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Cada vez mais influente na Al-Qaeda, doutrina prega Estados islâmicos ultra-ortodoxos, volta-se contra os árabes moderados e o xiismo e chega a relativizar combate ao ocupante estrangeiro
- (08/08/2007)
Crença antiga no mundo muçulmano, o takfirismo passou por um renascimento entre os militantes islâmicos egípcios depois da derrota para Israel, em 1967. Baseia-se na convicção de que o enfraquecimento da Umma (a comunidade dos fiéis) é resultado dos desvios dos próprios muçulmanos, de seu afastamento da religião. Todo muçulmano não-praticante seria um infiel, um kafir. Os que aderem a essa doutrina são chamados a abandonar as sociedades muçulmanas existentes, a formar comunidades autônomas e combater os muçulmanos infiéis.
Alguns pequenos grupos isolados de militantes takfiristas pipocaram no mundo árabe durante os anos 1970. Reagruparam-se no Afeganistão nos anos 1980, ao lado dos mujahidin, durante a guerra contra a ocupação soviética. O egípcio Ayman Al-Zawahiri, o dirigente uzbeque Tahir Yaldeshiv e o xeque Essa, futuros membros do estado-maior da Al-Qaeda, já estavam entre os zelotas mais acirrados do takfirismo. A doutrina avançou no Iraque depois da invasão dos Estados Unidos, sendo Abu Mussab Al-Zarqawi, morto em 7 de junho de 2006, um de seus principais adeptos naquele país.
A partir de 2003, o takfirismo ganhou terreno rapidamente entre os dirigentes intermediários e os militantes de base da Al-Qaeda. Acreditando que a presença de infiéis no seio das sociedades muçulmanas fortalece o inimigo e constitui um perigo a ser eliminado, esses militantes não se definem mais somente em função de seu ódio ao militarismo norte-americano. O takfirista é inimigo de todo muçulmano não-praticante. Para que os indivíduos “desviados” do Islã possam ser reconduzidos à origem, são os dirigentes das sociedades muçulmanas “infiéis” que devem ser eliminados prioritariamente. As montanhas de difícil acesso do Waziristão do Norte e do Sul tornaram-se seu novo santuário.
Todos os militantes takfiristas perseguem um duplo objetivo, quer passem a aderir à Al-Qaeda, quer a um de seus grupos afiliados. Devem continuar a guerra contra os exércitos ocidentais, ao mesmo tempo em que lançam as bases de um Estado “islâmico” ortodoxo, garantindo a rigorosa disciplina dos fiéis. Sempre erguendo a bandeira da rebelião contra os Estados muçulmanos, declaram guerra a todos os reformistas moderados. Os takfiristas têm particular horror ao xiismo, desvio intolerável a seus olhos. A guerra contra os adeptos dessa corrente é muitas vezes considerada mais importante do que a própria jihad. Os takfiristas se atribuem um papel messiânico: a direção exclusiva do combate ao Ocidente infiel e aos muçulmanos “apóstatas”.
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Nesta edição:
Muçulmanos contra a Al-Qaeda
Tanto no Iraque quanto no Afeganistão, a rede terrorista de Bin Laden enfrenta oposição crescente de outros grupos armados árabes. Suspeita-se, ao priorizar o combate entre facções muçulmanas, ela esteja fazendo o jogo da Casa Branca