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DOSSIÊ ISLÃ / CHOQUE PROVOCADO

Quem instiga a violência

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Por seus atos e omissões, as potências ocidentais lançaram ao mundo árabe, nos últimos meses, um conjunto de desafios. Tem sentido lastimarem, agora, fatos como a vitória do Hamas?

Georges Corm - (01/03/2006)

Foi particularmente chocante ouvir os comentaristas denunciarem a vitória do Hamas nas eleições como algo capaz de paralisar um processo de paz... inexistente na região

É curioso que observadores políticos do mundo inteiro tenham ficado surpresos com o sucesso arrasador do Hamas nas eleições palestinas de janeiro de 2006. No entanto, com um pouco de bom senso, poderíamos muito bem descrever a gênese deste acontecimento como a crônica de uma vitória anunciada. O que acontece hoje no território palestino, ocupado por Israel desde 1967, é escândalo absoluto, se visto pela lente do direito internacional e dos princípios humanistas.

Enquanto os habitantes do Timor Oriental alcançaram sua independência da Indonésia, e a Bósnia e Kosovo realizaram ações de envergadura internacional para proteger as populações atingidas, os palestinos continuam a assistir a redução daquilo que lhes resta da terra "beliscada", ano após ano, pela extensão das colônias israelenses na Cisjordânia e, mais recentemente, pela construção ilegal de um muro destinado a criar uma enorme prisão coletiva para os habitantes deste território [1]. Na Faixa de Gaza, evacuada com grande pompa pelo exército israelense e cerca de oito mil colonos, a segurança continua sendo inexistente: as invasões aéreas israelenses ou os bombardeios fazem vítimas civis todos os dias.

Agora, ninguém mais ousa invocar o processo de paz iniciado em Madri, em outubro de 1991, ou os acordos de Oslo, firmados em 1993 entre a Organização pela Libertação da Palestina e o Estado de Israel. A mesma insolência leva a crer que há um "processo de paz" em andamento, formalizado por um "mapa da estrada" norte-americano, ratificado pela União Européia, as Nações Unidas e a Rússia, embora trate-se de um documento ultrapassado e esquecido. Foi particularmente chocante ouvir os comentaristas denunciarem a vitória do Hamas nas eleições como algo capaz de paralisar um processo de paz... inexistente na região.

Como esperar que o Hamas não ganhasse de lavada essas eleições? Neste jogo, já há muito tempo a Autoridade Palestina, dirigida principalmente pela Fatah, o mais importante componente histórico da OLP, tinha renunciado a todas as suas cartas e feito todas as concessões possíveis ao Estado de Israel e à comunidade internacional que o apóia. São exemplos disso o reconhecimento do Estado de Israel, sem que tenha havido o reconhecimento do direito dos palestinos a ter seu Estado; constituição que se tornou "caduca"; a renúncia à resistência armada contra a ocupação, e a aceitação da colonização a da sua extensão.

O Hamas vê sua popularidade ampliar-se à medida em que a política e o comportamento dos velhos dirigentes da OLP resulta em ainda mais miséria e opressão

Hamas, vitória anunciada

A retomada da Intifada em setembro de 2000, resultado de um impasse no qual a OLP acabou se envolvendo diante da intransigência de Israel, incentivou a reocupação da maior parte da Cisjordânia e de Gaza pelo exército israelense; a destruição da maior parte da infra-estrutura da Autoridade Palestina (financiada principalmente pela União Européia); a queda dramática do nível de vida, e a instalação de diversas barreiras militares, que tornaram o deslocamento de palestinos cada vez mais difícil no interior do que resta de seu território.

Abandonados à própria sorte, os palestinos viveram uma dupla evolução. De um lado, a burocracia da OLP, abrigada na ineficácia e corrupção que todos os governantes ocidentais denunciaram, e pela qual responsabilizaram totalmente seu chefe, Yasser Arafat, posto em quarentena política - e, frequentemente, também física - em seu quartel general de Ramallah. De outro, o Hamas, que continuava a luta armada levando-a até o coração das cidades israelenses, por meio de atentados suicidas. Eles faziam uma política de represálias desmedida contra os israelenses, causando numerosas vítimas entre a população civil, sobretudo em Gaza.

