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Al-Qaida: grife ou organização?

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De Nova Iorque a Riad, a al-Quaida parece onipresente com sua política de usar a marca: a organização-mãe define o conceito e oferece sua grife aos que a tomam emprestado

Olivier Roy - (01/09/2004)

Seria a al-Qaida uma organização tentacular, estruturada antes do 11 de setembro, com redes em alerta, prontas para agir?

Será que a organização al-Qaida realmente existe? A questão, seriamente abordada por bons escritores, como James Burke1 , merece ser discutida, considerando-se tudo o que vem sendo atribuído ao grupo de Osama bin Laden desde 11 de setembro de 2001: os atentados de Madri, em abril de 2004; as ações realizadas no Iraque por Abu Mussa al-Zarqaui (que teria sua base em Falluja, mas que também foi suspeito de estar envolvido no atentado de Madri); os atentados de Bali (outubro de 2002), de Casablanca (maio de 2003), de Istambul (novembro de 2003) e, mais recentemente, aqueles que atingiram a Arábia Saudita (junho de 2004). Deve-se acrescentar, ainda, a detenção, na Grã-Bretanha e no Paquistão, de supostos dirigentes da rede al-Qaida (agosto de 2004). Quais seriam os vínculos entre todos esses fatos?

A investigação das pessoas implicadas nesses atentados, ou tentativas de atentados, permite avaliar a esfera de influência da al-Qaida, pois a rede já tem história. Entretanto, é aconselhável ser prudente: as acusações feitas contra indivíduos rotulados como combatentes da al-Qaida e detidos em Guantánamo (como os quatro franceses que foram extraditados para Paris em julho de 2004) ou processados na justiça (como Munir al-Motassadeq, na Alemanha2 ) mostraram-se, muitas vezes, frágeis e insustentáveis perante um tribunal comum.

É claro que há quem diga que só se conhece uma ponta do iceberg: a al-Qaida seria uma organização tentacular, estruturada antes do 11 de setembro, mantendo em alerta redes prontas para agir a partir de instruções, por meio de mensagens codificadas, enviadas pelo núcleo central pela Internet. Seria isso passível de credibilidade? Por que iria a al-Qaida ficar esperando para agir? A menos que as condições técnicas se mostrassem inviáveis (recrutamento, obtenção de material, superação das medidas de segurança), o que significaria que a organização é mais frágil do que pretende admitir o governo Bush.

Visão ativista e oportunista

Os atentados atribuídos à al-Qaida podem ser classificados em “internacionalistas” e “locais”

A al-Qaida não parece ter um calendário baseado numa estratégia política precisa (atacar em determinado momento para influir sobre o curso dos acontecimentos), e sim, uma visão ativista e oportunista: atacar a qualquer momento para manter um clima de terror e demonstrar que todas as intervenções militares convencionais, do Afeganistão ao Iraque, são ineficientes. O atentado de Madri não constitui uma exceção, como salienta Lawrence Wright3 : a preparação dos atentados só pode ser vinculada acidentalmente às eleições políticas espanholas – e, não fosse pela desastrosa inabilidade do governo de José María Aznar, o efeito produzido junto à opinião pública poderia ter sido o oposto.

De forma simplificada: os atentados atribuídos à al-Qaida podem ser classificados em duas categorias: os “internacionalistas” e os “locais”. Os primeiros seriam efetuados por equipes de nacionalidades diversas, todas elas agindo fora de seus países de origem (em Nova York, em Washington e em Madri, assim como nos casos dos atentados fracassados em Los Angeles, Paris e Strasbourg). Os segundos seriam realizados por equipes “nacionais”, agindo em seu próprio território, mas dirigidos contra alvos “ocidentais” (Casablanca, Istambul e Bali). Até o momento, pode se dizer que os “internacionalistas” seriam principalmente veteranos combatentes do Afeganistão; os “locais” teriam origem numa política de ações esporádicas. O caso do Iraque é menos fácil de analisar, já que a origem e as organizações a que pertencem os voluntários estrangeiros que se encontrariam em Falluja continuam indefinidas.

