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BOLÍVIA

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Evo Morales, indígena e de esquerda, pode vencer as eleições para Presidência, em dezembro. Que movimentos sociais permitiram este avanço. Quais seus pontos de unidade e divergência. Como um novo governo poderia enfrentar os dramas do país mais pobre da América do Sul

Maurice Lemoine - (01/11/2005)

A demissão em massa de 25 mil mineiros, depois da privatização das minas de estanho, atingiu em cheio a Central dos Trabalhadores da Bolívia (COB)

Aqui em Huanuni, nos caóticos recônditos do altiplano1, encontra-se uma mina de estanho. Mais adiante, há ouro, cobre, antimônio, prata, zinco. E ainda petróleo e gás natural, matérias-primas que têm, digamos, colocado lenha na fogueira. Mas aqui em Huanuni, quando se viola, até ao menos os 240 metros, as entranhas da terra, na obscuridade opressora de quilômetros de galerias, é para roubar-lhes o estanho. Vinte e quatro horas por dia, 850 mineiros trabalham em troca de mil pesos bolivianos por mês - cerca de 300 reais. "Trabalhamos até mesmo aos domingos - conta um deles - para ganhar três mitas". A mita corresponde a um dia de trabalho. Se sacrifica seu repouso dominical, o trabalhador recebe o triplo.

Aqui ninguém tem nada a perder. Se for necessário, e quando for preciso, defende-se La Paz com a banana de dinamite na mão. "Já tivemos mortos, mas nosso papel foi fundamental para a saída de ’Goni’ e Mesa”.

Goni”: Gonzalo Sánchez de Lozada, presidente ultra-liberal vindo do Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), deposto por uma revolta popular reprimida com sangue (86 mortos), em 17 de outubro de 2003. Mesa: Carlos Mesa, seu vice-presidente e sucessor, obrigado a pedir demissão em 6 de junho de 2005, depois de três semanas de convulsões sociais.

Desde 1985, todos os governos, de direita ou pretensamente de esquerda, têm seguido dogmaticamente as linhas da nova política econômica, colocada em prática pelo decreto 21060: privatização das minas, das telecomunicações, do transporte aéreo e ferroviário, da água, da eletricidade, do petróleo e do gás.

A demissão em massa de 25 mil mineiros, depois da privatização das minas de estanho, atingiu em cheio a Central dos Trabalhadores da Bolívia (COB), da qual estes eram o coração, a carne e o sangue. Oposição desde a revolução de abril de 1952, foi a COB que lutou contra os militares durante todo o período da ditadura, até 1982. O fechamento das usinas e também o choque ideológico provocado, em 1989, pela queda do muro de Berlim, acabaram por abalar este movimento impregnado de marxismo. O campo das lutas esvaziou-se –na aparência. Porque, ressalta o sociólogo Alvaro García Linera, "A sociedade cria então outros mecanismos de representação e de ação política: os movimentos sociais, articulados em redes territoriais".

Os primeiros, organizados em comunidades agrárias (sindicatos), são os cocaleros. Erguem-se na região do Chapare. Como produtores de coca, conseguiram, por meio deste cultivo, resolver o problema vital ao qual foram confrontados – sobreviver... Washington não esconde sua cólera. A Casa Branca tem uma obsessão: desaparecer com a coca e os cocaleros - colocados no mesmo saco da cocaína - através de políticas coercitivas, da erradicação forçada e da repressão. Surge um líder, um guerreiro, um índio aymara que se chama Evo Morales.

Dos cocaleiros e da água ao petróleo

"A sociedade cria então outros mecanismos de representação e de ação política: os movimentos sociais, articulados em redes territoriais"

Em 2000, Cochabamba mobiliza-se para expulsar a multinacional Bechtel, beneficiária da privatização da água potável. O país balança e treme na era glacial do neoliberalismo. Presidente do sindicato dos cocaleros, Evo Morales conquista espaço nacional através da criação, em 1999, do Movimento ao Socialismo (MAS), mais uma confederação de organizações sociais do que um partido. Eleito deputado de Cochabamba desde 1997, construiu-o rapidamente depois das eleições presidenciais de junho de 2002. Congrega agora 36 deputados e senadores no Congresso, dentre os quais ele próprio (após as eleições de 2004, o MAS se tornou a primeira força política do país).

