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EDITORIAL

A onda do caos

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Dois anos após o 11 de setembro, o que chama a atenção de qualquer observador atento aos fatos é que as espetaculares vitórias norte-americanas se afundam politicamente num atoleiro, tanto no Afeganistão quanto no Iraque

Alain Gresh - (01/09/2003)

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O governo Bush ganhou todas as batalhas, mas, com certeza, não ganhou a guerra contra o terrorismo

“Podemos dizer, com confiança, que o mundo ficou melhor depois que os Estados Unidos lideraram uma coalizão de forças no Iraque”. No dia 9 de julho de 2003, Donald Rumsfeld, secretário da Defesa dos Estados Unidos e um dos principais arquitetos da política externa de seu país, depôs perante uma comissão do Senado, insistindo no que se tornou o refrão dos neoconservadores em Washington: “Na guerra contra o terrorismo, voamos de vitória em vitória: o regime dos taliban desmoronou, o Afeganistão está em vias de reconstrução, o regime de Saddam Hussein não passa da lembrança de um pesadelo e o Iraque caminha – é verdade que com algumas dificuldades – rumo à democracia. E, finalmente, a ofensiva contra a Al-Qaida se desenvolve com êxito.”

Como poderia ser de outra forma? Afinal, a força não é a única linguagem que compreendem os muçulmanos e os árabes? Tom DeLay, líder da maioria republicana na Câmara dos Representantes, cristão evangélico e membro do movimento dos cristãos sionistas, explica sem firulas: “No mundo árabe, antes do dia 11 de setembro, pensava-se que os Estados Unidos eram um tigre de papel. Tínhamos um presidente [William Clinton] que se limitava a soltar algumas bombas no deserto como represália ao terrorismo. Eles se divertiam. Agora, vêem que a coisa é séria e que se trata de uma verdadeira potência. E respeitam a potência1.”

Os sonhos dos ideólogos norte-americanos

A quem se preocupa com a possibilidade de uma aventura militar no Iraque alimentar o terrorismo, Daniel Pipes2, um autoproclamado especialista na alma muçulmana, defensor incondicional da política de Ariel Sharon, retorquiu, no dia 8 de abril, que “o oposto é que é mais provável: a guerra no Iraque levará a uma redução do terrorismo. (...) Minha expectativa é de que a raiva muçulmana provavelmente diminua, após uma vitória aliada no Iraque”. Este assessor do atual governo, e que, em 1990, se preocupava com “a imigração maciça de pessoas de pele escura, que cozinham comidas estranhas e têm normas de higiene esquisitas3”, já demonstrara sua clarividência em 1987, ao defender o apoio militar norte-americano a Saddam Hussein em sua luta contra o Irã.

Os ideólogos norte-americanos vivem em seus sonhos. A realidade não os atinge e estão dispostos a mentir desbragadamente para justificar seus fantasmas. No entanto, dois anos após o 11 de setembro, o que chama a atenção de qualquer observador atento aos fatos é que as espetaculares vitórias norte-americanas se afundam politicamente num atoleiro, tanto no Afeganistão quanto no Iraque. O governo Bush ganhou todas as batalhas, mas, com certeza, não ganhou a guerra contra o terrorismo.

Visão estratégica equivocada

Apesar dos golpes recebidos, a Al-Qaida prossegue em suas atividades mortíferas e Washington denuncia a chegada maciça ao Iraque de combatentes islâmicos radicais

Apesar dos golpes recebidos, a Al-Qaida prossegue em suas atividades mortíferas. Em alguns meses, a organização (ou os grupos que reivindicam fazer parte dela) atacou em Riad, no dia 12 de maio (35 mortos), em Casablanca, no dia 16 de maio (mais de quarenta mortos) e em Jacarta, no dia 5 de agosto (uma dezena de mortos). No mês passado, Bagdá foi o alvo de dois atentados – um contra a embaixada da Jordânia e outro contra a sede das Nações Unidas – e Washington denuncia a chegada maciça ao Iraque de combatentes islâmicos radicais. Apesar das previsões de Daniel Pipes, não há qualquer dúvida de que os ataques norte-americanos contra o Afeganistão e o Iraque, assim como sua impotência na Palestina, vêm alimentando os sargentos que cuidam do recrutamento da Al-Qaida.

