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IRAQUE

A guerra do pós-guerra

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A vitalidade da resistência iraquiana, encarnando a revolta contra a invasão estrangeira, fez desabar todos os prognósticos norte-americanos. Seu futuro e seu êxito dependerá de sua capacidade de superar suas profundas divisões internas

Paul-Marie de La Gorce - (01/03/2004)

A vitória norte-americana, enaltecida, à época, como incontestável e inapelável, é agora abertamente questionada

Um ano após o início das operações de invasão do Iraque – cujo final foi oficialmente proclamado em 1º de maio do ano passado pelo presidente George W. Bush – não se passa um único dia sem que a resistência iraquiana se manifeste. Portanto, a vitória norte-americana, enaltecida, à época, como incontestável e inapelável, é agora abertamente questionada. O pós-guerra tornou-se outra guerra, radicalmente diferente daquela que recém-terminara, mas suas características políticas, militares, sociais e até internacionais são tais que seu fim, assim como uma solução, são imprevisíveis. Como foi possível chegar a este ponto?

Observando à distância, é possível avaliar melhor como as decisões tomadas pelos dirigentes norte-americanos – não só antes, como imediatamente após o início da guerra, no ano passado – tiveram um peso determinante no curso posterior dos acontecimentos. Muito além do que poderiam levar a crer as polêmicas, que ainda prosseguem, sobre os pretextos oficialmente citados para justificar o conflito.

Os verdadeiros objetivos políticos, estratégicos e econômicos da guerra nunca foram dissimulados: substituir o regime do presidente Saddam Hussein por outro nitidamente favorável aos interesses norte-americanos, concluir o cerco estratégico ao Irã e ao conjunto regional Síria-Líbano-Palestina e controlar diretamente a produção e a comercialização das imensas riquezas iraquianas em hidrocarbonetos para reduzir a excessiva dependência em relação à Arábia Saudita – que, depois dos atentados de 11 de setembro, deixou de ser considerada uma parceira tão confiável quanto se pensava antes.

Destruição do Estado central iraquiano

O poder político instaurado pelas autoridades norte-americanas foi incapaz de controlar o país depois da destruição, pura e simples do Estado central iraquiano

Esses dados, expostos de maneira bastante aberta pelos dirigentes norte-americanos antes do início da guerra, levavam a conclusões que também não eram dissimuladas. O Iraque passaria a ser um Estado federal amplamente desarmado, com um poder central tão fraco quanto fosse possível, e dividido entre três comunidades – a curda, a sunita e a xiita. Em relação a este último ponto, continuavam as controvérsias suscitadas pela interpenetração das populações: por exemplo, curdas e de língua árabe no norte do país, e sunitas e xiitas em Bagdá1 . Mas os dirigentes norte-americanos não abriam mão de seus objetivos. Na realidade, avaliavam que contariam com o apoio garantido dos dois principais partidos da comunidade curda – que, naturalmente, exigiam uma autonomia tão próxima quanto possível da independência – e acreditavam ter uma receptividade favorável por parte da comunidade xiita – havia quem chegasse a considerá-la “entusiástica”. Uma solução federal parecia ser a única maneira de satisfazer as exigências de todas as partes.

O pós-guerra dependia do êxito dessa operação. O que sucedeu, quase de imediato, foi a destruição, pura e simples, do Estado central iraquiano. Após a dissolução imediata e total do exército e a quase dissolução da polícia, a pilhagem e o incêndio da maioria dos ministérios e dos prédios estatais – que umas poucas sentinelas teriam bastado para impedir – o poder político instaurado pelas autoridades norte-americanas foi incapaz de controlar o país.

Composto principalmente por homens que regressavam de um longo exílio ou representavam partidos sem bases enraizadas no país – com exceção dos dois grandes partidos curdos –, o Conselho Provisório de governo não dispunha de instrumento algum para exercer, efetivamente, suas funções. Entre seus membros, os mais independentes e mais lúcidos não tinham quaisquer ilusões a esse respeito.

