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PALESTINA

Jenin: um crime de guerra

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Jenin foi invadida em 3 de abril, quinto dia da ofensiva israelense. A batalha foi dura e desigual. Os palestinos sofreram perdas enormes e os feridos agonizavam, uma vez que as ambulâncias do Crescente Vermelho foram proibidas de circular no campo

Amnon Kapeliouk - (01/05/2002)

A paisagem desafia qualquer descrição. Uma encarnação do horror, uma visão de após-furacão. Casas destruídas, total ou parcialmente, restos de cimento armado e de ferro, entremeados de fios elétricos. Carros reduzidos a pó por tanques ou mísseis acrescentam uma dimensão bárbara a esse espetáculo assustador. Um cheiro forte de cadáveres flutua sobre os escombros. Nada resta da infra-estrutura.

No meio do campo de refugiados, um terreno baldio retangular. Era o bairro Hauachin, formado por umas 150 casas (de um total de 1.100 em todo o campo). Buldôzeres gigantes demoliram completamente o bairro antes de aplainar o solo. Mulheres, velhos, crianças e homens perambulam pelos escombros, à procura de familiares soterrados.

Crianças que perderam o sorriso

Uma encarnação do horror: casas destruídas, carros reduzidos a pó por tanques ou mísseis e um cheiro forte de cadáveres flutuando sobre os escombros

Um homem de trinta anos cava a terra com uma pá, enquanto seu filho afasta os escombros com as mãos. Esperam encontrar os membros da família que foram soterrados vivos. Umas dezenas de metros mais adiante, três homens retiram o cadáver do pai, desfigurado, dos restos do que foi a casa deles. Outros procuram objetos no que foi sua residência. O campo de refugiados de Jenin é um dos mais pobres da Cisjordânia.

No canto de um prédio semidestruído, uma mulher de uns quarenta anos chora e grita: “Deus! Vingue-nos e faça com que Sharon morra.” Membros de sua família, insiste, jazem sob os escombros. Algumas crianças olham em volta, atônitas. O horror apagou o sorriso de seus rostos. “Sharon, com sua operação louca e criminosa, fez de todas essas crianças futuros homens-bomba. É ele, esse monstro, que nos levará a todos a dar o troco por todos os meios, para expulsar seu exército e seus colonos de nossa terra”, diz uma jovem cuja família inteira foi salva, fugindo para a aldeia vizinha de Roumaneh, no primeiro dia do ataque contra o campo.

“As terríveis destruições no campo de refugiados foram feitas de acordo com um plano minucioso. Sharon queria nos aterrorizar”, explica Mohammad Abu el-Hija, dentista de 32 anos, cuja família foi expulsa em 1948 da região de Haifa, como muitos outros moradores. De 80% a 90% das casas estão inabitáveis. Do lado leste e no centro da localidade, a devastação é total. O delegado geral do Escritório de Socorro e de Obras das Nações Unidas para os refugiados da Palestina (UNRWA), Peter Hansen, expressou seu horror e reconheceu o campo como zona sinistrada.

Atirar em tudo que mexe...

Jenin foi invadida em 3 de abril, quinto dia da ofensiva contra as cidades palestinas da Cisjordânia. Tiroteio intenso, obuses lançados de tanques e mísseis de helicópteros marcaram o início do ataque contra o campo. O toque de recolher foi decretado e os moradores, aterrorizados, refugiaram-se em suas casas. Como os tanques não conseguiam entrar nas ruelas, buldôzeres gigantes destruíam as casas dos dois lados da via. Uma segunda vaga de destruição começou quatro dias mais tarde com a demolição sistemática do centro, onde se erguiam prédios de um a três andares. Era ali que combatentes palestinos, armados de fuzis e de explosivos, tinham-se agrupado para se oporem a um dos exércitos mais modernos do mundo. A batalha foi muito dura e desigual. Os palestinos sofreram perdas enormes e os feridos – combatentes, mas também, na maioria, civis – agonizavam, uma vez que o exército israelense proibia as ambulâncias do Crescente Vermelho de circularem no campo.

