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A utilização desordenada, como se fossem sinônimos, dos termos islã, fanatismo, terrorismo, fundamentalismo, integrismo e islamismo, suscita, no mínimo, a confusão; ou, na pior das hipóteses, um racismo antimuçulmano

Eric Rouleau - (01/11/2001)

O racismo, de maneira consciente ou inconsciente, corre forte risco de aumentar junto a uma opinião pública amedrontada e desconcertada

Os apelos dos dirigentes ocidentais para que se distinga o islã do terrorismo não conseguirão separar o joio do trigo. O racismo, consciente ou inconsciente, corre forte risco de aumentar junto a uma opinião pública amedrontada e desconcertada. Preconceitos islamofóbicos, estereótipos, ignorância e um vocabulário belicoso conjugam-se para dar crédito à tese de um confronto de ordem religiosa e cultural. O sentimento difundido é de que o “Ocidente”, as “democracias civilizadas”, travam uma “guerra” (ou mesmo uma “cruzada”) contra “muçulmanos fanáticos” e “totalitários”. Essa visão se torna mais verossímil depois que os terroristas proclamaram a jihad (guerra santa) contra os “cruzados infiéis” que oprimiriam a comunidade muçulmana. Essa perturbadora oposição cava perigosamente o abismo que separa duas civilizações e dois mundos: de um lado os ricos e do outro os abandonados, atormentados por frustrações e ressentimentos acumulados.

No Ocidente, os dirigentes políticos e os meios de comunicação – felizmente, com notáveis exceções – contribuem para essa polarização de duas maneiras: ocultando os motivos políticos dos terroristas para se apegar à sua identidade religiosa; e lançando mão de um vocabulário que suscita todos as confusões que se pretendem evitar. A utilização desordenada, como se fossem sinônimos, dos termos islã, fanatismo, terrorismo, fundamentalismo, integrismo e islamismo, suscita, no mínimo, a confusão; na pior hipótese, um racismo antimuçulmano. Um em cada dois franceses, por exemplo, admite relacionar fanatismo ao islã, de acordo com uma pesquisa do IFOP1.

Contradições do clero iraniano

Não é possível escapar de contra-sensos corrosivos quando se evoca o “fundamentalismo” ou o “integrismo”, dois fenômenos estranhos ao islã – um, essencialmente protestante, e o outro, católico. Quanto ao termo islamismo, ele foi adaptado por certos islamólogos por falta de opção melhor, mas há estudiosos do assunto que preferem o conceito de “islã político”. De fato, a confusão aumenta quando se generalizam movimentos ou partidos islâmicos. Ora, esses são muito diferentes entre si e, muitas vezes, a única coisa que têm em comum é a referência à religião do Profeta, que interpretam de formas divergentes e até contraditórias, a ponto de poderem inserir-se num leque político que abrange da extrema-direita à extrema-esquerda.

O “fundamentalismo” e o “integrismo” são dois fenômenos estranhos ao islã – um é essencialmente de origem protestante; e o outro, católico

O Irã oferece um ponto de observação exemplar dos conflitos interislâmicos. A pior oposição que sofreu o imã Khomeini, pouco depois de sua ascensão ao poder, em 1979, não foi por parte de partidos laicos, mas por organizações islâmicas, algumas liberais (apoiadas por grandes aiatolás) e outras de inspiração social-democrata ou marxista. Depois de liquidados os adversários do khomeinismo, o conflito cristalizou-se, nos últimos anos, entre duas tendências: uma totalitária (e amplamente minoritária), representada pelo aiatolá Khamenei, o “guia supremo”, e outra, majoritária, conduzida pelo presidente da República, Mohamed Khatami, democrática e laicizante2. Espelho da sociedade, o clero iraniano também é profundamente dividido entre conservadores e reformistas, ambos apoiando-se em leituras contraditórias dos livros sagrados.