Tudo indica que ocorre uma mutação na órbita da al-Qaida, fundamentalmente devido a mudanças no recrutamento. Será cada vez mais difícil falar em termos de uma organização estruturada. Por outro lado, a “grife” é bem vindo, na medida em que permite garantir um máximo de impacto à ação realizada.

A velha e a jovem guarda

O núcleo duro constituiu-se a partir de militantes do Oriente Médio, nas décadas de 80 e 90, para lutar contra os soviéticos

Aquilo que se convencionou chamar al-Qaida baseia-se, principalmente, numa associação de ex-combatentes da guerra (ou melhor, das guerras) do Afeganistão. A partir da ocupação desse país pelas tropas norte-americanas, não só essa rede deixou de se renovar, como vem definhando devido ao número de mortos e presos. Ela é composta por duas categorias: de um lado, os quadros e seguranças próximos a Osama bin Laden, alguns dos quais o vêm acompanhando desde a década de 80; de outro, a onda de jovens internacionalistas que aderiram à organização na década de 90, principalmente entre 1997 e 2001. Um viveiro limitado e fácil de se identificar.

O núcleo duro constituiu-se a partir de militantes do Oriente Médio, na década de 80 e início da década de 90, para lutar contra os soviéticos. Já politizados, muitas vezes envolvidos com movimentos radicais em seus países de origem e egressos de um meio muito religioso, acompanharam Bin Laden em suas peregrinações pelo Iêmen e pelo Sudão, voltando ao Afeganistão ao mesmo tempo que ele, em 1996. Vários deles foram mortos ou presos: Sheykh Mohammed Sheykh, Wadih el Hage, Mohammed Odeh, Abu Hafs al-Masri (Mohammed Atef), Suleyman Abu Gayth, Abu Zubeyda etc. Compartilharam suas vidas com a de Bin Laden, moraram com suas famílias nos mesmos alojamentos e, às vezes, até criaram vínculos matrimoniais (Bin Laden “deu” sua filha em casamento a Atef). O único que sobrou desse grupo foi o egípcio Ayman al-Zawahiri.

Com um perfil diferente, surgiu uma “jovem guarda” em 1992 – e principalmente a partir de 1996, com a tomada do poder pelos taliban. Com exceção dos sauditas, a maioria desses jovens internacionalistas se radicou no Ocidente, do qual, aliás, adotaram o modo de vida (não só por seus estudos, mas através do comportamento e do casamento, quando não são solteiros). Ou vieram para o Ocidente ainda muito jovens, ou vieram para estudar. Alguns deles nasceram na Europa e muitos adquiriram uma nacionalidade ocidental. Tornaram-se born again, ou seja, muitas vezes romperam com suas famílias e radicalizaram sua postura política na esteira da “volta” ao religioso – é possível, aliás, supor que essa “volta” se dê num contexto de radicalização política. Entre esses jovens, estavam os quatro pilotos dos atentados de 11 de setembro, assim como Mohammed Ressam4 , a rede Beghal5 , Zacarias Mussaui6 e Mohammed Sliti Amor7 .. Alguns deles foram convertidos (Richard Colvin Reid8 e José Padilla9 ). Curiosamente, são muito poucos os militantes que vêm diretamente de países muçulmanos (com exceção de alguns dos autores do atentado de Istambul de novembro de 2003, originários da Turquia).

Geração de voluntários

Os melhores voluntários eram selecionadospara voltar para o Ocidente e cometer atentados, após treinamento

Os membros dessa geração praticamente nunca voltam ao país de origem de suas famílias. Nenhum dos que saíram da Argélia, por exemplo, aderiu ao Grupo Islâmico Armado (GIA). Dirigem-se para guerras santas periféricas (Afeganistão, Bósnia e, mais tarde, a Tchetchênia, e até a Caxemira) e não para o Oriente Médio ou o Magreb, voltando, em seguida, para a Europa. O jihad (guerra santa) e a viagem ao Afeganistão tornam-se ritos de passagem: o veterano que volta ao país é homenageado com o prestígio de mujahid, mesmo que sua permanência tenha sido breve.

