveis, divulgam diariamente a realidade brutal da repressão

Marina da Silva - (01/01/2002)

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De repente, o silêncio daquela noite de Ramadã foi quebrado pelo som abafado das metralhadoras automáticas. Gritos e cantos parecem sair de uma só voz, como uma bandeira batendo e ecoando pelas ruas principais do campo. A notícia correu de porta em porta e empurrou crianças e adultos, homens e mulheres, juntos, para fora das casas miseráveis. Em Jerusalém, uma nova operação kamikaze atingiu os israelenses neste 1º de dezembro. Em Beddawi, um pequeno campo de refugiados no norte do Líbano, Nabil se alegra, junto com a família, pois esta noite a morte já não é só do lado dos palestinos. “Nós assistimos diariamente à liquidação dos nossos irmãos numa indiferença total. Os palestinos sacrificam suas vidas há mais de cinqüenta anos, sob todas as formas, e isso não vai parar. Quando você sente que tudo está contra você, sente também que só pode contar com você, que só tem o próprio corpo. É isso que guia a Intifada.”

Do norte ao sul do Líbano, em uma dúzia de campos-gueto do pós-guerra civil libanesa, abandonados por todos, os palestinos não perdem um episódio da Intifada/i>. Cada casa fica permanentemente ligada à televisão, e as imagens, principalmente das emissoras Al-Manar e Al-Jazira1 , são implacáveis e sem concessões, divulgando diariamente a realidade brutal da repressão, transmitindo a recusa de justiça e exacerbando a solidariedade. Os campos, onde o nível de vida era considerado – antes da Intifada – inferior ao de Gaza, organizam importantes coletas para apoiar a Intifada.

Os provocadores pós-11 de setembro

Os campos de refugiados, onde o nível de vida era considerado inferior ao da Faixa de Gaza, organizam importantes coletas para apoiar a Intifada

Por meio dos “ciber-cafés”, a Internet colocou em rede, de maneira fulminante e eficaz, os palestinos que vivem no interior e os do exílio. “As relações nunca foram tão próximas”, afirma Abu Ali Hassan, responsável por Ein el-Hilweh, o principal campo das vilas de Saïda. Com seus 70 mil habitantes, é um bom indicador do estado de espírito dos palestinos. As ruazinhas permanecem cheias. “Com o nosso sangue, com a nossa alma, nós te vingaremos, Abu Ammar (Arafat)”, declamam alguns jovens em manifestações de denúncia da guerra iniciada por Ariel Sharon, as quais reúnem também alguns militantes do Fatah, armados de fuzis, e estudantes.

A situação ficou mais tensa a partir de 11 de setembro. Granadas foram jogadas várias vezes em cima de soldados do exército libanês de plantão nos pontos de controle, levando carros blindados a cercarem o campo. “Esses atos só podem vir de provocadores e servem apenas aos israelenses. Não temos nenhum motivo para nos confrontar com o Estado libanês, que tomou posição contra a ocupação e a favor da Intifada”, diz, indignado, Hassan.

A data sagrada da libertação

Perto de Tiro, no campo de Rashidieh, o mais próximo da Palestina, mas também um dos mais desprovidos e isolados, Adeel, um jovem militante da Frente Popular para a Libertação da Palestina, considera que, se o 11 de setembro afetou todas as relações internacionais, “quem paga o preço são principalmente os palestinos. Isso cria uma confusão entre a luta legítima contra a ocupação e o terrorismo. Ora, para nós, a luta contra a ocupação não é apenas um direito, é um dever.”

Uma posição que é partilhada por toda a classe política e a opinião pública libanesas, que protestaram quando os Estados Unidos colocaram o Hezbollah na lista das organizações terroristas e pediram o congelamento de suas contas. O Hezbollah é um partido legal, com uma representação forte no Parlamento e profundamente inserido na vida pública, gozando de infra-estruturas e de redes populares únicas. Mesmo contestado, ou politicamente combatido, é respeitado por sua eficiência e, sobretudo, por seu papel na resistência contra a ocupação israelense no Sul. Seu afastamento da vida pública foi objeto de críticas unânimes, inclusive por parte do patriarca maronita, monsenhor Sfeir.

