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O PÓS-GUERRA IMPERIAL

Crimes e mentiras de uma "guerra de libertação"

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Depois de uma agressão criminosa, os iraquianos dizem sim à liberdade e ao Islã, e não à América e a Saddam. Mas os EUA têm planos de uma administração direta do Iraque e impõem uma hegemonia humilhante que deverá incentivar o terrorismo

Alain Gresh - (01/05/2003)

A desproporção era trágica: os EUA perderam 125 soldados e a Grã-Bretanha 30, enquanto os analistas calculam em dezenas de milhares as baixas iraquianas

Junte-se aos conquistadores! Marginalizadas até aqui pela onda de hostilidade da opinião européia contra a aventura iraquiana, algumas vozes exortam a partir de agora o “campo da paz”, cuja derrota teria sido assinalada pela entrada das tropas americanas em Bagdá, a confessar seus descaminhos. Insistindo em suas posições Paris correrá o risco de se isolar e as empresas francesas de serem excluídas dos contratos de reconstrução, e até mesmo boicotadas pelos Estados Unidos. A submissão seria a única saída honrada. Pouco importa que a guerra tenha sido uma violação flagrante do direito internacional, desencadeada sem o aval das Nações Unidas: a força resolveu! Vamos rápido socorrer a vitória. A entrada dos blindados norte-americanos em Bagdá deveria modificar as análises que prevaleciam antes do dia 20 de março de 2003, data do início da agressão? Quem duvidaria que Washington, que dilapida mais de 45% das despesas mundiais em armamentos, esmagaria Bagdá, esgotada por uma dúzia de anos de embargo, desarmada pelas Nações Unidas e que consagra à defesa dois milésimos da soma que Washington reserva para a sua? A desproporção dos meios explode de maneira trágica nos balanços: os Estados Unidos perderam 125 soldados e a Grã Bretanha 30. A maioria dos analistas concordam sobre a morte de dezenas de milhares de soldados iraquianos: 2 000 a 3 000 foram exterminados em um só dia em Bagdá. Esta vitória parece mais uma caça aos patos que a um gesto heróico.

Em Nadja, conta o tenente-coronel Woody Radcliff, os combatentes iraquianos saíam de uma usina e, “em ondas,, eles vinham em direção das nossas tropas armadas com AK-47 e eram todos mortos”. O comandante disse : “Não é justo, é uma loucura. Ataquemos o prédio com um apoio aéreo próximo e liquidemo-los todos de uma só vez” . Um soldado comenta : “ Não tenho palavra melhor, mas me sinto quase responsável pelo massacre. Nós sacrificamos um monte de gente e me pergunto quantos eram inocentes. Não há do que se orgulhar. Nós ganhamos mas a que preço! 1”.

Crimes de guerra

Eis o retorno dos “tempos abençoados das colônias” , quando os “civilizados” massacravam os “bárbaros”. Em 1898, em Omdourman, no Sudão, as tropas britânicas, auxiliadas por agregados egípcios, enfrentavam os rebeldes que tinham se liberado da tutela estrangeira. Onze mil sudaneses foram exterminados, enquanto as tropas anglo-egípcias – ninguém ousaria falar de “coalizão” – só perderam 48 homens. Mas se o império britânico afirmava querer restabelecer a ordem, ao menos não pretendia exportar democracia; não havia também o ridículo de invocar os perigos que os guerreiros sudaneses faziam pesar sobre Londres... A guerra contra o Iraque foi curta, mas certamente não foi alegre. Ainda é muito cedo para fazer um balanço das perdas civis – 2 000 cadáveres foram “recenseados”, mas quantos jazem sob os escombros? Além da utilização de armas de urânio empobrecido – cujos efeitos serão sentidos durante décadas, como os desfoliantes utilizados pelos EUA contra as florestas do Vietnã, que continuam fazendo incontáveis vítimas – e do lançamento de bombas de fragmentação em zona urbana, o comportamento dos marines mostrou o rosto hipócrita da “civilização”.