Aquila al-Hachami, por exemplo, diplomata, ex-secretária de Tarek Aziz quando este era ministro das Relações Exteriores, diretora-adjunta do serviço das organizações internacionais antes da guerra, de confissão xiita, aceitou participar do Conselho para ajudar a restabelecer relações exteriores do Iraque e também, certamente, para proteger o pessoal de seu ministério. De passagem por Paris, ela declarou que o Conselho Provisório de governo não teria “autoridade nem legitimidade alguma” enquanto continuasse a ocupação norte-americana e que o objetivo do Conselho deveria ser o de conseguir a saída, no menor prazo possível, das forças de ocupação: como se sabe, ela sofreu um atentado quando voltou a Bagdá e morreu dois dias depois.

As condições da resistência

Aos 12 anos de bloqueio, ao recuo econômico e social e às terríveis conseqüências humanas que daí decorreram, juntou-se a destruição provocada pela guerra

Ainda mais importante: aos doze anos de bloqueio, ao profundo recuo econômico e social e às terríveis conseqüências humanas que daí decorreram, juntou-se a destruição provocada pela guerra – foram necessários meses para atenuar seus efeitos sem, no entanto, conseguir apagar seus vestígios. Na maior parte do território do país, impôs-se um tríptico implacável: nem gasolina, nem eletricidade, nem trabalho. Os poucos progressos não compensaram as provações que, até hoje, ainda enfrenta a grande maioria da população.

As autoridades invasoras não se lançaram a uma reconstrução acelerada da economia iraquiana nem a uma autêntica reconstrução política do país. Nem convocaram os grandes movimentos nacionalistas – que expressaram em profundidade as tendências da opinião pública desde a revolução de 1958 até a consolidação de uma ditadura monolítica –, nem os sindicatos autênticos, nem os oficiais do exército que sofreram a repressão vigilante exercida pelo regime do presidente Saddam Hussein, mas encarnavam o patriotismo iraquiano, nem levaram em conta qualquer manifestação da evolução contemporânea da sociedade, inclusive em favor do ensino universal, de um relativo laicismo ou da condição das mulheres.

Não seria exagerado dizer que, em vista disso, as condições políticas, econômicas e sociais para uma resistência iraquiana existiam desde a primeira fase da invasão: restava saber se também existiam condições militares. A Resistência surgiu ainda antes do verão, muito antes do que se esperava. De acordo com a análise que os serviços de inteligência norte-americanos quiseram passar, ela teria origem em seguidores retardatários do ex-presidente Saddam Hussein, em grupos vindos do exterior, egressos dos mais extremistas dos movimentos islamitas, ou seja, terroristas, próximos à rede Al-Qaida.

Saddam: fator de divisão

Desde o início essa análise não resistia a um exame. Se, na região de Tikrit, de onde era natural o ex-presidente iraquiano, seus partidários ainda encontravam algum apoio por parte da população, sua incontestável impopularidade tornava inverossímil que ele pudesse inspirar, e muito menos dirigir, uma Resistência nacional que, muito rapidamente, se propagou por grande parte do território do país: para ela, sem qualquer dúvida, ele era um fator de divisão, e não de união, um inconveniente, e não uma vantagem; não seria com ele que a Resistência iraquiana conseguiria o apoio popular sem o qual, como qualquer outra resistência clandestina, não teria podido existir.

Quanto aos grupos vindos do exterior, eles se encontram, de fato, no território iraquiano: recrutados em todos os países da região, atravessaram a fronteira saudita obedecendo à palavra de ordem lançada pelos movimentos islamitas radicais em todo o Oriente Médio – “Todo mundo para o Iraque!” – para combater diretamente as tropas norte-americanas. Como, na guerra, não se escolhem os aliados, foram aceitos, enquanto parceiros, pelas outras vertentes da Resistência iraquiana. Mas sua implantação no país foi, desde o início, difícil e aleatória, pois não só seus referenciais espirituais e seu comportamento são pouco adaptáveis à tradição da sociedade iraquiana, como sua presença e seu modo de agir poderão vir a ser seriamente contestados à medida que cresça a Resistência iraquiana.

Grosso modo, a análise norte-americana seria aniquilada pelos próprios acontecimentos: após a prisão do ex-presidente Saddam Hussein, a Resistência cresceu e se desenvolveu, propagando-se à maioria das regiões do país e, no ponto em que atualmente se encontra, é legítimo constatar um consideravelmente amplo apoio popular, sem o qual não existiria.

