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GUERRA ARBITRÁRIA

O passo a passo da crise mundial

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A necessidades de tempo para reunir tropas na região do Iraque e a decisão de Bush de se submeter às Nações Unidas favoreceram a oposição mundial à guerra e o crescimento da crítica à hegemonia norte-americana

Paul-Marie de La Gorce - (01/04/2003)

A estratégia americana previa uma primeira fase, exclusivamente aérea, cujo objetivo é a destruição das infra-estruturas políticas e militares e dos meios de comunicação

A crise iraquiana serve para revelar o estado atual do sistema internacional. Mostra como os Estados Unidos exercem seu poder político, econômico e militar e como os outros atores desta crise podem reagir às suas iniciativas. Mas, talvez, ela vá além dos protestos contra a ameaça de guerra e seja até mesmo um ponto de partida para o questionamento da hegemonia americana.

Na origem da crise está a escolha do presidente George W. Bush em relação ao Iraque e seu regime. Depois do 11 de setembro de 2001, o presidente americano primeiro opta pelas propostas do secretário de Estado, Colin Powell, centradas contra o grupo Al- Qaida e o Afeganistão. Porém, desde essa época, vários dos principais personagens do seu governo como o secretário-adjunto de defesa, Paul Wolfowitz, e, de uma forma mais discreta, o vice-presidente Richard Cheney, lhe propõem que o Iraque seja o alvo de sua campanha. Vários indícios nos levam a crer que esse era exatamente o verdadeiro objetivo fixado anteriormente pelo presidente Bush. A escolha da proposta do secretário de Estado visava apenas reunir primeiramente a coalizão de todos os Estados do mundo contra o terrorismo.

Destruir o regime iraquiano

Mas, como sustentam todos os que registraram declarações das principais personalidades da administração americana1, há muito tempo Bush parecia estar convencido que a guerra de 1991, prolongada por dez anos de bloqueio, não atingira os seu objetivos e que a situação do Oriente Próximo seria radicalmente modificada se o regime iraquiano fosse destruído. As intenções do presidente ficam claras quando, em um discurso à Nação, em janeiro de 2002, coloca o Iraque como líder dos países que constituem o “eixo do mal”, à frente do Irã e da Coréia do Norte.

Para evitar qualquer risco de derrota, o comando do Estado- Maior exigiu tempo para que se pudessem reunir as forças aéreas e navais pesadas e efetivos numerosos

Esta escolha, decisiva na origem da mais grave crise deste início do século 21, foi logo deformada pela duplicidade da posição americana. Na verdade, o presidente Bush, fez questão de denunciar o Iraque como “um perigo para seus vizinhos, para a região, para o mundo e para nós mesmos”, o que evidentemente não correspondia à realidade: os relatórios dos inspetores, que datam de fins de 1998, estabeleceram claramente a inexistência no Iraque de armas nucleares, a destruição, com algumas exceções, dos mísseis de longo e médio alcance e a provável existência de produtos que podem servir para armamentos químicos, mas sem que tenham sido, aparentemente, utilizados para fazer armas e sem os vetores necessários para seu uso. Essas indicações iriam ser sistematicamente confirmadas pelas inspeções retomadas a partir de dezembro de 2002 e realizadas até 17 de março de 2003. Fica, portanto, evidente, desde a origem da crise, que o objetivo fixado – o desarmamento do Iraque – não é a explicação verdadeira.

Aumento do certo ao Irã

As razões dessa crise são ao mesmo tempo políticas, estratégicas e econômicas. A derrubada do regime iraquiano, aceita pela opinião pública, posto que a personagem do presidente Saddam Hussein é, já há muito tempo, “demonizada”, e a sua substituição por um novo regime, favorável ao Ocidente e a seus “valores”, mostra a todos os dirigentes dos países que ainda escapam da influência americana, o que eles têm a fazer se quiserem evitar, por sua vez, conhecer o mesmo destino dos dirigentes iraquianos.

O embargo sobre o Iraque acaba aumentando o cerco ao Irã - pois as forças americanas já dispuseram seu dispositivo militar no Cáucaso, na Ásia Central, no Afeganistão, no Paquistão e no Golfo - e ao conjunto Síria-Líbano-Palestina, já encurralados ao norte pela Turquia e ao sul por Israel, dois países ligados por “ uma parceria estratégica”.