Em nenhum lugar os “libertadores” foram acolhidos triunfalmente. O Pentágono organizou o golpe de mídia da destruição da estátua de Saddam Hussein

Estamos no dia 7 de abril. O terceiro batalhão do quarto regimento de “marines” chega à periferia de Bagdá. O fotógrafo Laurent Van der Stockt, “jornalista viajando com as tropas norte-americanas”, conta: “Uma pequena caminhonete azul se dirige em direção ao comboio. Três tiros de intimidação, meio a esmo, deveriam fazê-la parar. A viatura continua andando, faz meia-volta, se protege, e volta lentamente. Os marines atiram. É confuso, e finalmente eles atiram de todos os lugares(...). Dois homens e uma mulher, acabam de ser crivados de balas. Era esta a ameaça. Uma segunda viatura chega e o cenário se repete. Os passageiros são mortos pura e simplesmente. Um velho caminha lentamente com sua bengala, na calçada. Eles também o matam”. E o jornalista resume : “Vi diretamente uma quinzena de civis mortos em dois dias. Conheço bastante a guerra para saber que ela é sempre suja, que os civis são sempre as primeiras vítimas. Mas assim é absurdo” 2. Não é absurdo, são crimes de guerra...

Golpe de mídia

Mas as numerosas vítimas não são o preço da “libertação” do Iraque? É certo que os iraquianos estão aliviados com o fim da ditadura de Saddam Hussein, a mais sanguinária da região. Até porque para eles o dia 20 de março não foi mais que uma etapa de uma guerra sem fim, que desde 1991 os martiriza: bombardeios permanentes e sanções mortais com seu cortejo de mortos, de privações, de desespero 3. Eles aspiram o fim deste pesadelo, a reinserção em um mundo “normal”. Desta forma, a violência dos bombardeios, que esmagaram infra-estruturas já frágeis e o comportamento das tropas anglo-americanas reativaram inquietudes e interrogações sobre as intenções de Washington, sobre os riscos de caos, sobre as ameaças de enfrentamentos confessionais... Em nenhum lugar os “libertadores” foram acolhidos triunfalmente..

A situação chegou a tal ponto que o Pentágono teve que organizar um golpe de mídia: a destruição da estátua de Saddam Hussein no coração da capital, no dia 9 de abril de 2003. Estas imagens deram volta ao mundo, apesar da nota desafinada – a bandeira estrelada cobrindo a cabeça do ditador – rapidamente substituída pela bandeira iraquiana. Emocionado, Donald Rumsfeld, o Ministro da defesa americano, proclamou que isto lhe lembrava a queda do muro de Berlim! Ele esquecia de precisar que o desmanche da construção de ferro de Saddam Hussein tinha sido efetuado pelas forças norte-americanas com a presença de uma massa de iraquianos que não ultrapassava uma centena, menos que os jornalistas presentes para imortalizar estes minutos... Nenhuma televisão transmitiu imagens da imensa praça de Bagdá, vazia, com exceção dos canhões que vigiavam a entrada...

Fabricando "provas"

Às vésperas do conflito, apesar dos desmentidos, 40% dos norte americanos permaneciam convencidos de que Bagdá possuía armamentos nucleares

A “alegria espontânea” do povo iraquiano viria, entretanto, camuflar a derrocada das razões invocadas por Washington para iniciar sua agressão. Durante meses a administração americana tinha feito da procura das armas de destruição maciça a bandeira de sua cruzada contra Bagdá. Estas, camufladas, ameaçavam diretamente o coração dos Estados Unidos. E as provas eram abundantes. Desta forma o presidente Bush explicou, em seu discurso sob o estado da União, em 28 de janeiro de 2003, que o Iraque tinha tentado comprar quinhentas toneladas de óxido de urânio da Nigéria, podendo servir para a fabricação da arma atômica. O secretário de Estado Colin Powell remeteu documentos à Organização das Nações Unidas (ONU) para subsidiar estas acusações.

