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1956, ANO DE ENCRUZILHADAS

O século 20 foi decidido aqui

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Há cinqüenta anos, a União Soviética perdia, ao invadir a Hungria, a grande oportunidade de uma desestalinização controlada. Enquanto isso, os Estados Unidos abandonavam Inglaterra e Reino Unido no Egito, e aspiravam a se tornar os reguladores da ordem mundial

Roger Martelli - (06/10/2006)

Na noite de 23 de outubro de 1956, manifestantes e a polícia política de Budapeste trocaram tiros: foi o começo da revolução húngara [1] e o prenúncio de uma sangrenta intervenção soviética. Ao mesmo tempo, de 22 a 24 de outubro, a França, o Reino Unido e Israel prepararam, em Sèvres, o plano para uma intervenção militar no Egito. Budapeste e Suez... Uma crise ecoa a outra. Na manhã de 4 de novembro, o marechal Jukov lança uma operação para esmagar os insurgentes de Budapeste. Em 6 de novembro, as tropas anglo-francesas da "Operação Mosqueteiro" desembarcam em Port-Said. A 20 de novembro, as últimas chamas de resistência se apagam na Hungria; em 22 de novembro, não há mais tropas ocidentais no Egito. Budapeste chora lágrimas de sangue enquanto o riso tonitruante de Nasser ressoa no Cairo.

A grade de leitura clássica é simples: o ano de 1956 é uma pausa, um golpe gélido e brusco depois dos primeiros sinais de um degelo na guerra fria. Ele começou sob os auspícios de um abrandamento. Em 18 de abril, o número um soviético, Nikita Kruschev, desembarca em Londres; em 15 de maio, o premiê francês, Guy Mollet, e seu ministro de relações exteriores, Christian Pineau, fazem visita oficial a Moscou. Apenas cinco meses depois, os alto-falantes egípcios anunciariam à população do Cairo que "a terceira guerra mundial começou!"

Entretanto, nem tudo se resume à guerra fria. Quando o presidente soviético Nikolai Bulganin escreve aos poderes em batalha no Egito para ameaçá-los com "represálias maiciças", fica claro que o conflito que se desenrola não corresponde a arquétipos comuns. Especialmente porque os Estados Unidos decidiram não apoiar seus aliados franco-britânicos.

A tragédia húngara foi parte da desestalinização e da crise do Império Soviético. A partir de 1944, o modo de gestão social instalado na União Soviética em 1929, com a coletivização stalinista, espalhou-se por todo o Leste Europeu [2]. Depois da ruptura com a Iugoslávia do marechal Tito, em 1948, a margem de manobra concedida às "novas democracias" entre 1944 e 1947 – no momento em que o búlgaro Georgui Dimitrov evocava a possibilidade de "fazer a economia da ditadura do proletariado" - havia dado lugar à uniformidade das "democracias populares". O próprio Dimitrov explicara, em dezembro de 1948, que "o regime soviético e a democracia popular são duas formas de um único e idêntico sistema de governo (...) os dois têm como base a ditadura do proletariado [3]". A entrada na guerra fria conduziu à instalação de um tipo original de Império, em que a liderança se confunde com um sistema integrado de gestão de uma sociedade.

Kruschev, "abertura" pela metade

Em fevereiro de 1956, no 20o. Congresso do Partido Comunista soviético, Nikita Kruschev, em pronunciamento ao público, abre sem querer a caixa de Pandora: ele admite a diversidade das vias socialistas: em seu relatório final, dito "secreto", ele denuncia a universalização do uso do terror pela polícia. Os efeitos de seu propósito sobre o bloco do Leste são desiguais. A Albânia de Enver Hoxha atém-se a uma nostalgia stalinista assumida, enquanto a Bulgária usa o método clássico das revoluções para operar uma transição suave. Já a Tchecoslováquia e a Repúplica Democrática Alemã ignoram a carga crítica do "relatório secreto" e se lançam em direção a um "novo curso" econômico, permitindo algumas concessões à margem.

Em dois casos, Polônia e Hungria, o "abalo telúrico" [4] do 20o. Congresso traduziu-se numa crise global e violenta. As equipes dirigentes tiveram maior responsabilidade. Nem Boleslaw Bierut, na Polônia, nem Matyas Rakosi, na Hungria, aceitaram os sinais vindos da União Soviética com a morte de Stalin, na primavera de 1953. Na Hungria, a primeira tentativa de reforma de Imre Nagy, entre julho de 1953 e março de 1955, acabou naufragando, mesmo sendo a mais ambiciosa das manifestações que o Leste Europeu conheceu [5]. Tanto na Polônia quanto na Hungria, os poderes instalados impediram qualquer movimento.

Perfeitamente idênticas no início, as duas crises não terminam da mesma maneira. Na Polônia, Edward Ochab tem a coragem de passar o poder ao reformador Wladislaw Gomulka, antes que as tensões se transformassem em banho de sangue. Na Hungria, Imre Nagy assume o poder na noite de 23 de outubro, depois do sangue derramado e a primeira intervenção soviética. Enquanto a situação polonesa, até o fim de outubro, ficou nas mãos dos comunistas reformadores, ela sai do controle de seus homólogos húngaros, desbancados por um movimento que os tanques russos radicalizaram. Em Budapeste, dois homens encarnam esta contradição: Imre Nagy, reticente desde o início diante de um movimento que o perturba, acaba se ligando a ele até romper com Moscou e, por fim, aceitar o martírio; Janos Kadar, preso de 1951 a 1954, a princípio aliado de Nagy, desvencilha-se dele no começo de novembro e ajuda a garantir a segunda intervenção soviética.