Preparativos da guerra propicia crise

Uma virada decisiva aconteceu com a decisão iraquiana de aceitar o retorno dos inspetores da ONU , abrindo uma brecha para a diplomacia francesa

A crise começou por conta da organização dos preparativos da guerra. A doutrina estratégica americana previa uma primeira fase, exclusivamente aérea, cujo objetivo é a destruição das infra-estruturas políticas e militares, em alguns casos, econômicas do adversário, bem como de seus meios de comunicação, de ligação, de transporte e de comando. A seguir, viriam operações terrestres e aéreo- terrestres concentradas desta vez sobre um só objetivo: Bagdá. A marcha em direção à capital iraquiana seria dirigida do sul ao norte, a partir de bases americanas no Golfo, e no oeste, por unidades especiais vindas de bases secretas em territórios israelense e jordaniano. De norte ao sul, pela região curda no norte do Iraque, e a partir da Turquia, com a qual estão válidas as negociações estabelecidas em Ancara, desde 14 de julho de 2002, pelo sub- secretário da defesa Paul Wolfowitz.

O secretário de defesa Donald Rumsfeld e seus conselheiros para negócios estratégicos desejavam uma ação rápida, se possível fulminante, que necessitasse efetivos reduzidos. Mas o comando do Estado- Maior, para evitar qualquer problema e qualquer risco de derrota, exigiu tempo para que se pudessem reunir as forças aéreas e navais pesadas e efetivos tão numerosos quanto fossem necessários – aproximadamente 250 000 homens – aos quais se acrescentariam 50000 ingleses. Portanto, a solicitação de mais tempo e de reforços, que se repetia até o início de março, teve um grande peso no decorrer da crise. E como não se tardou a ver, as semanas e meses que se passaram fizeram aparecer as oposições à guerra na comunidade internacional, entre os aliados dos Estados Unidos e até mesmo no seio da sociedade norte-americana. O interesse do presidente Bush era, então, desencadear o mais rápido possível o uso da força.

Brecha para retardar a guerra

Os dirigentes iraquianos responderam de acordo com uma estratégia bem simples: aceitavam tudo que pudesse retardar a guerra esperando uma maneira a evitá-la

Uma virada decisiva aconteceu com a decisão iraquiana de aceitar o retorno dos inspetores da ONU. Uma brecha se abria, pela qual a diplomacia francesa se precipitaria. Agora com meios de retardar a guerra, esperava talvez, mas sem ilusão, poder evitá-la com o pedido, ao Conselho de Segurança, de dar prioridade às inspeções em relação a todo e qualquer recurso à força. Utilizando sua capacidade e sua tradição, armada de seu direito de veto e jogando com a rede complexa de suas amizades e de suas influências no mundo, esse foi o terreno onde a França se articulou com uma habilidade e uma tenacidade que poucos acreditavam ser ainda capaz.

Porém, a França talvez não pudesse realmente fazer nada sem a decisão do presidente Bush de se submeter à Nações Unidas. Foi o secretário de Estado, Colin Powell, que o convenceu, a ponto de conseguir que vá pessoalmente, em setembro de 2002, à Assembléia Geral da ONU, tornando assim sua decisão praticamente irreversível. Essa última decisão foi resultante de uma série de análises sobre o comportamento provável dos atores da crise. Washington trabalhava com o cenário de que os Estados árabes não colocariam realmente obstáculo à guerra, pois vários de seus dirigentes confiaram aos diplomatas americanos que ficariam muito satisfeitos com a derrubada de Saddam Hussein. Também esperava que a Europa apoiaria quase por unanimidade os Estados Unidos, inclusive Espanha e Itália, países conhecidos por terem relações estreitas com os países árabes.

O comportamento da França desmentiu as especulações americanas que previam seu alinhamento à decisão dos Estados Unidos.

Embora o compromisso do chanceler alemão Gerhard Schröder contra a guerra tenha chocado o presidente Bush, que sempre afirmara que ele lhe havia prometido seu apoio, analisava-se que a Alemanha não teria um papel ativo. Apesar de suas reticências previsíveis, a França, acabaria por se alinhar a tomada de posição americana. E como presidente russo Vladimir Putin - que escolhera manter-se ao lado dos Estados Unidos na guerra contra o terrorismo após o 11 de setembro - a Rússia os apoiaria ou se absteria, como o fizera tradicionalmente em se tratando de Oriente Próximo, tendendo a negociar com a China sua abstenção na votação do Conselho de Segurança. Além disso, a diplomacia americana acreditava na eficiência dos seus meios de pressão ou de sedução para convencer os países que hesitassem, como os membros não permanentes do Conselho de Segurança.