Preocupados em dar um pouco de ordem ao afluxo de voluntários estrangeiros – que, muitas vezes, criavam situações de tensão com a população local –, os taliban confiaram a Bin Laden (com certeza no início de 1997) o monopólio do controle dos campos de “árabes”, incluindo os convertidos, enquanto os militantes do Uzbequistão e do Paquistão conservavam suas próprias estruturas. Conseqüentemente, qualquer voluntário muçulmano – que não seja paquistanês, nem originário da Ásia Central – que tenha viajado para o Afeganistão entre 1997 e 2001, passou, necessariamente, pelos campos de treinamento da al-Qaida (ou, no caso de alguns deles, pelos campos das organizações radicais paquistanesas). Isso não significa que toda pessoa que tenha permanecido algum tempo nesses campos seja um terrorista em potencial.

Ao contrário da velha guarda, nenhum dos jovens dessa nova geração de “afegãos” goza da intimidade de Bin Laden. Os voluntários eram submetidos a uma triagem: os melhores eram selecionados, após o período de treinamento afegão, para voltar para o Ocidente e cometer atentados e, principalmente, para forjar o esprit de corps que constituiria a força da rede. Os restantes, ou seja, a maioria, eram designados para se juntarem à brigada estrangeira que combatesse o comandante Massoud ao lado dos taliban. Daí decorre a dificuldade com que se deparam os sistemas jurídicos ocidentais para encontrar acusações pertinentes contra os prisioneiros de Guantánamo, os quais cometeram um único erro – o de ter integrado as tropas do taliban.

Globalização e coesão

As redes são, simultaneamente, internacionais e baseadas em estreitas relações pessoais

Foi essa nova geração que forneceu a maior parte dos quadros que cometeram atentados internacionalistas. Foi também, até o momento, a responsável pela eficiência e pela força da organização. Por definição, essas redes são, simultaneamente, internacionais e baseadas em estreitas relações pessoais: conciliam a globalização e a coesão de um pequeno grupo homogêneo de homens que se conhecem bem. É essa solidariedade de ex-combatentes internacionalistas, que partilharam dos mesmos campos e dos mesmos combates, que cria a flexibilidade e a confiabilidade das redes. Ora, como analisou muito bem Marc Sageman10 , é possível encontrar esse esprit de corps nos dois extremos dessa viagem de iniciação rumo ao jihad afegão. Na realidade, foi entre um pequeno grupo de amigos que eles radicalizaram (numa cidade universitária, num bairro ou numa mesquita) e tomaram a decisão de partir. E no Afeganistão (ou na Bósnia, ou na Tchetchênia) iriam encontrar outros “irmãos”, que podem vir da Malásia ou do Paquistão, que irão eventualmente reencontrar em seus países.

Muitas vezes, os membros da rede se comportam fora de qualquer lógica, do ponto de vista de uma autêntica clandestinidade. Dividem apartamentos e contas bancárias, são testemunhas de casamento de amigos, assinam o testamento de outros etc. A invulnerabilidade é um efeito do grupo, e não das técnicas da ação clandestina.

O Estado-Maior, as células de base, as redes transnacionais ou a cadeia de comando da al-Qaida baseiam-se, portanto, em vínculos pessoais que podem ter sido forjados no Afeganistão, ou no âmbito local e, em seguida, são transpostos para uma dimensão transnacional e “desterritorializada” (viagens, radicação em outros países, múltiplas nacionalidades etc.). O coleguismo desempenha um papel muito importante que, às vezes, envolve vínculos matrimoniais que nada têm de “tradicionais”: o casamento com a irmã de um companheiro – e não com a mulher escolhida pelos pais – significa, muitas vezes, uma relação de casal moderno, como exemplifica o caso da esposa do assassino de Massoud, que contou como seu marido desprezava suas roupas11 . Esses vínculos muito pessoais representam a força, mas também a fraqueza, das redes.

