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Um governo de morte

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Ariel Sharon aprendeu as lições de Beirute, de 1982: nada de deixar a comunidade internacional tornar a salvar a pele do líder da OLP. E refletiu também sobre o fracasso de Netanyahu: não basta frear o chamado processo de paz; é preciso destruí-lo

Dominique Vidal - (01/01/2002)

De dezembro de 1987 a 1991, a Intifada palestina resistiu e a repressão arruinou a imagem internacional de Israel. David tornava-se Golias

“Minha intenção não é dizer que um acordo qualquer com os árabes palestinos esteja completamente fora de questão. Mas, enquanto subsistir, em seus espíritos, a mínima centelha de esperança de que um dia venham a poder se desfazer de nós, nenhuma boa vontade, nenhuma promessa cativante os levará a renunciar a essa esperança, justamente porque não são uma vil ralé, e sim, uma nação bem viva. Ora, uma nação viva não se dispõe a fazer concessões sobre questões vitais senão quando perdeu a esperança de ‘se desfazer de nós’ e quando todas as brechas na ‘muralha de ferro’ estiverem definitivamente fechadas1 .”

Zeev Jabotinsky escreveu essas linhas em 1923, num artigo intitulado “A muralha de ferro (Os árabes e nós)”. Dez anos mais tarde, o fundador do chamado sionismo “revisionista”, abriria uma dissidência na Organização Sionista Mundial, a qual ele criticava, principalmente, por não lutar pela criação de um Estado judeu em ambas as margens do rio Jordão e por não criar, com esse objetivo, um exército judeu poderoso. O atual Likud é descendente – via Irgun, Lehi e Herut2 - do movimento revisionista. E Ariel Sharon é o herdeiro – depois de Menahem Begin e Yitzhak Shamir – de Jabotinsky.

David torna-se Golias

Mas a “muralha de ferro” não inspirou somente os descendentes daquele que Benito Mussolini reconhecia como um “fascista”: ela foi o fundamento, durável, da estratégia do Yichuv – a comunidade judia da Palestina – que, depois, se tornaria o Estado de Israel. Sua primeira grande derrota data de 1982: a invasão do Líbano, concebida pelo ministro da Defesa, Ariel Sharon, transformou-se numa catástrofe. Não somente Yasser Arafat e seus feddayin conseguiram escapar-lhe, protegidos por uma força multinacional da ONU, como ele não conseguiu impor à República libanesa o governo pró-israelense com que sonhava. Três anos depois, o exército israelense teria que se retirar, de forma lastimável, da chamada “zona de segurança”.

Uma segunda derrota viria: de dezembro de 1987 a 1991, a Intifada palestina resistiu e a repressão arruinou a imagem internacional de Israel. David tornava-se Golias. Ainda que, durante a guerra do Golfo, Israel conseguisse recuperar seu papel de vítima, os mísseis Scud lançados pelo Iraque demonstraram que, precisamente naquele momento, a ocupação dos territórios palestinos já não era uma garantia de sua segurança...

A campanha contra Rabin

Rabin pagaria com a vida, no dia 4 de novembro de 1995, a tentativa de negociar a paz. Sharon e seus amigos travavam uma campanha histérica contra ele

Foi desses acontecimentos que Yitzhak Rabin tirou as lições, ao longo das negociações iniciadas em Madri e, depois, em Oslo. E, em 13 de setembro de 1993, a Declaração de Princípios palestino-israelense sobre a autonomia, apesar de seus limites, assinala uma ruptura histórica: ratifica, simultaneamente, o reconhecimento mútuo de ambos os beligerantes, a retirada progressiva, por parte de Israel, dos territórios ocupados desde 1967, a criação de uma Autoridade Palestina, eleita, e a negociação de um estatuto definitivo – nas entrelinhas, percebe-se a criação do Estado palestino. E, no ano de 1995, ocorreram, sucessivamente, a eleição do presidente Arafat e de um Conselho Legislativo, a assinatura dos acordos de Oslo I, a criação da Autoridade Palestina e, no final de outubro, a assinatura dos acordos de Oslo II.