Análise equivocada

Esta análise ia se revelar falsa. Mas o presidente Bush fora convencido a passar pelas Nações Unidas para obter uma caução política e jurídica ao seu projeto de guerra e o comitê do Estado Maior pede ainda mais tempo para deslocar suas forças. Posto que na terceira semana de janeiro, a partida dos especialistas estrangeiros para inspecionar as instalações petrolíferas iraquianas parece anunciar a possibilidade de destruição em caso de guerra, decide-se então preparar um plano de guerra “alternativo”, prevendo a ocupação imediata desses campos de petróleo. Assim, a política americana se comprometeu em uma engrenagem da qual só pôde sair depois de vários meses e em um contexto político profundamente transformado.

As inspeções retomadas no Iraque não confirmam absolutamente a tese americana sobre o “perigo iraquiano”. O tempo passou sem que se achassem as armas proibidas e numerosas perguntas continuaram sem respostas, como, por exemplo, a destruição do estoque de produtos que pudessem servir para a fabricação de armas químicas.

O toque ridículo

O reforço da Alemanha foi muito útil à França para evitar que aparecesse muito isolada na União Européia. E mais importante ainda foi obter o reforço da Rússia

Para Colin Powell era, portanto, imperativo reagir. Elea manda anunciar que iria demonstrar, sem contestação possível, a culpabilidade iraquiana diante do Conselho de Segurança convocado para o dia 5 de fevereiro. O Departamento de Estado chega até a comparar sua próxima intervenção àquela de Adlai Stevenson, por ocasião da crise de Cuba de 1962, quando mostra as fotografias aéreas provando a presença de mísseis soviéticos no território cubano. O resultado é exatamente oposto ao que o Secretário de Estado esperava. Logo fica evidente que alguns dos “documentos” exibidos por ele não tinham nenhum valor, como o relatório sobre armas nucleares iraquianas que não passava de um trabalho universitário datado de 1994 e já conhecido, ou aquele outro relatório fornecido pelo governo britânico, que era apenas o resultado de uma antiga tese de um estudante da Califórnia ...

E um toque ridículo soma-se a esses relatórios quando Colin Powell denuncia a ameaça da utilização do bacilo do antraz brandindo um frasco, o qual, sabe-se logo depois, continha apenas um pó inofensivo. Seu fracasso fica mais evidente ainda na reunião do Conselho de Segurança do dia 14 de fevereiro, quando o discurso do ministro francês das Relações Exteriores, Dominique de Villepin, ao condenar violentamente a perspectiva de guerra, é muito aplaudido, coisa rara neste ambiente.

Ofensiva diplomática

Mais uma vez a diplomacia americana reage e o faz em duas áreas, de uma só vez. Proclama que o objetivo da guerra é verdadeiramente a substituição da ditadura de Saddam Hussein por uma autêntica democracia cujo o exemplo ressoaria em toda a região. Mas, ao mesmo tempo, apresenta três testes para verificar a submissão do Iraque a todas as exigências: a destruição dos mísseis de curta-distância al-Samoud 2; a autorização de vôos de aviões de reconhecimento U-2 sem aviso prévio; o interrogatório dos cientistas iraquianos, fora do Iraque, pelos inspetores.

Londres suscita a declaração de oito Estados europeus que, por seu número, são suficientes para sugerir que a Alemanha e a França são minoritários no seio da EU