Em paralelo, múltiplas organizações estão na luta. A poderosa Confederação Sindical Única dos Trabalhadores Camponeses da Bolívia (CSUTCB), base social do radicalíssimo Movimento Indígena Pachakuti (MIP). O Movimento dos Sem Terra da Bolívia (MST-B). O que resta da COB; suas filiadas, as Centrais Regionais dos Trabalhadores (COR). Os cooperativistas, as coordenações de água. Os comitês de bairro, sobretudo os de El Alto, impressionante cidade-dormitório de 800 mil ex-camponeses mineiros, em sua maioria indígenas, situada a 15 minutos de La Paz sob a poeira ocre do altiplano. Reagrupados ao seio da Federação dos Comitês de Vizinhança (Fejuves), foram eles que combateram contra a transnacional Águas de Illimani (Suez-Lyonnaise des Eaux). Da luta pela água à luta pelo gás foi um passo.

Produtora de petróleo, a Bolívia possui a segunda maior reserva da América Latina, depois da Venezuela. A Constituição considera propriedade inalienável do Estado os recursos naturais presentes no subsolo. Em 30 de abril de 1996, num surpreendente passe de mágica, a lei no. 1689 concede às companhias privadas a propriedade dos hidrocarbonetos, emergentes do "inalienável" subsolo quando afloram à superfície dos poços... Exploração, transporte, refino, distribuição e comercialização vão parar nas mãos das multinacionais. Considerados como "novos", os campos petrolíferos e de gás descobertos depois da lei de 1996, assim como as jazidas não exploradas até esta data, são taxados em apenas 18%, enquanto que os "antigos" (freqüentemente rebatizados "novos" através de artifícios grosseiros) eram taxados em 50%.

2003-04: revolta, queda de governo e referendo

Capaz de se unir em tempos de crise, esta vasta torrente contestatória se caracteriza por uma enorme fragmentação

Fingindo não perceber a irritação do povo, o presidente Sánchez de Lozada arma um gigantesco projeto de exportação do gás natural líqüido junto à Califórnia. Polpuda operação para o consórcio Pacific LNG, verdadeira usurpação para o país. Ainda por cima, o planejado gasoduto vai passar pelo Chile, "inimigo hereditário" depois da desastrosa guerra de 1879. As massas se levanta. "Goni" manda atacá-las a bala. Confrontado com a resistência, é obrigado a renunciar. Seu vice-presidente, Carlos Mesa, o sucede.

Recuperação dos recursos naturais, "nacionalização" dos hidrocarburetos, convocação de uma Assembléia Constituinte estão na ordem do dia em todos os componentes das forças populares. Submetido à sua pressão, mas naquelas circunstâncias apoiado por Evo Morales, o chefe de Estado organiza um referendo sobre os hidrocarbonetos, em 18 de junho de 2004. A população participa e uma grande maioria (70%) se manifesta em favor da recuperação de sua propriedade.

Em 21 de outubro, para grande desgosto do presidente Mesa, que a considera "abusiva" e "confiscatória" para as multinacionais, o Congresso aprova nova lei aumentando a intervenção do Estado nos negócios petroleiros e cria um Imposto Direto sobre os Hidrocarbonetos (IDH) de 32% sobre a produção. Somado aos 18% já então em vigor, o tributo eleva a taxa de arrecadação do Estado sobre o petróleo a 50%). Um avanço, para alguns (o MAS, por exemplo). Uma traição, para os radicais da COR, da Fejuves de El Alto, da COB e do MIP, que pretendiam de uma nacionalização pura e dura: expulsão das multinacionais, sem indenização.