Yitzhak Rabin pagaria essa ousadia com sua vida, no dia 4 de novembro de 1995. Havia meses que o general Sharon e seus amigos travavam uma campanha histérica contra ele, alguns chegando a representá-lo em uniforme das SS* . No dia 29 de maio de 1996, eles voltariam ao poder: Benyamin Netanyahu vence Shimon Peres, aproveitando-se de uma onda de atentados do Hamas – que leva o eleitorado de centro a dar uma guinada à direita – e a operação “Vinhas da Ira”, que afasta o eleitorado árabe do candidato trabalhista. É verdade que o velho general Sharon detesta cordialmente Netanyahu, um rival jovem e brilhante, mas nem por isso deixa de apoiar sua política. Mas, se Netanyahu pode bloquear a concretização dos acordos de Oslo, não os pode anular. E, três anos após sua eleição, em 29 de maio de 1999, seria inapelavelmente vencido pelo trabalhista Ehud Barak.

Os três objetivos de Sharon

Para Sharon, que voltara a ser presidente do Likud, era o alarme: o novo primeiro-ministro dizia-se pronto a qualquer compromisso para conseguir uma paz definitiva. Barak não conseguiria impor ao presidente sírio, Hafez El Assad, um acordo que pretendia dar a Israel a soberania total sobre o lago de Tiberíades, mas suas tropas se retirariam, unilateralmente, do Líbano, em maio de 2000. E, embora permitindo a colonização de territórios palestinos num ritmo até então desconhecido, acabou por aceitar negociações com a Autoridade Palestina sobre o estatuto final dos territórios. O fracasso da reunião de cúpula de Camp David, no final de julho de 2000, não bastou para dar garantias aos inimigos de Oslo: entre Barak e Arafat, a negociação prosseguiria, nos bastidores, com os riscos, para a direita, de novas concessões israelenses.

O fracasso da reunião de cúpula de Camp David, no final de julho de 2000, não bastou para dar garantias aos inimigos dos acordos de Oslo

No dia 28 de setembro de 2000, a provocadora visita do general Sharon, protegido por centenas de soldados e policiais, à Esplanada das Mesquitas, conseguiu três objetivos: desencadeou o que viria a ser a segunda Intifada, sabotou a retomada de negociações e, ao marginalizar Netanyahu, lançou sua própria campanha eleitoral. Quatro meses depois, ele arrasaria, literalmente, Barak, que assumiu sua derrota prematuramente, privando-se do tempo necessário para os acertos sobre os acordos esboçados em janeiro de 2001, em Taba, para, em seguida, “vendê-los” ao eleitorado.

Um pretexto para a guerra total

O novo primeiro-ministro aprendeu, sem qualquer dúvida, as lições de Beirute: nada de deixar a comunidade internacional tornar a salvar a pele do líder da OLP. E refletiu também sobre o fracasso de Netanyahu: não bastava frear o que se convencionou chamar processo de paz; era necessário destruí-lo. Mas um considerável número de eleitores israelenses e, principalmente, de dirigentes ocidentais, não avalizariam uma ofensiva total. A solução era transformar a ofensiva em contra-ofensiva. Assim que se elegeu, Sharon empenhou-se em provocar os palestinos, dia após dia, até que eles cometessem uma ação terrorista que, amplamente divulgada pelos meios de comunicação, justificasse o terrorismo de Estado desencadeado por Israel.