Num artigo intitulado “L’erreur de l’Amérique4” (“O erro dos Estados Unidos”), Olivier Roy denuncia a “ideologização” da luta contra o terrorismo pelo governo Bush, o “que leva a errarem de alvo e deslocarem importantes recursos para enfrentar objetivos que nada têm a ver com o terrorismo”. Ele questiona uma “visão estratégica equivocada e preconceituosa: os objetivos já haviam sido definidos mesmo antes do 11 de setembro, como é o caso dos rogue states (Estados-deliqüentes, liderados pelo Iraque). (...) Decorre daí a definição de luta contra o terrorismo em termos de guerra. Ora, todos os dirigentes da Al-Qaida que foram presos, o foram por meios policiais clássicos (vigilância, infiltrados etc.). Os que foram submetidos a ataques militares, ou foram mortos (e, portanto, não darão informação alguma) ou, o que é mais freqüente, estão vivíssimos (Bin Laden, o mulá Omar...)”.

O reaparecimento dos taliban

O Afeganistão foi o primeiro alvo da ofensiva planetária contra o terrorismo. Quase dois anos após a queda do regime dos taliban, os despachos das agências de notícias, pouco divulgados pelos meios de comunicação, permitem ter uma noção do caos que ali se instalou. Apenas na semana de 13 a 20 de agosto de 2003, uma centena de pessoas foi assassinada: na província de Helmand, no Sul, uma bomba explodiu num ônibus; na vizinha província de Oruzgan, travou-se uma batalha entre dois comandantes fiéis ao governo central; vários confrontos nas províncias de Khost e Paktika envolveram soldados e centenas de combatentes taliban etc.

Os objetivos já haviam sido definidos antes do 11 de setembro, como é o caso dos rogue states. Decorre daí a definição de luta contra o terrorismo em termos de guerra

Meros sobressaltos? Num relatório divulgado em 5 de agosto, “The Problem of Pashtun Alienation” (O problema da alienação dos pashtu), o International Crisis Group5 assinalava: “Os riscos que representa o crescente desencanto dos pashtus [etnia predominante] deveriam ser óbvios. Os taliban não chegaram ao poder apenas devido à ajuda militar do Paquistão, mas também porque os comandantes locais se haviam excedido nos abusos para com a população civil e na extorsão de dinheiro. A capacidade inicial dos taliban em desarmar o Sul e restaurar um mínimo de segurança foi saudada como uma trégua por grande parte da população local. Atualmente, a insegurança no sul e no leste do país, assim como os obstáculos ao comércio e à concorrência entre Estados vizinhos, voltaram a criar as condições que permitiram a ascensão dos taliban. Os riscos se agravaram devido ao reaparecimento de importantes comandantes taliban, dispostos a tirar partido do descontentamento popular e dos antigos aliados que governam as províncias paquistanesas na fronteira com o Afeganistão.”

Insegurança generalizada

Um relatório da organização norte-americana Human Rights Watch, publicado em julho de 2003 e intitulado “Killing you is a very easy thing for us” (Matar você é bem fácil para nós), confirma essas conclusões e insiste na “implicação ou cumplicidade do governo em todos os abusos e violência ocorridos em praticamente todos os distritos do Sul”. A atual situação de violação dos direitos humanos e de insegurança generalizada é “em grande parte, o resultado de decisões, atos e omissões do governo dos Estados Unidos, de outros governos da coalizão e de alguns elementos do governo de transição afegão”. Mais adiante, o relatório denuncia a cooperação das forças aliadas para com os senhores da guerra, responsáveis pelas piores atrocidades.

Para o ano orçamentário de 2003 (que termina no mês de setembro), os Estados Unidos dedicaram quase 10 bilhões de dólares a seus 9 mil soldados, mas apenas 600 milhões à ajuda econômica. Preocupado com a atual estagnação, o governo estaria se preparando para aumentar esse número para um bilhão no ano que vem, assim como a enviar de 200 a 250 assessores ao governo local. Mas, não seriam esses gestos meramente entendidos como uma forma de colonialismo?

