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A China sacode a ordem mundial

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Com uma diplomacia bastante flexível, a China busca construir as condições para um mundo multipolar e para se firmar como referência asiática

Martine Bulard - (01/08/2005)

A economia faz parte do arsenal pacífico indispensável a todo reconhecimento no cenário internacional

Para a língua chinesa, é o lugar das palavras no meio de uma frase – mais do que as palavras em si – o que determina a significação. Esse princípio se aplica perfeitamente à estratégia geopolítica da China. De Pequim a Xangai, dos representantes do governo aos animadores de think tanks mais em evidência, sem esquecer dos universitários, é impossível escapar à palavra vedete do momento: estabilidade.

Para que possamos apreender o seu verdadeiro sentido, é preciso substituí-la no contexto desse país em perpétuo movimento, onde as viagens dos governantes para o exterior jamais foram tão freqüentes. Onde os círculos universitários, mais abertos do que nunca para o exterior, desempenham o novo papel de cabeças pesquisadoras para o poder... incluindo aqueles patrocinados por generosos doadores estrangeiros. Assim, o Centro de estudos internacionais da prestigiosa universidade de Beida, em Pequim, composta por três construções ultramodernas, é patrocinado por um mecenas de Hong-Kong pelo lado da esquerda, por um empresário italiano pela ala do centro, e por uma outra firma de Hong-Kong pela ala da direita. Cada um recorreu a um arquiteto diferente, mas o todo é harmonioso e se integra perfeitamente ao conjunto histórico1. Abertura não quer dizer abandono. Da mesma forma que estabilidade não significa imobilismo.

Diplomacia do status quo

Para Pequim, mais vale a ordem estabelecida, ainda que americana e pouco favorável, do que o caos, que contrariaria sua ambição mundial

Em seu gabinete de porta-voz do Ministério de Assuntos Estrangeiros (MAE), bem em frente à torre Feng Lian – onde floresce o comércio de luxos inacessíveis aos chineses comuns –, Kong Quan explica sabiamente: “A China quer, sobretudo, promover um ambiente estável, favorável ao desenvolvimento”. A várias centenas de quilômetros de distância, em Xangai, no coração da célebre universidade de Fudan, nas salas tinindo de novas do Centro de Estudos Americanos (CEA), financiado parcialmente pela Agência Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID), o professor Shen Dingli, grande especialista em questões nucleares, pouco propenso à linguagem evasiva, também não escapa à referência obrigatória à estabilidade. Nada o assusta mais que a desestabilização – sempre possível – na península coreana intermediária, ou no Oriente Próximo, que garante quase a metade das importações chinesas de petróleo.

Esse especialista nos fornece a chave do que alguns chamaram de “diplomacia do status quo”. Para Pequim, mais vale a ordem estabelecida – ainda que americana, ainda que pouco favorável – do que o caos, que contrariaria seus projetos de crescimento e sua ambição mundial. O crescimento garante a base do pacto social interior que, seja o ano bom ou ruim, garante a perenidade do regime. Os projetos mundiais visam dar novamente à China “o lugar que deve ser nosso na cena internacional”, segundo a expressão do Sr. Kong. Um pouco menos silenciosa e um pouco mais ativa hoje que ontem. Mas bem menos que amanhã, no tamanho e na medida do crescimento do poder do país.

Contrariamente às idéias recebidas, a economia não é o único guia de uma diplomacia que não teria outro princípio senão o de encher a cesta chinesa com matérias-primas e cereais. Certamente, as relações internacionais deveriam contribuir para assegurar o abastecimento energético e garantir a segurança alimentar. Mas a economia se inscreve na visão mais ampla que a China tem dela mesma, na região e no mundo. Ela faz parte do arsenal pacífico indispensável a todo reconhecimento no cenário internacional. Não é raro que se proponha recordar “a história destes últimos quinhentos anos”: sem economia poderosa, não será uma nação ouvida.