A vertente militar

A incontestável impopularidade de Saddam tornava inverossímil que ele pudesse inspirar, e muito menos dirigir, uma Resistência nacional

Sua principal vertente é o que se poderia denominar a Resistência militar. É possível situar sua origem no final da guerra da primavera do ano passado. Quando terminaram as operações militares em Bagdá, jovens oficiais iraquianos, os quadros mais resolutos, assim como os homens que os acompanhavam, dispersaram-se por todo o território e entre a população. Carregaram suas armas leves, assim como armamento de infantaria: morteiros, metralhadoras, mísseis que se podem transportar ao ombro... Espalharam-se nas regiões onde conseguiriam, mais provavelmente, apoio popular, ou seja, na prática, segundo as regiões e as tribos das quais eram originários. Portanto, a extensão da Resistência iraquiana, tanto geográfica, quanto social, era previsível, assim como a preponderância, num prazo mais ou menos curto, da Resistência militar.

Aliás, é possível avaliar o peso das várias vertentes da Resistência segundo seu modo de agir. O da Resistência militar corresponde à sua natureza e a seus recursos. É ela que arma as emboscadas contra os comboios das tropas invasoras, contra as colunas de blindados leves, contra a sede dos Estados-Maiores e dos quartéis de comando e, naturalmente, contra os helicópteros e, vez por outra, contra aviões voando a baixa altitude. Seus quadros são os únicos a terem recebido treinamento, equipamento e armamento para fazê-lo.

Dessa forma, tornou-se, de longe, a ala mais atuante e mais eficiente da Resistência nacional; a que consegue atrair mais combatentes, informantes, agentes de ligação. Também é ela que dispõe de maior facilidade para infiltrar homens seus na polícia criada pelas autoridades norte-americanas, seja com o objetivo de se manter informada, seja para realizar contra essa polícia, como se constata permanentemente, operações particularmente destruidoras e dissuasivas. E, finalmente, é essa ala que, encarnando exclusivamente a revolta nacional contra uma invasão estrangeira, consegue obter apoio em todas as comunidades e em todos os meios, com o patriotismo como única motivação.

A impopularidade dos grupos estrangeiros

Após a captura de Saddam Hussein e a onda de prisões em massa que se seguiu, a Resistência militar conseguiu a adesão dos ex-partidários do presidente, desejosos de prosseguir sua luta. A implantação da Resistência militar poderia vir a ser ainda mais durável e profunda, pois, atualmente, está inserida nas tribos, cenário freqüente de suas ações.

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Após a prisão do ex-presidente, a Resistência cresceu e se desenvolveu, propagando-se à maioria das regiões do país e, no ponto em que atualmente se encontra

Os grupos vindos do exterior atuam como fazem em outros lugares: por meio de ações espetaculares e sem consideração pelos sacrifícios que elas podem representar para a população. Foi dessa maneira que agiram, antes, em Nairobi, Dar es-Salam e Bali. Foi o que fizeram no Iraque, atacando a sede da Cruz Vermelha e a das Nações Unidas. Dispondo de dinheiro e munição, provavelmente graças a seus vínculos estrangeiros, podem dar continuidade a esse tipo de ações; porém, apesar da simpatia de que gozam entre os fanáticos islamitas iraquianos – com os quais já entraram em contato –, as perdas humanas que provocam já lhes valeu uma impopularidade que pode levá-los ao isolamento.

As divisões curdas

A extensão geográfica da Resistência já provou que ela pode ter, no país inteiro, o apoio popular de que necessita. No entanto, tem que enfrentar os problemas específicos que se apresentam nas regiões curdas e xiitas. Na realidade, no norte do país, os principais partidos políticos – o Partido Democrático Curdo (PDK) e a União Patriótica do Curdistão (UPK) – associaram-se às tropas norte-americanas que, há doze anos, vêm garantindo a autonomia total de sua região. Nem um, nem outro, detém, no entanto, controle absoluto da situação: enfrentam a hostilidade de outros grupos e de uma parte da população, pois esta não é homogênea. Em Mossul, e especialmente em Kirkuk, turcomanos, árabes e assírios representam grande parte dos habitantes, provavelmente até a maioria e, não querendo submeter-se a um poder curdo, formam a base da Resistência iraquiana. Alguns curdos também participam dela.