Capaz de se unir em tempos de crise, esta vasta torrente contestatória se caracteriza por uma enorme fragmentação. São "divisões territoriais, ideológicas, religiosas, de classe", especifica García Linera, considerado por muitos como o ideólogo do movimento social. Ele sorri: "É muito generoso..." - mas o detalhe tem sua importância, veremos mais adiante. "Em certos momentos”, continua García Linera, “este movimento constrói unidades territoriais, locais, em torno de temas comuns do quotidiano: água, eletricidade, energia. Em períodos de tensão, isso se transforma em força e em ações coletivas, que no ponto máximo do confronto, se articulam em movimento de massa – antes de naufragar novamente na divisão, uma vez atingido o objetivo comum".

Evo Morales, direita e “esquerda”

Depois de haver triunfado juntos, os dois grandes blocos deste movimento social continuam se degladiando

Durante as eleições de 2002, Evo Morales teve de suportar os ataques da direita e de Washington: "narco-cocalero", "instrumento de Chávez de Fidel", "amigo das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia)". De outro lado, agora são os "radicais" do movimento popular que se lançam contra ele. "Evo é um traidor", dispara Jaime Solares, dirigente da COB: "Ele estava engajado na luta pela nacionalização e, tornando-se cúmplice do governo, não o fez”. Circulam libelos que apontam "o papel de Evo Morales na estratégia e nos planos da CIA e do Departamento de Estado para desmontar as manifestações populares".

Mas o chefe do MAS não se deixa abater por isso: "Não houve nenhum pacto ou aliança com Mesa. Se ele propõe medidas ruins, nós as rejeitamos. Quando elas são boas, como a convocação do referendo, nós as apoiamos". De fato, o MAS voltou à ofensiva quando ficou claro que Mesa, apostando no abafamento da contestação, hesitava em respeitar a consulta ao povo. Novamente a Bolívia foi tomada por uma agitação que nada pode acalmar. Radicais, moderados, rurais, urbanos, todos retomaram a luta com tanto ardor que a direita neoliberal começou a se reorganizar em torno das elites brancas das províncias ricas no leste do país, Santa Cruz e Tarija. Seus “comitês cívicos” reclamam autonomia e pretendem que cada departamento disponha livremente de seus recursos financeiros e naturais. Querem controlar o gás e o petróleo, cujas jazidas mais importantes jazidas estão sob seus pés, e que eles querem vender nas condições anteriores — para não afligir as multinacionais, suas fiéis aliadas.

2005: El Alto derruba Mesa

El Alto desce a La Paz, o território dos brancos, da classe dominante, do poder de Estado. Fala-se em constituir uma assembléia popular revolucionária, embrião de um "Estado Operário Camponês", sob a direção da COB. Um "soviete" destinado a depôr o "conciliativo" Evo Morales. Para os moderados, uma "provocação da extrema esquerda", que faz o jogo da extrema direita. Porque se a COB recusa a mediação da igreja, seu chefe, Solares, esquecendo os anos da ditadura, conclama pela... intervenção do exército! Enquanto circulam rumores de golpe de Estado, Morales denuncia as pretensões da "nação camba" (os autonomistas de Santa Cruz), apoiando uma saída constitucional.

Composta de uma miríade de organizações, movimentos, oportunistas, que pactuam, fazem acordos, opõem-se entre si, lutam até a morte, traem..., a oposição não consegue menos que paralisar o país, em maio e junho de 2005. Em 6 de junho, Mesa pede demissão em 6 de junho.