Sem santuário

Com a perda do santuário afegão, deixou de existir um local onde possa ser reconstituída a solidariedade de veteranos

Às vezes, basta à polícia conhecer um militante para estourar uma rede (correndo o risco de serem envolvidos inocentes cujo único erro terá sido o de partilhar um quarto ou freqüentar a mesma mesquita). Um dos responsáveis pelo atentado de Madri, por exemplo, Jamal Zugam, foi denunciado pela polícia francesa junto à polícia espanhola e esteve preso durante um tempo, em novembro de 2001. Embora ainda não existam dados sobre os voluntários que foram para o Afeganistão, um número crescente deles, sem dúvida, será identificado (através dos documentos apreendidos durante as detenções, os passaportes falsos utilizados etc.). No entanto, e principalmente, com a perda do santuário afegão, praticamente deixou de existir um local onde possa ser reconstituída essa solidariedade de veteranos. E vale dizer que, quando se mencionam a Tchetchênia, o Sahel, as zonas tribais paquistanesas e até... Falluja, nenhum desses locais – mesmo que se possa contar com a colaboração dos governos locais – pode significar um santuário estável devido à segurança e aos eventuais ataques. Resumindo, a geração dos ex-combatentes do Afeganistão vem diminuindo (é evidente que a técnica dos atentados suicidas contribui para isso) e tem dificuldades para se renovar.

Portanto, para evitar a marginalização, a al-Qaida deve ampliar seu recrutamento e forjar novas alianças. Mas não dispõe de intermediários, pois não constitui um movimento político com uma direção política, uma estrutura militar, companheiros de luta, organizações de simpatizantes etc. Enquanto rede de ativistas, só existe à medida que estes cometem atentados. Portanto, não parece perceptível qualquer saída política. Em outras palavras, a al-Qaida só pode se aliar com outros grupos combatentes (ainda que estes possam ter uma dimensão política, como no caso dos taliban ou dos tchetchenos).

Em busca de alianças

É possível imaginar três estratégias na busca de alianças: emprestando o nome, por meio de associações ou do banditismo

É possível imaginar três estratégias na busca de alianças ou, simplesmente, de intermediários: emprestando o nome – por meio de associações ou do banditismo.

A tática de emprestar o nome já funciona. Os autores de atentados “locais”, ou seja, cometidos por militantes no território de seus próprios países, se enquadram nessa categoria – tenham ou não viajado ao Afeganistão. Um grupo local - sem vínculo direto com o Estado-Maior da al-Qaida, como no caso de Casablanca (ou com um vínculo indireto, como nos casos dos atentados de Djerba e de Istambul) - age em nome da organização ou vê a autoria de sua ação ser reivindicada por ela. Aliás, basta que a opinião pública ou as autoridades locais atribuam a ação à al-Qaida para que o efeito seja o mesmo. Os alvos são suficientemente abrangentes (tudo o que é ligado à presença ocidental, do judaísmo aos interesses norte-americanos) para que sempre esteja ocorrendo alguma coisa em algum lugar, dando, assim, a impressão de que a al-Qaida está em toda parte.

Esses intermediários locais podem ir de uma organização estruturada e radicalizada (do Jemah Islamiyya, na Indonésia, aos grupos extremistas paquistaneses, que acompanharam a al-Qaida no Afeganistão, e até o grupo de Zarqaui, no Iraque) a uma gangue em que se reúnem revolta juvenil, banditismo e sectarismo em torno de um líder local, como no caso do atentado de Casablanca. Também podem ser constituídas células entre internautas instruídos e poliglotas e reivindicá-las como sendo da al-Qaida. O “al-qaidismo”, portanto, poderia vir a sobreviver ao desaparecimento da al-Qaida.