Por meio dos “ciber-cafés”, a Internet colocou em rede, de maneira fulminante e eficaz, os palestinos que vivem no interior e os do exílio

Yawm el Tharir (o dia da libertação) é uma data sagrada para todos os libaneses. Adnan nunca se esquecerá desse incrível 23 de maio de 2000. “Nas cidades de Merjayoun, Khiam, Bennt Jbail..., as pessoas viram, de repente, os israelenses fugindo, numa debandada extraordinária. Todo mundo correu para contemplar o espetáculo. A notícia se espalhou como um rastro de pólvora. No fim do dia, centenas de milhares de pessoas convergiam em direção ao Sul.”

O desafio do Hezbollah

Khiam, um ponto estratégico na montanha, abrigou, desde 1985, o sinistro centro de detenção do Exército do Líbano-Sul (ELS), dispositivo-chave do terror israelense na zona ocupada, onde Adnan passou quatro anos e meio. “Quase nada”, se comparado com colegas seus que passaram até treze ou quatorze anos, submetidos a interrogatórios e à tortura. Hoje, administrada pelo Hezbollah, a prisão-museu pretende ser um local de memória coletiva. Mesma limpa, ainda transpira angústia e morte. No pátio, uma imensa parede alinha os retratos de três soldados israelenses capturados pelo Hezbollah na zona de Cheeba, em outubro de 2000. Um trunfo nas mãos do Hezbollah para exigir principalmente a libertação de dezesseis presos libaneses, ainda detidos em Israel.

Mesmo libertado, o sul do Líbano permanece refém do conflito regional. O Hezbollah sabe disso. “Israel continua ocupando os territórios libaneses. A atual linha de recuo israelense (linha azul) não é uma fronteira internacional e não é reconhecida pelo Estado libanês. Por isso, ainda continuamos a resistência.” Para Hassan Azzedin, responsável pela informação no Hezbollah, a linha azul deixou sete povoados de Cheeba2 , na fronteira com o Golan sírio, nas mãos dos israelenses. Também dividiu o vilarejo de Ghajar3 e seu traçado também é contestado em Yaroun, Aalma e Udeysse... E a repressão na Palestina alimenta as tensões. O secretário-geral do Hezbollah, Hassan Nasrallah, considera o apoio político à Intifada um dever: “Estamos determinados a assumir diretamente as nossas responsabilidades, apesar de todas as pressões e das ameaças de guerra contra o Líbano e a Síria. E, se for preciso uma guerra para decidir o destino da região, que ela seja então declarada.”

Concentração da riqueza absoluta

A classe política e a opinião pública libanesas protestaram quando os Estados Unidos colocaram o Hezbollah na lista das organizações terroristas

Essa posição não é unânime. Exauridos por vinte e dois anos de guerra, os libaneses não gostariam de reviver o mesmo cenário. Ela expressa, ainda assim, a preocupação da opinião pública árabe em relação à Intifada. Em várias ocasiões, o presidente libanês, Emile Lahoud, pronunciou-se em favor do “apoio do Líbano à Intifada frente à ocupação israelense”.

Os cidadãos simples vêem nas operações contra o Afeganistão uma guerra injusta, a serviço de uma nova ordem mundial e cujo próximo alvo já está designado: o Iraque e todos os que não se submeterem. A nova configuração política criada pelos atentados contra o World Trade Center já está pesando sobre as perspectivas de desenvolvimento da região libertada e acentua o fracasso econômico. No entanto, segundo o economista e professor Youssef Khalil, “somente um boicote por parte das Nações Unidas – que, no momento, não está em pauta – poderia realmente afetar o Líbano, o qual recebe pouca ajuda norte-americana, em comparação com o Egito ou com Israel, e negocia principalmente com a Europa.”