Fim de lua-de-mel

O conflito da praça Tienanmen provocou o início do fim da “lua-de-mel” com os Estados Unidos, que já durava 20 anos

Na história mais recente, três datas marcaram a reflexão. A primeira está ligada aos acontecimentos da praça Tienanmen, que se tornaram um assunto tabu na imprensa2 . O trauma não tem origem em eventuais questionamentos do próprio regime – a oposição política continua proibida, apesar de, paradoxalmente, os intelectuais gozarem de maior liberdade de movimento. Foi o preço necessário a pagar no que diz respeito ao exterior, e que é constantemente mencionado. A começar pelo embargo ocidental, instaurado no momento em que a União Soviética já não estava mais em condições de fornecer armamentos modernos a Pequim.

O conflito da praça Tienanmen provocou sobretudo o início do fim da “lua-de-mel” com os Estados Unidos. Esta havia durado quase vinte anos, após a aceitação da República Popular da China nas Nações Unidas no lugar de Taiwan, em 25 de outubro de 1971, e a viagem do presidente Richard Nixon um ano depois, até a instauração de uma “parceria estratégica”, fator de desenvolvimento. A esse período sucedeu-se uma longa série de decepções, a multiplicação dos incidentes (como o bombardeio da embaixada da China em Belgrado, em 1999) e o reforço dos laços americanos com o Japão.

Segundo fato marcante: o desmoronamento da União Soviética. Ninguém lamenta o desaparecimento desse inimigo irmão, mas numerosos universitários recordam que a ex-URSS esgotou-se numa vã confrontação com os Estados Unidos, acrescida por uma dispendiosa corrida por armamentos. “Os Estados Unidos forçaram uma competição e um aumento desenfreado das despesas militares”, assegura um especialista em assuntos de defesa que prefere continuar anônimo, “mas nós precisamos efetuar a modernização dos armamentos para reforçar nossa defesa”. Uma “modéstia” mais aparente que real, pois as despesas militares já representam 2,4% das riquezas produzidas. Mas esse é um argumento de peso diante do Estado Maior, que reclama muito mais.

Em busca do mundo multipolar

Busca-se elaboração de um mundo multipolar onde a China ocuparia um dos primeiros lugares – no centro, mas não à frente

Em termos mais gerais, foi a divisão do mundo em dois campos que, segundo os diplomatas chineses, finalmente revelou-se dispendioso. E se todos deploram esse “mundo unipolar” encarnado pelos Estados Unidos, não há quem deseje a volta a um “planeta bipolar”. A questão não é tornar-se, por exemplo, chefe da fila dos países em desenvolvimento, o que obrigaria a renúncias. “Nós compartilhamos com os numerosos países em desenvolvimento a preocupação com a democratização das organizações internacionais”, afirma o Sr. Kong, que sublinha a importância das relações estabelecidas com África3 e com a América Latina. “Mas não se trata de constituir um pólo. É preciso abandonar a mentalidade da guerra fria, e prefiro falar de ‘desenvolvimento compartilhado’. Nós precisamos instaurar uma mentalidade de negociações que pressuponha concessões recíprocas. Com o desenvolvimento das trocas comerciais, vão se multiplicar as diferenças. É preciso enfrentá-las com espírito de negociação”... e não com espírito de sistema.

De fato, o poder pretende participar da construção de um mundo multipolar onde a China ocuparia algum dia um dos primeiros lugares – no centro, mas não à frente. Ela procura irradiar, e não dominar. Essa nuance não é apenas formal4. Devemos nos recordar que, ao longo do período em que exerceu grande poder, entre o século XI e o século XVII, a China possuía a maior frota do mundo, dispunha de vantagens econômicas e tecnológicas reais5, sem jamais ter destruído povos ou civilizações, ao contrário dos europeus.