Dissidência nos Irmãos Muçulmanos

Na Turquia, outro país muçulmano não-árabe, o movimento islâmico, presente na cena política sob diversos nomes há meio século e respeitador da legalidade kemalista, adere ao laicismo do Estado, criticando-o por não observar o princípio da neutralidade do Estado, vigente na França e nos Estados Unidos. Os “islamo-democratas”, como às vezes são chamados na Turquia, por analogia aos democrata-cristãos europeus, são maciçamente representados no parlamento e nos conselhos municipais, tendo sido membros de vários governos de direita e de esquerda; seu líder histórico, Necmettin Erbakan, foi o primeiro-ministro de um governo de coalizão, em 1996-97, antes de ter cassados seus direitos civis. Acreditando-se vítimas da discriminação, eles estão, paradoxalmente, lutando pela democratização da República turca, que querem ver incorporada à União Européia, e pela defesa dos direitos humanos.

No Irã, a pior oposição que sofreu o imã Khomeini, em 1979, não foi por parte de partidos laicos, mas por organizações islâmicas

O Egito, por sua vez, conta com várias organizações islâmicas com orientações e objetivos distintos. Com uma ou outra exceção, elas querem realizar reformas por meios pacíficos. É o caso da mais antiga e mais importante de todas, a dos Irmãos Muçulmanos, que condenam a violência, a “ditadura” islâmica do Sudão e os “crimes” do GIA na Argélia. No entanto, isso não impediu que alguns quadras da confraria, julgando-a muito conservadora, abrissem uma dissidência, fundando o partido do Wasat (o meio) 3. Eles militam pelo pluralismo político e pelos direitos humanos. Participam de seu comitê diretor uma mulher e um copta (cristão), para marcar bem a diferença. Em compensação, a Jihad Islâmica, do dr. Zawahiri, juntou-se à Al-Qaida, a organização terrorista de Osama bin Laden.

O “terceiro-mundismo” de Khomeini

Poderiam multiplicar-se os exemplos que ilustram a diversidade do islã político nos países árabe-muçulmanos do Atlântico ao Golfo. Tanto é que a vertente islâmica passou por evoluções notáveis, até mesmo mutações, desde sua fundação em 1928, no Egito, dos Irmãos Muçulmanos, que a disseminaram pela região antes de perderem a supremacia. O desastre árabe, por ocasião da Guerra dos Seis Dias, em junho de 1967, assinalou a primeira grande mudança com o colapso dos partidos nacionalistas e socialistas, considerados responsáveis pela catástrofe. As populações, humilhadas, desesperadas e desorientadas, só encontraram consolo para seu desespero na fé. Obrigados à clandestinidade pela maioria dos regimes locais, os islamitas utilizaram as mesquitas como tribunas e suas inúmeras organizações caritativas e corporativas tornaram-se elos de transmissão de sua mensagem.

Por convicção ou oportunismo, adaptaram seu discurso político ao de seus concorrentes desaparecidos. A retórica islâmica, instrumento de mobilização, serviu de certa maneira de embalagem a um conteúdo nacionalista, antiimperialista, mas também social, sob forma de denúncias das injustiças, da corrupção, do despotismo das oligarquias reinantes. O islã político tornou-se, assim, um dos raros canais acessíveis a protestos e reivindicações. As declarações do imã Khomeini, por exemplo, amputadas de suas referências teológicas, pareciam confundir-se às de um terceiro-mundismo semelhante ao do finado presidente do Egito, Gamal Abdel Nasser. Dessa forma, o líder da revolução iraniana ocupou o espaço que o xá lhe legara, após ter destruído os partidos democráticos da oposição, tanto de direita como de esquerda.

A neutralização dos islamitas

O clero iraniano também é profundamente dividido entre conservadores e reformistas, ambos apoiando-se em leituras contraditórias dos livros sagrados

É evidente que o programa político e social dos islamitas, por mais demagógico que fosse, teve maior influência sobre a opinião pública do que sua mensagem religiosa, quase sempre retrógrada, misógina e repressiva, quanto aos costumes. É isso que justifica o impulso conseguido pelos islamitas depois, e não antes, de sua transformação em militantes da causa nacional. É verdade que usufruíram de vários tipos de ajuda, principalmente financeira, por parte de Estados que reivindicavam o islã, como a Arábia Saudita e outros países do Golfo, que pensavam consolidar assim seu espaço após o desaparecimento de regimes que lhes eram hostis. O que se constatou mais tarde foi que sua indulgência não teve retorno, pois não compreenderam que o islã político, em sua nova fórmula, não lhes era necessariamente favorável.

