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Sudoeste Asiático na mira dos EUA

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O esforço para impedir o surgimento de um rival, a luta contra o terrorismo e a guerra (não terminada) do Afeganistão – objetivos estratégicos dos EUA – inserem-se num espaço geográfico que envolve a Rússia, a China e a Índia

Paul-Marie de La Gorce - (01/12/2002)

A estratégia norte-americana insere-se em três contextos distintos que se sobrepõem parcialmente: a política definida depois da guerra fria, para impedir o ressurgimento de qualquer potência rival, análoga ao que foi a União Soviética (donde a busca do enfraquecimento da Rússia); a luta global contra o terrorismo, contra os países que o apóiam, mas também contra os que decidiram adquirir armas de destruição em massa ou que já as possuem; e a guerra iniciada no dia 7 de outubro de 2001 contra o Afeganistão, com suas retomadas e seus desdobramentos. Em grande parte, esses três contextos coincidem com o espaço geográfico compreendido entre os mundos asiático, chinês, indiano, eslavo e árabe, e que os especialistas norte-americanos designam através do conceito de “Sudoeste Asiático”.

Em agosto de 2002, o general Tommy Franks, chefe das operações militares no Afeganistão, anunciou que suas tropas estavam ali “por muito e muito tempo”

O cenário de operação da guerra desencadeada contra o Afeganistão era, portanto, conhecido dos dirigentes norte-americanos, que puderam ter a impressão de haver atingido seus objetivos depois da dispersão ou da fuga das últimas unidades do taliban e dos homens do grupo Al Qaida e com a formação, em Cabul, de um poder sob a autoridade, pelo menos nominal, do presidente Hamid Karzai. No entanto, ainda no mês de agosto de 2002, o general Tommy Franks, chefe das operações militares no Afeganistão, anunciou publicamente que as forças norte-americanas estavam ali “por muito e muito tempo”. Estas forças compreendem de 7.000 a 8.000 homens e, a partir dos poucos dados que passam sobre suas atividades, pode-se deduzir que, na maior parte do tempo, permanecem acantonadas em suas posições por falta de informações que lhes dêem chances de sucesso na caça aos sobreviventes das unidades do taliban e do grupo Al Qaida. Por outro lado, a insegurança continua geral em quase metade do território afegão, principalmente na parte em que está implantada a comunidade pachtu.

O impasse da comunidade pachtu

As pessoas de destaque - um grupo de quase mil pessoas - que representam essa comunidade reuniram-se em 24 e 25 de outubro em Peshawar, no início da operação norte-americana e declararam-se a favor da saída do grupo Al Qaida do território afegão, mas, e ao mesmo tempo, contra a intervenção militar norte-americana. Tal episódio marcou o fracasso das tentativas de constituir um governo que se apoiasse nos pachtus e substituísse imediatamente o governo dos taliban. O rumo da campanha foi modificado por esse fato.

Nos primeiros dias, os Estados Unidos concentraram seus ataques contra os estoques de materiais, de equipamentos, de munições e de combustíveis dos taliban, mas pediram firmemente que as tropas da Aliança do Norte permanecessem em condições de atacar. O fracasso das tentativas de formar um governo de maioria pachtu levou Washington a bombardear maciçamente as cidades a serem conquistadas: Mazar-i-Charif, Cabul, Djalalabad e Kandahar. As tropas da Aliança do Norte entraram nelas praticamente sem combates, ao passo que se revelaram inoperantes nas regiões povoadas pelos pachtus, onde as unidades recrutadas no local nunca manifestaram o ardor e a combatividade desejáveis.

O objetivo norte-americano - destruição completa das forças taliban e da Al Qaida e a captura dos líderes - foi alcançado apenas de modo muito parcial

O objetivo perseguido - a destruição completa das forças taliban e do grupo Al Qaida e a captura de seus líderes - foi alcançado apenas de modo muito parcial. A composição do novo governo de Cabul, com predominância uzbeque, tadjike e, em menor proporção, hazara (xiita) 1, a pouca autoridade do presidente Hamid Karzai e a insegurança na maior parte do país, inclusive na capital, bastaram para o demonstrar. Mais ainda, a porosidade da fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão e o comportamento comum das populações pachtus de um lado e de outro confirmaram que o conjunto das regiões dos pachtus do Afeganistão escaparia ao novo poder de Cabul e que uma guerrilha poderia, um dia, instalar-se ali, com retaguardas situadas em território paquistanês.

