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CHINA

Assimilação pela força no Sinkiang

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Dezessete milhões de habitantes povoam a gigantesca região do Sinkiang: dois desertos encravados junto à cordilheira do Himalaia, na fronteira com a Mongólia, Rússia, Cazaquistão, Quirguízia, Tadjiquistão, Paquistão, Afeganistão e o Tibete chinês

Ilaria Maria Sala - (01/02/2002)

Nos muros de Urumqi, cobertos por publicidade, apenas os slogans em caracteres árabes parecem ser uma concessão à especificidade da cultura uigur

As montanhas rodeiam Urumqi, capital da “região autônoma uigur1 do Sinkiang”, com sua população de um milhão e meio de habitantes. Nos muros, cobertos por publicidade que, aliás, se encontram por toda parte na China – produtos de beleza ocidentais e marcas de roupas insólitas – apenas os slogans em caracteres árabes parecem ser uma concessão à especificidade local. Nas ruas principais, em meio a automóveis ocidentais e grandes ônibus, passam charretes conduzidas por uigures com traços da Ásia central, puxadas por burros e carregadas de pães em forma de bolacha, de melancia, de uva e de damasco.

Apesar de sua modernidade – tão caótica quanto sem estética – idêntica à de todas as metrópoles chinesas, a cidade parece saída do século XIX. Ali é possível comprar produtos que não se encontram no resto da província, como água de colônia ou binóculos; é possível estudar, empreender negócios, embriagar-se com o cheiro de metrópole. Os habitantes das aldeias e dos oásis vão até a cidade para se casarem e se fazerem fotografar por fotógrafos cabeludos.

A identidade muçulmana

Dezessete milhões de habitantes – dos quais oito milhões são uigures muçulmanos, o grupo principal – povoam essa gigantesca região do Sinkiang2 : dois desertos localizados no oeste da China, encravados junto à cordilheira do Himalaia, na fronteira com a Mongólia, a Rússia, o Cazaquistão, a Quirguízia, o Tadjiquistão, o Paquistão, o Afeganistão e o Tibete chinês. Acrescentando-se os recursos naturais existentes – petróleo, gás natural e carvão – essa posição estratégica faz do Sinkiang uma região de importância capital para Pequim. A sudeste, ao lado do lago Lop Nor, encontram-se, também, as regiões utilizadas pelo exército chinês para testes nucleares.

Além dos recursos naturais – petróleo, gás natural e carvão –, a posição estratégica faz do Sinkiang uma região de importância capital para Pequim

Posto avançado da dominação chinesa3 , Urumqi continua sendo o centro administrativo da região. Inúmeros uigures foram morar lá e ainda continuam chegando outros em busca de trabalho. O bairro que ocupam começa nos arredores do mercado, onde comerciantes chineses oferecem lembranças aos turistas enquanto os uigures vendem, principalmente, objetos de uso prático: tecidos, tapetes, panelas, alimentos e especiarias.

Com uma diversidade de fisionomias, um leque de cores de olhos e cabelos, uma variedade de traços, toda uma população da Ásia central corre freneticamente pelas ruelas da vizinhança. Algumas mulheres usam um pedaço de tecido que lhes cobre apenas os cabelos. Outras usam véus mais compridos e mais grossos. Ao lado de homens de longas barbas, também podem ser vistas mulheres inteiramente ocultadas, e quase cegas, por uma espécie de coberta de lã marrom. Raríssimas, há dez anos atrás, essas mulheres cobertas são cada vez mais numerosas, sinal de força da identidade muçulmana numa região que, até então, não se caracterizava por sua tradição religiosa.