Finalmente, e este é o terceiro fato marcante, as autoridades chinesas souberam tirar partido da crise financeira que sacudiu a Ásia nos anos de 1997-1998. Único país que manteve o controle do câmbio e recusou as pressões do Fundo Monetário Internacional6, a China foi também a única a preservar suas chances de crescimento quando todos, inclusive o Japão, sucumbiram. Melhor, com o yuan atrelado ao dólar, ela contribuiu para estabelecer uma certa estabilidade em uma região que vem enfrentando vicissitudes financeiras. Ela se permitiu conceder inclusive empréstimos com juros reduzidos, ou mesmo ajuda, a muitos dos dragões que estavam com dificuldades.

Acertos nas fronteiras

Pela primeira vez na história das relações sino-russas, a totalidade das fronteiras comuns são legalmente definidas

Com o correr do tempo, a nova geração no poder construiu uma doutrina estratégica em torno dos “quatro nãos” enunciados pelo presidente Hu Jintao: “Não à hegemonia, não à política da força, não a uma política de blocos, não à corrida armamentista” 7 . Trata-se de “construir a confiança, atenuar as dificuldades, desenvolver a cooperação, e evitar os confrontos”. Consciente de suas fraquezas diante do gigante americano e de seus concorrentes da zona asiática, Pequim estende o que se poderia chamar de uma “diplomacia assimétrica”, bastante flexível, que privilegia as relações bilaterais ao mesmo tempo em que participa ativamente das organizações regionais, e que amarra as relações econômicas em todos os sentidos, reduzindo ao mesmo tempo as tensões territoriais do passado.

Assim, a China e a Rússia assinaram, no dia 2 de junho de 2005, em Vladivostok, um acordo sobre a fronteira oriental – o litígio recaía sobre 2% dos 4.300 quilômetros de fronteira comum, que envenenara as relações desde o fim da segunda guerra mundial. “É a primeira vez na história das relações sino-russas que a totalidade das fronteiras comuns são legalmente definidas”, enfatizou o Vladimir Putin já na fase final das negociações.

Algumas semanas antes, em 11 de abril de 2005, o primeiro-ministro indiano Manmohan Singh e seu equivalente chinês Wen Jiabao assinaram um protocolo a fim de regular o contencioso na fronteira que opõem os dois países desde 1962: Pequim reivindica uma grande parte do território do estado de Arunachal Pradesh (90.000 km²) no nordeste da Índia; no noroeste, Nova Déli reclama o Aksai Chin, uma parte da Cachemira (38.000 km²). “Nós estamos apenas começando as negociações”, observa o Sr. Kong. “Mas é a primeira vez que um documento oficial aborda a questão das fronteiras”. Um passo histórico que Pequim procura prolongar para o estabelecimento de uma zona de livre-comércio entre os dois gigantes demográficos do mundo.

Emergência pacífica

Pequim padece para acalmar os ardores coreanos, que alimentam as declarações inflamadas da administração Bush

Esses novos acordos não deixam de ter conseqüências para as relações com os aliados de ontem, particularmente com o Paquistão. “No conflito que o coloca em oposição à Índia, nós preferimos ficar neutros”, assegura Yang Baoyun, vice-presidente do Centro de Estudos para a Ásia-Pacífico, que fica na Universidade de Beida, em Pequim. Segundo ele, Islamabad “tem há muito tempo se beneficiado das tensões”, mas as mentalidades começaram a mudar, como comprova a retomada das linhas de ônibus trans-cachemira, firmada depois de sessenta anos8.

Outro sinal da “emergência pacífica” da China: seu envolvimento na crise aberta em outubro de 2002 entre os Estados Unidos e a Coréia do Norte, que se disse prestes a fabricar a bomba atômica a partir de então. Com a criação do grupo dos seis (China, Coréia do Sul, Coréia do Norte, Japão, Rússia, Estados Unidos), surgido para regular o contencioso, Pequim padece para acalmar os ardores de Pyongyang, que alimentam as declarações inflamadas da administração Bush.