Crescem os radicais no Paquistão

A guerra do Afeganistão tornou-se, dessa forma, a guerra do Paquistão. Os primeiros sintomas disso foram os atentados contra os serviços diplomáticos norte-americanos – e depois, o seu fechamento – e a operação terrorista que provocou a morte de onze técnicos franceses da marinha em Karachi, no dia 8 de maio de 2002. Para os Estados Unidos, o engajamento total do presidente Pervez Mucharaf a seu lado representava um trunfo fundamental, mas não suficiente. Os resultados das eleições legislativas de 10 de outubro provam isso: o partido do presidente - a Liga Muçulmana Quaid-e-Azam - chegou amplamente à frente, é certo, nas regiões correspondentes à sua base pessoal e comunitária, mas os partidos religiosos, reunidos no Mutahidda Majlis-e-Aman (MMA), ganharam maciçamente nas regiões dos pachtus, tanto nas regiões próximas ao Afeganistão quanto na vizinha província do Baluchistão.

Ora, o MMA reúne os partidos islâmicos mais radicais e cuja cultura tem parentesco com a dos taliban: o Jamait Ulema-e-Pakistan, rigorosamente radical; o Jamait Ahle Hadith, que reivindica o wahabismo; o Millat-e-Jafria-Pakistan, que reúne a comunidade xiita; e os grupos mais radicais do Jamait Ulema-i-Islam, que tem como um de seus dirigentes Samiul Haq, diretor de uma das mais famosas escolas corânicas do país, em Akora Khattak, onde estudaram o mulá Omar e Osama bin Laden. Vice-presidente do MMA, Qazi Hussain Ahmed anunciou a vontade de seu partido de suprimir as bases norte-americanas em território paquistanês e forçar o país a sair da coalizão forjada pelos Estados Unidos “contra o terrorismo”, acrescentando que estabeleceria, nas regiões que controla, uma “lei islâmica total” sem “aceitar jamais a cultura ocidental”.

Problemas na Arábia Saudita

Os resultados das eleições de outubro no Paquistão provam que os partidos islâmicos radicais ganharam maciçamente nas regiões próximas ao Afeganistão

Os militantes da maioria dos grupos que constituem o MMA, em particular os jovens, não se distinguem fundamentalmente daqueles que, sob os rótulos de taliban ou da Al-Qaida, engajam-se pouco a pouco na luta armada dos dois lados da fronteira. Podem-se imaginar as conseqüências de tal fato num país que, apesar do caráter ditatorial de seu regime, continua dividido entre comunidades irredutivelmente autônomas e encarniçadamente particularistas.

Toda guerra é uma engrenagem: esta leva os Estados Unidos a estenderem seu raio de ação muito além dos territórios afegão e paquistanês. A presença das forças aérea e terrestre na ilha de Diego Garcia, no coração do Oceano Índico, foi reforçada. Duzentos “conselheiros” instalaram-se no Iêmen, onde o tiro preciso de um drone2 contra um carro que levava seis dirigentes do grupo Al-Qaida revelou suas capacidades operacionais. Unidades especiais foram discretamente estabelecidas em Djibouti, antes que ali se instalasse um quartel general norte-americano com seu estado-maior e seus serviços. Este dispositivo não tem como único objetivo a continuação das ações contra os grupos terroristas em regiões onde tenham podido - como demonstra o atentado de 6 de outubro de 2002 contra o petroleiro francês Limbourg - se dispersar, recrutar e retomar suas atividades: trata-se, sobretudo, de continuar as ações das bases norte-americanas da Arábia Saudita, se os dirigentes deste país mantiverem sua decisão de não autorizarem sua utilização em caso de guerra contra o Iraque. A respeito desta decisão, contudo, o príncipe Saud Al-Fayçal, ministro saudita das Relações Exteriores, declarou, no dia 5 de novembro, que ela não era irreversível.

As difíceis reformas no Irã

Os dirigentes da Arábia Saudita decidiram não autorizar a utilização das bases norte-americanas em seu país no caso de guerra contra o Iraque

Para a política norte-americana, o essencial continua sendo o teatro de operações do Sudoeste Asiático e seus dois componentes: o Irã e as repúblicas muçulmanas ex-soviéticas da Ásia Central. A prioridade dada por George W. Bush à guerra contra o Iraque não deve fazer esquecer que o Irã permanece no cerne dos projetos de Washington. Inserindo-o na lista dos países que constituem o “eixo do Mal”, juntamente com o Iraque e a Coréia do Norte, o presidente norte-americano surpreendeu muitos observadores. Na guerra contra o regime dos taliban, o Irã foi, na prática, um aliado dos Estados Unidos, ajudando, armando e financiando a milícia da comunidade hazara, membro da Aliança do Norte. Esta contribuição serviu, aliás, como argumento para os meios diplomáticos, econômicos e até parlamentares que, nos Estados Unidos, sempre defenderam uma aproximação com Teerã. Atualmente, tal opção está descartada.