Testemunhas do avanço do MAS, dirigentes da COB, do MIP e da Fejuves sonham cada um em formar um novo instrumento político, sem ter meios para tal. Daí sua grande frustração

Constitucionalmente, Hormando Vaca Diez, senador do MIR (Movimento da Esquerda Revolucionária!2) de Santa Cruz, e presidente do Senado, deveria assumir a sucessão. A fim de conservar o poder, os outros partidos tradicionais — Nova Força Republicana (NFR), Aliança Democrática Nacional (ADN) e Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR, partido de Sánchez de Lozada) — o apóiam. A agitação atinge o máximo. Ninguém quer este proprietário de terras, perfeito aliado do lobby petroleiro. A revolta se sucede quando o nome de Mario Cossío (MNR), presidente da Câmara dos deputados, também aliado de "Goni", é evocado. É então que finalmente Eduardo Rodríguez, presidente da Corte Suprema (o único habilitado pra convocar novas eleições), é levado à presidência em 10 de junho pelo Congresso, assustado pela ameaça de uma guerra civil. É também ele quem, ao final de um acordo político nacional destinado a tirar o país do caos, e depois de o congresso aprovar uma reforma constitucional (artigo 93), convoca efetivamente eleições gerais para 4 de dezembro de 20053.

Uma grande passo adiante para o MAS: Morales encontra-se em excelente posição na perspectiva presidencial. "Estas são eleições históricas", afirma Alex Contreras, dirigente da Escola do Povo — 1o de maio, em Cochabamba. "Depois destes vinte anos de recuperação do sistema democrático, esta é a primeira vez em que o movimento social, popular e indígena encontra-se a um passo de ocupar o poder." É também a primeira vez em que um índio poderá chegar à magistratura suprema na Bolívia — e no continente.

Dois blocos no movimento social

Mas, depois de haver triunfado juntos, os dois grandes blocos deste movimento social continuam se degladiando. Ambos possuem uma base majoritariamente indígena, ambos têm uma composição urbana e rural. Os radicais, reagrupados em torno da COB, do MIP, da Fejuves de El Alto, mobilizam-se na zona aymara (o altiplano), a mais combativa do país, sobre um discurso étnico muito poderoso. O domínio do MAS apóia-se igualmente sobre uma base agrária (camponeses do Chapare, dos Yungas, de Sucre, de Potosi, de Oruro, de Santa Cruz, sem-terras e confederações indígenas do leste do país), pode contar com setores assalariados urbanos, estabeleceu ligações com as corporações e, sem entrar em impasse entre a incorporação e a revalorização da identidade ética, integra mais mestiços, numa abordagem que pode ser qualificada como "nacional".

Na sede da COB, Solares inflama-se, evocando "a revolução operário-camponesa, a tomada do poder pela insurreição popular". O homem não aceita nenhum compromisso e, sem dúvida para fazer esquecer as sombras que maculam seu passado4, recuperou um vocabulário de forte carga simbólica: "Nós, os trabalhadores, pensamos que se aproxima uma guerra civil ou uma revolução". Mesmo que eles (a COB) não sejam muito numerosos, repara um fino observador da sociedade boliviana, "camuflam sua frágil capacidade de mobilização — os que a realmente promovem são os índios e os camponeses — por trás de uma retórica ultra-radical, que funciona como a má consciência da esquerda. Solares sabe que seu discurso não é realista, mas não se importa. Pressiona o MAS, mais moderado, tirando proveito da liberdade de dizer qualquer coisa."

A mesma atitude tem Roberto de la Cruz, dirigente da COR de El Alto. Ele lança muitas idéias, uma mais radical que a outra: formar uma assembléia popular, grupos de choque para combater os cambas, um exército de libertação nacional. Um indivíduo ideologicamente confuso, mas muito decidido em momentos de crise e, nestes períodos, capaz de inflamar os seus. Assim como Abel Mamani, dirigente da Fejuves de El Alto: "Ele tem a virtude de compreender que é preciso resistir. Resistindo, joga para ganhar. Mas não tem orientação precisa, no campo político."

Idéias ou espaço político?

