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No final da década de 70, em colaboração com os serviços secretos paquistaneses, a CIA e os países do Golfo levantaram bilhões de dólares e recrutaram milhares de voluntários que se juntaram aos mujahidin no Afeganistão
- (01/11/2001)
Está bastante incômoda a posição dos dirigentes sauditas, pois é o dinheiro da península arábica que financia a rede Al-Qaida e a milícia taliban. A partir da II Guerra Mundial, o reino saudita se empenhou em divulgar a sua versão do islamismo para conter a onda – então, quase irresistível – do nacionalismo árabe. É nesse contexto que, no final da década de 70, dinheiro e voluntários sauditas foram enviados em apoio ao jihad (guerra santa) no Afeganistão. Em colaboração com os serviços secretos paquistaneses (Interservices Intelligence Directorate – ISI), a CIA e os países do Golfo levantaram bilhões de dólares e recrutaram milhares de voluntários que se juntaram aos mujahidin1. Esse “sucesso” iria permitir a explosão dos movimentos fundamentalistas islâmicos que, após a guerra do Golfo, se voltariam contra a política saudita.
Os fundos vinham de Washington e do Golfo, mas eram administrados pelo ISI. Através do fornecimento de armas e dinheiro, o regime paquistanês pretendia garantir o controle sobre o Afeganistão – controle que permitiria criar uma barreira estratégica contra a Índia. Por outro lado, abria-se caminho para uma Ásia central transbordando de energia. Era esse o sentido do “grande jogo”, ao mesmo tempo que a Unlocal2 já preparava seus planos de construir oleodutos e gasodutos do Mar Cáspio até o porto de Karachi. E por fim, os campos militares existentes no Afeganistão permitiriam fazer o treinamento dos partidários do Jamaat-e Ulema-i Islami3 e do Harakat ul-Ansar4 que já participavam de operações militares na Caxemira.
A partir de sua vitória contra os comunistas, em 1992, os mujahidin racharam. O Paquistão voltou-se então para a milícia taliban, que parecia disposta a restabelecer a ordem no Afeganistão. Os taliban instalaram-se em Cabul em setembro de 1996 e “libertaram” o país, com exceção da região Norte, onde os homens de Ahmed Shah Massoud persistiram na resistência ao novo regime, aproveitando-se do apoio da Rússia, do Irã e da Índia, que lhes davam acesso às bases vizinhas no Tadjiquistão.
A esperança que os taliban alimentavam de fazer grandes negócios petrolíferos foram por água abaixo em 1997, quando o governo norte-americano intensificou as críticas com relação a eles. O regime de Cabul também não conseguiu um lugar nas Nações Unidas, nem um reconhecimento internacional. As raras relações diplomáticas que conseguiram estabelecer – com a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos – foram rompidas a partir de 11 de setembro de 2001. O Paquistão é o único país a mantê-las, argumentando que elas o vinculam a um Estado, e não a um governo. Antes mesmo dos atentados, praticamente reivindicados por Osama bin Laden, a destruição dos budas de Bamyan já provava que os taliban, à frente de um país em ruínas e devastado por guerras permanentes, não esperavam ser aceitos pela comunidade internacional.
A partir de 11 de setembro, o Paquistão luta para continuar mantendo sua influência sobre o Afeganistão pós-guerra e para evitar que a Aliança do Norte venha a dirigir o futuro governo.
(Trad.: Jô Amado)
1 - Existem várias estimativas quanto ao número de árabes afegãos. Segundo a edição de 6 de maio de 1996 do jornal Al-Wasa’, publicado em Londres, 6.170 árabes teriam atravessado a fronteira do Paquistão para o Afeganistão. Já a edição de 12 de outubro de 2001 do International Herald Tribune afirma que o contingente de tropas árabes em Cabul seria entre 4 e 6 mil homens.
2 - Companhia petrolífera norte-americana, sócia da Total, que opera na Ásia.
3 - Partido religioso, fundado na Índia, em 1941, pelo teólogo muçulmano Mawdoudi. Seu objetivo era a conquista do poder político e a criação de um Estado Islâmico.
4 - “Movimento dos guerrilheiros”, partido islâmico paquistanês, adepto do uso da violência, fundado em 1993.