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"Irmãos Muçulmanos" divididos

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Um conflitos entre a "linha dura" e os "moderados" sacode a organização que criou o Hamas e que é, desde 1928, referência para militantes islâmicos no Egito, Jordânia e Palestina

Wendy Kristianasen - (12/04/2000)

No dia 21 de janeiro de 2000, dezenove estudantes que tinham ido passar o fim de semana em Alexandria, no Egito, foram presos, e contra eles foi aberto um inquérito. Foram acusados pelos procuradores de segurança do Estado de serem membros da associação ilegal "Irmãos Muçulmanos" (Al-Ikhwan Al-Muslimin). Quatro dias antes, vinte associados a sindicatos de profissionais liberais (médicos, advogados, jornalistas, etc.) foram conduzidos a um tribunal militar, suspeitos de pertencerem à mesma confraria. No total, cerca de 200 militantes desse movimento — quase todos sindicalistas — aguardam julgamento por tribunais militares.

No dia 21 de dezembro de 99, o governo jordaniano, violando o Artigo 9 da Constituição, [1] deportava para o emirado de Qatar quatro dirigentes do movimento islâmico palestino Hamas — criado pelos "Irmãos Muçulmanos" —, todos eles cidadãos jordanianos de origem palestina. Eram suspeitos de "atividades ilegais" e de "pertencer a uma organização ilegal", ou seja, o Hamas, que, no entanto, vinha sendo tolerado pelo governo de Amã há cerca de dez anos. No dia 30 de agosto de 1999, os escritórios do Hamas na Jordânia já haviam sido fechados e doze de seus membros presos.

Esta repressão inscreve-se na estratégia comum conduzida por Israel (cerca de 900 dos 1,4 mil presos políticos palestinos ainda detidos em Israel são muçulmanos) e pela Autoridade Palestina (que mantém detidos cerca de 300). A ofensiva teve conseqüências para os "Irmãos Muçulmanos" jordanianos, já que o rei Abdallah II pôs fim à política de cooperação com a organização conduzida por seu pai, o rei Hussein.

Seria possível traçar um paralelo entre essas diversas situações? A repressão contra o Hamas é resultado direto das negociações de paz: o novo rei teria aceito as exigências feitas pelos Estados Unidos e Israel, levando em consideração o espírito do tratado de paz assinado entre Amã e Tel-Aviv em 1994, e aberto mão do apego que seu pai tinha pela Cisjordânia. Já no Egito, o presidente Hosni Mubarak dirige os ataques à confraria sem que qualquer potência ocidental o esteja pressionando.

Quanto mais reprimidos, mais populares

Os receios de ambos os regimes são, no entanto, os mesmos. Na Jordânia, no Egito e no território palestino, os islamitas representam a única força real de oposição e — após o colapso do nacionalismo árabe e do comunismo — a única com uma mensagem ideológica. Nesses três países, "a religião é parte integrante do edifício", para usar as palavras de um respeitado jornalista egípcio, muçulmano, Fahmi Howeidi. Por isso são particularmente sensíveis ao maremoto do braço político islâmico que assolou a região desde o fim da década de 70. E nesse ponto, os "Irmãos Muçulmanos" são a referência para todos os militantes islâmicos. A organização inspira confiança, é respeitada e conta com numerosos adeptos urbanos entre profissionais liberais. Autorizada ou não a participar da vida política, ela é atuante em todos os setores da sociedade: assistência social, educação, obras de caridade etc. E quanto mais os "Irmãos" são reprimidos, mais popular se torna o seu movimento.

Como alguém se torna um "irmão muçulmano"? "Eu entrei para os ’Irmãos’ com quinze anos, quando estava na escola, aqui em Amã", conta Yassir Abu Hilela, jornalista há trinta anos. "É a idade em que a maioria das pessoas se filiam — e a mesquita é um elemento essencial para essa filiação. Para ser um ’irmão muçulmano ativo’, um homem precisa ter mais de vinte anos de idade e ser filiado há mais de três. Presta-se então um juramento e passa-se a dar uma contribuição que vai de 3 a 5% do seu salário mensal." Em 1995, ele abandonou a confraria: "Eu tinha que optar entre escrever de uma maneira objetiva e continuar sendo membro. É difícil filiar-se aos ’Irmãos’ e é ainda mais difícil abandoná-los."

