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No período recente, quase toda vez que um presidente norte-americano enviou tropas ao exterior, o Congresso abdicou de suas prerrogativas constitucionais em matéria bélica. Daí os obstáculos que enfrentam agora os democratas realmente desejosos de pôr fim aos combates no Oriente Médio
Num contexto geopolítico instável, marcado pelos atropelos da “guerra contra o terror”, um dos mais sólidos pontos de apoio do presidente Bush acaba de ceder. A proclamação do estado de sítio pelo general Pervez Musharraf é uma grave confissão de fraqueza da parte do ditador paquistanês
As divergências no interior do stablishment norte-americano tornam-se agudas, num sinal de que a guerra contra o Iraque pode ter revelado as debilidades do exército e, ainda mais grave, devastado a "legitimidade mundial da América"
Tanto no Iraque quanto no Afeganistão, a rede terrorista de Bin Laden enfrenta oposição crescente de outros grupos armados árabes. Suspeita-se, ao priorizar o combate entre facções muçulmanas, ela esteja fazendo o jogo da Casa Branca
Cada vez mais influente na Al-Qaeda, doutrina prega Estados islâmicos ultra-ortodoxos, volta-se contra os árabes moderados e o xiismo e chega a relativizar combate ao ocupante estrangeiro
Um veterano das mobilizações antiimperialistas nos EUA explica, a seu modo, a ausência de grandes protestos contra o ocupação do Iraque, num momento em que dois terços da população defendem a volta dos soldados
Publicado em dezembro, o Manual de Contra-insurgência dos EUA para o Iraque flerta com a tentação de “liquidar” a guerra por meio de uma nova onda de violência
Fotografia de um imenso desperdício. Dezenas de bilhões de dólares supostamentes destinados a reerguer o Iraque são torrados em projetos inviáveis, equipamentos inúteis e favorecimento aos “amigos” da Casa Branca
Como Bush descartou as propostas para uma saída diplomática no Oriente Médio e investiu num plano semi-messiânico, que ameaça incendiar a região e pode humilhar os EUA
A oposição ao conflito no Iraque já não está restrita ao movimento pacifista. Entre os próprios conservadores norte-americanos, crescem a cada dia as correntes que condenam a aventura militar do presidente e pedem o início da retirada
Na onda do ataque ao islamismo, afirma-se que os xiitas iraquianos agem a serviço do Irã e ameçam governos do Oriente Médio. Uma análise menos superficial revela que não formam um bloco único e só acentuaram sua identidade religiosa com a destruição de seu país
Três anos depois da invasão de seu país pelos EUA, a resistência iraquiana mudou. Já não promove espetáculos brutais, como as decapitações. Mas, ao contrário do que diziam os EUA, a guerra deu vida nova à Al-Qaeda
Como a CIA e outras agências foram manipuladas, nas guerras contra Vietnã e Iraque, para produzir as "informações" que interessavam à Casa Branca e iludir a opinião pública. Por que esta deformação pode ser catastrofica para os próprios planos militares dos EUA
No momento em que os EUA usam fósforo branco e urânio empobrecido contra o Iraque, vale observar as seqüelas do agente laranja provoca no Vietnã, vinte anos após pulverizado
A revista do exército dos EUA descreve o produto químico como "arma psicológica" para desalojar insurgentes dos seus esconderijos, uma tática chamada "shake’n bake" ("agitar e assar")
Após 27 meses de ocupação americana e da escalada de violência e mortes que acarreta por todos os lados, a guerra inventada por Bush segue vitimando também os norte-americanos, sua juventude, suas liberdades e seu modo de viver
As conseqüências trágicas para os britânicos do alinhamento de Blair com o belicismo de Washington, apesar da grande oposição popular à guerra
A vitória do aiatolá Sistani nas eleições iraquianas faz surgir a crença de uma “ameaça xiita” – que não leva em conta a diversidade e as divisões políticas e religiosas no seio das comunidades
A terceirização avançada do sistema de defesa americano traz conseqüências para o pós-guerra no Iraque, que recebe empresas de segurança privada que fazem, às vezes, de força de ocupação, disseminando caos e violência
Como as empresas e os governos ocidentais, em especial o dos Estados Unidos, apoiaram a ascensão de Saddam, a ditadura de Saddam, as guerras de Saddam e os crimes de Saddam
Uma guerra colonial caracteriza-se pela arrogância dos invasores, por sua convicção de terem origem numa categoria superior, pelo desprezo pelo colonizado
