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Qual Islã, para qual nação?

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Após proteger, durante longo tempo, os taliban, o general Pervez Musharraf, presidente do Paquistão, invoca agora a salvação e a unidade nacional para justificar seu apoio incondicional à intervenção militar norte-americana no Afeganistão

Jean-Luc Racine - (01/12/2001)

A nação, o Islã, a guerra: na delicada situação por que passa, o Paquistão encontra-se frente à frente com si próprio e com seu jovem passado. Após ter manipulado islamistas radicais e dado origem aos taliban, como irão o seu exército e seus serviços secretos (Inter Services Intelligence – ISI) administrar a nova linha, se ainda utilizam os mesmos grupos armados islamistas para exercer pressão sobre a Caxemira indiana? Como encarar o antiamericanismo, estimulado pelos bombardeios do Afeganistão, e enfrentar o sentimento de solidariedade muçulmana, de que se aproveitam partidos religiosos e grupos partidários da i (guerra santa)? Reunidos no novo Conselho de Defesa paquistano-afegão, estes últimos denunciam, como Osama bin Laden, a “traição” do regime.

Nascido em 1947, fruto do desejo da Liga Muçulmana de criar um Estado muçulmano no antigo Império das Índias1 , o Paquistão surgiu da teoria das duas nações, formulada em 1933 por Rahmat Ali, que afirmava que hindus e muçulmanos não conseguiam conviver em igualdade. Ratificado pela Liga em 1940, esse desejo de partilha resultou na criação, nos territórios indianos de maioria muçulmana, de um Paquistão muçulmano, logicamente, porém bicéfalo, dividido em duas partes, ocidental e oriental, separado pela nova Índia. Um primeiro fracasso ocorreu em 1971, quando os bengali do Paquistão Oriental, majoritários mas marginalizados do poder por Islamabad, partiram para a secessão, fundando o Bangladesh, com o apoio militar da Índia.

O domínio da hegemonia pendjabi

Fruto do desejo da Liga Muçulmana de criar um Estado, o Paquistão surgiu da teoria de que hindus e muçulmanos não conseguiam conviver em igualdade

Expurgado de sua população hindu durante os massacres que se seguiram à secessão, e recebendo milhões de mohadjir – muçulmanos que abandonavam ou fugiam de uma Índia novamente independente – o Paquistão tem, atualmente, uma população 97% muçulmana. Razão de ser do novo país, esse domínio absoluto fundou a nação sobre uma identidade perpétua – profundamente vivenciada, constantemente invocada, fomentada pela escola, pelos atos públicos e pelos meios de comunicação governamentais –, embora mal definida no que se refere a suas relações com o Islã. Ainda que islâmico, o país não é islamista e o próprio Islã tem várias tendências. Sob o efeito da radicalização dos sunitas militantes, que defendiam a guerra do Afeganistão (1979-1988), e, depois, da escalada dos taliban (a partir de 1995), a tradicional convivência entre sunitas (75%) e xiitas encontra-se, atualmente, abalada pelos atentados cometidos por grupos extremistas de ambos os lados.

O Islã não foi o cimento nacional ideal invocado pelos fundadores, pois não apagou as origens etno-lingüísticas – como o prova a secessão do Bangladesh. No mosaico paquistanês pós-1971, além de uma maioria pendjabi (56% da população), há os sindhi (17%), os pashtu (16%) e os balúchi (3%), sem contar as línguas tribais do extremo Norte.

A hegemonia pendjabi é mais do que aritmética. É decisiva no exército e nas outras estruturas do poder: a burocracia permanente, o aleatório Parlamento (atualmente dissolvido), o controle sobre a água, essencial à economia do país. O domínio pendjabi é objeto de um forte ressentimento por parte dos sindhi e dos balúchi, assim como dos mohadjir, de Karachi. A insurreição balúchi, em 1973, foi violentamente reprimida pelo exército.

Vínculos ideológicos com a Al-Qaida

Expurgado de sua população hindu durante os massacres que se seguiram à secessão de 1971, o Paquistão tem, atualmente, uma população 97% muçulmana

A distribuição geográfica das principais comunidades também é importante: todas elas se amontoam junto às fronteiras ou junto ao rio Indo – eixo estrutural do país – constituindo, também, uma linha divisória lingüística. As línguas do Leste, pendjabi e sindhi, são faladas na Índia. As do Oeste, pashtu e balúchi, estendem-se ao Afeganistão e ao Irã. Na realidade, embora reivindicando uma história milenar que remonta à civilização do Indo, o Paquistão continua confinado por fronteiras coloniais.