O grupo extremista e islamita al-Ansar al-Islam, que se implantou durante o último período do regime anterior e realizou ações particularmente violentas contra comunidades cristãs, foi duramente atingido pelos bombardeios norte-americanos e pelos ataques das milícias do PDK e da UPK. Além disso, as autoridades iranianas proibiram-lhe o acesso a seu território. No momento, conta um número insignificante de combatentes. Em compensação, foram criados outros grupos curdos com a ajuda dos países vizinhos – o Irã, a Turquia e a Síria – que souberam ocupar um espaço e, por diversos motivos, não aceitam a autoridade dos dois principais partidos. É o bastante para que a Resistência iraquiana possa contar com alianças e cumplicidades suficientemente numerosas e manter uma insegurança crescente, realizando ações espetaculares – como a de 1º de fevereiro de 2004, que provocou a morte de 105 pessoas em Erbil e foi reivindicada, através de uma mensagem, pelo grupo extremista islamita Ansar al-Sunna, em termos que tornam duvidosa sua autenticidade2.

As correntes xiitas

A militar é a ala mais atuante e eficiente da Resistência. Ao encarnar exclusivamente a revolta nacional contra a invasão estrangeira, obtêm apoio em todas as comunidades

Por tradição, a comunidade xiita não tem homogeneidade política. Sua hostilidade para com o regime do ex-presidente Saddam Hussein se tornou quase unânime desde a repressão de sua rebelião, após a guerra de 1991. Mas também foi o berço do nacionalismo iraquiano e dela nasceram os principais partidos nacionalistas, inclusive o Ba’ath e o Partido Comunista, durante o auge de sua influência, no final da década de 50.

De momento, ela está novamente dividida entre diversas correntes, ainda que, por enquanto, os grupos políticos e religiosos conservadores representem a maioria. Consta que seu inspirador seria o aiatolá Sistani, recluso em sua residência de Nadjaf, de onde nunca sai, e que também é o porta-voz de um grupo dirigente que luta pelo poder não só em sua comunidade, como no país inteiro. Sua tática consiste em procurar um acordo direto com as autoridades invasoras. Sua estratégia é a de invocar os princípios democráticos, reivindicando o recurso imediato ao sufrágio universal. Seu objetivo é o de tomar o poder no Estado iraquiano, graças à superioridade numérica de sua comunidade. Mas é aí que reside, para os xiitas, o maior perigo de um fracasso. Pois a política norte-americana continua excluindo a possibilidade de um poder central forte, para o que se serve da hostilidade das outras comunidades a qualquer tipo de regime em que a comunidade xiita tivesse uma preponderância esmagadora.

Além do mais, as correntes conservadoras que o nome do aiatolá Sistani simboliza não são as únicas entre os xiitas. Desde o verão do ano passado, o jovem aiatolá Mokhtada al Badr vinha convocando à Resistência à invasão e, embora não falasse de luta armada, pelo menos de uma forma explícita, o tom de suas pregações era bastante próximo daquele dos primeiros grupos da Resistência nacional, chamando os iraquianos ao confronto imediato com os invasores. Quanto aos movimentos xiitas ligados ao regime iraniano, os grupos Asrii e Al Dawa, sua estratégia, coincidente com aquela definida por Teerã e próxima à das correntes inspiradas pelo aiatolá Sistani, tem por objetivo a união entre as comunidades e a formação de um poder nacional único e, como meta final, a saída das tropas norte-americanas. Esta estratégia, no entanto, foi revista e, segundo inúmeros indícios, esses grupos estariam se aproximando das posições da Resistência nacional e começando um engajamento progressivo na luta armada (leia, nesta edição, “Vista a partir do Irã”, deste autor).