Obviamente, a nuclearização da península coreana não é de forma alguma do gosto de Pequim, e, se Pyongyang “se lançasse em tentativas, nós cortaríamos os programas de ajuda”, garante Yang Baoyun. Mas as opiniões quanto às formas de pressão divergem: alguns acreditam que se deveria cortar ao menos parcialmente a ajuda, e recordam que, já em 2004, um “incidente técnico” bastante oportuno havia levado à redução no fornecimento de petróleo, obrigando o presidente Kim Jong a retomar as negociações9; outros, como o Shen Dingli, em contrapartida, consideram que “suprimir a ajuda é matar a esperança e empurrar para o pior” um regime já calamitoso.

Relações espinhosas

As relações com o Japão nunca foram tão ruins, graças à história de ocupação, a questões territoriais e militares

“A Coréia é um fardo detestável”, resume um antigo diplomata, “um regime em que as pessoas morrem de fome por causa de um poder familiar. Mas a China não tem alternativas. Ela não pode avançar nem recuar”. Uma parte do exército não está longe de acreditar que a nuclearização não é afinal algo assim tão grave e que, em caso de conflito, “a Coréia continua a ser a sentinela da China”. O fato é que Pequim mostrou – se não para Washington, pelo menos para seus vizinhos – que sabia modificar a sua política de alianças passadas e entrar em uma fase de diplomacia ativa. Prova disso, foi o estreitamento de seus laços com a Coréia do Sul, antiga aliada dos Estados Unidos, que teme uma desestabilização do Norte – as dificuldades alemãs em absorver o leste, gerando prudência com a ditadura vizinha10.

O grande espinho na pata do tigre chinês é o Japão. “Nunca durante os últimos trinta anos essas relações foram tão ruins”, alerta Yang Baoyun. É o que confirma o conjunto dos interlocutores encontrados. A recusa japonesa em encarar a sua história de frente é freqüentemente citada, com o incidente do livro de história que minimiza os crimes japoneses cometidos durante a ocupação, assim como a visita do primeiro-ministro Junichiro Koizumi ao santuário de Yasukuni, onde estão enterrados os criminosos de guerra. Uma visita ao museu de Shenyang, no nordeste do país, importante local dessa ocupação, ajuda de resto a compreender o trauma: aí estão expostos os assassinatos, torturas e experiências médicas cometidas pelas armas nipônicas a partir de 1931, assim como as recentes declarações negacionistas de personalidades japonesas11. Aqui como em Pequim, quando se fala de manifestações antijaponesas durante a primavera de 2005 – essencialmente junto aos estudantes, que são muito controlados, e praticamente nada entre os trabalhadores – não é raro ouvir-se a seguinte contraposição: “Que diria você se um dirigente alemão se ajoelhasse diante do túmulo de criminosos de guerra?”

Além dos problemas territoriais em torno das ilhas chamadas Senkaku no lado japonês, e Diaoyu, no lado chinês, ricas em petróleo e gás, o estreitamento dos laços militares entre Washington e Tóquio estão na linha de tiro. Segundo o Kazuya Sakatomo, professor da Universidade de Osaka, “depois de passar sessenta anos abaixando a cabeça, o Japão está a um passo de suplantar a Austrália como xerife assistente dos Estados Unidos na região do Pacífico e tornar-se um dos pilares da arquitetura de defesa americana do século XXI12”. A revisão da Constituição nipônica13, o envio de tropas ao Iraque, a transferência do comando do primeiro corpo do exército americano (para as operações no Pacífico e no Oceano Índico) da costa oeste dos Estados Unidos para o campo de Zama, ao sul de Tóquio, conferem alguma credibilidade a essa tese14.