A fronteira contestada com o Afeganistão é a linha Durand. Criada em 1893, atravessa o território pashtu, derradeira posição da soberania britânica à época do Grande Jogo, que já opunha russos e ocidentais nos confins da Ásia Central e do Oceano Índico no século XIX. Fronteira aberta, a linha Durand permitiu o tráfico de armas, de drogas, de mujahidin – e, depois, refugiados – na década de 80, e dos taliban, em 1995. Numa delimitação quase exclusivamente discutida com a Índia, a linha da Partilha, traçada por sir Cyril Radcliffe em 1947, deixou inconclusa a questão da Caxemira. E, através da linha de controle (LOC), infiltram-se na Caxemira, a partir do Paquistão e sob rajadas de artilharia, não somente militantes nativos, em luta contra o regime indiano, mas também os movimentos islamistas que se dizem internacionalistas.

Com base no Paquistão, alguns desses grupos são orgânica ou ideologicamente vinculados à esfera da Al-Qaida. O Exército dos Puros (Lashkar-e-Taiba), por exemplo, dissidência do Centro de Orações em Busca da Palavra Divina (Markaz ad-dawat wal Irshad), movimento que prega a guerra santa internacional; e o Jaish-e-Mohammad, nova versão do Movimento dos Partidários do Profeta (Harkhat-ul-Ansar), por sua vez, uma dissidência da União dos Ulemás do Paquistão (Jamaat-i-Ulema-i-Pakistan) 2.

A manipulação do islamismo

No mosaico paquistanês, além da maioria pendjabi (56%), há os sindhi (17%), os pashtu (16%) e os balúchi (3%), sem contar as línguas tribais do Norte

O fracasso da experiência democrática – o Paquistão é, atualmente, governado pelo seu quarto regime militar, ainda que o atual jamais tenha recorrido à lei marcial – tem um vínculo direto com a sociologia do país. Boa parte dos mohadjir vindos da Índia pertenciam a classes sócio-economicamente abastadas. Mas tiveram que enfrentar o peso do feudalismo agrário do Pendjab e as estruturas tribais que prevalecem no território pashtu, na província que fica na divisa com a fronteira noroeste e com o Baluchistão. No final – apesar da popularidade dos líderes dos principais partidos, a Liga Muçulmana, de Nawaz Sharif, e o Partido do Povo Paquistanês, de Benazir Bhutto –, a via parlamentar atendeu menos aos grupos majoritários da sociedade, e até à classe média, do que às manobras da elite, de clientelismo, com acusações recíprocas de corrupção. O que acabou deixando aos militares o papel decisivo – fosse nos bastidores, ou em primeiro plano – e o exército, descontente com os governos civis, tomou o poder, como ocorreu em outubro de 1999, com a ascensão, pacífica, do general Pervez Musharraf3 .

Os contragolpes do 11 de setembro e da “guerra contra o terrorismo” detonada por Washington modificaram profundamente o cenário político regional, afetando o Paquistão, de forma fundamental, em quatro aspectos críticos.

Em primeiro lugar, há a questão da manipulação do islamismo pelo Estado. Adotada na década de 80 pelo general Zia ul-Haq, pelos serviços secretos do ISI e pela CIA, essa política destinava-se a reforçar os mujahidin afegãos na luta contra o invasor soviético.

A questão da Caxemira

Na realidade, embora reivindicando uma história milenar que remonta à civilização do Indo, o Paquistão continua confinado por fronteiras coloniais

Durante o governo de Benazir Bhutto, em 1995, o apoio aos taliban obedecia à mesma lógica militar. Frustrado com a incapacidade de Gulbuddin Hekmatyar, dirigente do Hezb-e-Islami, em controlar o país, o regime de Islamabad achou preferível incentivar um regime amigável em Cabul, garantindo assim um aprofundamento estratégico com relação à Índia (menos necessário após os teste nucleares de 1998) e evitando um conflito aberto entre o Afeganistão e a Índia4 . Também se tratava de marcar presença no cenário energético, onde, na época, se agitavam empresas petrolíferas norte-americanas, prontas para negociar com os taliban – “força estabilizadora” – o transporte de gás do Turcomenistão para o litoral paquistanês.