Por quê? A primeira explicação relaciona-se com uma análise negativa do regime3. Sem contestar que este se divide em múltiplos e contraditórios centros de decisão, os partidários de um confronto duro denunciam a existência, à sua frente, de uma autoridade – Velayat-e Faqih - que se exerce sobre toda a vida pública e social. Seu titular dirige as forças armadas, os serviços de segurança, os Guardas da Revolução, as forças paramilitares, as instituições do poder judiciário, os “imãs da sexta-feira” (cujos sermões refletem suas diretrizes) e até a rádio e a televisão. Daí decorre, dizem eles, a impotência do presidente Mohamed Khatami em reformar o regime4.

Teerã na mira de Washington

A prioridade dada por Bush à guerra contra o Iraque não deve fazer esquecer que o Irã foi inserido na lista dos países que constituem o “eixo do Mal”

Mas, acima de tudo, eles invocam uma razão de natureza estratégica. “O Irã, e não o Iraque, é que é nosso inimigo principal: o Irã terá a bomba nuclear daqui até 2005”, declarou, de passagem pela capital norte-americana, Benjamin Ben Eliezer, então ministro israelense da Defesa. Os dirigentes norte-americanos, de boa ou de má-fé, têm a mesma convicção, convencidos de que, se o regime do xá Reza Pahlevi dera os primeiros passos para dispor de arma nuclear, o regime islâmico tem razões mais fortes para o fazer. Teerã sente-se cercada de inimigos antigos ou virtuais que têm ou poderão ter um arsenal nuclear: o Iraque, Israel, o Paquistão e, naturalmente, os Estados Unidos. As armas preparadas pelos técnicos iranianos deveriam funcionar à base de urânio muito enriquecido, obtido através de baterias de centrifugadoras que, de fato, o Irã procurou adquirir, e mais provavelmente através da separação eletromagnética de isótopos. E o país possui sessenta mísseis Scud-C, com autonomia de 500 quilômetros, comprados da Coréia do Norte, mais mísseis Shahab - em especial os Shahab-3, de 1.200 quilômetros de alcance, e os Shahab-4, que poderiam atingir o sul da Europa.

No entanto, tudo leva a pensar que os dirigentes iranianos ainda não se decidiram entre três opções: a continuação das pesquisas até a aquisição de matérias físseis e de lançadores suficientemente eficazes, esperando que ameaças externas precisas obriguem a fazer deles um verdadeiro arsenal nuclear; a construção secreta de armas nucleares, a exemplo de Israel; e um futuro teste de uma bomba nuclear, como fizeram a Índia e o Paquistão. Todas as hipóteses, consideradas igualmente inaceitáveis por Washington: é inadmissível que o Irã se torne uma potência preponderante na região, nem que os Estados Unidos sejam levados a dar às monarquias do Golfo uma garantia nuclear automática e, com mais razão ainda, a usar aí suas forças, convencionais ou nucleares. É forçoso concluir disso que o Irã corre o risco de tornar-se, de um modo ou de outro, um caso de aplicação da nova doutrina norte-americana de ação preventiva5.

O “Grupo de Xangai”

“O Irã terá a bomba nuclear daqui até 2005”, disse, de passagem pela capital norte-americana, Benjamin Ben Eliezer, então ministro israelense da Defesa

Ninguém, no país, o ignora. Assim como a operação do Afeganistão levou o Paquistão a uma comoção de que só os primeiros sinais são perceptíveis, também a guerra contra o Iraque poderia suscitar reações iranianas mais próximas e previsíveis do que se pensa. Teerã não ajudará o presidente Saddam Hussein. Mas, se os Estados Unidos - já presentes militarmente nos países do Golfo, no Paquistão, na Ásia Central e na Turquia - acabassem fazendo, por meio de sua dominação sobre o Iraque, um cerco total do Irã, o regime islâmico sem dúvida reagiria através de uma ajuda aos partidos e movimentos de oposição no Afeganistão e no Paquistão. Ao mesmo tempo, poderia apoiar-se nos xiitas para impedir que o futuro Estado iraquiano se inserisse completamente no dispositivo estratégico norte-americano. Sob o efeito de uma engrenagem previsível, a guerra do pós-11 de setembro assumiria, então, outras formas e uma outra dimensão.