Um homem cava a terra com uma pá, enquanto o filho afasta os escombros com as mãos. Procuram os membros da família que foram soterrados vivos

Em 9 de abril, os palestinos armaram uma emboscada em que treze soldados israelenses foram mortos. O exército então deu instruções para evitar a qualquer preço novas baixas. Atiraram, portanto, contra tudo o que se mexia. Os soldados não haviam sido informados de que o campo era um reduto de terroristas do Hamas e do Jihad? Era o que justificava, para eles, uma punição coletiva do campo... Intensificou-se então a destruição das casas com dinamite. Nesse campo, como em todas as cidades palestinas, qualquer instituição ou escritório da Autoridade Palestina foi destruído sistematicamente: tratava-se de aniquilar todos os seus símbolos e todos os seus meios.

O crime de guerra como norma

Todos os apartamentos foram sistematicamente vasculhados: com a família trancada num único compartimento, os soldados derrubavam os móveis, abriam os armários, jogando tudo no chão e deixando para trás uma desordem indescritível. Multiplicaram-se os roubos de dinheiro, de jóias e até de cigarros (“lembranças”, na linguagem militar deles). Para abrir as portas, utilizavam-se de um escudo humano, ou seja, eram precedidos por um morador do campo – uma prática que evidencia um “crime de guerra”. Se não havia resposta, explodiam a porta. Um “incidente” entre muitos: um “escudo” diz ao soldado que ouviu barulho no interior da casa, mas este último explode a porta assim mesmo, ferindo gravemente uma mulher. “Lamento”, disse o soldado, antes de passar à porta seguinte...

As ruínas a céu aberto de Jenin são prova de uma vontade destruidora. Mas quantas foram as vítimas? O campo contava com 14.500 moradores. Umas mil pessoas fugiram do local para as aldeias da vizinhança na véspera do ataque israelense. No segundo dia da entrada dos blindados, alto-falantes do exército conclamaram os palestinos a abandonarem o campo. Decretado no início da operação, o toque de recolher foi suspenso para facilitar sua saída. Nesse mesmo dia e durante os dias seguintes, alguns milhares de pessoas foram embora, a pé, em direção a sete pequenas aldeias da região: 4 mil permaneceram escondidas em suas casas em condições catastróficas: sem água, comida ou eletricidade, sem poder ir ao hospital e numa atmosfera infernal de tiros, de bombardeios e explosões, dia e noite.

“Abreviando a vida” de seres humanos

O exército israelense deu instruções para evitar a qualquer preço novas baixas. A ordem, portanto, era atirar contra tudo o que se mexia

Os helicópteros “regaram” o campo sem piedade. Aqui, só os Cobras – temíveis “monstros” que agiram durante a guerra do Vietnã – estavam em ação. Um piloto da esquadrilha dos Cobras, o tenente-coronel Sh., conta: “Nossa esquadrilha lançou, durante todos os dias dos combates, uma quantidade enorme de mísseis no interior do campo de refugiados. Centenas de mísseis. Toda a esquadrilha foi mobilizada para essas operações, inclusive reservistas (...). Durante os combates, havia sempre acima de Jenin dois Cobras prontos para lançar um míssil na casa indicada pelo Quartel General do solo (...). Os ‘combatentes voadores’ não poderão garantir que seus mísseis não atingiram civis”.

Pergunta: - Será que isso não se assemelha a um falso vídeo game? Vocês estão no ar com um míssil Tau e eles, com Kalachnikovs...

– “É, não é um combate de igual para igual, e ainda bem (...). Nunca disparei um míssil contra mulheres e crianças. Será que não abreviei, no final das contas, a vida de seres humanos? A resposta é positiva. Não posso fazer nada. 1

Tanques esmagavam tudo à sua frente

A participação dos Cobras resultou de centenas de horas de preparação. O campo foi fotografado por satélite, cada uma das casas recebeu um número de quatro algarismos, os dois pilotos tinham um mapa e, quando captavam uma ordem indicando um número, o míssil era imediatamente lançado sobre a casa designada. Quantas pessoas foram atingidas por esses mísseis? Quantas vítimas houve entre os combatentes? E quantas entre os civis inocentes? Ninguém saberia dizer.