O consenso em favor da guerra, fabricado pelo pavor pós 11 de setembro, transformou-se em profunda crise de legitimidade do poder norte-americano. Amplificam-se as críticas à política de Bush, e o futuro imperial dos Estados Unidos depende agora das eleições deste ano
Os iraquianos deixam em segundo plano suas diferenças étnicas e religiosas e se unem para combater os invasores americanos
Nem a insurreição, a retirada das tropas espanholas ou o renascimento do nacionalismo iraquiano impedem o grande negócio americano. Com contratos fabulosos e acima de qualquer lei, grandes empresas americanas ligadas ao governo faturam alto na reconstrução do país
Com a desmoralização do discurso americano no Iraque e a crescente revolta à ocupação do país, Washington lança sua nova cartada para a região: um plano que inclui ’democracia’ acompanhada de privatização e controle sobre a exploração dos mercados
Como reflexo da visível manipulação da informação sobre a guerra no Iraque e de uma decisão governamental que favorece a desregulamentação do setor, cresce a mobilização e o questionamento da sociedade norte-americana sobre concentração da mídia
Mandar rapazes e moças para o outro lado do mundo, equipados com as armas mais terríveis que existem ? e que, no entanto, não os põem a salvo de ações de guerrilheiros que os irão deixar cegos ou inválidos ? é a última traição do governo americano para com seu povo e sua juventude
A vitalidade da resistência iraquiana, encarnando a revolta contra a invasão estrangeira, fez desabar todos os prognósticos norte-americanos. Seu futuro e seu êxito dependerá de sua capacidade de superar suas profundas divisões internas
Expulsos de suas regiões tradicionais pela política de ?arabização? do Ba?ath ao longo das últimas décadas, os curdos foram beneficiados pela guerra que derrubou Saddam Hussein e agora definem o modelo de autonomia que irão pleitear
A superioridade tecnológica militar dos EUA é indiscutível e absoluta, desde que haja um campo de batalha, mas não quando o conflito de se torna uma guerrilha urbana, como no Iraque, e os atentados terroristas de multiplicam
A oposição armada é um fenômeno dinâmico e em mutação. A dissolução dos órgãos de segurança iraquianos e as carências dos invasores em matéria de informação ofereceram seis meses aos grupos de opositores para se organizarem e convergirem
Mais de seis meses após a invasão do Iraque, são raras as reportagens que sugerem apoio ou adesão às forças norte-americanas. Prevalecem as críticas e expressões como “a situação está pior do que antes” ou “eles são como Saddam”...
“Uma rebelião pode ser conduzida por 2% de ativistas e 98% de simpatizantes passivos.” (T. E. LAWRENCE)
Fruto de um erro de análise e de um sonho delirante dos ideólogos de Washington, a ocupação do Iraque tornou-se rapidamente um pesadelo para as forças norte-americanas e seus aliados, alvos de ataques crescentes da resistência iraquiana
O direito internacional prevê indenizações para países agredidos. Mas enquanto o Iraque deixa seu petróleo nas mãos de firmas ocidentais para ressarcir o Kuait, os EUA nunca pagaram um centavo ao Vietnã, Nicarágua, Kosovo, Afeganistão e Iraque
Dois anos após o 11 de setembro, o que chama a atenção de qualquer observador atento aos fatos é que as espetaculares vitórias norte-americanas se afundam politicamente num atoleiro, tanto no Afeganistão quanto no Iraque
O ataque que destruiu a sede das Nações Unidas demonstrou a limitação intelectual e o comportamento criminoso dos responsáveis pela ação, que podem ter provocado, com isso, o fortalecimento da posição norte-americana na região
Potência invasora no Iraque, os EUA se comportam como colonizadores, instaurando sua dominação sobre a humilhação dos autóctones, cuja origem está na cultura norte-americana voltada historicamente para a agressão e não para a conciliação social
Diante do desenvolvimento espetacular das organizações xiitas no Iraque, o regime iraniano vê aumentar as ameaças norte-americanas e a exasperação de grande parte da população com o poder dos mulás e com a impotência dos grupos reformistas
A gigantesca manobra de “intoxicação” informativa promovida pelo governo Bush para invadir o Iraque se insere em uma longa tradição de mentiras que acompanha a história dos Estados Unidos, sobretudo, quando precisam justificar uma guerra
Como os Estados Unidos, dando às costas aos princípios que nortearam os principais arquitetos dessa nação, chegaram ao ponto de achar que têm por missão travar a luta do Armageddon, no Iraque ou em qualquer outro lugar?