A ofensiva do governo Bush já transformou o cenário político e estratégico nos ex-países soviéticos da Ásia Central. A política norte-americana vinha tentando prioritariamente, até então, impedir a formação de uma nova potência comparável ao que fora a União Soviética. Por conseqüência, queria reduzir, tanto quanto possível, a presença ou influência russa na Ásia Central – como, aliás, o fez nos Bálcãs e no Cáucaso. Nesta empreitada, obteve sucessos apoiando-se nos governos, partidos e organizações de base autóctone e muçulmana. Na mesma ocasião, a Rússia, em nome da luta “antiterrorista”, concluiu um acordo com a Quirguízia, o Cazaquistão e o Tadjiquistão, extensivo à China, sob o nome de “Grupo de Xangai”.

A dialética da guerra

Houve quem acreditasse que os atentados de Nova York e de Washington iriam recolocar tudo em discussão. O presidente Vladimir Putin declarou imediatamente seu apoio aos Estados Unidos. Estes o aceitaram, comunicando que dele tirariam as conseqüências e, principalmente, dariam daí por diante prioridade à luta antiterrorista - depois de haverem, durante muito tempo, praticado, em todo o mundo muçulmano, um apoio calculado aos movimentos, governos e partidos políticos de inspiração religiosa. Mas os fatos posteriores mostraram que Washington não abandonava nem as alianças, simpatias e ligações decorrentes de sua política anterior, nem os objetivos por ela buscados.

A Rússia, em nome da luta “antiterrorista”, concluiu um acordo que envolve a Quirguízia, o Cazaquistão, o Tadjiquistão e a China: o “Grupo de Xangai”

O governo Bush não hesitou, por exemplo, em entrar deliberadamente em choque com as posições e os interesses de Moscou em quatro áreas-chave. Rompeu o tratado ABM, de 1972, que proibia as defesas antimísseis nos espaço. A Aliança do Atlântico e sua organização militar foram estendidas para a maioria das ex-democracias populares, incorporando agora três ex-repúblicas soviéticas: a Estônia, a Letônia e a Lituânia. O traçado aprovado para o oleoduto que se destina ao escoamento de uma parte dos hidrocarbonetos do mar Cáspio vai de Baku a Ceyhan, passando, pois, inteiramente ao sul da cadeia do Cáucaso, fora do território russo6. Enfim, os Estados Unidos assinaram com duas das repúblicas da Ásia Central ex-soviéticas, o Uzbequistão e a Quirguízia – e negociam com o Turcomenistão e o Cazaquistão - acordos que colocam bases situadas em seus territórios à disposição permanente das forças aéreas e aeroterrestres norte-americanas. Além das operações no Afeganistão, o objetivo a longo prazo é a manutenção de uma presença militar norte-americana no próprio coração do Sudoeste Asiático.

A dialética da guerra já levou, portanto, imperativos da luta antiterrorista a se desenvolverem como projetos políticos, econômicos e estratégicos dos Estados Unidos nessa parte do mundo. E pode, amanhã, provocar tensões que levarão Washington a se opor às tentativas de Moscou de conservar suas posições numa vasta região em que a população russa, embora em nítido refluxo, continua importante, assim como ao interesse que Pequim, inevitavelmente, dedicará a ela. Em especial porque as necessidades chinesas de recursos energéticos vão, literalmente, explodir, se o ritmo de seu desenvolvimento econômico se mantiver o mesmo durante as duas próximas décadas7. Mas, ao contrário, essa dialética da guerra pode também desembocar, como deseja uma influente corrente em Washington, num entendimento combinado entre as quatro grandes potências – The New Big Four – interessadas na gestão do Sudoeste Asiático: os Estados Unidos, a China, a Rússia e a Índia. Talvez seja aí que se venha a situar o eixo do mundo.

(Trad.: Iraci D. Poleti)

1 - N.T. Povo de língua iraniana, muçulmano xiita, que habita a região central do Afeganistão.
2 - N.T.: Trata-se de um pequeno avião teleguiado utilizado para tarefas diversas (missões de reconhecimento tático de grande altitude, vigilância do campo de batalha e guerra eletrônica).
3 - Ler, de Frédéric Tellier, “L’Iran à l’heure du réformisme”, ’Politique étrangère n° 3, Paris, 2002.
4 - Ler, de Mohammad-Reza Djalili, Iran: l’Illusion réformiste, ed. Presses des Sciences Politiques, Paris, 2001.
5 - Ler “Ce dangereux concept de la guerre préventive”, Le Monde diplomatique, setembro de 2002.
6 - Ler, de Marie Jego, “Grandes manœuvres autour de la Caspienne”, Le Monde, 21 de maio de 2002.
7 - Ler, de Philip Andrews Speed, Xuani Liao e Roland Mannruther, The Strategic Implications of China’s Energy Needs, Adelphi Paper n° 346, Londres.




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