Yasser Arafat, e depois Mahmoud Abbas (Abou Mazen), que foi eleito após a morte de Arafat como presidente da Autoridade Palestina, são constantemente pressionados por Israel, pelos Estados Unidos e pela União Européia para "dar um jeito" no Hamas — e entenda-se que isso deve ser feito usando a força. As tensões entre o Fatah e o Hamas intensificam-se frequentemente. Militantes foram presos pela Autoridade Paulestina, mas os palestinos souberam, até aqui, evitar a guerra civil sangrenta desejada por Israel para poder por fim a toda forma de resistência armada.

O Hamas, cujo surgimento foi incentivado pelo Estado de Israel nos anos 80, para fazer contraponto aos movimentos laicos de resistência palestina, adquiriu ao longo dos anos experiência a partir da prática nos campos militar e social. O fracasso dos acordos de Oslo e da política de compromisso adotada pela OLP, sem contrapartida real de independência e fim das colônias de ocupação, facilitaram-lhe tarefa. Dotado de meios financeiros colocados a serviço da ajuda social e da luta armada contra a ocupação, o Hamas viu sua popularidade ampliar-se à medida em que a política e o comportamento dos velhos dirigentes da OLP resultava em ainda mais miséria e opressão. [2]

No Líbano, assim como na Palestina, os governos ocidentais construíram uma doutrina que não se dá conta das realidades locais e só agrava as tensões

Além disso, a vitória da resistência armada do Hezbollah libanês sobre o exército israelense - que se retirou do sul do Líbano sem contrapartida, em maio de 2000, depois de 20 anos de ocupação - também não deixou de sugerir ao Hamas, assim como a largas camadas da opinião palestina e árabe, que a luta armada é o único meio eficaz de fazer recuar a ocupação israelense.

Os dirigentes israelenses e seus apoiadores no mundo ocidental poderiam ter compreendido sem dificuldades que uma população isolada em uma situação de tamanha opressão, ao invés de responsabilizar o Hamas responsável pelas sangrentas represálias israelenses, iria, ao contrário, admirar e oferecer múltiplo apoio a esta organização. Só ficaram surpresos com a sua vitória os ingênuos, prisioneiros da retórica anti-terrorista vazia que invadiu o mundo da mídia e os diplomatas do ocidente. Essa retórica encobre a realidade — por exemplo, o sofrimento que a ocupação provoca. É de mal gosto descrevê-lo e dar-lhe destaque. Corre-se o risco de ser acusado de simpatizar com os terroristas.

Líbano e Irã: cegueira total

No sul do Líbano, ocupado continuamente por Israel de 1978 a 2000, o cenário era o mesmo, só que ainda mais caricatural. A milícia local, mobilizada por Israel, apresentou-se com freqüência para a mídia ocidental como defensora da independência do Líbano, contra os "terroristas" - primeiramente palestinos; depois, libaneses, do Hezbollah. Este último foi inscrito na lista das organizações terroristas organizada pelo governo estadunidense. No início de setembro de 2004, a resolução 1559 do Conselho de Segurança pediu seu desarmamento, assim como a presença de um pequeno exército libanês sub-equipado na fronteira com Israel.

Desde sua retirada (não total) do sul do Líbano, Israel continua a violar o espaço aéreo, marítimo e, às vezes, terrestre do país de maneira quase cotidiana. Mantém em suas prisões diversos resistentes libaneses veteranos e impede o governo de Beirute de explorar seus recursos hídricos no sul. Ainda assim, é o Hezbollah que continua sendo considerado pelos Estados Unidos e pela ONU uma fonte de desestabilização do Líbano e uma ameaça à segurança de Israel [3]. Mais que isso, o grupo é acusado frequentemente de ajudar o Hamas. Assim como na Palestina, a comunidade internacional construiu uma doutrina que não se dá conta das ralidades locais e só agrava as tensões.