Embora tenham entrado em uma cidade pacificada, o ostensivo aparato invasor norte-americano provocou conflito e o protesto em frente à escola ocupada por soldados, cujo saldo de mortos foram 15 civis iraquianos
Divididos e desorientados diante dos escombros do regime de Saddam e da inércia da ocupação norte-americana, iraquianos começam a ocupar os vazios de poder, apegados à promessa de libertação, em sentido amplo.
Embora a suposta posse de armas de destruição em massa pelo Iraque sirva como principal pretexto para a guerra contra aquele país, os Estados Unidos utilizaram bombas de urânio empobrecido em várias de suas campanhas militares recentes
A adoção da estratégia de "choque e pavor" na guerra do Iraque levou o terror não só aos iraquianos, mas também aos aliados, justificando os excessos por meio de um nervosismo baseado não no perigo inimigo, mas no confronto com o caos vigente
Ao nomear um general reformado para administrar um país vencido, os Estados Unidos mais uma vez ignoram o direito internacional, relembrando de forma deplorável as velhas práticas do tempo dos impérios coloniais e dos mandatos
Depois de uma agressão criminosa, os iraquianos dizem sim à liberdade e ao Islã, e não à América e a Saddam. Mas os EUA têm planos de uma administração direta do Iraque e impõem uma hegemonia humilhante que deverá incentivar o terrorismo
As forças da coalizão não só trucidaram e humilharam o povo e a cultura do Iraque, mas esbofetearam a civilização ao permitir os saques e o vandalismo no Museu Nacional. O legado iraquiano perdido nesta guerra pertencia a toda a humanidade
Ao iniciar sua “guerra preventiva” contra o Iraque, os Estados Unidos abalaram a ordem mundial. Embora sem grandes ilusões, esperava-se que o país mais poderoso da Terra não virasse ostensivamente as costas aos grandes princípios da moral política.
A necessidades de tempo para reunir tropas na região do Iraque e a decisão de Bush de se submeter às Nações Unidas favoreceram a oposição mundial à guerra e o crescimento da crítica à hegemonia norte-americana
Depois de demitir assessor que declarou que o custo do conflito poderia chegar a 200 bilhões de dólares, governo Bush mantém a crença de que o esforço de guerra e diminuição de impostos são os melhores remédios para a economia norte-americana
Desde o final da I Guerra Mundial, inúmeras potências utilizaram-se dos curdos para abandoná-los na última hora. Nos anos 70, com ajuda norte-americana, israelense e iraniana, eles foram usados para enfraquecer o regime ba’athista
Bombardeado por um noticiário tendencioso, omisso e nitidamente reacionário – basta ver qualquer jornal, impresso ou de TV, sobre o ataque ao Iraque –, o leitor norte-americano ainda tem que ouvir a extrema-direita dizer que a imprensa é comunista
A prepotência norte-americana e a falta de argumentos que justifiquem esta “guerra preventiva” vem sendo questionadas pela opinião pública mundial, que teme as mudanças que o conflito no Iraque prenuncia para o equilíbrio mundial.