O primeiro ministro não improvisa, de modo algum, ao agir dessa maneira. Como revelou, em meados de dezembro, o jornalista israelense Alex Fishman, “Sharon preparou sua armadilha” com base num plano elaborado “antes mesmo de sua eleição”. Preparado pelo general da reserva Meir Dagan, esse plano parte dos seguintes pressupostos: “Arafat é um assassino” com quem “não se negocia”; “o acordo de Oslo é a pior desgraça que se abateu sobre Israel” e, portanto, “deve-se fazer tudo para destruí-lo”. Donde a idéia de isolar progressivamente o chefe da Autoridade Palestina, tanto no interior como no exterior. Uma vez terminada a Intifada, Israel, segundo Dagan, “negociará separadamente com forças palestinas dominantes em cada território - responsáveis palestinos, forças de segurança, de informação e até do Tanzim”. Conclusão do jornalista: “Agora que agarrou sua presa, Sharon não a deixará escapar facilmente.” 4

Assim que se elegeu, o general Ariel Sharon empenhou-se em provocar os palestinos, dia após dia, até que eles cometessem uma ação terrorista

A partir de 11 de setembro, sucederam-se três seqüências. De saída, o primeiro-ministro acreditou poder aproveitar-se do sinal verde do presidente norte-americano, George W. Bush, para atacar a Autoridade Palestina. Foi um erro: não somente foi forçado a retirar suas tropas das cidades autônomas e autorizar Shimon Peres a encontrar-se com Arafat, como teve que engolir – depois de ter acusado os Estados Unidos de abandonarem Israel como os ocidentais abandonaram os sudetos aos invasores nazistas – o novo plano norte-americano para um Estado palestino independente. A segunda fase começou com o assassinato, em 17 de outubro, do ministro de Turismo, Rehavam Zeevi, pela Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), cujo líder na Cisjordânia havia sido “executado” em agosto. Essa “vingança” foi o pretexto para o exército israelense reocupar as cidades autônomas. Dessa vez, as pressões de Washington não impediram os soldados israelenses de semear o terror durante cinco semanas. A terceira fase teve início com o assassinato de um dirigente do Hamas na Cisjordânia, Abu Hanud. Os mandantes sabiam que o movimento islamista revidaria de forma espetacular, o que forneceria mais um pretexto para a guerra total contra a Autoridade Palestina. Exigiram então, de Arafat, que reprimisse o Hamas, ao mesmo tempo em que o impediam, em termos práticos, de fazer (bombardeando e paralisando a polícia palestina) e em termos políticos (impedindo-o de qualquer perspectiva de negociação). O objetivo, reconhecido, é aterrorizar três milhões de palestinos e marginalizar seu presidente – ou mesmo, eliminá-lo.

Multiplica-se a barbárie

“Em seu lugar, teremos o Hamas, o Jihad Islâmico e o Hezbollah5 ”, teria advertido Shimon Peres. “Prefiro um Hamas sem máscara a uma Autoridade Palestina mascarada6 ”, teria retorquido Uzi Landau, ministro da Segurança Interna. E começam as apostas: quem será o sucessor do “Velho”? A “velha guarda”, a “jovem guarda” ou o chefe de um serviço de segurança? Pouco importa: na realidade, o general Sharon simplesmente não quer mais ter interlocutores reconhecidos, interna como externamente, para não ser obrigado a negociar. Que reocupe os territórios ou deixe a sua administração por conta dos cerca de 40% de “prefeitos” colaboradores, nada vai mudar. E é o que diz o próprio Landau: “Os planos de paz podem ser vistos mais tarde. (...) O que é uma certeza é que jamais aceitaremos a existência de um Estado palestino. Isso seria uma catástrofe7 .”

E, se a catástrofe fosse o contrário... Pois, com a segunda Intifada e sua repressão brutal, o conflito ganhou dimensões equivalentes às de 1948: “Há o sentimento”, salientava o historiador Tom Segev, “de que voltamos à época do mandato britânico, que precedeu a criação do Estado de Israel, quando duas comunidades se enfrentavam de armas na mão8 .” E nunca, nos últimos 50 anos, tantos atos de barbárie se multiplicaram: assassinatos de crianças palestinas, pogroms anti-árabes, linchamento de dois soldados israelenses, mesquitas incendiadas, destruição do túmulo de José, bombardeios com aviões F-16 e helicópteros, atentados suicidas... Como se o palco da batalha política de um povo em busca de sua liberdade se tivesse transformado em uma luta de morte étnico-religiosa...