O uso do nome não só é muito fácil, como sempre existiram organizações radicais que recrutavam e operavam por meio de esquemas semelhantes aos da al-Qaida – embora sem qualquer vínculo orgânico com esta –, tais como a rede Kelkal12 e o “bando de Roubaix13 ”, na França, em 1995 e 1996. Também é possível imaginar que membros de movimentos neo-fundamentalistas, mas não jihadistas (como os Tablighis14 e até o Hizb ut-Tahrir15 ), decidam passar à ação, individualmente, sob a etiqueta da al-Qaida. Os atentados de Tachkent de julho de 2004, por exemplo, contra as embaixadas norte-americana e israelense, podem ter sido realizados por membros do Movimento Islâmico do Uzbequistão, que combateu no Afeganistão, ao lado da al-Qaida, contra as tropas norte-americanas, ou por dissidentes do Hizb ut-Tahrir, ainda que a primeira hipótese pareça mais verossímil.

Os símbolos na mira

Os atentados na Arábia Saudita foram dirigidos mais contra símbolos da presença estrangeira do que contra o aparelho de Estado

Ex-“afegãos” também podem se tornar autônomos, como no caso de Abu Mussa al-Zarqaui (seja qual for a realidade do papel que lhe é atribuído). Os voluntários estrangeiros que estariam presentes em Falluja têm interesse em se beneficiar do rótulo da al-Qaida, fazendo com que se acredite na existência de uma organização internacional mais estruturada do que, de fato, ela é.

O caso saudita é mais complexo. De um lado, contam-se inúmeros ex-voluntários do Afeganistão entre os radicais que realizaram os atentados em 2004 (existe uma alta proporção de sauditas entre os voluntários muçulmanos que combateram do Afeganistão à Tchetchênia, passando pela Bósnia). Considerando-se a origem saudita de Bin Laden e o papel que desempenhou no deslocamento de sauditas para o Afeganistão na década de 80, quando ainda era prestigiado pelos serviços secretos de seu país (sua ruptura com o regime, que, de início, foi bastante relativa, data de 1991), é provável que ele conheça pessoalmente muitos dos chefes dos grupos radicais.

Os atentados realizados na Arábia Saudita foram dirigidos mais contra estrangeiros (inclusive árabes) e símbolos da presença estrangeira do que contra o aparelho de Estado. Parecem, portanto, ser ações realizadas pela al-Qaida. Ainda que os terroristas desejem claramente o desaparecimento da monarquia, o método empregado não sugere uma estratégia revolucionária. Entretanto, nos movimentos sauditas propriamente ditos, não se encontram voluntários estrangeiros e seus militantes não têm no currículo um roteiro globalizado – excetuando uma eventual passagem pelo Afeganistão ou pela Tchetchênia –, ao contrário dos outros militantes da al-Qaida. Finalmente, e embora não tenham sido negadas, as ações não foram reivindicadas pela al-Qaida.

Política do uso da marca

Sempre existiram organizações radicais que recrutavam e operavam com esquemas semelhantes aos da al-Qaida

A onipresença dessa grife é explicável por duas lógicas contraditórias: a vontade dos regimes, de Tachkent a Moscou, de ver a mão da al-Qaida por toda parte, com o objetivo de se apresentarem como membros de direito do clube do antiterrorismo, fazendo esquecer suas próprias políticas repressivas. Porém, os ativistas também têm interesse em fazer crer que a al-Qaida está por toda parte: dessa forma, Bin Laden é apresentado como o grande maestro e os “pequenos” têm garantida a repercussão de suas ações.

Trata-se, claramente, de uma política de usar a marca: a organização-mãe definiu o conceito e oferece sua grife aos que a tomam emprestado. Isso se torna relativamente fácil, pois a al-Qaida jamais foi uma organização “leninista”, preocupada em exercer um controle rigoroso sobre seus membros: estes gozam de muita autonomia e o núcleo central delega facilmente a iniciativa aos jovens – e mesmo aos convertidos (o que é absolutamente novo, numa organização islâmica radical).

Quanto à busca de alianças, ela ocorre à custa da pureza ideológica. Mas a al-Qaida não tem escolha, se não quiser se isolar. Seus militantes se aliaram regularmente a grupos muçulmanos com objetivos puramente locais: os taliban, os radicais tchetchenos e os sunitas iraquianos, todos eles reivindicando o conceito do jihad.