“Não é difícil imaginar o que acontece dentro das casas, depois de tudo o que se atirou sobre elas”, diz um reservista que não quer se identificar. (...) “Depois da morte do comandante de nossa companhia nos primeiros minutos do combate, a ordem que recebemos era muito clara: atirar contra cada janela, arrasar todos os prédios, estivessem, ou não, atirando de lá. Disseram-nos claramente: ‘Acabem com eles!’ A partir desse momento, despejamos a munição de todas as armas que o exército possui, exceto a artilharia. Atiramos dezenas de mísseis no interior das casas e utilizamos as metralhadoras pesadas contra cada janela. Até matamos um cavalo que passava na rua.”

Para abrir as portas dos apartamentos, os soldados utilizavam-se de um “escudo humano”, uma prática que evidencia um crime de guerra

“Todas as noites, era preciso ‘despertar o campo’, de acordo com as ordens. O objetivo era atirar contra (os combatentes) para provocar uma resposta deles, e então atirar exatamente sobre os lugares de onde vinha o tiro. No entanto, na realidade, atiramos uma quantidade enorme de munição em todas as direções (...). Durante o toque de recolher, havia ‘patrulhas violentas’. Um tanque ‘galopava’ pelas ruas desertas, esmagava tudo o que encontrava pela frente e abria fogo contra os que violavam o toque de recolher.”

– Você viu vítimas?

– “Pessoalmente, não vi. Estavam em suas casas. Nos últimos dias, a maioria dos que saíram dos prédios eram velhos, mulheres, crianças que sofreram nosso ataque. Não lhes deixamos nenhuma possibilidade de sair do campo; trata-se de um grande número de pessoas. Numa noite, fiquei de guarda (num apartamento em que estávamos instalados). Durante toda a noite, ouvi uma menina que chorava. Ali produziu-se uma desumanidade. Evidentemente, nós havíamos sofrido um ataque violento, mas, em resposta, apagamos uma cidade do mapa. 2

Em 11 de abril, os últimos combatentes palestinos param de opor resistência.

O grande número de vítimas palestinas chocou, em Israel, todos os que rejeitam a política de força do governo de Ariel Sharon, mas também todos os que temem que a imagem do Estado judeu saia arranhada. Os pacifistas se manifestaram nas grandes cidades do país, tentando até fazer chegar ajuda humanitária à população arruinada. Até o ministro das Relações Exteriores, Shimon Peres, se alarmou, segundo o jornal Haaretz, com as “reações internacionais hostis, logo que forem conhecidas as dimensões da batalha no campo de refugiados de Jenin, na qual mais de cem palestinos foram mortos. Por ocasião de conversações a portas fechadas, Peres qualificou a operação de ‘massacre’” 3 .

Estranhas contas do governo

Quatro mil pessoas ficaram escondidas, sem água, comida ou eletricidade, sem poder ir ao hospital, em meio a tiros, bombardeios e explosões, dia e noite

Como o primeiro-ministro se enfurecesse com os “comentários irresponsáveis”, Peres afirmou que havia sido mal compreendido. Mas os fatos persistem, e o número de vítimas palestinas não parava de crescer. O especialista das questões de defesa do jornal Haaretz, Zeev Schiff, conhecido por suas ligações com o establishment militar, contou que “foram encontrados oitenta cadáveres, depois do final dos combates, durante as primeiras escavações. Calcula-se que o número de vítimas nos combates se eleve a cerca de duzentos palestinos, inclusive civis, dos quais uma parte está enterrada sob os escombros das casas desmoronadas 4 ”. O total de duzentos mortos se impõe. O porta-voz do exército, coronel Ron Kitri, também cita esse número5 .