Face à ameaça que os desafiava, os regimes árabes tentaram neutralizar os islamitas, uns perseguindo-os com uma brutalidade inusitada, outros integrando-os às instituições do Estado, conservando a possibilidade de os manipular. Os islamitas foram cooptados com sucesso, entre outros lugares, no Líbano, na Jordânia, no Kuait e no Iêmen, onde têm representantes no parlamento e, em certos casos, no governo. Em contrapartida, foram dizimados na Síria, por terríveis massacres, na Tunísia e no Iraque, por uma impiedosa repressão, enquanto na Argélia os “exterminadores” que os procuravam eliminar só conseguiram perpetuar um conflito extremamente sangrento.

Discreto apoio equivocado de Israel

Na Turquia, outro país muçulmano não-árabe, o movimento islâmico, presente na cena política há meio século, adere ao laicismo do Estado

Seria um equívoco pensar que o confronto entre regimes estabelecidos e os islamitas constitua uma oposição entre partidários do laicismo e adversários dele. Alguns países hostis ao islã político também adotam legislações que seguem os ensinamentos dos livros sagrados; outros, rivalizam em exaltação com seus adversários por se islamizarem a ponto de se assemelharem a eles. A Arábia Saudita e o Egito são exemplos claros desse caso. Com raras exceções, os governos da região compactuaram, em um ou outro momento, com os islamitas com o objetivo de os utilizar contra adversários mais difíceis. O presidente egípcio Anuar el Sadat os acobertou, na década de 70, para neutralizar os nasseristas de esquerda e os comunistas, antes – ironia do destino – de ser assassinado por um deles, em 1981; seu sucessor, Hosni Mubarak, parou de persegui-los quando eles se engajaram na campanha anti-soviética no Afeganistão, antes de tornar-se ele próprio alvo de um atentado, em 1995; o rei Hussein, da Jordânia, freqüentemente apoiava-se neles para enfrentar os partidos que contestavam seu poder; o presidente do Iêmen, Abdallah Saleh, conseguiu sua colaboração no combate travado contra os marxistas do Iêmen do Sul; o ex-presidente sudanês, Gaafar Nemeyri, fez o mesmo para vencer a resistência dos partidos políticos hostis ao absolutismo, assim como a dos rebeldes autonomistas, cristãos ou animistas, nas províncias do sul do país.

O caso de Israel não é tão diferente: sucessivos governos do Estado judeu apoiaram discretamente os Irmãos Muçulmanos, nos territórios ocupados, quando estes se batiam exclusivamente contra a OLP de Yasser Arafat, que consideravam um saco de gatos – tanto nacionalistas quanto marxistas – de traidores do islã. Os dirigentes israelenses perceberam a sua miopia quando “os Irmãos” criaram, em 1987, no início da primeira Intifada, a atual organização Hamas, devotada à libertação da Palestina pela luta armada e pelo terrorismo.

Mudando as regras do jogo

O Egito, por sua vez, conta com várias organizações islâmicas: com uma ou outra exceção, elas defendem a realização de reformas por meios pacíficos

Os Estados Unidos não agiram de forma diferente de Israel e dos países árabes. Os islamitas sempre foram vistos por Washington como parceiros naturais: inimigos irredutíveis dos “ateus comunistas”, partidários confessos da economia de mercado, eles se destinavam, no entender de Washington, a aliar-se às fileiras do “mundo livre”. Vem daí a indulgência e a conivência do Tio Sam para com eles. A aliança dos Estados Unidos com a Arábia Saudita, pátria do wahabismo radical, nunca foi desmentida desde a II Guerra Mundial. Nas décadas de 50 e 60, países muçulmanos e movimentos islâmicos militavam do lado norte-americano contra o nasserismo e o “império do mal” soviético. Era a primeira versão do “combate do bem contra o mal”.