A sociedade dos "Irmãos Muçulmanos" foi fundada em 1928 em Ismaïliyya, no Egito, por Hassan Al-Banna. Cresceu rapidamente, tornando-se um amplo movimento popular que agrupava centenas de milhares de membros e tinha por objetivo direcionar os muçulmanos para o verdadeiro caminho do Islã. Opôs-se vigorosamente ao colonialismo britânico e defendeu a causa palestina, chegando a participar de combates entre israelenses e árabes nos anos de 1948-1949, disseminando-se depois por todo o mundo árabe.

Reforma, não revolução

Seus objetivos permanecem os mesmos. Os "Irmãos" apenas insistem menos em sua meta inicial de uma sociedade islâmica unida. Reivindicam, em primeiro lugar, Jerusalém, mas também a libertação total da Palestina. O Jihad (guerra santa) é reservado às mobilizações em nome do Islã. A violência não deve ser utilizada contra regimes árabes, uma regra que a brutal experiência vivida pelos "Irmãos" durante o governo de Gamal Abdel Nasser consolidou. [2] O seu lema é: reforma, e não revolução. Foi, aliás, em protesto contra essas orientações demasiado pacíficas que, nos anos 70, alguns jovens militantes se rebelaram. Estes deixaram a organização para fundar movimentos radicais, como o Jihad Islâmico, no Egito ou na Palestina.

Essa mensagem reformista é continuamente repetida, quaisquer que sejam as circunstâncias. No Egito, os "Irmãos" continuam sendo proibidos — mas tolerados, de acordo com os humores do governo. [3] Eles participaram das eleições legislativas de 1984, sob a legenda do Partido Wafd, e novamente em 1987, quando se aliaram ao Partido do Trabalho e aos liberais. Tornaram-se o principal grupo parlamentar de oposição, o que levou o presidente Mubarak a lamentar suas "aberturas". Em 1993, ele determinaria a intervenção nos sindicatos de profissionais liberais (advogados, jornalistas, médicos etc.) onde os "Irmãos" haviam obtido importantes vitórias e, às vésperas da eleição de 1995, conduziria 62 dos principais responsáveis da organização a tribunais militares, impedindo-os, dessa forma concreta, de participar da campanha eleitoral.

"A luta não opõe governo e islamitas", explica Fahmi Howeidi, "mas governo e democracia. Tome-se o caso do Wasat. Nenhum novo partido que representasse a mínima chance de desafiar o poder foi autorizado durante os dezenove anos de estado de emergência. Isso significa que o governo está mandando um recado perigoso: não há esperanças de uma mudança pacífica." Ele se refere a Abul Ela Madi, um engenheiro, de cerca de 40 anos de idade, que tentou por duas vezes, desde 1996, criar um novo partido, Al Wasat (O Centro).

Um novo partido

"O nosso projeto", explica Madi, "é islâmico. Mas enquanto os ’Irmãos Muçulmanos’ se definem como um movimento religioso, e se limitam a sedirigir aos seus próprios filiados, nós queríamos nos transformar num movimento cultural, aberto a todo mundo. Ao contrário dos ’Irmãos’, nós queremos transformar os muçulmanos não em bons muçulmanos, mas em bons cidadãos." E ele lembra a iniciativa que teve, de procurar o dr. Rafiq Habib, um psicólogo copta (cristão jacobita egípcio). "O islamismo e o cristianismo estão ambos profundamente arraigados na nossa sociedade. O que nós queremos é uma nação unida, separada do Estado." Uma terceira tentativa está atualmente em curso, embora Madi saiba, de antemão, que será rejeitada — a de criar um jornal. Prevendo a recusa, ele fez uma nova reivindicação, pleiteando o lançamento de um "fórum social".

As tentativas de Abul Ela Madi de criar uma organização diferente da dos "Irmãos" provocaram uma crise sem precedentes dentro do movimento. A iniciativa de formar um novo partido apoiava-se, em suas palavras, nas "lacunas dos ’Irmãos’, no desejo arrogante de controlar seus membros", bem como na incapacidade de dar lugar à nova geração. Em quatro sucessivas ondas, entre 1996 e 2000, mais de duzentos militantes se desfiliaram.