Este fundador da Associação de Ajuda ao Desenvolvimento Rural, uma ONG que se dedicou primeiramente aos pescadores de Tiro e aos refugiados palestinos dos campos do Sul antes de ampliar a sua atividade à antiga zona ocupada, denuncia a verdadeira chaga do Líbano: a concentração da riqueza ali é absoluta, impedindo qualquer perspectiva de desenvolvimento. “1% dos tomadores de empréstimos beneficiam-se de 50% do crédito bancário, num país em que a percentagem do orçamento que as famílias dedicam às necessidades básicas passou de 40% para 55% em poucos anos. É possível encontrar até 45% de habitações sem sanitários em alguns vilarejos do Vale do Bekaa ou do norte do Líbano. O Líbano não suporta mais o peso de suas dívidas públicas, está em pleno marasmo econômico e milhares de jovens emigram.”

Pouco incentivo à produção

Mesmo contestado, ou politicamente combatido, o Hezbollah é respeitado por sua eficiência e papel na resistência contra a ocupação israelense no Sul

A reconstrução do sul fez-se às custas do endividamento do Estado. Saindo das ruínas, casas e prédios surgiram como cogumelos numa anarquia urbanística que caracteriza o Líbano e ameaça desfigurá-lo definitivamente. Hospitais e escolas se espalham, aos poucos, como uma coluna vertebral. O organismo que banca a reconstrução, o Conselho do Sul, financiado pelo governo e fundado em 1970 para ajudar as populações a se defenderem das agressões israelenses, concede compensações às famílias de feridos, mártires ou ex-presos. Dispõe de uma ajuda de emergência da ordem de 200 milhões de dólares e uns 300 milhões adicionais foram liberados para indenizar, numa razão de 20 mil dólares por casa destruída, cerca de 95% das habitações (cinco mil, no total, e seis vilarejos totalmente destruídos). Dirigido por Nabi Berri, chefe do partido xiita Amal e presidente do Parlamento, o Conselho do Sul é incontornável, mas visto por grande parte da população como “um dispositivo no coração do sistema confessional e clientelista que perverte o Líbano”.

A ex-zona ocupada cobria cerca de 850 km2, ou seja, 10% da superfície do país. Abandonada por três quartos de sua população – 300 mil habitantes no início da guerra, em 1978 –, ela constitui um símbolo forte com uma carga mística e afetiva profunda. Os libaneses, de dentro ou de fora, voltaram maciçamente para reapropriar-se de sua região. Todavia, mesmo que muitos passem um ou dois dias – percorrem-se os 250 quilômetros do norte ao sul do Líbano em poucas horas –, poucos são os que realmente se estabelecem. Nenhum esforço sério de desenvolvimento das capacidades produtivas foi dispensado para permitir às pessoas trabalharem no local. Os mais audaciosos inventaram uma nova vida com quase nada e a demonstração mais significativa disso é, sem dúvida, a freqüência, durante o calor, dos bares das Nabba (fontes) que pipocam em todo o território e servem de local coletivo de encontro.

“Cuidado, estamos chegando...”

Khiam, um ponto estratégico na montanha, abrigou, desde 1985, o sinistro centro de detenção do ELS, peça-chave do terror israelense na zona ocupada

Leila não hesitou. Natural de Khiam, ex-militante comunista e primeira mulher encarcerada, em 1985, ela viveu em Beirute a vida dura de quem perdeu tudo. O bar é uma maneira simples e imediata de poder voltar para o Sul. Embora não se possa servir álcool em Khiam, é fácil contornar as proibições, estabelecendo-se a alguns quilômetros, à entrada do vilarejo de Ebel Siqui, druso e cristão. Leila não se sente ameaçada pelo domínio do Hezbollah na região, mesmo que isso não a agrade. “A resistência também é a nossa própria história, não apenas a do Hezbollah. Militantes de todas as tendências combateram a ocupação, junto com ou ao lado do Hezbollah, até a libertação. Somos daqui, também lutamos, nossas casas foram destruídas. Não podem impedir-nos de viver do jeito que queremos.”