Em segundo lugar: a Caxemira. Pôr fim à aventura paquistanesa no Afeganistão implicaria fazer o mesmo na Caxemira? Com uma população majoritariamente muçulmana mas governado por um soberano hindu, o principado juntou-se à Índia, em 1947, em reação ao avanço dos franco-atiradores, vanguarda do exército paquistanês. Essa primeira guerra resultou na partilha, de facto, do território, que foi mantido após a segunda guerra, em 1965. A terceira, de 1971, em nada alterou a linha de controle que divide a Caxemira. E, finalmente, a última intervenção paquistanesa, decidida pelo general Musharraf, então chefe do Estado-Maior, resultou na guerra disfarçada de Kargil, em 19995 .

Oscilando entre vizinhos nucleares

O fracasso da experiência democrática – o Paquistão é governado pelo seu quarto regime militar – tem um vínculo direto com a sociologia do país

Atualmente, o general Musharraf faz uma distinção entre a questão afegã e a da Caxemira. Salienta, junto aos seus concidadãos, que redefine sua política afegã em nome de quatro interesses maiores do Paquistão, entre os quais, “a causa da Caxemira6 ”. Isso porque, na construção da nação paquistanesa, assim como na versão geo-estratégica predominante, a Caxemira é mais importante para o Paquistão do que o Afeganistão: ela é o ponto central da relação conflituosa com a Índia.

Território indiano para Nova Déli, que invoca a natureza multi-religiosa da nação, e território muçulmano contestado, cujo destino, para Islamabad, deveria ser definido por um plebiscito, a Caxemira cristaliza imagens opostas nacionais e alimenta ódios recíprocos. Também permite a Islamabad manter uma guerra de baixa intensidade com seu gigantesco vizinho, apoiando-se, principalmente, nos nativos da Caxemira, insurrectos desde 1989, e infiltrando “irmãos convidados”, os grupos islamistas radicais, formados, financiados e com base no Paquistão.

Essa política de intervenção será, no entanto, cada vez mais difícil de manter. A Índia convoca Washington e a comunidade internacional a ampliar a guerra contra o terrorismo para além da Al-Qaida, visando às formações islamistas armadas que operam na Caxemira a partir de bases no Paquistão. Os Estados Unidos fazem o possível para evitar que a Índia desestabilize o Paquistão, atacando – como eles próprios fazem no Afeganistão – os campos de treinamento das organizações que a atacam. Oscilando entre os dois vizinhos nucleares, o governo norte-americano envia alguns sinais a Nova Déli: as organizações Jaish-e-Mohammad e Lashkar-e-Taiba estariam em vias de serem declaradas “grupos terroristas”. E, aliás, até Islamabad concordou, pela primeira vez, que o atentado-suicida de 1º de outubro contra o Parlamento de Srinagar – que resultou na morte de 35 pessoas na Caxemira indiana – foi uma ação terrorista.

Comunidade Transnacional dos Fiéis

Adotada pelo general Zia ul-Haq, pelo ISI e pela CIA, a política da “islamização” destinava-se a reforçar os mujahidin na luta contra o invasor russo

Em terceiro lugar, há a questão da identidade nacional propriamente dita, esfacelada entre nacionalistas e islamistas radicais. O general Musharraf considera os adeptos dos movimentos islamistas muito minoritários. E deve ter razão. Os partidos religiosos nunca tiveram mais que 6% nas eleições e sua capacidade de mobilização contra a nova linha política não teve muito sucesso. Mas, alimentada pelas lacunas do desenvolvimento econômico e social, sua audiência pode crescer, com base nos argumentos dos bombardeios norte-americanos do Afeganistão e de uma guerra do Ocidente contra o Islã. A identidade do Paquistão, que Mohammed Ali Jinnah, o “pai da nação”, desejava que fosse moderada, precisa ser definida: qual Islã, para qual nação?

Tão crítico quanto os outros com relação a Musharraf, o principal partido religioso, Jamaat-e-Islami, tem por objetivo nacional fazer do Paquistão um autêntico Estado islamista, mesmo que isso implique em transformar-se num acessório da Umma (Comunidade Transnacional dos Fiéis). Porém, no fundo, trata-se de um projeto nacional. No entanto, para os mais radicais, fundamentalistas internacionalistas do jihad, a Umma abrange mais do que a nação e o projeto ideológico dos taliban parece mais fundamental que os compromissos modernistas do Estado paquistanês ou o jogo estéril dos partidos majoritários, atualmente afastados do poder7.