Povoamento étnico forçado

Contudo, salienta Enver Can, presidente exilado do Congresso Nacional do Turquestão Oriental – designação dada pelos uigures a sua terra natal – “os uigures nunca foram extremistas religiosos. São, social e culturalmente, tolerantes. Muitos budistas, cristãos e ortodoxos moram no Turquestão Oriental. Porém, desde que as autoridades chinesas adotaram uma atitude repressiva e ofensiva em relação ao Islã, estabelecendo restrições muito rigorosas [por exemplo, impedindo os servidores públicos de praticarem sua religião, ou mantendo os imãs nas mesquitas sob prisão domiciliar, ou, ainda impedindo a educação religiosa das crianças], grupos mais religiosos iniciaram uma reação. O que é natural. Essa renovação islâmica deve-se, na minha opinião, à repressão chinesa. Como se isso bastasse para defender publicamente sua identidade!”

Em Urumqi, centro administrativo da região do Sinkiang, moram inúmeros uigures e ainda continuam chegando outros em busca de trabalho

Sempre rebelde em relação à autoridade de Pequim4 , o Sinkiang gozou de uma quase autonomia até 1949, ano em que a República Popular optou por consolidar suas fronteiras para conter as veleidades da expansão soviética, tratando de evitar contatos estreitos entre os uigures chineses e uigures que viviam nas repúblicas muçulmanas da URSS. A partir de então, a população passa sistematicamente por vexames. A revolução cultural destruiu as mesquitas e, para pôr fim à reivindicação de identidade étnica, incentivou muitos chineses han a instalarem-se no Sinkiang. A chegada ao poder de Deng Xiaoping, a partir de 1978, coincidiu com uma breve distensão; porém, na década de 90, acentuou-se a política de povoamento étnico forçado, paralelamente a uma estratégia de desenvolvimento local.

Uigures são meros figurantes

O nacionalismo foi reforçado entre os uigures, transformados em estrangeiros em seu próprio país. Principalmente quando, em dezembro de 1991, as três repúblicas muçulmanas da URSS, na fronteira com a China (o Cazaquistão, a Quirguízia e o Tadjiquistão), conseguiram a independência5 . De ambos os lados da fronteira, muitos uigures passaram a sonhar com uma República do Uiguristão. A repressão só reforçou essa tendência, causando problemas mais ou menos graves: uma onda de prisões em abril/maio de 1996 e, em 5 de fevereiro de 1997, uma insurreição que, certamente, provocou centenas de vítimas em Yining, cidade de 300 mil habitantes localizada na fronteira do Cazaquistão6 . Durante os tumultos, os manifestantes conclamavam à formação de um “Estado islâmico independente”. Segundo a Frente Unida Nacional Revolucionária do Turquestão Oriental (FUNR) 7 , apenas durante o ano de 1997 foram presos 57 mil uigures. Desde então, Yining nunca voltou a ter calma.

“Nós pedimos diálogo há anos”, explica Enver Can, aparentemente resignado, “mas os chineses preferem tratar-nos como terroristas, fundamentalistas ou extremistas. Penso que essa atitude também é reflexo de suas próprias fraquezas.” As posições de poder são todas controladas por chineses han e os funcionários uigures não têm qualquer poder real. Ainda que detenham cargos de vice ou de assistente nos postos de direção, o Partido Comunista Chinês é dirigido abertamente pela etnia han e, no governo, os uigures são apenas figurantes. Enquanto isso, colonos chineses continuam chegando em massa.

Intensificando uma tensão secular

Fisionomias diversas, um leque de cores de olhos e cabelos, variedade de traços: toda uma população da Ásia central corre freneticamente pelas ruelas

Uma enorme variedade de pessoas agita Urumqi em decorrência da atração exercida em toda a China pelo aspecto “faroeste” de Sinkiang. Em contraste com a postura austera das muçulmanas, as mulheres “vindas de fora” – muito maquiadas, usando shorts, saias curtas e saltos altos – percorrem as ruas. Na maioria das vezes migrantes sazonais, os chineses do interior trabalham nos mercados ou na agricultura, especialmente na colheita de algodão. Relacionam-se com camponeses incentivados a virem para desbravar novas terras e se instalarem em novas cidades.