Há alguns meses, em junho de 2005, a comunidade internacional caiu igualmente das nuvens, quando os iranianos elegeram, com laga maioria, o extremista Mahmoud Ahmadinejad, que fez seu rival, o antigo presidente Hachemi Rafsandjani, comer poeira. Rafsandjani era símbolo da corrupção que assolava o país, mas era considerado um moderado nos negócios internacionais. Aqui, a cegueira era total. No mandato de Mohammed Khatami, partidário convicto do diálogo entre civilizações, a política norte americana continuou a isolar Teerã política e economicamente. Além disso, incluiu o país no "eixo do mal" — com Iraque e a Coréia do Norte. Como esta última parece ter desaparecido para sempre das preocupações norte-americanas, o Irã ficou mais do que nunca na mira. Usando declarações incendiárias - e condenáveis - do novo presidente, Washington procura aumentar a pressão internacional sobre o país para obrigá-lo a abandonar a ambição de desenvolver qualquer forma de tecnologia nuclear.

O ataque permanente ao Irã e ao Hezbollah, assim como as pressões constantes sobre regime sírio, pela desestabilização do Líbano, só podem alimentar o "Islã político"

Ao mesmo tempo, em favor da resolução das Nações Unidas sobre o Líbano, após o assasinato espetacular e desestabilizante de Rafic Hariri, antigo primeiro ministro libanês, os Estados Unidos e a França passaram a usar intensamente a situação criada no Líbano para voltar a pressioanr Síria e Irã. O Hezbollah passou a não ser mais considerado como uma extensão dessa nova "frente de recusa" à politica ocidental na região. A denúncia permanente do Irã e do Hezbollah libanês, assim como as pressões constantes sobre regime sírio, pela desestabilização do Líbano, só podem alimentar a retórica anti-social no mundo árabe e muçulmano e jogar a favor do "Islã político" — seja moderado ou radical e jihadista.

Para completar este cenário sombrio, como não evocar os discursos memoráveis de GeorgeW. Bush? Usando como pretexto do crescimento espetacular do terrorismo no Iraque (desencadeado pela invasão estadunidense), e também pelos atentados contra Nova York, Madri e Londres, reivindicados por grupos islâmicos, Bush denuncia a tentativa de Osama Ben Laden de restaurar um califado islâmico, que teria o objetivo de escravizar o mundo civilizado [4].

De seu lado, o secretário geral das Nações Unidas produziu, em setembro de 2005 um documento de base para a reforma da organização que dirige, no qual avalia que o único perigo militar e político que ameaça a humanidade é o "terrorismo transnacional", que tenta se apropriar das armas de destruição em massa [5]. Trata-se, evidentemente, de endossar, sem a menor cerimônia ou nuance, a doutrina norte-americana, que faz do terrorismo islâmico o inimigo da humanidade.

Como armar a "guerra de civilizações"

Os partidários da teoria da guerra das civilizações só poderiam esfregar as mãos. Os grandes dirigentes políticos internacionais não só adotaram a sua ideologia, mas contribuem a fazer realizar sua profecia sinistra. O mundo civilizado, isto é, "judeu-cristão", para usar a nova terminologia que está na moda, encontra-se face a um dragão "islâmico", que pode contar com aliados temíveis (chineses ou russos) e que usa os meios mais perversos: o terrorismo. Amanhã, sem dúvida, lançará mão das armas de destruição em massa que os estados "do mal" poderão lhes fornecer.

Por seu lado, os diferentes movimentos jihadistas - nascidos e estimulados durante a Guerra Fria, quando serviram de bala de canhão contra o exército soviético no Afeganistão, nunca sonharam em ter tamanha publicidade, feita pelo presidente da maior potência mundial e pelas Nações Unidas. Para eles, que vêem no Ocidente um mundo de barbárie e injustiça contra o Islã e os muçulmanos, tudo parece sorrir. O exército norte-americano e os contingentes ocidentais que o apóiam atolam no Afeganistão e no Iraque, transformados em campo de batalha ideal para as "forças judeu-cristãs do mal", que agridem o mundo muçulmano e as "forças islâmicas do bem" — defensoras da integridade das sociedades muçulmanas face às agressões exteriores.