Prevalece a incerteza

A identidade do Paquistão, que Mohammed Ali Jinnah, o “pai da nação”, desejava que fosse moderada, precisa ser definida: qual Islã, para qual nação?

Finalmente, o quarto e último desafio: o exército. Os islamistas não teriam condições de derrubar o regime sozinhos, sem o apoio dos militares. E qual seria o peso do islamismo entre eles? Alguns generais conseguiram manipular os grupos islamistas, para conduzir a guerra no Afeganistão e em sua estratégia anti-indiana, na Caxemira, sem com isso aderir à sua ideologia. Outros, fizeram-no por convicção. No dia 7 de outubro, pouco antes dos primeiros bombardeios norte-americanos, Musharraf afastou alguns de seus colaboradores mais próximos, como o general Mahmud Ahmed, chefe do ISI. Um mês depois, alguns ex-dirigentes militares foram envolvidos numa controvérsia8 .

Os dirigentes indianos não acreditam que o presidente Musharraf deseje aproveitar-se das circunstâncias para operar, no Paquistão, a grande transformação de que o país necessita. E, ainda que o desejasse, como o poderia conseguir, num clima de tensões crescentes, quando está em jogo a questão, emblemática, da Caxemira, a força do exército – alimentado por 50 anos de tensão com a Índia – e o desafio do islamismo radical? A volta dos civis ao poder, que continua sendo anunciada para outubro de 2002, não garante uma alteração nas prioridades nacionais9 , nem na política regional, nem de estabilidade política. No Paquistão que se procura, é a incerteza que prevalece.
(Trad.: Jô Amado)

1 - Fundada em 1904, em Dhaka, a Liga Muçulmana tornou-se, na década de 40, sob a direção de Mohammed Ali Jinnah, uma força inevitável em favor da partilha do império.
2 - O xeque Mir Hamza, secretário do Jamaat-i-Ulema-i-Pakistan, foi um dos cinco signatários da fatwa/i> (decreto religioso) emitida por Osama bin Laden, em 23 de fevereiro de 1998, contra os Estados Unidos.
3 - O Paquistão foi governado por militares de 1958 a 1971 e de 1977 a 1988.
4 - O que explica a oposição paquistanesa à Aliança do Norte, que conta com o apoio da Rússia e da Índia. Após a tomada de Mazar-e-Sharif pela Aliança, em 9 de novembro de 2001, a reticência norte-americana em permitir sua marcha sobre Cabul – justamente quando Musharraf se encontrava com Bush, em Washington – obedecia à mesma lógica.
5 - Ler, de Philip S. Golub, “Inde-Pakistan, le bras de fer”, in “Atlas 2000 des conflits”, Manière de voir nº 49, e Le Monde diplomatique, respectivamente janeiro e fevereiro de 2000.
6 - Discurso de 20 de setembro de 2001. As três outras prioridades são: 1) a segurança do país e a ameaça externa – no caso, a Índia, e até os Estados Unidos, se Washington vier a definir o Paquistão como um país que abriga grupos terroristas; 2) o crescimento da economia, indispensável. Ela contaria com a suspensão das sanções impostas por Washington, com novos empréstimos e o reescalonamento da pesada dívida. 3) as centrais nucleares, consideradas ameaçadas, em caso de conflito.
7 - Imtiaz Alam, um comentarista famosos no Paquistão, acredita, a partir da conexão de pashtu pro-taliban, islamistas de confissão deobandi (escola religiosa fundada na Índia, no século XIX) e wahabitas (corrente islâmica originária da Arábia, no século XVIII), o germe para uma possível guerra civil entre os partidários do Estado-nação e os do pan-islamismo radical. The News, Karachi, 20 de outubro de 2001.
8 - O general Moinuddin Haider, ministro do Interior, criticou publicamente, no dia 8 de novembro, o general Hameed Gul, ex-chefe do ISI, e o general Mirza Aslam Beg, ex-chefe do Estado-Maior, por terem criado e financiado, por iniciativa pessoal, um partido islamista, o Islami Jhamoori Ittehad, em 1988, com o objetivo de desestabilizar o governo de Benazir Bhutto. Todo mundo compreendeu, no Paquistão, do que se tratava: “Gul” e “Beg” tiveram um papel fundamental na política afegã de Islamabad e estão entre os “falcões” mais críticos de Pervez Musharraf.
9 - Indispensável, em termos sócio-econômicos: o serviço da dívida abrange quase três quartas partes das despesas públicas.




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