As carências de Bagdá

Cabul e Bagdá têm em comum, pelo menos, os cortes de energia elétrica. Na capital iraquiana, cinco meses após a queda do regime, as necessidades básicas continuam não sendo supridas. Os moradores contemplam, estupefatos, os soldados norte-americanos com seus uniformes futuristas, seus extraordinários recursos tecnológicos e sua logística, a qual lhes garante água mineral e alimentação em abundância. Por que, então, seriam eles incapazes de restabelecer a rede de água potável, de fazer funcionarem os telefones, de garantir a energia elétrica? O próprio aeroporto internacional continua fechado, prolongando o isolamento do país, enquanto a rodovia Amã-Bagdá – pulmão do Iraque durante o boicote – está, atualmente, cheia de assaltantes.

Quase dois anos após a queda do regime dos taliban, os despachos das agências de notícias, pouco divulgados, permitem ter uma noção do caos que ali se instalou

Após a guerra de 1991, e apesar das sanções, o governo iraquiano conseguira, em alguns meses e graças a alguns artifícios astuciosos, restabelecer os serviços de necessidade básica que foram bastante danificados em 2003. O desmoronamento do poder central e de todas as autoridades responsáveis, durante a invasão da primavera, surpreendeu os “planejadores” norte-americanos. Durante anos, os Estados Unidos fizeram-se de surdos aos gritos de alerta lançados por inúmeras ONGs. Não só morria um grande número de crianças e a população estava subalimentada e sem assistência, como, ano após ano, a sociedade estava em decomposição: a escolaridade diminuiu brutalmente, parte da classe média se asilou no exterior e a criminalidade e a delinqüência explodiram. Por que, então, se espantar com os saques que ocorreram durante a “libertação” do país? As redes de infra-estrutura, remediadas depois de 1991, não resistiram a uma nova guerra.

A “vingança” norte-americana

Os fracassos da reconstrução também devem ser atribuídos ao desejo de “vingança” dos dirigentes norte-americanos. Para recuperar as centrais elétricas, teria sido necessário apelar para empresas alemãs (Siemens) e suecas (ABB), responsáveis pela instalação da moderna rede elétrica no Iraque; para a telefonia, teria sido necessário chamar a Alcatel, francesa, que instalara as redes e conhecia o local. Mas Washington queria punir os governos da Velha Europa, assim como garantir contratos lucrativos para algumas das empresas que financiam o Partido Republicano.

O povo iraquiano sofre. Feliz por se ter livrado de uma ditadura sinistra, questiona as intenções dos norte-americanos, de quem desconfia que queiram colonizar o país. A ambivalência fica bastante evidente neste caso, relatado por Max Rodenbeck no jornal The New York Review of Books6. Ao perguntar a um governador de província, adversário de longa data de Saddam Hussein, se sabia o paradeiro de “Ali, o químico” (Ali Hassan al-Majid, um dos ex-dirigentes do regime e que foi posteriormente preso), ele respondeu que desconhecia, mas acrescentou: “Sei onde estão outros [ex-dirigentes do regime]. Mas, por que não o digo aos norte-americanos? Porque sou filho do Iraque e porque meus filhos vão crescer neste país. No futuro, talvez me julgassem como um traidor”. E destacou: “O verdadeiro problema é que os norte-americanos não dizem o que irão fazer com seu ‘baralho de cartas’. Irão levá-los para Guantánamo? Irão soltá-los? Se nós soubéssemos que esses criminosos sanguinários seriam julgados no Iraque, aí a história seria outra”. Quando o jornalista voltou para seu carro, o motorista lhe revelou que testemunhas haviam visto Izzat Ibrahim, o “ás de paus” e ex-vice-presidente, entrando na casa do governador.

A desconfiança e a memória iraquiana

A Iraq Body Count divulgou que entre 6.113 e 7.830 civis teriam sido mortos desde o início das hostilidades e 20 mil pessoas teriam sido feridas durante a guerra

Incapaz de restaurar a ordem, a segurança ou os serviços de necessidade básica, o Pentágono, que administra o Iraque como uma colônia, não compreende a resistência – que atribui exclusivamente, e de forma equivocada, aos partidários do ex-ditador – nem consegue decifrar a desconfiança da população. De que reclamaria ela, se os Estados Unidos a livraram de um tirano? É que os iraquianos sabem do papel que Washington desempenhou durante seu longo calvário. Ainda esperam por desculpas pelo apoio que os Estados Unidos deram a Saddam Hussein durante a década de 80 – assim como também esperam por desculpas da França... Ainda não perceberam um mínimo sinal de remorso pela passividade dos exércitos aliados durante a insurreição da primavera de 1991 ou pelo criminoso boicote de que foram vítimas. Nem pelos milhares de mortos civis de 2003, vítimas, principalmente, de bombas de fragmentação7 e de napalm.