É difícil taxar de “colonialistas” esses coitados que se dedicam a um trabalho tão pouco cobiçado. Porém, a presença deles, ainda que ditada pelo desejo de fugir da pobreza, é vivida como uma invasão, principalmente porque não têm qualquer dificuldade em obter as preciosas permissões de trabalho muitas vezes recusadas aos uigures. “Nas feiras organizadas para quem busca emprego”, dizem com amargura, “há ofertas de empregos reservadas aos chineses, os cartazes mostram isso claramente.”

Nos últimos dez anos, a população han aumentou mais de 31%8 , intensificando uma situação de difícil vizinhança secular, entre o império chinês e os povos da Ásia central. Quando Pequim estendeu seu controle sobre o Sinkiang, em 1949, os povos autóctones representavam mais de 94% da população, e os chineses, menos de 6%. A população chinesa, atualmente, representa mais de 40% do total e, à medida que as terras cultiváveis disponíveis diminuem, as tensões entre as comunidades aumentam.

Homens de barba e mulheres com véu

O Sinkiang gozou de uma quase autonomia até 1949, ano em que a China optou por consolidar as fronteiras para conter as veleidades da expansão soviética

Essas estatísticas compreendem os que trabalham e vivem nos bingtuan – unidades de camponeses-soldados a quem foi confiada a missão colonizadora da década de 50 e que se tornaram uma instituição tentacular; suas atividades vão da gestão do sistema penitenciário (os bingtuan administram a maioria dos campos de trabalhos do gulag chinês) à agricultura (com gigantescas fazendas estatais), passando pelas atividades industriais e comerciais. Quase completamente constituídos por chineses han, os bingtuan já são mais de dois milhões – ou seja, um em cada três chineses que vivem no Sinkiang.

Entre eles, encontram-se ex-soldados desmobilizados no final da guerra civil, em 1949; migrantes forçados das décadas de 50 e 60; e os recém-chegados da década de 90, para quem bingtuan e Sinkiang são sinônimos: vivendo em um universo à parte, desligados do resto do país, e num meio ainda bastante coletivista, com setores administrados independentemente das autoridades locais, com universidades e hospitais próprios, cidades novas e forças policiais próprias, eles respondem, exclusivamente, ao governo central, em Pequim.

Em todos os povoados do Sinkiang, percebe-se o esquema observado em Urumqi: uma cidade chinesa recente, feia e caótica mas, indubitavelmente, dinâmica, com os prédios acabados com ladrilhos de má qualidade, já estragados antes de estarem terminados. Inúmeros balões coloridos de tecido sintético indicam um novo restaurante, aqui; um salão de cabeleireiro, ali; acolá, uma nova loja. Ao lado, tentando sobreviver aos canteiros de obras, a cidade uigur, com casas baixas, de terra batida, mais adaptadas a mudanças climáticas extremas – pátios com sombreados, mesquitas, louças do Oriente Médio que decoram as paredes, salões de chá, bazares, pequenos cantos inesperados, uma pobreza grandiosa. E um número crescente de homens com barba comprida e mulheres com véu.

Kashgar, Sinkiang do Sul

A educação das crianças tornou-se uma das causas dos ressentimentos mais exacerbados. “Se um uigur não fala bem chinês, passa por enormes dificuldades para encontrar emprego”, explica Enver Can. “Mas se freqüentar a escola chinesa, é assimilado! A política educacional pretende transformar em chineses todos os aspectos da vida dos uigures”. Escritores e músicos que expressam sentimentos étnicos considerados incômodos demais são censurados, e até presos.

A chegada ao poder de Deng Xiaoping coincidiu com uma breve distensão; porém, na década de 90, acentuou-se a política de povoamento étnico forçado

Perigosa engrenagem. Na medida em que as mesquitas são fechadas ou destruídas, que as escolas de língua uigur – cuja existência é garantida pelas autoridades – deixam de receber os financiamentos necessários e que as práticas religiosas se tornam alvo da repressão, as tensões provocam revoltas ocasionais, ou são abafadas pelas autoridades que multiplicam o número de prisões e execuções capitais.