O ressurgimento dos nacionalistas

As perdas humanas provocadas pelas ações promovidas pelos grupos vindos do exterior já lhes valeu uma impopularidade que pode levá-los ao isolamento

Simultaneamente, ressurgiram de um longo período de silêncio e clandestinidade os movimentos nacionalistas que, antigamente, participavam da comunidade xiita. Apareceram três correntes, retomando a história do nacionalismo iraquiano mas, por enquanto, preservando, na medida do possível, o sigilo de suas atividades: a corrente conhecida como “panárabe”, ou “nasserista”; uma corrente comunista radicalmente oposta àquela representada por um de seus chefes no Conselho Provisório do governo; e a fração do ex-partido ba’athista que rompeu com o ex-presidente Saddam Hussein e se opôs a ele, criticando-o por ter traído os ideais do Ba’ath em proveito da ditadura de um clã e por ter arruinado o país com guerras absurdas, esquecendo a união do mundo árabe, a revolução social e o laicismo. Assiste-se apenas ao início da volta das correntes nacionalistas, mas a lógica de sua opção deveria levá-las a se juntarem à Resistência nacional.

Nesta “guerra do pós-guerra” que se trava atualmente, quem sairá ganhando? Considerando a dimensão dos obstáculos encontrados, os Estados Unidos parecem ter optado por uma estratégia de retirada. Esta se define em quatro pontos: a concentração de suas tropas em alguns dos principais centros e nas regiões de petróleo; a realização de uma Assembléia Constituinte da qual eles controlariam a criação, sem o recurso ao sufrágio universal; a criação de uma polícia local; e o apoio de contingentes estrangeiros para substituírem as unidades mandadas de volta para os Estados Unidos.

Mas esses quatro objetivos podem não dar certo. A evacuação das tropas norte-americanas de uma parte do país poderia deixar campo livre à Resistência iraquiana em várias regiões, onde poderia crescer. O novo poder criado pelos Estados Unidos teria, então, menos possibilidades de exercer sua autoridade. A polícia local, como já vem ocorrendo atualmente, seria infiltrada pela Resistência ou isolada da população. Os contingentes estrangeiros, sem qualquer motivação – sem conhecer o país nem seus habitantes, nem sua língua –, seriam levados, como já vêm fazendo atualmente, a se enfurnarem em seus quartéis.

A opção norte-americana

A comunidade xiita foi o berço do nacionalismo iraquiano e dela nasceram os principais partidos nacionalistas, inclusive o Ba’ath e o Partido Comunista

Tudo indica, portanto, que os dirigentes norte-americanos seriam forçados a buscar apoio na principal força que, excluindo o Curdistão, ainda privilegia um acordo com as forças de ocupação, ou seja, a corrente tradicionalista e conservadora da comunidade xiita. Um episódio recente é bastante revelador: a revogação, por uma votação apertada do Conselho Provisório de governo, do estatuto da família – aprovado em 1959 e um dos mais avançados do mundo árabe – com o objetivo de instituir a aplicação mais ou menos estrita da charia (lei islâmica). Nesta, como em todas as outras questões, tudo depende da concordância final do representante norte-americano, Paul Bremer, mas todos os jornais iraquianos garantiram – e não sem razão – que essa votação jamais teria ocorrido sem que ele tivesse, de maneira mais ou menos discreta, dado seu consentimento.

Os impasses da ocupação norte-americana não devem dissimular as desvantagens da Resistência iraquiana. A escassez de suas reservas em armas e munições, mencionada por vários especialistas, não é, sem dúvida, sua principal dificuldade: fontes de abastecimento clandestinas existem em toda a região. O que pode pôr em xeque seu futuro e seu êxito são suas divisões internas, aparentemente difíceis de superar: entre correntes islamitas e correntes leigas modernistas; entre forças arregimentadas internamente, originárias de todas as categorias da população, e os grupos vindos e recrutados no exterior, inspirados por uma ideologia política e religiosa completamente distinta do patriotismo iraquiano; entre as correntes contraditórias que esfacelam todas as comunidades, mas principalmente a xiita.

Os dirigentes da Resistência iraquiana mais combativos, e que já tiveram a oportunidade de se manifestar, sugerem que se aproxima o momento em que será publicamente constituída uma frente única da Resistência: seriam eles melhor informados ou apenas mais otimistas?

(Trad.: Jô Amado)

1 - Consultar, entre outros documentos, as atas do simpósio organizado pelo American Enterprise Institute a partir de 15 de novembro de 2002 e os relatórios dos seminários realizados em janeiro de 2003, um relatório do Council on Foreign Relations propondo a criação de 18 províncias e o relatório de Robert D. Kaplan, intitulado “Post Saddam Scenario”.
2 - Despacho da agência France Presse, 4 de fevereiro de 2004.




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