Ao contrário das vezes anteriores, o povo iraquiano parece acreditar que, desta vez, as ameaças norte-americanas de invadir o Iraque são concretas. Mas não sabe o que fazer: se a repressão de Saddam Hussein é ruim, uma ocupação estrangeira é pior...
Por que estaria o primeiro-ministro britânico se colocando numa posição em que é tão facilmente ridicularizado como a “mascote” (’poodle’) dos Estados Unidos? Por que se envolve numa guerra concebida segundo interesses estratégicos norte-americanos?
Ao substituir sua política de contenção pela de guerra preventiva e inventar o “eixo do mal”, Bush cometeu a imprudência de provocar a Coréia do Norte que, ameaçada por um “ataque preventivo”, tomou a iniciativa de colocar Washington na parede
Não foi possível estabelecer qualquer tipo de vínculo entre Bagdá e as redes terroristas islâmicas. Conseqüentemente, a opinião pública mundial continua exigindo provas indiscutíveis que justifiquem a guerra contra o Iraque
A manipulação da informação tem certas regras: a crise que antecede uma guerra é levada ao paroxismo, o Estado inimigo é transformado em demônio e seu chefe é apresentado como “aventureiro”, “psicopata”, “comunista” ou “nazista”
Desempenhando um papel fundamental na tomada do poder, em 1968, pelo Partido Ba’ath, o exército iraquiano foi progressivamente despolitizado até 1991, quando foi derrotado e humilhado na guerra do Golfo, rebelando-se contra o regime
Duas correntes discutem o futuro político do Iraque após a queda de Saddam Hussein: uma delas, a dos “pombos”, é a do Departamento de Estado e da CIA; a outra, dos “falcões”, é a do vice-presidente norte-americano e dos militares
Há 80 anos, tropas do império britânico tomaram Bagdá e tentaram decidir o futuro do país. Passado um primeiro momento, porém, reconheceram a hierarquia existente e devolveram o poder às elites do regime anterior
O argumento de legítima defesa contra o Iraque é injustificável. Não existe ameaça alguma plausível dirigida contra os Estados Unidos e nenhuma prova da ligação do regime iraquiano com a ameaça representada pela Al-Qaida
Os Estados Unidos impuseram, no mês passado, a destruição dos programas de armamento do Iraque sob a alegação de que aquele país violara uma resolução da ONU. Antes desse episódio, resoluções da ONU haviam sido violadas 91 vezes...
Em entrevistas a vários jornais, militares, intelectuais, políticos e artistas do mundo inteiro manifestam sua indignação, seu repúdio, sua resistência à insanidade de uma nova guerra, liderada pelos Estados Unidos
Enquanto prossegue o debate sobre o uso, ou não, da força contra o Iraque, não são levadas em conta, infelizmente, as conseqüências diretas de qualquer ação militar potencial sobre os direitos humanos do povo iraquiano
Indesejáveis para o regime turco, os curdos são tolerados pelo governo de Teerã (existem 10 milhões no Irã, quase 15% da população do país). Seu sonho é um só: que Bush bombardeie logo o Iraque para poderem voltar para sua terra...
Um dos países mais ricos do mundo em petróleo, o Iraque assistiu, nos últimos vinte anos, a uma queda de 75% de seu Produto Nacional Bruto. A renda ’per capita’ caiu de 4.200 para 300 dólares. Mas, apoiado por tribos e clãs, Saddam Hussein continua líder
O secretário da Defesa norte-americano disse, a respeito das armas iraquianas, o seguinte: “Existem coisas que nós sabemos que sabemos. Existem coisas que nós sabemos que não sabemos. E existe aquilo que nós não sabemos que não sabemos”
Hoje como ontem, a Casa Branca não tem interesse na volta dos inspetores, mas num pretexto para uma aventura militar que pode acentuar ainda mais o fosse que separa o mundo muçulmano do Ocidente
Em oposição à política de Bush, há uma corrente que tem por alvo o Iraque e outros países árabes, origem dos homens de Bin Laden e de outros grupos terroristas. É, portanto, no Oriente Médio que os Estados Unidos devem travar e ganhar essa guerra