Em El Alto, as manifestações eram originariamente organizadas pelos dirigentes. Pouco a pouco a situação mudou. Agora, são as assembléias de distritos que decidem

Líder do MIP e dos índios camponeses da CSUTCB, Felipe Quispe dirigiu, em 1990, o exército guerrilheiro Tupac Katari (EG-TK), antes de ser capturado e preso durante cinco anos. Chamado de malku (condor em aymara) glorifica o retorno a Collasuyo5: "Nós queremos construir nosso próprio Estado confederado, nosso próprio governo dirigido por um presidente indígena, nosso próprio exército, nossa própria economia, como descendentes de Wayna Qhapak, o governo soberano dos Incas". Analisando a situação como uma "guerra de raças", ele estigmatiza indistintamente os q’aras (não-indígenas) de direita e de esquerda, e comenta assim os acontecimentos: "O povo triunfou. Acuamos Mesa e o MAS, que havia pactuado com ele".

Diferenças políticas, ideológicas. Mas também, e talvez sobretudo, confrontamentos de direções e de caudillos. Mais velho, Quispe não suporta ver seu caçula Evo Morales, cobrizo6 como ele, suplantá-lo junto aos indígenas (a CSUTCB, que ele dirige, de fato se dividiu em dois) e no conjunto da oposição. Há resistências também junto aos dirigentes secundários. Mamani (Fejuves de El Alto), por exemplo, não disputa a liderança com Morales, mas não quer ser subordinado a ele.

Testemunhas do avanço do MAS, único movimento político-social surgido da ação coletiva popular que conseguiu ultrapassar dos limites locais para o nacional, os dirigentes da COB, do MIP e da Fejuves sonham cada um em formar um novo instrumento político, sem ter os meios para tal. Daí a grande frustração que os abate.

Episódios surrealistas às vezes dizem muito sobre as ambições pessoais e a confusão ideológica. Por exemplo, Solares (COB) ataca Morales: "Evo nunca falou pelos trabalhadores ou pelo proletariado; ele não vê senão a coca, os territórios, a identidade [indígena]". Em seguida, alardeia: "Nós iremos fazer uma grande aliança revolucionária com Felipe Quispe" – o mais intransigente indígena do continene americano! Se se concretizar, a candidatura de Solares à vice-presidência de Solares, acompanhando o MIP e o malku, pode pegar fogo rapidamente. Por seu lado, ameaçando lançar mobilizações em 2006, se não estiver satisfeito, Mamani informa que decidiu apoiar o MAS ou o Grupo dos Seis (G-6), uma coalizão das prefeituras de La Paz, Cochabamba, Potosi, Sucre, Oruro e Cobija, que pretendem representar a "esquerda moderna". Tudo os separa, da prática à ideologia, muito neoliberal para alguns deles7.

Mesmo as organizações de segunda categoria encarecem as apostas. "As iniciativas não estão ligadas aos problemas de fundo, repara Contreras, mas às cotas de poder que cada um possa obter, com ou contra o MAS, no congresso." Isso pode comprometer aliança ao fracasso ou, ao menos, retardar sua articulação, o que leva Morales, às vezes, a suspirar: "Na América Latina, nós somos bons para depôr os presidentes. Deveríamos ser tão bons também para substituí-los". Ele continua: "A participação de todos seria desejável. Mas é preciso analisar a situação em profundidade. Eu não tomo uma posição radical fazendo a apologia da luta armada, da insurreição, do golpe de Estado. Eu aposto em uma mudança do modelo econômico e social baseada na consciência do povo e na democracia".

A voz dos líderes e as das bases

O MAS marcou um ponto decisivo ao escolher, como candidato à vice-presidência, o sociólogo Álvaro García Linera, um dos intelectuais mais prestigiados da Bolívia

Uma crise de características pré-revolucionárias, mas ao mesmo tempo desprovida de instrumento político? Não é bem assim. Porque a base não segue necessariamente aqueles que pretendem representá-la. Em El Alto, conta Nestor Guillén, dirigente da Villa el Ingenio (que faz parte da Fejuves), as manifestações eram originariamente organizadas pelos dirigentes. "Companheiros, é preciso ir às ruas!" Pouco a pouco a situação mudou. Nos bairros, são os habitantes que decidem: "É preciso sair! É preciso andar!" Uma exigência vinda de baixo para cima. "A capacidade de mobilizar de El Alto depende não da Fejuves, mas de os distritos e blocos, em suas assembléias, decidirem que é preciso agir. Sem isso, Mamani pode convocar o que quiser, ninguém o seguirá." Foi assim que, apesar do boicote de seu chefe, os habitantes de El Alto participaram massivamente do referendo sobre os hidrocarbonetos, dando implicitamente razão ao MAS, que apoiarão nas próximas eleições.