Os dirigentes iraquianos responderam de acordo com uma estratégia bem simples: aceitavam tudo que pudesse retardar a guerra esperando, mas sem nenhuma ilusão, que acontecimentos externos ou imprevistos interviessem de maneira a evitá-la. Nenhuma objeção é feita aos vôos dos U-2 sem notificação prévia. Os mísseis al-Samoud seriam destruídos, embora fossem de curta distância. Eles superavam o limite fixado de 150 km nos testes percorrendo 30 km a mais, porém carregados e, portanto, mais pesados não iriam muito mais longe que os 150 km autorizados. Os cientistas iraquianos queriam que suas declarações fossem gravadas. Concorda-se que os interrogatórios sejam transferidos para a sede das Nações Unidas para que se possa, caso ocorressem problemas nas gravações, ter testemunhas. Os responsáveis iraquianos fariam mais ainda: propõem pesquisar os traços de destruição dos elementos de armas químicas com a ajuda de especialistas que dariam suporte aos inspetores da ONU e trazem da África do Sul a equipe que supervisionara o desmonte de armas de destruição maciça fabricados na época do regime do apartheid. Em resumo, a estratégia iraquiana justifica constantemente a tese dos Estados que pedem a continuação das inspeções contra a guerra.

O comportamento da França

O comportamento da França desmente as especulações americanas que previam seu alinhamento à decisão dos Estados Unidos. Para o presidente Jacques Chirarc, a guerra anunciada é um exemplar deste conceito de “guerra preventiva”, ao qual ele queria dar sua caução, já que é difícil circunscrevê-la e pode levar as correntes nacionalistas e islâmicas, há pouco tempo inimigas, a se unirem contra um mesmo inimigo. E além de tudo, corre-se o risco de que seja vista como uma guerra entre civilizações e, até mesmo, entre religiões, quando na verdade o presidente francês acredita, sinceramente, que a paz depende daquilo que ele próprio chama de “o diálogo de culturas”. Assim, ele decide desde o início se opor à guerra.

Surge um novo ator: a opinião pública internacional . As manifestações de 15 de fevereiro de 2003 mostram, surpreendentemente, a ampla oposição à guerra

O reforço da Alemanha foi muito útil à França para evitar que aparecesse muito isolada na União Européia. E mais importante ainda foi obter o da Rússia, que evitou que a França, em caso de derrota, fosse a única a opor seu veto à resolução de apoio à guerra, para o qual Chirac empregou tanto esforço. O que determinou a escolha do presidente Putin foi a ocasião, para dar um passo significativo em direção a um “mundo multipolar”, aspecto que também foi decisivo para a concordância da China. Portanto, a diplomacia francesa atingiu seus objetivos e o eixo, evidentemente provisório, da França, Alemanha, Rússia e China, teve um peso considerável no desenrolar da crise.

O novo ator da crise

No sentido oposto, os Estados Unidos tinham um aliado de peso: a Inglaterra. Mais tarde seu apoio se revelaria mais frágil do que se imaginara; porém, até o início de março, pelo menos, era muito eficaz. Londres suscita a declaração de oito Estados europeus que, por seu número, são suficientes para sugerir que a Alemanha e a França, mesmo com o reforço da Bélgica, são minoritários no seio da União Européia, como o foram na Aliança Atlântica, quando eles se opuseram a dar à Turquia material destinado à defesa, na hipótese, completamente irreal e literalmente insustentável, de que fosse atacada pelo Iraque. Os ingleses também têm um papel importante na “declaração de Vilnius” pela qual países recentemente integrados na Aliança Atlântica e candidatos a entrar na União Européia manifestam seu apoio aos Estados Unidos e ao seu projeto de guerra.

Nesse ponto da crise, surge um novo ator: a opinião pública internacional. As manifestações de 15 de fevereiro de 2003 mostram, surpreendentemente, a ampla oposição à guerra. As mais impressionantes acontecem nos países mais comprometidos com a guerra: a Inglaterra, Espanha, Austrália. E o mais significativo é que elas não eram motivadas pela mínima simpatia pelo regime de Saddan Hussein, nem em relação ao Iraque. O sentimento popular se exprimia contra a hegemonia dos Estados Unidos, seu comportamento, a ostentação de seu poderio, sua vontade de desencadear uma guerra. É talvez o anúncio, não do fim próximo da crise, mas do começo de uma forte contestação da ordem mundial.