A delicada questão Taiwan

A menção de Taiwan na revisão do acordo de segurança bilateral americano-japonesa terminou de degradar as relações sino-japonesas

Além disso, Washington sustenta a candidatura japonesa como novo membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas – candidatura imediatamente recusada pela China, que ameaça até utilizar seu poder de veto. “Antes de pretender sentar-se no Conselho de Segurança, seria necessário que o Japão obtivesse antes o consenso em sua região”, declarou o embaixador da China na ONU, Wang Guangya, no último dia 26 de junho. Pequim espera ganhar a batalha apoiando-se na Coréia do Sul, que tem protestado vivamente contra as simpatias militares do Sr. Koizumi15; na Índia, que também tem pretensões em relação a um assento permanente no Conselho de Segurança; e nos países africanos com os quais tem laços econômicos (especialmente petrolíferos) bastante persuasivos.

Enfim, a menção de Taiwan na revisão do acordo de segurança bilateral americano-japonesa16 terminou de degradar as relações sino-japonesas. Desde a normalização de suas relações, em 1972, o Japão sempre deixara de lado essa questão. Os próprios Estados Unidos haviam criado para eles esta fórmula: “Dois sistemas, um país”. A integração de Taiwan à China “pode levar cem anos ou mais”, segundo a expressão de um diplomata, mas “a separação é impossível”, inaceitável para a população, para o exército e para o governo.

Os discursos fortes destes últimos meses e a lei anti-secessão adotada em abril de 2005 seriam, portanto, mais defensivos que ofensivos, traçando uma linha vermelha, insuperável para Taiwan e seus aliados. Pois cada um reconhece que uma operação militar se revelaria de um custo político, diplomático e econômico incomensurável. Pequim parece temer uma declaração de independência de Taipé às vésperas dos Jogos Olímpicos de 2008, sobre os quais o poder conta muito para transpor uma etapa decisiva na região e no mundo. Daí as ameaças, mas também a sedução.

Novas alianças mundiais

Se o Japão espera consagrar seu papel de líder mundial na zona asiática, a China procura afirmar seu papel de líder asiático no mundo

Os dirigentes do partido do Kuomintang, inimigos de ontem que não colocavam os pés na China desde 194917 foram recebidos com grande pompa no início de maio. A recente viagem de Ju Hintao pela América Latina, cujo objetivo principal era garantir o fornecimento de petróleo (Venezuela), matérias-primas, cereais e soja (Cuba, México, Brasil) teve como objetivo fazer compreender também a todos aqueles (especialmente na América Central) que ainda mantêm “laços estreitos com Taipé, que a China tem um mercado muito mais vasto”... De imediato, os dirigentes contam muito com os cerca de 8 mil empresários taiwaneses que investiram na China para fazer pressão sobre o governo de Taipé. Quanto à administração Bush, ela terminou por acalmar a febre independentista de seu aliado, e o Japão ficou mais discreto.

A oposição não está menos viva, como resume um antigo diplomata: “Historicamente, a região conheceu uma China forte e um Japão fraco, depois uma China afável e um Japão forte. Daqui por diante, caminha-se para uma China em condições de igualdade com o Japão; com um golpe, o Japão perde seu equilíbrio”. O jogo está embaralhado, mas ainda longe de um reequilíbrio de forças. Certamente, a China é o principal fornecedor asiático dos Estados Unidos, à frente do Japão; ela ocupa a segunda posição, logo atrás dele, no que diz respeito às reservas monetárias – singularmente, em bônus do tesouro americano – mas seu Produto Interno Bruto (PIB) continua duas vezes e meia mais fraco que o do Japão. Ela pode dirigir a Washington a ameaça de não desempenhar mais o papel de banqueiro e de vender dólares, Tóquio viria imediatamente em socorro da moeda americana.