Quispe jogou contra o próprio time quando, eleito deputado do MIP (seis cadeiras) em 2002, abandonou rapidamente a tarefa declarando: "Prefiro trabalhar nas campanhas e fazer o papel político que sempre foi meu". Quando perguntado se pretende retornar ao Parlamento, ele responde, com a franqueza que lhe é peculiar: "Não nasci pra ser deputado, nasci pra ser presidente!” O episódio deixou marcas. "Esta atitude mostra que ele não tem capacidade para fazer política, resume Guillén. Evo [Morales], que assumiu seu mandato parlamentar, sempre demonstrou ser contra o modelo e continuou na disputa."

O MAS marcou um ponto decisivo em 20 de agosto último, ao escolher, como candidato à vice-presidência, o sociólogo Álvaro García Linera. O homem pegou em armas com o EG-TK de Quispe e, assim como este, ficou detido até 1995. Declara: "fiz parte de um grupo de guerrilheiros, não me arrependo. Sou o mesmo de há quinze anos, simplesmente mudei de método". É visto como uma referência no meio do movimento social. Sua designação ligou rapidamente ao MAS seis federações de camponeses, cooperativas mineiras, centrais de trabalhadores regionais importantes (Oruro, Potosi, Cochabamba), transportadores de El Alto e mesmo a Fejuves8... Considerado um dos intelectuais mais influentes da Bolívia, García Linera abre um espaço no seio da classe média, universitários e estudantes. Mais força para o MAS, que lidera as pesquisas com larga vantagem, deixando para trás Jorge Quiroga, desertor do ADN (o partido do ditador e depois presidente eleito Hugo Banzer) e candidato da embaixada dos Estados-Unidos.

Elites, múltis e Washington inquietos

Assembléia Constituinte e nacionalização dos hidrocarbonetos resumem a crise e a esperança do país

Pânico no campo neoliberal que, em desespero de causa, tenta adiar as eleições, para ganhar tempo e oxigênio. Esquecendo-se que sua a convocação antecipada das eleições foi fruto de um acordo político, que contornou o texto da Constituição, em virtude da profundidade da crise, os parlamentares de Santa Cruz, acionaram em 4 de agosto, o Tribunal Constitucional. Denunciam o desrespeito ao artigo 60 da Carta, que define o número de cadeiras de cada Departamento, na Câmara dos Deputados, tendo como base o último recenseamento - no caso, o de 2001. Tendo em vista a urgência da situação, o artigo não foi levado em conta. Houve aumento da população no eixo La Paz-Santa Cruz-Cochabamba, que deveria ter sua representação parlamentar aumentada. Em 22 de setembro, o Tribunal Constitucional aceitou a demanda, abrindo as portas para uma nova fase de intensa agitação.

Assembléia Constituinte e nacionalização dos hidrocarbonetos resumem a crise e a esperança do país. Nesta matéria, o MAS, que não duvida de sua vitória, não tem a intenção de se lançar em ações irrefletidas. "Uma nacionalização sem indenização, como propõem os radicais, nos faria voltar aos anos 60. Num país tão pobre, que vive da ajuda dos organismos internacionais, isso nos colocaria em situação pior do que aquela enfrentada por Cuba no bloqueio", analisa Contreras9. García Linera não diz outra coisa, enquanto avança: "É uma questão de relações de força. Eu sou a favor de uma solução pragmática. O que fazer com a Petrobrás – ou seja, com o governo brasileiro? Um país de 175 milhões de habitantes! Devemos nos mostrar prudentes". Morales resume tudo: "Muitas transnacionais operam em virtude de acordos ilegais e anticonstitucionais, fazem contrabando, não pagam impostos. Nós faremos respeitarem a lei, mas apostaremos numa nacionalização através do diálogo e do acordo." Posto em perspectiva, exatamente o que fez a revolução bolivariana, na Venezuela. Um tipo de desenvolvimento no qual o Estado desempenha um papel central, mas que pode ser feito com investimento estrangeiro.