Para ir de Khiam a Bennt Jbail, percorre-se a fronteira israelense. Ao longo da estrada sinuosa, que avança através paisagens que parecem talhadas pela mão de um escultor inspirado, os novíssimos postes ficam conscienciosamente acessos. A luz cintila e joga suas faíscas sobre a rocha e a grama. É meio-dia. Para o Sul, a libertação é a reconstrução, mais a eletricidade... Do lado israelense, os jardins que surgiram como por milagre do “deserto“ devem a sua beleza à água abundante, “bombeada ilegalmente a partir do território libanês”, denunciam os agricultores. A estrada é pontuada por uma epopéia iconográfica à glória da resistência. Katiuchas4 , blindados e bandeiras – principalmente do Hezbollah e do Amal – caçoam das estrelas de David brandidas com desprezo, como se tivessem sonhado com lutas e estivessem frustrados por batalhas. O ponto mais freqüentado do sul do Líbano é Maroun-Ras no caza de Bent Jbail. Da mais alta ponta de um planalto, domina-se a Galiléia. Um bar turístico, com varanda e mirante, oferece aos visitantes, que vêm em ônibus lotados, café, doces e binóculos. O Hezbollah também está por ali. Quatro katiuchas estão apontadas para Israel, ao lado de um painel gigante, piscando todas as noites, com a mensagem: “Jerusalém, cuidado, estamos chegando...”

Hora de reconciliação

Mesmo libertado, o sul do Líbano ainda é refém do conflito regional. “Israel continua ocupando os territórios libaneses”, diz um dirigente do Hezbollah

Em Bent Jbail, vilarejo totalmente xiita, o Hezbollah, com a auréola da vitória, reina sem contestação: “Voltamos no dia seguinte à Libertação. As estradas estavam totalmente congestionadas. A emoção era indescritível. Pessoas que normalmente são muito reservadas começaram a se abraçar – até aqueles, muito piedosos, que nunca tocariam na mão de uma mulher.” Azza Charara, professora na Universidade Libanesa, apaixonou-se completamente por essa transformação da história e das pessoas. Para ela, como para o seu marido, o sociólogo Ahmad Beydoun, a preocupação principal não é a segurança: “Evidentemente, há riscos ligados à conjuntura regional, sobretudo após o 11 de setembro, mas todos os libaneses estão expostos a esses riscos, e os israelenses podem atacar em qualquer lugar do Líbano.”

Por outro lado, fazer da primeira região libertada uma região viável e atrativa para os seus habitantes representa um desafio emblemático. “Previa-se um ‘Kosovo libanês’, afrontamentos islâmico-cristãos, porém nada disso aconteceu – e foram raros os conflitos de caráter religioso e os acertos de contas. Até a mansão do número dois do ELS5 , Hafez Hachem – que a conseguiu extorquindo os comerciantes – não foi tocada. As pessoas demonstraram uma grande maturidade.” O fim da ocupação também permitiu transcender algumas fronteiras internas: os que partiram tentaram compreender os que ficavam; entre os dois pólos – resistentes e colaboradores – aceitou-se reconhecer a existência de rostos e destinos múltiplos.

A novela da retirada das minas

O presidente libanês, Emile Lahoud, pronunciou-se, por várias vezes, em favor do “apoio do Líbano à Intifada frente à ocupação israelense”

O 11 de setembro veio reavivar angústias e ameaçar uma aparência de unidade nacional extremamente frágil. “Os Estados Unidos podem utilizar qualquer pretexto para exercer pressões sobre o Líbano, exacerbando um sentimento anti-americano já muito forte. As pessoas sentem uma enorme preocupação. Boa parte dos habitantes de Bent Jbail exilaram-se nos Estados Unidos, no Estado do Michigan. A situação econômica de suas famílias depende de suas remessas de dinheiro. Ora, o sentimento anti-árabe que se desenvolveu nos Estados Unidos terá repercussões, necessariamente. Vários estudantes dos países do Golfo vieram se matricular na Universidade norte-americana de Beirute porque não podiam ou não queriam mais viver nos Estados Unidos.”

Se o Líbano deve passar por uma guerra financeira com os Estados Unidos, o sul do Líbano não está perto de sair de sua situação de zona-refém. Para Stefan De Mistura, representante pessoal do secretário-geral das Nações Unidas, a verdadeira libertação do Sul ainda não aconteceu. “O Sul conta com 130 mil ‘soldados’. Soldados que nunca dormem e continuam matando, dia e noite, no inverno como no verão. E que fazem, no mínimo, uma vitima por mês.” Os trabalhos de retirada das minas demoram. Devem ser conduzidos, em grande parte, por especialistas norte-americanos, canadenses, franceses, noruegueses ou ucranianos. Segundo o diplomata, no ritmo atual, o Sul ficaria livre das minas dentro de... cinqüenta e três anos! E, no entanto, com o orçamento necessário, quatro anos bastariam – e daria trabalho a 10 mil pessoas.