Essa relação de forças desigual não exclui a competição. Se o Japão espera consagrar seu papel de líder mundial na zona asiática (tornando-se membro permanente do Conselho de Segurança – o que suporia um rearmamento temido por seus vizinhos, e não apenas os chineses), a China procura afirmar seu papel de líder asiático no mundo. Donde o seu desdobramento nas instâncias multilaterais. Sua adesão à Organização Mundial do Comércio, em 2001, permitiu-lhe transpor um rumo decisivo. Pacientemente, ela conquistou seu lugar na Associação das Nações do Sudeste Asiático (Anase), instrumento da guerra fira por excelência18. De observadora em 1991, ela tornou-se membro efetivo e acabou por obter, em novembro de 2004, a criação de uma zona de livre-comércio com a Anase19.

Força asiática

A diplomacia bilateral e multilateral de Pequim revelou-se extremamente hábil para conquistar confiança na região asiática

Na Ásia central, a criação da Organização de Xangai (com a Rússia, o Cazaquistão, o Kirguistão, o Tadjiquistão e o Usbequistão) em abril de 2001, comprova seus objetivos comerciais (entre os quais o abastecimento de hidrocarbonetos). A iniciativa adquiriu contornos muito políticos depois da guerra no Afeganistão. A China compartilha as preocupações russas diante da implantação de bases americanas na região, e a de outras repúblicas diante dos movimentos islamitas considerados independentistas (especialmente os Ouighours, mulçumanos chineses). O esmagamento de todos os movimentos de oposição, como aconteceu recentemente no Kirguistão, tem poucas chances de incomodar.

No total, como escreveu o pesquisador americano David Shambaugh, “a diplomacia bilateral e multilateral de Pequim revelou-se extremamente hábil para conquistar confiança na região asiática. Resultado: a maioria dos países passou a considerar a China como uma boa vizinha, uma parceira construtiva, uma interlocutora atenta, e uma potência regional que não assusta20”. Pode-se então falar de um “Consenso de Pequim21” como novo modelo de desenvolvimento, como sugere Joshua Cooper Ramo, membro do Council on Foreign Relations de Londres? Conseguirá a China assumir o comando de uma união asiática, econômica e política? Certamente ela não tem sequer os meios econômicos para isso: os dois terços de suas exportações provêem de empresas estrangeiras implantadas em seu território, que se encarregam da montagem de produtos concebidos em outro lugar.

Certamente, a China possui alguns mercados de ponta (como as fibras óticas ou a telefonia móvel), e ela prefere a montagem em escala, atraindo centros de pesquisa estrangeiros, recuperando empresas para adquirir marcas conhecidas e se beneficiar da transferência de tecnologia... Até o momento, o seu crescimento – que continua frágil com um sistema financeiro vulnerável – continua muito dependente dos países da Anase e do Japão no que diz respeito à produção, e dos países ocidentais para suas exportações. O menor incidente com os Estados Unidos, por exemplo, poderia colocar de facto um freio em seu dinamismo e tornar-se politicamente explosivo.

Condições para brilhar

O perigo é que, amordaçando as liberdades políticas, “a China amordace a si mesma”

Alguns especialistas sonham com nada menos do que um eixo sino-japonês, nos moldes do eixo franco-alemão na Europa. No momento mesmo em que se realizavam manifestações antijaponesas na primavera de 2005, um colóquio reuniu em Pequim intelectuais japoneses, chineses e coreanos22. Um manual escolar oficial, fruto do trabalho de historiadores das três nacionalidades, também foi publicado em junho, nos três países. Mas isso continua a ser marginal. Embora os Estados Unidos estejam prestes a delegar uma grande parcela de seu poder regional (de guarda-chuva militar), eles não aceitariam uma potência regional forte, quer se trate do Japão ou, a fortiori, da China.

No entanto, esta quer avançar rapidamente e sem caos. Mas “ela não poderá brilhar”, explica um diplomata, “se possuir apenas uma cultura atraente – como foi o caso de nossa língua, no princípio. Consumir não é suficiente. É necessário inventar nossos próprios valores, que não sejam a cópia do Ocidente”. Alguns trabalham para isso, mas são privados de espaços públicos de debate. E o perigo, como disse nosso interlocutor, é que, amordaçando as liberdades políticas, “a China amordace a si mesma”.