Kashgar, conhecida em toda a Ásia Central por seu esplendoroso bazar, e para onde convergem, há séculos, comerciantes de toda parte, mantém sua dignidade de capital do Sinkiang do Sul. Nessa parte da região, os uigures ainda constituem uma grande maioria e a presença chinesa aparece de forma ainda mais destoante. Porém, a abertura de uma nova estrada de ferro ligando Kashgar a Urumqi e ao resto da China corre o risco de mudar isso rapidamente.

Campanha “contra o crime”

A tensão na cidade é palpável, mesmo se as pessoas não falam espontaneamente do assunto. Os cartazes intimando a “entregar imediatamente as armas”, afixados na parte externa das delegacias de polícia, são eloqüentes o bastante. Como são reveladoras as opiniões de um motorista de taxi han, ex-motorista do exército, em Sinkiang há trinta anos: “Essas pessoas são loucas: quem é que já ouviu falar desse Turquestão Oriental? São criminosos, terroristas! A única coisa a fazer é prendê-los todos e matá-los. Eles não compreendem outra coisa.”

As autoridades não parecem nem um pouco mais sutis. Qualquer agrupamento implica, imediatamente, na presença maciça das forças da ordem. Um ônibus vazio está parado no meio da rua: o motorista uigur foi levado, pois a polícia decretou que quem estivesse sem documentos de identidade seria preso. Os vendedores ambulantes correm para suas casas para evitar problemas. A alguns passos desse salve-se-quem-puder, no bairro chinês, sem qualquer perturbação aparente, a vida continua.

“Pedimos diálogo há anos”, explica Enver Can, presidente exilado do Turquestão Oriental, “mas os chineses tratam-nos como terroristas ou extremistas”

A partir de 1996, o governo central decidiu regularizar o problema através de uma campanha de luta contra o crime – “Bater forte” – denunciada no mundo inteiro, por organizações de defesa dos direitos humanos, pela brutalidade e arbitrariedade com que era conduzida. Fiel a seu nome, opondo-se tanto a intelectuais quanto a dissidentes, tanto aos partidários da autodeterminação quanto a delinqüentes comuns, essa campanha é violenta e gera pesadas acusações ao longo de gigantescos processos públicos.

Criminalização da população civil

Não é raro ver caminhões transportando prisioneiros vestidos com um uniforme azul, cabeça raspada e as mãos algemadas atrás das costas. São quase todos exclusivamente uigures. No pescoço, cartazes - em árabe e em chinês - os rotulam de “separatistas” ou criminosos que “perturbam a ordem pública”. São exibidos em estádios repletos de autoridades e, depois, os condenados à morte são levados diretamente ao local de execução. Segundo a Anistia Internacional, o Sinkiang é o único lugar na China onde presos políticos continuam a ser condenados à morte: mais de duzentas pessoas foram oficialmente executadas entre 1997 e 19999 . Os números reais provavelmente são mais altos, pois a imprensa oficial normalmente os omite, quando se refere ao assunto.

Em Hotan, a antiga Cidade do Jade, a ausência de características uigures na arquitetura do centro da cidade – inteiramente reconstruída ao gosto chinês – foi compensada pela crescente islamização dos habitantes e pela inquietante polarização entre chineses han e uigur. Fotos de “procurados pela polícia”, acusados de atentados, de uso de armas ou simplesmente de “separatismo”, enchem os postes que sustentam os lampiões. “A população civil é criminalizada”, protesta um habitante. “Aqui, como em Ili (ou em Gulja, a cidade que foi palco dos recentes motins, mais violentos) quase cada família teve um de seus membros executado ou morto, ou desaparecido, ou preso - quase sempre sem processo - ou torturado. As crianças dessas famílias irão crescer ressentidas e irão aproveitar todas as oportunidades possíveis para se organizarem.”