Madi assume inteira responsabilidade por sua atitude: "A razão pela qual ninguém conhece a verdade é porque eu aceitei a condição de não tornar públicas as minhas divergências com os ’Irmãos’." Porém, em meio a esse clima de denúncias e acusações, diversas fontes explicam que Madi teria sido forçado a agir dessa forma pela direção dos "Irmãos Muçulmanos", para não ser desmentido por ela. Ma’mun Al-Hodeibi, o porta-voz dos "Irmãos", recusa essa acusação: "Se tivéssemos querido pedir a criação de um partido político, nós o teríamos feito abertamente. Não o fizemos porque sabíamos que esse pedido seria recusado." A verdade é difícil de desvendar, por trás do manto de segredo que envolve todas as divergências no interior dos "Irmãos".

No dia 22 de janeiro de 2000, Issam Al-Aryan, de quarenta e seis anos e um dos membros mais eminentes da confraria, médico e ex-deputado, saía da prisão depois de cumprir uma pena de cinco anos por pertencer aos "Irmãos Muçulmanos". Uma semana depois, já cheio de energia, ele retomava o trabalho. "Nós convidamos ao diálogo quem quer que seja, em caráter formal ou informal. Como sabemos o quanto o regime é burocrático, pedimos apenas um gesto: por exemplo que abandonem as perseguições contra nossos militantes que são levados a tribunais militares." Na ausência de vida política, os meios de comunicação e os sindicatos ocuparam esse espaço. Cherif Abul Majd, um engenheiro de cerca de cinqüenta anos, teria se filiado ao partido de Madi, mas, ao contrário de outros, continuou na confraria. Ele acha que é necessário encontrar novos meios de se dirigir à sociedade, e "começar por uma mudança progressiva".

Helmi Al-Gazar, 44 anos e médico, foi candidato pelo Partido do Trabalho. Ele não é "Irmão Muçulmano": "Eu não estou disposto a ir para a cadeia, há muita coisa a ser feita." Mas ele acha que, pouco a pouco, a organização evolui: "Nos últimos dez anos, eles mudaram de posição com relação às mulheres, autorizando que elas se filiassem a sindicatos e que falassem em público. Eles até se dirigem aos cristãos, convidando-os a praticarem sua religião. Esse tipo de mensagem é mais aceitável pelos jovens."

Força e divisão na Jordânia

Em comparação com a organização egípcia, os "Irmãos Muçulmanos" jordanianos vivem uma situação confortável. A política de colaboração adotada pelo rei Hussein desde a década de 50 estimulou a confraria a adotar a moderação: ela isolou-se numa oposição leal. Em 1989, obteve vinte e duas das oitenta cadeiras da câmara baixa do Parlamento.

Em 1991, criou seu próprio partido político, a Frente de Ação Islâmica. Em 1993, apesar de uma alteração "temporária" na legislação eleitoral especificamente criada para prejudicá-la, a Frente obteve dezessete cadeiras. Mas em 1997 — com a manutenção da alteração "temporária" — a Frente decidiu boicotar a eleição. O professor Ishaq Al-Farhan, secretário-geral da Frente entre 1992 e 1996, admite que isso foi um erro crasso. Seu sucessor, Abdel Latif Arabiyyat, compartilha dessa opinião: "O partido decidiu-se contra a participação por apenas um voto (86 contra 85). Embora estejamos divididos, eu penso que deveríamos participar do Parlamento — e do governo. Apesar disso, fui o primeiro a adotar a posição majoritária de boicote."

A linha dura recusa-se a ver o seu movimento transformar-se em parte do aparelho de governo. Farhan foi ministro da Educação entre 1970 e 1974: "Participar do governo foi uma decisão pessoal, minha. Na realidade, eu não tinha o aval dos ’Irmãos’ e nem os consultei. Eu apenas comunicava o meu ponto de vista, não pedia autorização." Ishaq Al-Farhan gostaria de uma maior nitidez nas relações entre os ’Irmãos’ e a Frente de Ação Islâmica, na qual metade dos membros admite pertencer à confraria.