A discriminação dos palestinos

A ex-zona ocupada cobria cerca de 850 km2 (10% da superfície do país) e constitui um símbolo forte com uma carga mística e afetiva profunda

A questão da retirada das minas também faz parte do jogo das negociações. Ao qualificar de “posição um pouco dogmática” o argumento segundo o qual o exército libanês deveria ser colocado na fronteira, Stefan De Mistura defende a posição do governo libanês, que se recusa a vigiar a fronteira israelense enquanto a Resolução 242 não for aplicada. “Quem diz que a soberania do Estado se manifesta apenas por comandos, sentados na fronteira, olhando de frente para outros comandos? A maioria dos países do mundo mostra sua soberania através de médicos, professores, juízes, instituições...”. O que representa um problema para quem denuncia constantemente as violações israelenses do território libanês é, principalmente, o papel da força das Nações Unidas, a Finul6 , que se torna uma força cada vez mais de observação, e não de proteção, ao passo que, “se existe um território explosivo no Oriente Médio, fora Gaza e a Cisjordânia, este é, sem dúvida, o sul do Líbano”.

Devido à proximidade com a Palestina e ao peso da ocupação compartilhado da ocupação, devido à solidariedade unânime e emocionalmente estampada para com a Intifada, seria possível imaginar uma empatia maior para com os cerca de 350 mil refugiados palestinos. A realidade é outra. “Como se, numa visão esquizofrênica, não se tratasse do mesmo povo”, irrita-se Rula, uma jovem professora primária que denuncia as condições de discriminação e de miséria, “únicas no mundo árabe”, que lhes são impostas: “eles estão da atualidade e da vida.” Sua implantação definitiva no Líbano é proibida pela Constituição, mas acoberta, desde sempre, as piores medidas de discriminação, oficiais e não oficiais, seja em matéria de trabalho, de habitação, de educação ou de saúde. “Este ano[2001], o governo de Rafic Hariri, apenas retomando o poder, apressou-se em fazer aprovar uma lei proibindo aos palestinos qualquer acesso à propriedade”.

À exceção do Hezbollah, que apóia suas reivindicações cívicas – embora se opondo à sua implantação “para garantir o direito de voltar à Palestina” – e estendeu seus serviços sociais aos campos de refugiados, nenhuma campanha séria é feita, por qualquer força política que seja, para lhes permitir viver numa situação de direito e dignidade. “No entanto, precisa Rula, todas as instituições libanesas de comunicação – e não só as do Hezbollah – tiveram um papel de apoio à Intifada na informação e mobilização da opinião pública árabe. Como é possível, portanto, que uns e outros não vejam que o vento de revolta da Intifada. também poderia soprar nos campos de refugiados do Líbano?”
(Trad.: David Catasiner)

1 - Respectivamente do Hezbollah et do Catar. Ler, de David Hirst, La télévision qui dérange, Le Monde diplomatique, agosto de 2000.
2 - Cheeba é um território cedido pela Síria ao Líbano, cessão que não foi reconhecida por Israel.
3 - Ghajar, vilarejo alauíta de 1.300 habitantes, continua parcialmente ocupado pelos israelenses.
4 - N.T. Katiucha é o nome pelo qual foi popularizado na década de 1940, na ex-União Soviética, um engenho bélico formado por um caminhão a que foram adaptados, na traseira, quatro lança-foguetes que podem ser disparados intermitentemente. A katiucha tornou-se célebre, por exemplo, na batalha de Stalingrado onde surpreendeu, e derrotou, o maior poder ofensivo do exército invasor, nazista.
5 - N.T.: Exército de Libertação do Sul, uma das forças, composta por libaneses que aderiram à causa de Israel, que participaram da ocupação do Sul do Líbano.
6 - Ficaram cerca de 40 posições da ONU, ao longo de uma linha de 95 quilômetros, com 3.500 homens.




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