A assimilação pela força

Não é raro ver caminhões transportando prisioneiros com um uniforme azul, cabeça raspada e as mãos algemadas atrás das costas – quase todos uigures

Obcecada pela vontade de controle, Pequim redobrou os esforços para dominar a situação aplicando técnicas que deram certo em outros lugares, nos últimos anos: trocar um pouco de liberalização econômica pela desistência das reivindicações políticas. Foi assim que nasceu o grande projeto de desenvolvimento econômico do oeste, cuja ambição é acabar com a pobreza do Sinkiang e de quase toda a metade ocidental do país através do pedido de empréstimos estrangeiros. Até o momento presente, os resultados foram decepcionantes: os investimentos não vêm. A falta de infra-estrutura e a rudeza dos lugares não incentivam a instalação de empresas estrangeiras.

No verão de 2001, uma delegação de industriais de Hong Kong foi levada com estardalhaço a Sinkiang; porém, apesar das declarações da imprensa, entusiastas e convencionais, nenhum contrato de porte foi assinado. Aliás, o dinheiro que chega até aqui parece beneficiar quase exclusivamente a população chinesa, devido à burocracia que, sistematicamente, desfavorece os uigures10 . A esperança de Pequim de que o desenvolvimento econômica ligue a região do Sinkiang mais estreitamente à China parece resultar em fracasso: ainda que consigam enriquecer, alguns homens de negócios uigures não deixam de sustentar a resistência anti-chinesa, tentando fazer sobreviver a cultura uigur11 . E quando, ao contrário, chineses se enriquecem, eles intensificam a oposição à sua presença.

Por isso, ainda que a propaganda chinesa decida batizar como “terrorista” tudo o que se opõe a seu controle, é difícil ocultar o que está em jogo no Sinkiang. Não se trata de uma questão religiosa, mas do respeito às liberdades civis, assim como da sobrevivência de um povo e de uma cultura em via de serem assimilados pela força.
(Trad.: Teresa Van Acker)

1 - N.T.: O adjetivo uigur é relativo ao povo de etnia turcomana, mesclada com elementos iranianos e tocarianos, que habita hoje o Truquestão chinês – a província de Sinkiang. Essa etnia fala uma língua da família linguística altaica, cujos ramos são as subfamílias turcomana, mongólica e tungúsica. Compreende 60 línguas que são, ou foram, faladas desde a Mongólia até a Turquia, passando pela Mongólia e sul da Sibéria.
2 - 1.600.000 km2, um sexto da superfície total do imenso império chinês.
3 - Desenvolvida durante a última dinastia Manchu (1644-1911), que consolidou a conquista do Sinkiang ao longo do século XVIII, Urumqi foi, antigamente, uma cidade-caserna para as tropas chinesas e suas famílias.
4 - A insurreição mais importante contra os chineses foi, sem dúvida, a de Muhammad Yakub Beg, entre 1864 e1877.
5 - Segundo o censo de 1989, 263 mil uigures habitariam a Ásia central (ex)-soviética. Segundo os próprios uigures, seriam mais de um milhão.
6 - Dez mortos e cento e trinta feridos, segundo Pequim.
7 - Movimento pela independência, o FUNR reivindicava, no mínimo, dois mil combatentes em 1997.
8 - Para o recente desenvolvimento de Sinkiang, ler, de Nicolas Becquelin, “Sinkiang in the Nineties”, in China Journal, n° 44, Canberra, julho de 2000.
9 - Para uma análise atualizada da situação dos direitos humanos na região, ler também o documento Human Rights Watch, China: Human Rights Concerns in Sinkiang Human Rights Watch Backgrounder, outubro de 2001(disponível no site: http://www.hrw.org/backgrounder/asi....)
10 - Ler, de Bruce Gilley, “Uighurs Need Not Apply”, Far Eastern Economic Review, Hong Kong, 23 de agosto de 2001.
11 - O caso de Rebiya Kadeer, mulher de negócios uigur que enriqueceu no comércio, é exemplar: de início erigida como “modelo” pelas autoridades, depois foi condenada a um ano de prisão por ter, supostamente, comunicado “segredos de Estado” a seu marido, exilado nos Estados Unidos.




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