Não é esse o único ponto de discórdia. A expulsão de quatro dirigentes do Hamas da Jordânia agravou as arestas entre uma maioria moderada e uma minoria radical — o que, na verdade, reflete as divergências de opinião dentro da própria sociedade jordaniana. Entre os "Irmãos", a maioria moderada, de ascendência cisjordaniana, deseja limitar os vínculos com o Hamas, enquanto a minoria, de origem palestina, é contrária. [4] Tanto os adeptos da linha dura quanto o Hamas — extensão palestina dos "Irmãos Muçulmanos" [5] — criticaram a direção moderada por suas tentativas de mediação, enquanto eles defendiam um apoio explícito ao Hamas. Ibrahim Ghosheh, porta-voz do Hamas e um dos quatro deportados, lançou um ataque sem precedentes contra os "Irmãos Muçulmanos" jordanianos, acusando-os de terem "abandonado seus lugares na luta pela libertação da Palestina". [6]

Segundo fontes muçulmanas, um terceiro ponto de discórdia divide os "Irmãos": o controle do dinheiro. A linha dura detém o controle da Associação do Centro Islâmico (Jama’iyya Al-merkez Al-islami), que administra o excelente hospital islâmico de Amã, onde se situam os escritórios da confraria. Diz-se que eles têm a maioria moderada como refém e que tentam separar a Jama’iyya dos "Irmãos" em nome de uma linha islâmica mais pura — embora, na realidade, possa entender-se como uma oposição à onda emergente de dirigentes moderados, moldados na luta política durante a década de 90.

Na Palestina, criadores do Hamas

E na Palestina, existiriam ainda os "Irmãos Muçulmanos", ou teriam eles dado lugar ao Hamas? Na Cisjordânia, onde a influência jordaniana continua forte, [7] ainda há quem faça alusão à sua filiação aos "Irmãos" — o próprio fato de os xeques Hamid Bitawi e Saïd Bilal ocuparem cargos que dependem da Autoridade Palestina parece confirmar essa tese. No entanto, segundo os responsáveis pelo Hamas, o seu movimento de resistência já superou o dos "Irmãos". Essa é uma interpretação contestada pelo chefe dos "Irmãos" jordanianos, Abdel Mejid Thuneibat: "O Hamas faz parte dos ’Irmãos Muçulmanos’ palestinos, que não se dissolveram. Já o braço militar do Hamas, por seu lado, abandonou os ’Irmãos’." Essa discórdia em torno da sigla esconde, na verdade, diferenças políticas e ambições, mas também fatores de desagregação. A Intifada, que explodiu na Palestina em dezembro de 1987, forçou os "Irmãos" a aderirem à insurreição popular contra a ocupação israelense. Foi então que decidiram criar o Hamas. Da reforma social e religiosa que eles pregavam (e sempre mantendo uma relação de coexistência com as autoridades israelenses), os "Irmãos" passaram, abruptamente, à resistência Armada nacionalista.

Sua imensa popularidade, associada às sangrentas operações suicidas, fez do Hamas um ator fundamental no drama palestino. Mas a instalação de Yasser Arafat em Gaza e a criação da Autoridade Palestina nas zonas autônomas em 1994 colocou a organização diante de um dilema insolúvel. Qualquer que fosse sua posição com relação aos Acordos de Oslo, o Hamas poderia renunciar à reivindicação de ter um lugar de influência na entidade palestina em construção? Seria o movimento um ator na cena política local, participando do jogo político, o que implicaria na renúncia a qualquer tipo de violência armada, e aceitaria um modus vivendi com a Autoridade Palestina? Ou se inseriria numa estratégia regional dúbia que poderia levar a um acordo entre Israel e a Síria?