Três acontecimentos sucessivos – a expulsão do Exército Vermelho do Afeganistão, a Guerra do Golfo e a queda do império soviético – mudaram radicalmente as regras do jogo. Forneceram os ingredientes para um novo tipo de islamismo que iria germinar nas montanhas do Afeganistão. Os mujahidin não se consideravam simples co-adjuvantes dos Estados Unidos. Estavam persuadidos, como Osama bin Laden e seus futuros adeptos, de ter libertado uma terra do islã graças a seu valoroso combate, ao seu sacrifício, ao martírio voluntário de muitos deles. Sua decepção, após a vitória, foi proporcional à idéia que faziam de seu papel. Em sua maioria sem emprego ou fonte de renda, não obtiveram qualquer reconhecimento, compensação ou indenização. Os Estados Unidos, apesar de tudo agradecidos, exerceram discretas pressões sobre certos governos reticentes, no sentido de incentivá-los a repatriar militantes que, de volta a seus países de origem, na Argélia, na Caxemira, na Palestina, no Líbano ou no Egito – antes da Bósnia e da Chechênia – iriam retomar o uso da violência. Diante da persistente recusa do Egito em acolher o xeque Omar Abdel Rahman, envolvido no assassinato do presidente Anuar el Sadat, o governo norte-americano concedeu-lhe asilo político em 1991. Dois anos mais tarde, o xeque cego telecomandava o primeiro atentado contra o World Trade Center, recebendo, por isso, uma pena de prisão de várias décadas.

Os tempos da popularidade norte-americana

O desastre árabe na Guerra dos Seis Dias assinalou a primeira grande mudança: nacionalistas e socialistas foram considerados responsáveis pela derrota

A Guerra do Golfo, de 1990-91, suscitou manifestações e protestos no mundo árabe-muçulmano, não por simpatia por Saddam Hussein, como se disse, mas à guisa de protesto contra a parcialidade de Washington e a chamada política de “dois pesos e duas medidas”. Por que – indignou-se a imprensa islamita e nacionalista em uníssono – punir apenas o Iraque, por sua agressão contra o Kuait, enquanto Israel vinha ocupando impunemente, por várias décadas, territórios árabes? A que lógica atendia o boicote que, ao longo de anos, iria custar a vida de centenas de milhares de crianças iraquianas? E por que deveriam os norte-americanos instalar, assim que terminou guerra, bases militares em vários países do Golfo – principalmente na Arábia Saudita, terra santa – para proteger regimes impopulares e às vezes vacilantes? A única superpotência mundial, que já anunciava a aurora de uma nova ordem mundial, após o colapso da URSS, tornava-se, dessa forma, o principal alvo dos islamitas de todas as tendências. Inclusive Bin Laden.

“Anti-americanismo primário”? A hostilidade em relação à política internacional de Washington não está inserida na genética dos árabe-muçulmanos, como se costuma ouvir dizer, já que os ressentimentos são globais, manifestando-se atualmente na África, na América Latina, na Ásia e na Europa, entre populações muçulmanas ou não. Essa rejeição também não é imutável. Os norte-americanos conheceram picos de popularidade no mundo árabe em diversos momentos da história recente: quando o presidente Wilson prometeu a emancipação a todos os povos colonizados, depois da I Guerra Mundial; em 1944, por ocasião do compromisso assumido pelo presidente Roosevelt, com o rei Ibn Saud, de uma solução para o problema palestino com a participação dos países árabes; depois da II Guerra Mundial, quando os Estados Unidos eram vistos como adversários do colonialismo britânico e francês; em 1956, quando o presidente Eisenhower intimou a Grã-Bretanha, a França e Israel a porem fim à sua expedição militar contra o Egito e a retirar suas tropas sem demora. Nesses momentos, um Bin Laden não teria razão de existir.

Bin Laden não tem base de apoio

Por convicção ou oportunismo, os militantes do islã político (islamitas) adaptaram seu discurso ao de seus concorrentes desaparecidos

Seria o terrorismo uma prática indissociável do islã? Uma parte da mídia chegou a sugerir isso, não hesitando em se remeter ao século XI para lembrar as atividades criminosas de uma seita, a dos hashashin (assassinos). No entanto, qualquer historiador sério não teria qualquer dificuldade em demonstrar o caráter falacioso do paralelo feito entre esses acontecimentos e a empreitada de Osama bin Laden. Na verdade, o flagelo do terrorismo é um fenômeno mundial que se manifestou em toda parte, em países tão distintos quanto Alemanha, Japão, Itália, Argentina ou Grécia. Antes de germinar, recentemente, em sua chamada forma islâmica, foi sucessiva ou simultaneamente, palestino, israelense, egípcio ou iemenita, endêmico ou ocasional, de caráter individual, nacionalista ou estatal, visando na maioria das vezes os nativos.