Nesta atmosfera irrespirável, surgem as caricaturas dinamarquesas idiotas, que enlameiam o profeta Maomé e lhe imputam a responsabilidade pelas ações terroristas

A injustiça permanente a que continuam submetidos os palestinos, a reprovação geral e o temor suscitado pela vitória do Hamas na Palestina, sem falar das ameaças de fome entre a população palestina, se houver um bloqueio israelense, jogam mais lenha na fogueira, assim como a prisão extra-territorial de Guantánamo ou as sevícias escandalosas a que são submetidos, pelo exército norte americano, os prisioneiros iraquianos em Al Ghraib.

Por isso, ninguém deve se surpreender por as eleições parlamentares egípcias terem resultado (em novembro e dezembro de 2005) na eleição de 80 membros do partido dos Irmãos Muçulmanos, o que confirma o novo avanço islamita que vive o mundo árabe. Se houver eleições livres na Síria amanhã, que poderá acontecer? As eleições iraquianas, a despeito da ocupação estadunidense (ou em conseqüência dela...) não marginalizaram os elementos liberais e laicos, em proveito dos conservadores religiosos, sunitas e xiitas?

É nesta atmosfera irrespirável que surgiu o caso das caricaturas dinamarquesas idiotas, que enlameiam o profeta Maomé e lhe imputam a responsabilidade pelas ações terroristas. A virulência das manifestações em todo o mundo muçulmano resultou de um acúmulo de frustrações e sentimento de injustiça. Na falta de poder libertar a Palestina e Golan Sírio e aliviar a dominação ocidental sobre o mundo árabe e muçulmano (Iraque, Afeganistão, Irã, Palestina encabeçam a lista de países), os fanáticos manifestaram sua cólera atacando representações diplomáticas dos paises onde circularam as provocativas caricaturas.

Esta reação islâmica exprime, em toda a parte, sentimentos nacionalistas que se afastaram há muito da linguagem laica dos anos de descolonização e terceiro-mundismo militante. Tal linguagem está, além de tudo, desmoronando no mundo todo nos últimos 30 anos. [6] A nova torrente irá crescer e se tornar uma avalanche que nada poderá deter? É exatamente isso que pensa Mahmud Darwich, o grande poeta palestino laico. Ele exprime este pensamento com vigor, em uma recente entrevista ao jornal Le Monde: "É simples assim: se houvesse eleições livres no mundo árabe-muçulmano, os islamistas triunfariam em todos os países. Trata-se de um mundo que vive mergulhado em um sentimento de injustiça, pelo qual responsabiliza o Ocidente. O Ocidente, por sua vez, responde com uma forma de ’integrismo’ imperial que reforça o sentimento de injustiça" [7].

Os governos árabes têm grande parte da responsabilidade pelo estado atual das coisas. Ignoram solenemente os sentimentos de sua opinião pública e cedem a todos os desejos dos EUA

Sob risco de abalos ainda maiores

Estamos às vésperas de abalos ainda maiores? A situação explosiva de hoje desembocará necessariamente em um acontecimento mais grave, que colocará mais lenha na fogueira? Esta é a pergunta de bom senso que podemos nos fazer, em particular diante do autismo ocidental de um lado e da paralisia dos dirigentes árabes de outro.

É possível que o mundo ocidental continue a ignorar a crueldade das realidades no Oriente Médio e seu absurdo? Que os palestinos continuem a ser vítimas da ocupação, da construção de um muro de separação e da extensão das colônias de ocupação na Cisjordânia, 38 anos depois da guerra árabe-israelense de 1967? Que uma potência democrática, os Estados Unidos, invada dois países soberanos, usando como pretexto a represália a um ato de violência cometido em seu território, por mais odioso que este ato seja? Que uma categoria conceitual única, "o terrorismo", agrupe aos olhos do mundo ocidental e das Nações Unidas movimentos e ações violentas tão diversas como a resistência à ocupação, os atentados de Nova Iorque, Madri e Londres e as dezenas de atentados que aconteceram quase sem interrupção desde 1995, nos países muçulmanos (Egito, Jordânia, Marrocos, Iemen, Arábia Saudita, Indonésia, Paquistão)?