Nova resolução para a guerra

A ameaça do veto francês teve efeito imediato. Os países indecisos medem os riscos que assumem ao ceder às pressões americanas

A crise se desenvolve a partir de então seguindo a complexa dialética entre os preparativos políticos e militares da guerra. A diplomacia americana malogra, na verdade por muito pouco, ao tentar obter, com consentimento do parlamento turco, um acordo que previa um empréstimo de 19 bilhões e 6 bilhões de dólares de doação sem prazo à Turquia, se ela concordasse em facilitar o deslocamento de forças americanas a partir de seu território. Esse malogrado acordo obriga o deslocamento da logística americana para a região curda no norte do Iraque, prevendo um papel mais importante para as unidades já instaladas na Jordânia e em Israel. Mas o Exército turco, passando por cima do voto negativo do Parlamento, facilita a transferência de material americano do porto de Iskandeerum para a fronteira iraquiana.

Simultaneamente, Washington tenta forçar o ritmo da crise fazendo votar no Conselho de Segurança uma nova resolução abrindo caminho para a guerra. A contagem de votos seria então decisiva. Nesta data, seis pareciam estar assegurados: o dos Estados Unidos, da Inglaterra, da Espanha, da Bulgária, do Chile e até mesmo o do Paquistão. Três países hesitavam: México, Guiné e República dos Camarões. Falava-se neste momento, abertamente, nos meios financeiros empregados para obter o voto da Guiné; e a interpenetração dos interesses dos mexicanos e dos norte-americanos definem, dizem, o voto do México.

Ameaça de veto

É então que, em uma coletiva de imprensa, o ministro francês de Relações Exteriores Dominique de Villepin, anuncia que a França faria oposição à resolução americana. Logo depois, sabe-se que a Rússia e mais discretamente a China teriam a mesma posição. A ameaça do veto francês tem efeito imediato. Os países indecisos medem os riscos que assumem ao ceder às pressões americanas. Eles se comprometeriam a favor da guerra, mas não a ponto de aceitar esta resolução, pois o veto francês, russo e chinês seriam um obstáculo.

O texto americano não apresenta nenhuma condição evidente para que o Iraque possa aceitar ou rejeitar. Tratava-se, na realidade, apenas de uma declaração de guerra

Ninguém duvida que, em seguida, os Estados Unidos propusessem outra resolução e, apoiando-se na maioria dos votos do Conselho de Segurança declarassem, ter justificativas para desencadear a guerra. De repente, a carta das Nações Unidas seria claramente violada. Imediatamente, produz-se então uma crise aguda na organização internacional. Para os Estados “pequenos” ou “médios” a perspectiva era insuportável: são os que dão maior importância à existência e ao funcionamento das Nações Unidas, o único espaço onde eles podem exercer, em certas circunstâncias, uma real influência sobre os acontecimentos mundiais.

O ultimato de Bush

Sabia-se, portanto, que não havia nenhuma chance da resolução americana obter nove votos a seu favor. Decide-se então, em Washington, retirá-la. Uma outra é imediatamente preparada em forma de ultimato. Esta palavra, que dá medo, é mal escolhida. Além disso, na sua primeira versão, o texto americano não apresenta nenhuma condição evidente para que o Iraque possa aceitar ou rejeitar. Tratava-se, na realidade, apenas de uma declaração de guerra, cujo prazo de validade vencia no dia 17 de março. O veto francês, russo e chinês suscitava menos dúvida ainda do que antes. E os países hesitantes analisam da mesma forma. Em resumo, não há nenhuma possibilidade de que a nova resolução seja adotada nem que ela tenha nove votos a seu favor.

A crise atinge o seu limite quando se tem a impressão que as semanas que correm permitem aos adversários da guerra, dentro do Partido Trabalhista inglês, se fortalecerem o suficiente para colocar em perigo o Primeiro-Ministro Anthony Blair. Este havia prometido obter apoio ao recurso à força com um voto do Conselho de Segurança da ONU e não pôde obtê-lo. Comprometera, assim, seu lugar na História e seu destino pessoal ao se pronunciar a favor da guerra e assumira toda a responsabilidade. A determinação do presidente Bush leva tudo de roldão. Quando convoca Anthony Blair e José Maria Aznar aos Açores, no dia 16 de março de 2003, sabe-se que a crise iria decididamente encaminhar-se para o recurso à força.

(Trad.: Celeste Marcondes)

1 - Bob Woodward, Bush s’ en va-t-en guere, Denoel, Paris, 2003; Eric Laurent, La Guerre des Bush, Plon, Paris, 2003; Philip S. Golub, Comment s’est décicidée l’offensive contre Bagdad; L’empire contre L’Irak, Maniére de voir nº 67.




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