Legião estrangeira

Muitas das conversões ao islã na periferia das grandes cidades estão mais para engajamento militante do que para arroubo místico

Essas alianças poderiam se ampliar em três direções:

- A aliança com movimentos nacionalistas ou étnicos, como na Bósnia, na Tchetchênia e, aparentemente, no Iraque. Porém, nesses três casos, os “internacionalistas” não desenvolvem uma estratégia própria e são apenas uma vanguarda militar, num contexto em que a ação é exclusivamente exercida sobre um território nacional. Seriam, portanto, uma espécie de “legião estrangeira”, descartável com o fim da guerra, tal como ocorreu na Bósnia e poderia vir a se repetir no Iraque.

No entanto, não deve ser excluída a hipótese de que algumas tendências radicais dos movimentos nacionalistas decidam, por desespero, internacionalizar a luta, tal como fizeram os palestinos na década de 70. Todos os movimentos de libertação nacional, independendo do destaque que neles possa ter o islã (o Hamas palestino ou os tchetchenos de Chamil Bassaiev), mantêm sua luta em seu território e no daquela que entendem ser a potência invasora. Nenhum membro da al-Qaida agiu em território palestino-israelense e nenhum palestino (residente em Gaza ou na Cisjordânia) participou das ações da al-Qaida. Entretanto, não se deve excluir a hipótese de que, diante da repressão e do isolamento internacional, certos grupos decidam ampliar o conflito, aliando-se com militantes internacionalistas.

- A união da al-Qaida com uma vertente da ultra-esquerda radical e violenta, herdeira da Fração Vermelha, de Baader e Meinhoff, da Ação Direta, das Brigadas Vermelhas etc. e até da extrema-direita. O inimigo é o mesmo: a ordem mundial caracterizada pelo “imperialismo norte-americano”. A al-Qaida fascina quem busca uma ruptura com a ordem estabelecida e aproveita o quase-desaparecimento da extrema-esquerda radical, marxista, cooptada por um movimento de resistência à globalização econômica que não atinge os verdadeiros espaços da exclusão social. Até o momento, para aderir à al-Qaida era necessária a conversão, mas essa condição pode vir a desaparecer. Aliás, os objetivos da organização nunca foram religiosos e seu anti-semitismo se identifica mais com o anti-semitismo europeu clássico do que com sua versão muçulmana (após sua adesão a um grupo de extrema-direita, o ex-advogado de Andreas Baader, por exemplo, Horst Mahler, participou em outubro de 2002, em Hamburgo, de uma reunião do partido islâmico radical Hizb ut-Tahrir, também violentamente anti-semita).

Os convertidos constituem, sem dúvida, um bom indicador de futuras mutações: a passagem que eles abrem entre jovens ocidentais e radicais islâmicos poderia ser reversível. Seria possível assistir, por exemplo, à “volta” de jovens convertidos aos seus países de origem para estabelecer alianças, seja com o objetivo de atividades criminais, seja para ações políticas. Illich Ramírez Sánchez, vulgo Carlos, converteu-se ao islã na prisão e faz a apologia de Bin Laden em seu último livro, L’Islam révolutionnaire16 , assim como fez Nadia Desdemona Lioce, sobrevivente de uma facção das Brigadas Vermelhas por ocasião de sua prisão pela polícia italiana, em fevereiro de 2003. Muitas das conversões ao islã na periferia das grandes cidades estão mais para um engajamento militante do que para um arroubo místico: seriam, principalmente, “conversões de protesto”.

Conversão de protesto

O fenômeno al-Qaida, assim como seus avatares, parece de natureza principalmente transnacional

- Finalmente, o terceiro método – a mercenarização ou o banditismo. Se, enfim, o núcleo central da al-Qaida for neutralizado, um certo número de ex-“afegãos” ou de membros potenciais da organização colocarão no mercado as técnicas aprendidas, as redes estabelecidas e a imagem da marca. Poderiam ligar-se a redes mafiosas ou transformarem-se a si próprios numa máfia; também poderiam tornar-se mercenários a serviço de sistemas de espionagem, como foram, em seu tempo, o palestino Abu Nidal e Carlos.