No dia 7 de março todo este edifício ruiria. O diretor geral da Agência Internacional para a Energia Atômica Mohamed El Baradei anunciava que os processos enviados continham grosseiras falsificações... Comprometidos desde 1997 nas campanhas de desinformação sobre o Iraque, os serviços secretos britânicos são os promotores destas falsidades4. Pouco importa! A mídia americana mal mencionará estes desmentidos e mais de 40% dos norte-mericanos permanecerão convencidos, às vésperas do conflito, que Bagdá possuía a arma nuclear...

O exército iraquiano não utilizou nem armas químicas nem armas bacteriológicas durante as hostilidades, nem mesmo quando o regime se aproximava de seu fim; as tropas americanas, até agora, não encontraram nada que fosse o suficiente para justificar uma guerra e suas dezenas de milhares de vítimas. E Washington se opõe ao retorno dos inspetores da ONU ao Iraque, mesmo sendo legalmente necessária para qualquer suspensão das sanções. Certamente o presidente Bush conta, mais uma vez, com Blair para lhe prestar o serviço de fabricar, às portas fechadas na coalizão, novas “provas”...

Velhos clientes

O apoio dos EUA a Osama Bin Laden para combater a ocupação soviética é conhecido. Mas os laços entre Saddam Hussein e Washington são mais antigos

Os laços entre Al-Qaïda, a organização de Osama Bin Laden e o regime iraquiano serviram para inscrever a campanha do Iraque na “guerra contra o terrorismo”. A própria CIA não acreditava nela, mas 44% dos norte-mericanos acham que alguns ou a maioria dos piratas do ar de 11 de setembro de 2001 eram iraquianos; e 45 % afirmam que Saddam Hussein estava pessoalmente implicado nestes ataques5. Estas pesquisas confirmam que, mesmo numa sociedade aberta, a manipulação realizada pela grande imprensa pode falsear totalmente o debate e esvaziar a democracia de seu sentido.

Existe efetivamente um ponto comum entre Osama Bin Laden e o ex-presidente Saddam Hussein, um laço que os iraquianos conhecem há muito tempo: os dois homens foram, nos anos 80, aliados estratégicos para os Estados Unidos; nenhum dos dois teria se tornado tão perigoso se eles não tivessem se beneficiado de uma ajuda, política e material dos sucessivos governos norte-americanos. O apoio que Washington forneceu aos moudjahidins afegãos, aos voluntários árabes recrutados para combater a ocupação soviética e em particular a Osama Bin Laden é conhecido6. Os laços entre Saddam Hussein e Washington são mais antigos.

Segundo as biografias do ditador, seus primeiros contatos com a CIA datam dos anos 1960, quando o jovem estava refugiado no Cairo. Em fevereiro de 1963, um golpe de Estado derruba o regime progressista de Abdelkrim Kassen. A caça aos democratas e aos comunistas faria milhares de vítimas. Voltando urgentemente ao país, Saddam Hussein participa de tudo, matando e torturando com suas próprias mãos. As listas de pessoas a serem presas era fornecida pela CIA – ela fará o mesmo em 1965 na Indonésia, onde a repressão anti-comunista se consolidará com 500 mil mortos...Desta velha conivência data o rumor, no mundo árabe, de que Saddam Hussein é... um agente da CIA. As teorias do complô sempre tiveram um sucesso garantido no Oriente Médio.