No dia 17 de agosto de 2003, a organização Iraq Body Count8 divulgou que entre 6.113 e 7.830 civis teriam sido mortos desde o início das hostilidades e 20 mil pessoas teriam sido feridas durante a guerra propriamente dita (que, segundo o presidente Bush, terminou no dia 1º de maio). Muitas pessoas ficaram inválidas, mas as autoridades norte-americanas se recusam a indenizá-las9. Sua indenização, no entanto, mesmo que fosse da ordem de 10 mil dólares por pessoa, significaria menos de 200 milhões, uma gota d’água, se consideradas as despesas da ocupação. No dia 17 de julho, a Comissão das Nações Unidas para Indenizações (UNCC) decidiu pagar, com o dinheiro confiscado ao Iraque, 190 milhões de dólares pelos prejuízos causados pela primeira guerra do Golfo, concedendo mais da metade a um país tão necessitado quanto o Kuait10...

A corrosão de um Estado unificado

Freqüentemente se mencionam as perdas norte-americanas no Iraque depois do fim oficial das hostilidades. Porém, quem se preocupa com as centenas de iraquianos assassinados durante as operações de manutenção da ordem ou por terem manipulado munições que não haviam explodido? Ou com os mais de cinco mil presos, detidos sem julgamento, a maioria dos quais não tem qualquer vínculo com crimes perpetrados pelo regime anterior? Num relatório publicado em 23 de julho, a Anistia Internacional denuncia as práticas de “tortura e maus tratos” contra esses prisioneiros. Muitos desses presos teriam morrido na prisão “após tiros disparados pelas forças da coalizão”.

Em nome do respeito, justificado, pelo direito das minorias, o invasor corrói a possibilidade de reconstruir um Estado unificado e democrático

Uma das primeiras providências das forças norte-americanas foi a de organizar, no mês de maio, “eleições” locais em Mossul: para uma cidade com um milhão de habitantes, cada um dos representantes de grupos étnicos ou religiosos (curdos, árabes, assírios, turcomenos etc.) designou um representante no Conselho Municipal, antes de nomear um prefeito que tinha que ser árabe e sunita. Algumas semanas depois, foi criado o Conselho Provisório de governo, organismo sem grande poder, mas que deveria dar uma fachada iraquiana à invasão. Um jornalista árabe chamou a atenção para o “caráter assustador” da cena. “Havia grupos separados que discutiam, xiitas com xiitas, sunitas com sunitas, curdos com curdos. Quem não pertencia a esses grupos, ou considerava que sua presença naquele Conselho não era decorrente de sua religião ou de sua raça, ficava aguardando, à margem das discussões, e um deles chegou a abandonar a reunião11.” Hoje, como há algum tempo, no Líbano, e pouco depois, na Bósnia, as pessoas são convocadas a assumirem uma “identidade” petrificada. Em nome do respeito, justificado, pelo direito das minorias, o invasor corrói a possibilidade de reconstruir um Estado unificado e democrático...

Os pesados encargos de Washington

Para um crescente número de iraquianos, os Estados Unidos apenas procuram garantir o controle estratégico de seu país e do petróleo – cuja receita atual, muito baixa, só dá para cobrir uma parte dos custos da invasão. O Congresso norte-americano aprovou, para o ano fiscal de 2003, uma verba suplementar de 62,37 bilhões de dólares para as operações no Iraque. A ocupação do país custa aos Estados Unidos 3,9 bilhões de dólares por mês. Ao contrário do que se passou na primeira Guerra do Golfo, quando os aliados bancaram uma fatura de 60 bilhões de dólares, atualmente nenhum país está disposto a partilhar os pesados encargos com Washington e o déficit orçamentário norte-americano vai se esvaziando de maneira preocupante.