O terrorismo da Al-Qaida, fundada por Osama bin Laden no fim da guerra anti-soviética no Afeganistão, é de outra cepa, inédita na história. Visa quase exclusivamente aos interesses norte-americanos; seu recrutamento e sua identidade são transnacionais, pois age em nome da oumma (“nação muçulmana”), dispersa pelos cinco continentes; é globalizado, na medida em que se manifesta em todo o planeta – em mais de 50 países, segundo o Departamento de Estado norte-americano – e utiliza tecnologias geradas pela globalização; seus adeptos são recrutados nas classes médias, muitas vezes formados na cultura ocidental, e fazem parte de minúsculos grupos que funcionam de maneira quase autônoma, ainda que inspirados pelas diretrizes do “centro”; essa “nebulosa” não é manipulada por qualquer país e, para seu financiamento e sua logística, conta apenas com a ajuda privada de organizações filantrópicas ou de ricos capitalistas; finalmente, e diferentemente dos terroristas de outros tempos – que agiam em nome de organizações e tinham, paralelamente, atividades políticas não-violentas – , os discípulos de Bin Laden, até onde se sabe, não dispõem de qualquer base de apoio popular estruturada. São, de certa forma, pessoas desenraizadas que querem se expressar e agir no lugar de mais de um bilhão de muçulmanos de todas as facções religiosas.

Condenação ao terrorismo

Contrariamente ao que uma parte da mídia quis dar a entender, as mais altas autoridades do islã, quase por unanimidade, sunitas e xiitas juntos, denunciaram – sem suscitar maiores repercussões nos meios de comunicação ocidentais – os atentados suicidas de 11 de setembro. Em declarações solenes ou do alto das tribunas, nas mesquitas, condenaram o massacre de inocentes, por ser contrário aos ensinamentos dos livros sagrados, e o suicídio (dos camicases), formalmente proibido pelas três religiões monoteístas. Que valor poderia, então, ser atribuído às fatwas (decretos religiosos) de Bin Laden e de seus companheiros – cuja autoridade teológica é duvidosa, senão nula – convocando para o jihad? E o que dizer do comportamento bem pouco islâmico dos piratas do ar, dois dos quais teriam sido vistos consumindo bebidas alcoólicas em bares da Flórida pouco antes do crime?

É claro que o programa político e social dos islamitas, por mais demagógico que fosse, teve maior influência sobre o público que sua mensagem religiosa

Os movimentos islamitas do mundo árabe, com algumas exceções, também não observaram o silêncio. Entre outros, a Al-Nahda, organização tunisiana (clandestina) de Rached Ghannouchi, divulgou um comunicado no qual “condena sem reservas o terrorismo (...), esses atos bárbaros que não se justificam de forma alguma” e que “não deveriam ser atribuídos aos muçulmanos”. Menos explícitas mas igualmente categóricas em seus princípios, algumas organizações islamitas preferiram condenar “qualquer violência, venha ela de onde vier”

Um paradoxo só aparente

Conseqüentemente, em vez de se centrar no islã e em suas relações com o fanatismo e o terrorismo, não seria mais oportuno avaliar o equilíbrio mental dos assassinos de 11 de setembro? Ou tentar compreender o fascínio da morte cultivado por Bin Laden – a exemplo de seitas tristemente célebres na Europa e nos Estados Unidos – e a morbidez radiante manifestada pelos autores dos atentados suicidas?

Desacreditado pelos islamitas e pelas autoridades religiosas muçulmanas, implicitamente julgado como um herege, Bin Laden parece suscitar a tolerância ou a simpatia entre vários tipos de populações, muçulmanas ou não. O paradoxo, no entanto, é apenas aparente: com sede de justiça e de respeito, os abandonados da globalização, acreditando serem vítimas da arrogante hegemonia do poder norte-americano, não aderem à verborragia religiosa e aos métodos escandalosamente atrozes da Al-Quaida, mas permanecem sensíveis à sua mensagem política, a mesma que os “exterminadores” da campanha militar “liberdade duradoura” decidiram ignorar. Mesmo correndo o risco de dar credibilidade à tese de uma guerra de religiões.
(Trad.: Denise Lotito)

1 - Le Monde, 5 de outubro de 2001.
2 - “Islã contre isla”, Le Monde diplomatique.
3 - Ler, de Wendy Kristianasen, "L’islan bousculé par la modernité" , Le Monde diplomatique, abril 2000.




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