Proclamações democráticas duvidosas

Em 1988, quando o Iraque lança gases sobre os curdos, os EUA mantém uma campanha de desinformação para lançar a responsabilidade sobre o Irã

É nos anos 1980 que a aliança entre o Baath e a administração Reagan ganha corpo. O homem que vai iniciá-la não é outro que Donald Rumsfeld, que vai a Bagdá em dezembro de 1983 para apertar a mão do futuro Hitler: o Iraque desaparece da lista dos Estados que sustentam o terrorismo. As relações diplomáticas entre os dois países são restabelecidas, Washington fornece apoio militar a Bagdá em sua luta contra a “revolução islâmica”. Os Estados Unidos sabem, desta forma, que violando convenções internacionais, o exército iraquiano utiliza armas químicas contra o Irã. Em 1988, quando o exército lança gases sobre os curdos – fazendo milhares de vítimas em Habadja – o departamento de Estado mantém uma campanha de desinformação para tentar lançar a responsabilidade sobre o Teerã 7

A atitude muda com a invasão iraquiana do Kwait, em agosto de 1990. Contudo, quando, em fevereiro-março de 1991 as populações do Sul e os curdos se revoltam contra o regime, o exército americano deixará que os massacrem, pois Washington deseja a queda de Saddam Hussein, não do regime. Colin Powell, então chefe do estado maior inter-armadas, explicará em 1992: “Existe um ponto de vista romântico que pensa que se, amanhã, Saddam Hussein é derrubado por um ônibus, um democrata jeffersoniano está pronto para ganhar as eleições. E muitas pessoas teriam ficado indignadas se nós tivessemos ido a Bagdá e se, dois anos mais tarde, tivessem visto soldados norte-americanos patrulhando a capital em busca de Jefferson8”. Os iraquianos se recordam, principalmente as populações xiitas, particularmente vítimas da repressão. E podemos compreender suas dúvidas diante das proclamações democráticas dos novos mestres.

Em vez da democracia, o caos

Os iraquianos temem o caos e desconfiam que os Estados Unidos o incentiva para justificar a sua presença, se apossar do petróleo, instalar bases militares

Estas inquietações foram alimentadas não somente pelo comportamento das tropas durante o conflito, mas por fortes imagens: aquela do Ministério do petróleo vigiado pelos marines enquanto os 30 outros ministérios são, não somente saqueados, mas sistematicamente queimados. Aquelas dos saques, principalmente dos hospitais, sob o olhar indiferente dos soldados americanos. Aquelas dos estragos do Museu Nacional como o de Mossoul, do incêndio da Biblioteca Nacional e da Biblioteca Corânica, tesouros da cultura iraquiana e mundial. O professor iraquiano Shakir Aziz resumia um sentimento compartilhado: “Vi com meus próprios olhos como as tropas norte-americanas incitaram os iraquianos a pilhar e a queimar a Universidade de Tecnologia. Que loucas ambições geopolíticas, que cultura do ódio de tudo o que é árabe e muçulmano, que avidez pelo petróleo e os suculentos contratos de reconstrução levaram os norte-mericanos a esta orgia de destruição9”. Alguns tanques de guerra seriam suficientes para proteger este patrimônio da humanidade, apenas aqueles que foram necessários para cercar a praça onde Washington tinha organizado o desmanche da construção de ferro da estátua de Saddam Hussein...

Os iraquianos temem o caos e desconfiam que os Estados Unidos o incentiva para justificar a sua presença, se apossar do petróleo, instalar bases militares. Todos sabem que os delitos e crimes na sua sociedade cresceram desde a invasão do Kuwait, principalmente sob a ação das sanções – defendidas com unhas e dentes pelas administrações americanas apesar das provas de seu caráter mortífero para a população. A sobrevivência, em detrimento de todo sentido de Estado, se tornou a palavra de ordem de cada um; o tribalismo, encorajado pelo poder, se reforçou; o sistema de ensino se desmoronou; as tradições mais arcaicas foram restabelecidas, principalmente em detrimento das mulheres. A distribuição de armas às tribos durante os anos 1990 e a recuperação daquelas abandonadas pelo exército em 2003 fizeram dos iraquianos um povo em armas, para o melhor e, certamente, para o pior... Muitos temem que não seja a democracia, mas a desordem que triunfe.