No momento, nenhum país se aventura a optar por tal colaboração devido ao temor de uma reação direta norte-americana. Mas a situação poderia mudar se um atoleiro no Iraque fizesse os Estados Unidos surgirem numa posição de fraqueza e se o abandono das redes da al-Qaida e se a confusão sobre o fim e os meios da “guerra contra o terrorismo” terminassem por criar uma zona cinzenta em que não se pudesse mais saber quem é quem. Tais evoluções são ainda mais passíveis de ocorrer quando se sabe que os espaços em que transitam os militantes internacionalistas pressupõem conexões e apoios provenientes de redes de traficantes, com a possível cumplicidade do aparelho de Estado (as regiões tribais no Paquistão, por exemplo).

De qualquer maneira, o fenômeno al-Qaida, assim como seus avatares, parece de natureza principalmente transnacional e mantém vínculos meramente circunstanciais com o Oriente Médio. A dinâmica de mobilização e ação só está indiretamente vinculada aos conflitos da região, que se inserem, antes de tudo, em lógicas nacionalistas. Há uma tendência a superestimar a “islamização” da al-Qaida e a não dar a devida importância à sua dimensão global, anti-imperialista e terceiro-mundista. A lógica do movimento será, com certeza, a de representar menos a defesa do islã do que a vanguarda dos movimentos que contestam a ordem estabelecida e a hiperpotência norte-americana.

(Trad.: Iraci D. Poleti)

n em

1 - Ler, de James Burke, Al-Qaeda, Casting a Shadow of Terror, ed. I. B. Tauris, Londres, 2004.
2 - Supostamente, teria dado apoio aos terroristas do World Trade Center.
3 - Ler, de Lawrence Wright, “The Terror Web. Were the Madrid bombings part of a new Al Qaeda Strategy - driven by the Internet?”, The New Yorker, 2 de agosto de 2004.
4 - Detido com explosivos, em dezembro de 1999, na fronteira dos Estados Unidos com o Canadá. A partir de então, “colaborou” com a justiça norte-americana.
5 - Investigada na França, em 2001, e suspeita de ter preparado um atentado contra a embaixada norte-americana em Paris.
6 - De nacionalidade francesa, detido nos Estados Unidos e acusado de ter participado dos atentados de 11 de setembro.
7 - Nome de guerra “Abu Omar”, é acusado pela justiça belga de ter protegido e conduzido dois suicidas tunisianos que tinham a missão de matar o comandante Massoud no dia 9 de setembro de 2001.
8 - Condenado por ter tentado detonar um explosivo escondido em seu sapato durante um vôo de Paris para Miami, em 22 de dezembro de 2001.
9 - Detido no aeroporto de Chicago em maio de 2002. É acusado de ter passado informações à al-Qaida para a construção de uma bomba radioativa. Ler, de Augusta Conchiglia, “Guantanamo, a ilegalidade total”, Le Monde diplomatique, janeiro de 2004.
10 - Ler, de Marc Sageman, Understanding Terror Networks, ed. University of Pennsylvania Press, 2004.
11 - Ler, de Malika el Aroud, Les soldats de Lumière, ed. A. S. B. L. Les Ailes de la Miséricorde, rue de l’Eglise Sainte-Anne, 93, 1081 Koekelberg-Bruxelas, Bélgica, 2003.
12 - Rede dirigida por Khaled Kelkal, morto pela polícia e suspeito de ser responsável por uma onda de atentados na França, entre os quais o da estação de metrô Saint-Michel, em julho de 1995.
13 - A “gangue” cometeu inúmeros assaltos na região de Roubaix, com tiroteios, em 1996.
14 - A Jama’at al tabligh (Sociedade para a Propagação do Islã) existe na Arábia Saudita, no Marrocos e nos países do Oceano Índico.
15 - Partido da Libertação, com sede em Londres. Ler, de Olivier Roy, “O Islã ao pé da letra”, Le Monde diplomatique, abril de 2002.
16 - Edition du Rocher, Paris, 2003.




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