Outro problema que se coloca para os Estados Unidos é o de seus efetivos militares. “É difícil imaginar que sejam necessárias mais tropas para garantir a estabilidade no Iraque pós-Saddam do que para travar a guerra. (...) É difícil de imaginar12.” Assim como seus amigos neoconservadores, o subsecretário da Defesa, Paul Wolfowitz, também tinha pouca imaginação às vésperas do conflito. Os 148 mil soldados que continuam mobilizados no Iraque mostram-se incapazes de manter a ordem e a segurança. Das 33 brigadas de combate do exército norte-americano, 16 já se encontram no Iraque e todas elas – com exceção de três – se destinam à reserva estratégica e a outras missões, do Afeganistão à Coréia do Sul. Nestas condições, a rotatividade das tropas torna-se problemática e os soldados terão que ficar em seus postos pelo menos por um ano, o que insufla a mobilização das famílias de soldados que, preocupadas com as baixas diárias, deram início a uma campanha com o lema Bring them home now (Tragam eles de volta para casa).

A “arma” polonesa

Não existe outro caminho para a paz senão o das Nações Unidas. É urgente que este seja adotado para salvar o povo iraquiano

Em desespero de causa, os Estados Unidos procuram efetivos suplementares. Afirmam que vários Estados já enviaram soldados ou estão em vias de o fazer. Mera propaganda, pois apenas quatro Estados enviarão mais de mil homens e, quase sempre, com as despesas bancadas por Washington. Em princípio, a partir do início de setembro, a Polônia deverá assumir o comando de uma zona que abrange as cidades santas xiitas de Nadjaf e Kerbala. Ao lado da Espanha e de pequenos contingentes de Honduras e de El Salvador, deverão assumir a ordem, negociar com as autoridades xiitas e resolver os conflitos tribais... Para conseguir essa tarefa complexa, eles encontraram uma arma letal: levarão em sua bagagem os discursos do presidente polonês, Aleksander Kwasniewski, em polonês, em inglês e em árabe13. Ninguém duvida de que, com isso, ganharão o coração dos iraquianos...

Do Afeganistão ao Iraque, propaga-se a onda do caos naquele “mundo melhor” anunciado por Donald Rumsfeld. Os Estados Unidos se afundam no atoleiro daquele país e, ao mesmo tempo, se mostram incapazes de impor uma paz justa para o conflito entre israelenses e palestinos. O que fazer? Após a vitória contra Bagdá, levantaram-se vozes, na França, exigindo uma adesão aos “vencedores14”; nessa lógica, Paris votou favoravelmente à resolução 1.483 do Conselho de Segurança, em 22 de maio de 2003, aprovando a invasão norte-americana. Sabe-se no que isso deu. Seria o caso, agora, de “ajudar” Washington a sair do atoleiro iraquiano e do Oriente Médio15? Estranha interrogação. São os iraquianos – e os povos do Oriente Médio – que devem ser “ajudados”. São eles as primeiras vítimas do caos que a guerra e o extremismo do governo Bush agravaram. Não existe outro caminho para a paz senão o das Nações Unidas. É urgente que este seja adotado para salvar o povo iraquiano.

(Trad.: Jô Amado)

1 - Citado pelo International Herald Tribune, Paris, 26-27 de julho de 2003.
2 - Ler, de Dominique Vidal, “Uma cruzada em família”, Le Monde diplomatique, março de 2003.
3 - Citado pelo Washington Post, 25 de julho de 2003.
4 - Le Figaro, 7 de agosto de 2003.
5 - International Crisis Group, Bruxelas, site: www.crisisweb.org
6 - 14 de agosto de 2003.
7 - Ler a reportagem de Christophe Ayad sobre o bombardeio de Hilla no dia 1º de abril de 2003, Libération, 14 de agosto de 2003.
8 - Endereço do site: http://www.iraqbodycount.net/
9 - Ler The Washington Post, 31 de maio de 2003.
10 - Ler de Alain Gresh, “O Iraque pagará”, Le Monde diplomatique, outubro de 2000.
11 - Ler, de Abdulwahab Badrakhan, Al Hayat, Londres, 2 de agosto de 2003.
12 - Citado pelo jornal Slate, 5 de agosto de 2003.
13 - Informação dada pelo jornal Le Figaro, 14 de agosto de 2003.
14 - Ler, de Alain Gresh, “Crimes e mentiras de uma guerra de libertação”, Le Monde diplomatique, maio de 2003.
15 - Ler, por exemplo, o editorial de Jean Daniel na revista Le Nouvel Observateur, 3 de julho de 2003.




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