Administração direta de Washington

Já surgem as primeiras tensões. Em Mossoul os enfrentamentos tomaram conta de diferentes comunidades, enquanto que em Kirkuk famílias árabes eram expulsas pelos curdos – eles mesmo antes exilados por Saddam Hussein. Entre os xiítas as forças religiosas mais radicais se implantam. As tentativas anglo-americanas de recolocar ex-dignitários do Baath ou oficiais de polícia locais provocam choques...

Os iraquianos se manifestavam em Nassariya gritando "Sim, sim à liberdade! Sim, sim ao Islã! Não à América, não a Saddam!"

Rapidamente os iraquianos afirmaram que rejeitavam um “protetorado” norte-americano. A guerra nem tinha terminado quando 20 mil pessoas manifestavam-se em Nassariya contra a reunião da oposição realizada sob a égide do “procônsul” norte-americano para o Iraque, o general Jay Garner. “Sim, sim à liberdade! Sim, sim ao Islã! Não à América, não a Saddam”, gritavam eles. Depois inúmeras manifestações retomam as mesmas palavras de ordem.

Estas manifestações afetarão o general Garner, falcão entre os falcões, amigo de Rumsfeld, que explica hipocritamente que os Estados Unidos teriam vencido no Vietnã se “nós tivéssemos levado a guerra ao Norte e em vez de esperar no Sul. É o que nós fizemos no Iraque. Se Bush fosse presidente, nós teríamos vencido10”? É pouco provável. Washington está decidida a impor sua administração direta, com a ajuda de alguns colaboradores – como Ahmed Chalabi, um homem condenado a 22 anos de prisão por desvio de dinheiro pelos tribunais jordanianos. Os planos de reconstrução são montados e os contratos atribuidos às sociedades norte-americanas, ligadas diretamente à atual administração. É preciso financiar a campanha presidencial que se prepara... A companhia de petróleo Halliburton, dirigida até o ano 2000 por Richard Cheney, o atual vice-presidente dos Estados Unidos, foi encarregada de lutar contra os incêndios dos poços de petróleo. O grupo Bechtel, primeira empresa norte-americana de trabalhos públicos e próximo da atual administração conseguiu um outro contrato cujo valor deverá atingir 680 milhões de dólares11. A União Européia, aliás, decidiu realizar uma pesquisa sobre a conformidade de um tal contrato em relação às regras da Organização Mundial do Comércio(OMC).

Barbárie e imperialismo

Mas se retrucará: não é dinheiro norte-americano? Absolutamente, não. Sobre os 2,4 bilhões de dólares dotados pelo Congresso para ajudar à reconstrução do Iraque, 1,7 bilhões provêm... dos fundos iraquianos bloqueados desde 1990 e confiscados por Washington no dia 20 de março. Mas os Estados Unidos estão confiantes nas receitas do liberalismo: seu plano prevê a privatização, em 18 meses de todas as empresas estatais e a criação de um banco central independente, uma instituição que não existe em nenhum país da região12. A administração atual imagina, sem nenhuma dúvida, um Iraque sem Estado.

O sentimento de humilhação do mundo árabe não cria condições de uma abertura política e cultural, mas, um terreno fértil para o terrorismo

A democracia não vale uma guerra? Interrogam-se aqueles que criticam a posição do “campo da paz” e sonham com um “novo Oriente Médio”. A região conheceu , desde 1948, inúmeros conflitos, do primeiro choque árabe-israelense até a conflagração do Golfo (1990-1991), passando pelas duas Intifadas. Cada um deles terminou em humilhações e em uma crispação de opiniões, sobre o reforço dos regimes de plantão. Nenhum chegou a uma maior abertura ou democracia. Em que a guerra contra o Iraque mudará a situação? Ela foi feita contra a imensa maioria da opinião árabe e muçulmana. Mas, se ela foi condenada pela Liga Árabe, uma meia dúzia de seus membros ofereceu facilidades às tropas norte-americanas. Paralelamente, a mídia, forças de oposição, intelectuais, tornavam-se apoiadores do regime bárbaro, em nome da resistência ao imperialismo norte-americano. Esta esquizofrenia, este sentimento de impotência e de humilhação, enquanto se prossegue, na indiferença de Washington, o massacre dos palestinos, não criam as condições de uma abertura política e cultural, mas, pelo contrário, um terreno fértil para todas as retomadas de identidade, diga-se, para o terrorismo.