Opções contraditórias de Israel

Os mandantes do assassinato de Abu Hanud sabiam que o Hamas revidaria, fornecendo mais um pretexto para a guerra total contra a Autoridade Palestina

Estes quinze meses de horror prenunciam o que se poderia tornar a batalha da Palestina: uma guerra civil, às vezes latente, às vezes generalizada, entre duas populações intimamente ligadas, inclusive os árabes israelenses. E, no meio de uma confusão dessas, para que servem bombas atômicas, mísseis, blindados? O nome da chave da vitória talvez seja demografia. O movimento sionista sabe disso: desde suas origens, não parou de conjugar a luta pela terra e a imigração, com o objetivo de constituir uma maioria judia. Ora, se na “Grande Israel” – tão cara ao chefe do Likud – se contam hoje 5,1 milhões de judeus e 4,1 milhões de palestinos, estes se tornarão maioria no ano de 2010; e em 2020 serão 8,1 milhões, contra 6,7 milhões de judeus9 .

Israel só dispõe de duas armas capazes de exorcizar essa ameaça: uma imigração judia maciça e/ou uma expulsão, não menos maciça, de palestinos. A primeira parece pouco provável, a menos que explodisse uma onda muito séria de violência anti-semita nos países ocidentais. A segunda, que foi batizada de “transferência” – e que acalenta os sonhos de uma parte da direita israelense – seria impossível de ser organizada “a frio”. Pressupõe uma situação exacerbada, uma conflagração regional: que país árabe ousaria a loucura de se lançar em tal aventura?

Já que não foi permitido que nascesse, a seu lado, um Estado palestino independente e viável, Israel – que se define como um “Estado judeu e democrático” – terá pela frente uma importante contradição: a de optar pela democracia e, portanto, conceder o direito de voto a todos os seus habitantes, caso em que deixaria de ser um Estado judeu; ou se agarrará, com obstinação, à preservação de seu caráter judeu, caso em que deixaria de ser democrático. E a manutenção de um autêntico apartheid contra uma crescente maioria árabe provocará insurreições e um tipo de repressão tais que, diante deles, os de hoje são um mero aperitivo. Não é difícil imaginar, num cenário desses, o desaparecimento do Estado de Israel.

Uma política suicida

Mestre em táticas de curto prazo, será que o general Sharon teria uma estratégia de longo prazo para exorcizar esse fim? Pelo contrário: ao combater com todas as suas forças a criação de um Estado palestino – que contribuiria, precisamente, para garantir a existência do Estado de Israel e seu caráter judeu – ele parece não compreender que a hora já chegou. Exemplo disso é que, no período de um ano, Israel viu romperem-se as relações, diplomáticas e comerciais, que havia estabelecido nos anos de Oslo com o Marrocos, a Tunísia, Catar e Omã, além de uma primeira tentativa de contatos com a Argélia e os Emirados Árabes Unidos – só permanecendo em vigor os tratados assinados com o Egito e a Jordânia, mas os embaixadores desses países já deixaram Tel Aviv há muito tempo...

Nunca, nos últimos 50 anos, se viram tantos atos de barbárie: assassinatos de crianças, pogroms anti-árabes, bombardeios, atentados suicidas...