A polêmica em torno da Constituinte também é acirrada. A direita não a quer, "se se compreende por isso uma assembléia com capacidade de colocar o país de pernas para o ar, afetando o direito à propriedade, em particular os dos recursos naturais e da terra, e na qual 60% dos representantes seriam indígenas10". O MAS conta eleger uma assembléia majoritariamente indígena (à imagem do país), plenamente soberana, sem nenhuma limitação ou restrição prévia. Novamente como na Venezuela.

De qualquer forma, os Estados Unidos não se enganaram, ao fazer do dirigente do MAS seu inimigo número um. "Não é segredo para ninguém que Evo Morales se apóia sobre Caracas e Havana, onde tem seus melhores aliados", disparou Roger Noriega, sub-secretário de Estado dos EUA para a América Latina. Ao que o interessado respondeu, em 31 de julho, quando de sua nomeação como candidato à presidência da República: "Chávez e Fidel não pertencem de maneira alguma a um eixo do mal. Eles são os comandantes das forças libertadoras do continente". Mostrava, sobretudo, os limites de sua "moderação".

(Trad.: Patrícia Andrade)

1 - Alto platô andino no oeste da Bolívia e sudoeste do Peru.
2 - Criado nos anos 70 para lutar contra o militarismo, o MIR transformou-se num partido neoliberal totalmente corrumpido, mas não mudou de nome. Num país pobre como a Bolívia, ser “de esquerda” é um capital político.
3 - Em 2 de novembro, um decreto presidencial alterou ligeiramente o calendário das eleições. Elas serão em 18 de dezembro. Além do presidente e do vice, serão eleitos deputados, senadores e prefeitos para os nove departamentos bolivianos. A mudança foi resposta a uma demanda de parlamentares de direita junto ao Tribunal Constitucional, à qual o texto de Maurice Lemoine se referirá adiante. Esses parlamentares pretendiam anular as eleições, alegando descumprimento de um dispositivo da Constituição que obriga a recalcular, antes de cada pleito, o número de representantes de cada Departamento na Câmara de Deputados. Após o recálculo, o departamento de Santa Cruz ganhou três novas cadeiras e o de Cochabamba, uma. La Paz perdeu duas vagas. Potosí e Oruro, os mais pobres, perderam um assento cada.
4 - Segundo testemunhos conincidentes, Solares teria atuado, nos centros mineiros, como informante de grupos de segurança do Estado. Antigos dirigentes mineiros, presos durante a ditadura de Luís Garcia Meza, declararam publicamente ter sido denunciados por ele.
5 - Pátria ancestral do império inca, que compreendia o oeste da atual Bolívia, uma parte do sul do Peru, o norte da Argentina e do Chile.
6 - Cor de pele que reivindicam os indígenas radicais.
7 - No fim das contas, a coalizão do G-6 explodirá, minada por suas próprias contradições.
8 - Tratando à sua maneira o problema de disputa de lideranças, o MAS escolheu Mamani como candidato à prefeitura de La Paz, onde ele não tem a mínima chance de vencer.
9 - As empresas Petrobrás (Brasil), Repsol-YPF (Espanha-Argentina), British Gas (Reino Unido) e Total (França) anunciaram, antecipadamente, o congelamento de seus investimentos na Bolívia. Ao mesmo tempo, as transnacionais recorrem a acordos internacionais de proteção recíproca dos investimentos para contestar a nova lei sobre hidrocarbonetos e proteger seus interesses.
10 - Declaração do candidato à vice-presidência do partido União Nacional (UN), Carlos Dabdoub.




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