Bagdá está no centro do imaginário árabe, símbolo da grandeza do passado – ela foi a capital do maior império muçulmano, o império abbasside, entre o século 8 e o século 13 – mas também das tentativas de renascimento do século 20, com a evicção do colonialismo britânico e de seus agentes em 1958, com a nacionalização da Iraq Petroleum Company, em 1972. A invasão do império abbasside pelos “bárbaros” mongóis e depois a tomada de Bagdá em 1258, com o incêncio de suas bibliotecas, seus livros jogados no Tigre – cuja água se tornará negra de cinzas – marcam o início do declínio do mundo árabe-muçulmano. Retomando os objetivos do grande historiador do século 13, Ibn Al-Athîr, evocando suas hesitações em falar destes desastres, um cronista árabe escreverá, talvez, em um decênio, a respeito da queda de Bagdá, em 2003: “Durante anos eu me abstive de narrar este evento, quando eu avaliava a sua enormidade, me repugnava contar. Também avançava um pé e depois retirava o outro. Pois qual é o homem a quem parecerá cômodo e fácil anunciar e descrever a morte do Islã e dos muçulmanos ? (...) A humanidade não verá, talvez, nunca mais um tal acontecimento até o fim do mundo13.”

(Trad,: Celeste Marcondes)

1 - "War in Iraq a Reason for Shame", citado pela Infopal, 18 de abril de 2003.
2 - Le Monde, 13-14 de abril de 2003. Este testemunho foi confirmado por um dos colegas de Laurent Van der Stockt que viajou com ele, Peter Maas, no The New York Times Magazine, 20 de abril de 2003.
3 - É obsceno que Anthony Blair tenha invocado a morte destas crianças, provocada por uma política que ele próprio tinha apoiado, para justiificar a guerra impossível de manter as sanções, pois isto seria, explica ele: "deixar o Iraque neste estado- com uma mortalidade de 130 por 1 000 entre as crianças de menos de 5 anos e 60% da população dependente de ajuda alimentar" (The Financial Times, Londres, 13 de fevereiro de 2003).
4 - Seymour M. Hersh, "Who lied to whom?", The New Yorker, 31 de março de 2003.
5 - "Polis Suggest Media Failure in Pre-War Coverage", 28 de março de 2003, editorandpublisher com.
6 - Ler John K. Cooley, CIA et Jihad, une alliance desastreuse contre l’URSS, Autrement, Paris, 2002 e "L’insaisissable argent d’Al-Qaïda", Le Monde diplomatique, novembro de 2002.
7 - Ler Joost R. Hiltermann, "America’s didn’t seem to mind poison gas", The International Herald Tribune, Paris, 17 de janeiro de 2003.
8 - Citado In Middle East Report Online, março de 2003, www.merip.org
9 - Citado por Patrick Seale, The Daily Star, Beirute, 18 de abril de 2003.
10 - The International Herald Tribune, Paris, 15 de abril de 2003.
11 - Como as seguradoras recusam cobrir os riscos, o presidente George W. Bush assinou um decreto segundo o qual as eventuais indenizações seriam cobertas pelo Tesouro americano, ou seja os contribuintes. Ler Le Monde, 20-21 de abril de 2003.
12 - "The US masterplan", Middle East Economic Digest, Londres, 14 de março de 2003.
13 - Citado no L’Orient au temps des croisades, GF Flamarion, Paris, 2002, pp.116-117.




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