É imaginável que não se recorra a métodos policiais clássicos, tais como os usados com sucesso para vencer terrorismo que reinou nos próprios países industrializados há 30 anos (Brigada Vermelha italiana, Grupo de Baader Meinhoff na Alemanha, Ação Direta francesa, Exército Vermelho japonês)? É legítimo empregar exércitos que se espalham sobre os quatro continentes, favorecendo a multiplicação de jovens candidatos a ações violentas e ao papel de mártires contra os ocupantes ilegítimos e, além disso, "infiéis"? É imaginável que a posse de armas de destruição em massa seja permitida aos países ocidentais, a Israel, à Índia e mesmo ao Paquistão (aliado dos Estados Unidos) e à Coréia do Norte - mas que todas as vezes que um país árabe ou muçulmano se aproxima de tal capacidade, isso provoque tensões insuportáveis?

Até quando será considerado de mau gosto refletir sobre a maneira pela qual se constitui o terreno geopolítico que incentiva a multiplicação dos jovens jihadistas? Ou mostrar compaixão e indignação pela sorte dos palestinos, quaisquer que sejam os argumentos anti-terroristas invocados pelo Estado de Israel, os Estados Unidos e uma União Européia cada vez mais alinhada com os governos desses países?

Os governos árabes têm grande parte da responsabilidade pelo estado atual das coisas. Eles ignoram solenemente os sentimentos de sua opinião pública e cedem a todos os desejos dos Estados Unidos, sem jamais obter contrapartida de uma resolução justa para a questão palestina - ou um tratamento equilibrado entre Israel e o mundo muçulmano, sobre as questões de armamento e desarmamento. A maneira como o governo norte-americano interfere nos negócios internos dos países da região e a arrogância com que se comporta [8], sem nenhuma reação dos representantes diplomáticos árabes, constitui um atentado à dignidade dos povos que se consideram tratados com desprezo em sua honra desde o tempo da colonização européia - e, além disso, desprezados em sua religião pelo caso das caricaturas. Para a estabilidade da região, seria muito melhor que os governos árabes impusessem resistência às pressões estadunidenses. Eles seriam mais respeitados pelas suas próprias populações e as eleições poderiam, portanto, tornar-se livres, sem que necessariamente os movimentos que se dizem do Islã conquistem todos os votos.

A política atual repete a adotada pelas potências européias no século 19. A pretexto de modernização e democracia, obtiveram do império otomano e monarquia persa cobertura para suas ambições coloniais

Uma nova versão da Guerra Fria

A política norte-americana e israelense parece contar com o cansaço da opinião pública árabe e com a divisão entre aqueles que querem continuar a resistir a estes dois países e os que, por razões diversas, gostariam de acelerar uma proposta capaz de promover, enfim, à paz na região — o que suporia a queda das ditaduras e o surgimento de um Estado de direito e da prosperidade econômica.

Esta divisão na opinião árabe vem se agravando consideravelmente desde a invasão do Iraque e a resolução 1559 do Conselho de Segurança, em setembro de 2004, que determinava o desarmamento do Hezbollah e dos campos palestinos no Líbano. O Líbano é, mais uma vez em sua história infeliz, a caixa de ressonância e o espaço de registro dessas contradições do mundo árabe. Na realidade, a região vem conhecendo uma nova versão da Guerra Fria, mas sem o parceiro soviético, desaparecido da cena.

Na verdade, é claro que uma "frente de negação" continua a existir no Oriente Médio. Seu centro de gravidade é o eixo Teerã-Damas e ela inclui os diferentes movimentos políticos que se dizem islamitas em sua variedade caleidoscópica e ideológica. O episódio das caricaturas reforço este campo, unindo os movimentos xiitas e sunitas na mesma rejeição das políticas ocidentais para a região. De fato, os movimentos islâmicos polarizam habilmente, através do discurso religioso, a reivindicação nacionalista no Irã e no mundo árabe.