Com o desmantelamento de seu escritório político em Amã, os principais defensores desta linha radical foram reduzidos ao silêncio, justamente num momento em que o braço militar do Hamas era seriamente enfraquecido. Esse afastamento deixou campo livre para os que manobravam no sentido de obter um papel nacional para o Hamas — principalmente a direção da Faixa de Gaza, onde o movimento nasceu — e para o seu líder fundador e guia espiritual, o bastante pragmático xeque Ahmad Yassine. Enquanto as outras tendências dos "Irmãos Muçulmanos" não poderiam aceitar, em quaisquer circunstâncias, uma solução baseada na coexistência de dois Estados na Palestina, o Hamas, celebrizado por sua luta violenta, propõe agora a Israel, como alternativa à guerra permanente, uma trégua (hudna) condicional e renovável, baseada no retorno às fronteiras de junho de 1967. Seria um paradoxo ou política de sobrevivência?

Acordo com Arafat e Israel?

Porque uma decisão dessas pode revelar-se perigosa: a influência do Hamas entre os jovens — e, de uma maneira geral, entre aqueles que recusam as concessões decorrentes de um acordo com Israel — apóia-se na resistência do movimento ao "grito da Palestina". Mais preocupante ainda: como pode o movimento ter confiança em Yasser Arafat? Como assinar um acordo com ele, na ausência do mínimo vestígio de democratização na Palestina?

E no entanto, vozes se levantam em favor da mudança na Faixa de Gaza. O Hamas criou seu próprio partido político, o Partido da Salvação Islâmica (PSI, Hizb Al-khallas Al-islami), que, até recentemente, obedecia às suas instruções. Porém, no dia 2 de fevereiro de 2000, desconsiderou os conselhos da organização e mandou quatro membros a uma reunião do Conselho Central Palestino — um dos organismos dirigentes da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), intermediário entre o Conselho Nacional e a Comissão Executiva. Essa iniciativa precipitou a crise, pois a presença oficial na reunião ratificava a participação oficial do PSI na OLP. [8]

Ghazi Hamed, de quarenta anos, um dos representantes da nova geração e editor do jornal Al Risala, do PSI, explica: "O Hamas continua acreditando na luta armada. Ele não está disposto a trabalhar sob o comando da Autoridade Palestina, enquanto nós estamos. Temos problemas em duas frentes: no interior do partido, que ficou dividido pela nossa iniciativa de participar da reunião do Conselho Central; e com o Hamas. A situação palestina é muito complexa e deveríamos traçar uma linha separando os nossos princípios da realidade. Nós devemos nos tornar parte da OLP." E Hamed cita o exemplo da Frente de Ação Islâmica, na Jordânia, ou a tentativa de criar um novo partido, Al Wasat, no Egito. "Temos que influenciar as pessoas, e não apenas os simpatizantes do Hamas. E isso significa que devemos trabalhar de maneira independente deles."

Três países, três situações diferentes. No entanto, tanto no Cairo como em Amã ou em Gaza, a geração de quarenta anos exige reformas dos dirigentes dos "Irmãos Muçulmanos". Ela se diz moderna e democrática, e pretende atingir uma audiência mais ampla — que ultrapassa a tradicional, dos "Irmãos".

Traduzido por Jô Amado.



[1] "Nenhum cidadão jordaniano poderá ser deportado do território do reino."

[2] Após uma tentativa de assassinato de Nasser em 1954, da qual foram acusados os "Irmãos Muçulmanos", uma terrível repressão foi desencadeada pelo governo egípcio contra a organização e esta teve enormes dificuldades para se reerguer.

[3] Ler, de Eric Rouleau, "Les impasses des mouvements islamistes en Egypte", Le Monde Diplomatique, janeiro de 1998.

[4] Os moderados, entre os "Irmãos Muçulmanos" jordanianos, alinham-se às posições da corrente moderada do Hamas.

[5] Ler "Douloureux réveil pour le Hamas", Le Monde Diplomatique, setembro de 1996.

[6] BBC World Service Monitor, 23 de janeiro de 2000, Arab Al-Yawm, de Amã, 23 de janeiro de 2000, e Al-Dustour, de Amã, 24 de janeiro de 2000.

[7] Depois de 1948, os "Irmãos Muçulmanos" da Cisjordânia juntaram-se aos da Jordânia, enquanto os "Irmãos" da Faixa de Gaza acompanharam a organização egípcia.

[8] No dia 29 de abril de 1999, o Hamas tinha enviado uma delegação de quatro membros a uma reunião do Conselho Central, mas com o estatuto de observador, para discutir a proclamação do Estado Palestino.


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