Se, em termos de futuro, é suicida, a política do primeiro-ministro já representa, a partir de agora, graves conseqüências para seus concidadãos. Segurança? A proporção de vítimas israelenses passou de uma em cada cinco, na primavera, para uma em cada duas, nas primeiras semanas de dezembro. Crescimento econômico? Se chegava a 6% na primeira metade da década de 90, caiu para 4,7% no ano 2000, para 2,7% em 2001 e a previsão é de que desça para 1,7% em 2002. Investimentos estrangeiros? De janeiro a setembro de 2001, decresceram 70% em relação ao mesmo período em 2000. Turismo? Teve uma queda de 65%, provocando a perda de um em cada quatro empregos no setor. Desemprego? Deverá atingir 10% da população economicamente ativa em 2002 (contra 6,7%, em 1996). Miséria? Em 1999, 300 mil famílias viviam abaixo do limiar oficial de pobreza, ou seja, bem mais de 18% da população...

Um governo de morte

Como irá reagir a opinião pública israelense? Em termos imediatos – e considerando que os atentados reforçam o sentimento de que a própria existência do Estado de Israel está em perigo – é lógico que uma grande maioria deverá apoiar o primeiro-ministro. Essa reação, no entanto, não deixa de ser um pouco esquizofrênica, pois muitos dos que clamam por vingança são os que desejam a retomada das negociações de paz10 . Mais para a frente, é o próprio futuro da sociedade israelense que está em jogo. Nada permite afirmar que a febre ultra-nacionalista apague a enorme aspiração à normalização por parte de uma população cujo sonho é consumir mais, e em paz, e não fazer a guerra para salvar os colonos. Ainda que o conflito com os árabes se possa tornar o cimento de um “mosaico” de sucessivas imigrações, abalado pela globalização e dividido por suas querelas internas (judeus e árabes, leigos e religiosos, asquenazes e sefarditas...) e órfão de um ideal. A paz interna e a paz externa não podem ser dissociadas.

Numa entrevista publicada em abril pelo diário Haaretz , o novo primeiro-ministro de Israel saiu-se com estas frases estranhas: “A guerra da independência de 1948 não terminou.” Atualmente, compreende-se melhor seu sentido. Entre as vozes que denunciam essa demência guerreira está a de Nourit Peled-Elhanan, conhecida dos leitores do Monde diplomatique11 : ela havia dito, em nosso jornal, os motivos pelos quais considerava Benyamin Netanyahu responsável pela morte de sua filha Smadar, num atentado em 1997. Agora, ao receber o prêmio Sakharov no Parlamento Europeu, juntamente com o escritor palestino Izzat Ghassawi, foi Ariel Sharon que ela atacou: “Dylan Thomas escreveu um poema intitulado ‘A morte não tem governo’. Em Israel, a morte tem um governo. Em Israel, a morte governa e esse governo é um governo de morte12 .”
(Trad.: Jô Amado)

1 - Sionismes. Textes fondamentaux, compilados e organizados por Denis Charbit, ed. Albin Michel, Paris, 1998.
2 - N.T.: Organizações terroristas que atuaram na guerra de 1948.
3 - Ler, de Amnon Kapeliouk, Rabin, un assassinat politique, Le Monde éditions, Paris, 1996.
4 - Yediot Aharonat, Tel Aviv, 14 de outubro de 2001, citado por Le Monde,18 de dezembro
5 - Yedioth Aharonot, Tel Aviv, 1º de outubro de 2001.
6 - Le Monde, 14 de dezembro de 2001.
7 - Le Monde, 14 de dezembro de 2001.
8 - L’Humanité, 12 de outubro de 2000.
9 - Ler o artigo de Arnon Sofer na Newsweek, Nova York, 12 de agosto de 2001 ; o de Youssef Courbage, Enjeux démographiques, Le Monde diplomatique, abril de 1999, e Populations & sociétés nº 362, Paris, novembro de 2000.
10 - No entanto, o percentual dos que defendem a retomada de negociações caiu de 55%, em 23 de novembro, para 32%, em 3 de dezembro. Fonte: Maariv, Tel Aviv.
11 - Le Monde dipomatique, outubro de 1997.
12 - Yedioth Aharonot, Tel Aviv, 3 de dezembro de 2001.




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