Nesta nova Guerra Fria, os Estados Unidos e a União Européia empenham-se para reforçar a todo preço que são os "democratas", partidários de projetos de reforma política no mundo árabe e muçulmano, do fim da resistência às novas realidades da globalização da prioridade para a luta contra o terrorismo — sem distinção entre resistência às ocupações estrangeiras e ações violentas que visam desestabilizar capitais ocidentais e árabes ou muçulmanas.

Colóquios, seminários e congressos sobre as reformas políticas, a transparência e a governança multiplicam-se de maneira monótona e repetitiva, às vezes patrocinados por governos árabes interessados em mostrar sua "boa vontade" [9]. Estes eventos visam mobilizar a inteligência árabe em favor da paz e da democracia e fazer pressão sobre os governos árabes. No entanto, os limites destas ações são aparentes. Na realidade, esta política é uma réplica muito fiel da política das potências européias do século 19, quando sob o pretexto da modernização e da democratização, o Império Otomano e a Monarquia Persa serviram, também, de cobertura às ambições coloniais e ao despedaçamento dos territórios dessas duas entidades em pleno declínio.

O caldeirão balcânico, agitado pelas ambições coloniais das potências européias no século XIX, constituiu a faísca da I Guerra Mundial, que foi a origem da segunda. Hoje, somos expostos ao risco cada vez mais intenso de ver o caldeirão do Oriente Médio, e o crescimento surpreendente da ideologia das guerras entre civilizações prepararem dolorosas surpresas.

(Trad.: Sílvia Pedrosa)



[1] O parecer da Corte Internacional de Justiça de Haia, em 9 de julho de 2004, é uma condenação severa ao conjunto de práticas israelenses nos territórios ocupados em relação ao direito internacional. Tal parecer não foi traduzido em ações efetivas. Ler Willy Jackson, "Détruire ce mur illégal en Cisjordanie", Le Monde Diplomatique, novembro de 2004.

[2] Ler Hussein Agha e Robert Malley, "Palestina: poder quase sem fôlego", Le Monde Diplomatique-Brasil, janeiro de 2006.

[3] Ler "A crise libanesa num contexto regional turbulento", Le Monde Diplomatique-Brasil, abril 2005 e Alain Gresh, "O velho Líbano resiste à mudança", Le Monde Diplomatique-Brasil, junho de 2005.

[4] Ver em particular seu discurso na National Endowment for Democracy (Fundação Nacional para a Democracia) em Washington, em outubro de 2005, e os comentários sucitados, especialmente o artigo "Doing the 9/11 time warp again", do International Herald Tribune, em 8 e 9 de outobro de 2005.

[5] Ver em In Larger Freedom. Towards Development Security and Human Rights for All, doocumento A/59/2005 da Assembléia Geral das Nações Unidas, 21 de março de 2005.

[6] A este respeito, ver as análises feitas em La question religieuse au XXIè siècle. Géopolitique et crise de la post-modernité (A questão religiosa no século XXI. Geopolítica e a crise da pós-modernidade), La Découverte, Paris, 2006.

[7] Le Monde, 12 de fevereiro de 2006.

[8] Em particular, a célebre frase de Georges W. Bush qualificando Ariel Sharon como um "homem de paz"; mais recentemente, John Straw, ministro das Relações Exteriores da Inglaterra em visita oficial a Beirute, pediu que o Líbano rezasse por Ariel Sharon, esquecendo os massacres de Sabra e Chatila e as inúmeras vítimas da invasão israelense de 1982 conduzida pelo general Sharon.

[9] Apenas para o ano de 2004, contamos não menos do que cinco documentos solenes de reforma no mundo árabe: o Documento de Sana’a, de 10 de janeiro; o discurso do ministro das Relações Exteriores alemão, de 2 de fevereiro; o documento norte-americano de 13 de fevereiro, que serviu de base para o plano de ação da reforma do Oriente Médio da reunião do G8 em junho; o discurso do ministro das Relações Exteriores em 1º de março, e o documento de Alexandria de 13 de março.


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