(Trad.: Elvira Alves)

1 - Beida fazia parte do Palácio de Verão saqueado pelas tropas franco-inglesas durante a Guerra do Ópio em outubro de 1860.
2 - No dia 4 de junho de 1989, as manifestações estudantis, e uma parcela de trabalhadores, foram maciçamente reprimidas. Se na Universidade de Qinhua (Pequim), por exemplo, essa questão é tratada desde então no curso de história dos movimentos sociais, em outras partes a censura é impiedosa e atinge até o jornal da TV5, visto apenas pelos expatriados e por um punhado de francófilos: uma tela preta aparece quando os jornalistas abordam esses acontecimentos.
3 - Ver Jean-Christophe Servant, “A China no assalto do mercado africano”, Le Monde diplomatique, maio 2005.
4 - Ler François Jullien, Pensar do lado de fora (A China), Seuil, Paris, 2000.
5 - Ler Angus Maddison, “A economia chinesa, uma perspectiva histórica”, estudos do OCDE, Paris 1998. Ver também Philip S. Golub, ‘Retorno da Ásia para a cena mundial”, Le Monde diplomatique, outubro de 2004.
6 - Durante a crise, a Malásia reintroduziu um controle do câmbio. Ler “As velhacarias do sr. Camdessus”, Le Monde diplomatique, janeiro de 2005.
7 - Discurso de abril de 2004, citado por Joshua Cooper Ramo, O Consenso Beijing, The Foreign Policy Center, Londres, 2005.
8 - Depois de 7 de abril de 2005, uma linha de ônibus com 172 quilômetros passou a ligar Muzaffarabad, na região paquistanesa da Cachemira, e Srinagar, na parte indiana.
9 - Em setembro de 2004, a revista de estudos internacionais Zhanlue yu guanli foi fechada após a publicação de um artigo com críticas pesadas à Coréia do Norte.
10 - Ler Ignacio Ramonet, “Alertas na Coréia”, Le Monde diplomatique/i<, julho de 2005.
11 - A exposição foi completada por uma série de declarações e manifestações no Japão contra a militarização do país.
12 - Citado por Simon Tisdall, “Japan emerges as America’s deputy sheriff in the Pacific”, The Guardian, Londres, 19 de abril de 2005.
13 - O artigo 9 da Constituição proíbe o Japão de possuir um exército. Por isso seria preciso suprimi-lo para transformar as forças de autodefesa em exército regular.
14 - Ler Chalmers Johnson, “Coming to terms with China”, www.tomdispatch.com/index.mh....
15 - “Discurso à nação” do presidente Roh Moo Hyun, em 23 de março de 2005.
16 - O acordo estratégico assinado em 1996 foi revisado em Washington em 20 de fevereiro de 2005.
17 - O Kuomintang, dirigido por Tchang-Kai-chek, se refugiou em Taiwan em 1949. Esse partido, que dirigiu a ilha durante cinqüenta anos, está atualmente na oposição.
18 - Criada em 1967 em Bancoc, ela reunia no início a Malásia, as Filipinas, a Tailândia, a Indonésia e Cingapura, depois se reuniu a elas o Brunei, o Vietnã, a Birmânia, o Laos e o Camboja.
19 - As taxas aduaneiras serão gradativamente diminuídas, até a supressão total em 2010.
20 - “China engages Asia. Reshaping the Regional Order”, International Security, Washington, vol. 29, no. 3, inverno 2004-2005.
21 - The Beijing Consensus, op. cit.
22 - Relatório da mesa redonda, “Procurar um novo espaço”, Dushu, Pequim, no. 6, junho de 2005. Ler também Wang Hui, “Os asiáticos reinventam a Ásia”, Le Monde diplomatique, fevereiro de 2005.




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