Para os moradores do campo, essa é uma conta subestimada. No entanto, o ministro da Defesa, o trabalhista Benjamin Ben Eliezer, interveio declarando que o “número verdadeiro” é de algumas dezenas de mortos. Um editorialista israelense se pergunta: “Será que é possível que em combates tão intensos como os de Jenin, que custaram a vida de 23 soldados israelenses e feriram sessenta, dos quais participaram helicópteros de combate, tanques e buldôzeres pesados, com tanta destruição, o número de mortos (palestinos) seja tão reduzido? Há alguma coisa que não está certa nesse cálculo. 6

O “cemitério dos números”

O segredo do balanço exato, de qualquer maneira muito elevado, se esconde sob as casas destruídas no centro de Jenin e em outros lugares, bem como nos túmulos palestinos e nas covas cavadas pelo exército israelense. Durante os combates, quinze vítimas foram enterradas pelos moradores, das quais, oito diante do hospital do campo. Na parte leste do campo, existe um terreno baldio onde os soldados israelenses, segundo várias testemunhas, cavaram a terra com um buldôzer, “e provavelmente enterraram cadáveres”. Perto do cemitério, algumas vítimas, em número desconhecido, foram enterradas. Existem também ainda dezenas de cadáveres nos serviços de saúde aguardando o momento de serem sepultados.

Quantas pessoas foram atingidas pelos mísseis? Quantas vítimas houve entre os combatentes? E quantas entre os civis inocentes? Ninguém saberia dizer

Finalmente, o maior mistério cerca a transferência dos cadáveres recolhidos no campo e levados inicialmente para o bosque de Saadeh, no norte da localidade. Dali, embalados pelos serviços do rabinado militar em sacos plásticos pretos, foram transportados em grandes caminhões frigoríficos para o cemitério criado e mantido pelo exército israelense para os ativistas palestinos, perto da ponte Damiah, no vale do rio Jordão (“cemitério dos terroristas” para os israelenses, “cemitério dos números” para os palestinos, por causa dos números que figuram sem mais nada sobre os túmulos). Associações israelenses de direitos humanos dirigiram-se à Suprema Corte de Justiça para pôr fim a esses enterros, mas o grosso de “trabalho” já havia sido feito. Quantos cadáveres teriam sido transferidos para lá? Mistério...

Longa lista de crimes e massacres

Isso significa que a Comissão criada pelo secretário-geral da ONU sobre os acontecimentos de Jenin –cuja composição e objetivos começaram a ser contestados por Sharon – tem, diante de si, uma tarefa difícil7 . A comissão deverá também estudar a proibição de intervenção, durante onze dias, feita à Cruz Vermelha e ao Crescente Vermelho, assim como a vários grupos humanitários, enquanto violação das convenções sobre o direito da guerra.

Os palestinos solicitaram com urgência o envio de material pesado para desimpedir as casas destruídas, para que possam procurar sobreviventes. O pedido foi negado por Israel, que dispõe de meios para o fazer. O longo e hermético fechamento do local do desastre à imprensa local e internacional, pouco comum nesse país, provocou muitas dúvidas sobre os relatórios do exército e do governo. O que haveria para ser ocultado? A imprensa israelense não esteve à altura dos acontecimentos, com exceção de alguns jornalistas que não respeitaram o slogan “Silêncio! Estamos atirando”.

A partir de agora, o campo de refugiados palestinos de Jenin fará parte da longa lista de crimes que marcam o conflito entre israelenses e palestinos, do massacre de Qibya (1953) ao de Sabra e Chatila (1982). Todos tendo como denominador comum o general Ariel Sharon.
(Trad.: Regina Salgado Campos)

1 - Yedioth Aharonoth, Tel Aviv, 19 de abril de 2002.
2 - Yedioth Aharonoth, Tel Aviv, 19 de abril de 2002.
3 - Haaretz, Telavive, 9 de abril de 2002.
4 - Haaretz, 12 de abril de 2002.
5 - Haaretz, 12 de abril de 2002.
6 - Yedioth Aharonoth, 19 de abril de 2002.
7 - N.R.: No início de maio, atendendo às pressões do governo israelense, as Nações Unidas desistiram de enviar uma missão a Jenin.




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