Na Polônia e na Hungria, os soviéticos não reagiram de forma idêntica. Com um grupo dirigente dividido, Kruschev está numa posição delicada: ele soube conduzir seu golpe anti-stalinista em fevereiro, mas recuou em seguida, sucumbindo às pressões insistentes dos conservadores. A gestão das duas crises, no outono de 1956, é mais pragmática que estratégica ou ideológica. O Kremlin encara simultaneamente a conciliação e a força. É em último caso que Kruschev opta pela conciliação na Polônia, já que Gomulka decide respeitar as cláusulas do Pacto de Varsóvia. Por outro lado, o conflito foi resolvido à força em Budapeste porque Nagy quer denunciar o acorde de adesão da Hungria ao Pacto, assinado um ano antes. Kruschev: um homem, duas figuras [6]. Ele se prepara para a usar a força na Polônia, em 19 de outubro, e desiste dois dias depois. Ele ensaia uma retirada militar na Hungria, dia 30 de outubro, para voltar às armas no dia seguinte.

Quando Washington pensava a longo prazo

O caso Suez é mais clássico e complexo. Complexo por sobrepôr um desafio imperial simples – o controle do canal de Suez – ao conflito árabe-israelense, suspenso a duras penas na primavera de 1949. Mas o essencial, em 1956, é o retorno ao vasto movimento de descolonização. A gestão ocidental peca pela banalidade desesperadora: o que enxergar na política dos poderes ocidentais envolvidos, além da velha política assassina, utilizada habilmente pelo Estado judeu? A justificativa muda com dificuldade a partir do século 19: acabava o discurso em nome do dever "civilizador" em prol das "raças inferiores"; evoca-se em 1956, tanto em Londres quanto em Paris, a necessidade de lutar contra um "novo Hitler" [7].

O fator menos clássico resulta da dupla atitude dos Estados Unidos e da União Soviética. Washington está na origem da crise: a recusa norte-americana de financiar as obras da futura barragem de Assuan leva Nasser a nacionalizar a Companhia do Canal. Mas se os Estados Unidos se chocam contra o Rais, contrariando então a estratégia do Pacto de Bagdá, centrado no Iraque de Nouri Said e a Turquia "otanizada" desde 1952 [8], não é a lógica da guerra fria que dita a decisão. Eles seguiram, pelo contrário, a velha idéia americana segundo a qual o fim da era colonial é uma condição necessária para reequilibrar as relações entre as forças mundiais.

Em 1956, esse objetivo estratégico de longo prazo passa à frente dos desafios mais imediatos de um mundo bipolar. Washington prefere abandonar Londres e Paris diante de Moscou, mesmo a diplomacia americana sabendo que, por meio do armamento da Tchecoslováquia, o Egito se aproximaria perigosamente dos soviéticos. Teria a administração norte-americana entendido que a ameaça soviética de enviar uma expedição ao Oriente Médio era, em parte, um blefe? Talvez. O mais importante, todavia, é que os EUA sentiam que estava a ponto de se livrar da presença britânica naquela região do mundo. O movimento iniciado em 1946, por ocasião da primeira crise iraniana, que levou à eliminação do primeiro-ministro progressista Mohamed Mossadegh em 1953, fecha-se em Suez em dezembro de 1956.

Moscou joga sua carta árabe

Já a União Soviética encontra a ocasião de se apresentar, pela primeira vez, como um poder regulador, reintegrado ao jogo internacional. A URSS de Stalin atinha-se à barreira protetor do Leste Europeu e à preparação do enfrentamento decisivo com o "campo imperialista". Em 1954, Vyacheslav Molotov atém-se ainda à linha de confronto estabelecida no outono de 1947. Mas, em 1956, ele não tem mais nas mãos as rédeas da diplomacia soviética. A URSS de Kruschev quer assumir plenamente seu papel de segundo "gigante" [9].

Sem dúvida, o afundamento do sistema do Leste-Europeu e a expansão dos sistemas de aliança norte-americanos (Organização do Tratado do Sudeste Asiático em 1954, Pacto de Bagdá em 1955) levaram Kruschev a buscar em outros lugares as vias para uma retomada. Em 1955, ao mesmo tempo em que se reconcilia com Tito, dá início ao grande movimento da URSS em direção ao "Terceiro Mundo". Moscou aproxima-se da Índia, até então tratada como um simples brinquedo do Ocidente; aproveita o posto ocupado por seu aliado chinês em Bandung; e usa a seu favor o papel crescente do iugoslavo Tito no que se tornará o movimento dos "não-alinhados" [10]. Em 1956, com a crise de Suez, a União Soviética aplica dois golpes com o mesmo cajado: ela desvia a atenção mundial do drama de Budapeste e opera uma entrada espetacular no cenário do Oriente Médio, mesmo que seus primeiros contatos com Nasser, no início de 1956, tenham sido decepcionantes.

Christian Pineau relatará, em seus registros, que o chefe da diplomacia norte-americana, Foster Dulles, declararia a ele alguns anos mais tarde: "Em Suez, eu errei e você tinha razão" [11]. É verdade que a crise de Suez fez da URSS, até o começo dos anos 1970, um protagonista ativo. Mas a aproximação árabe-soviética é ao mesmo tempo real e frágil. Privada de uma verdadeira reflexão sobre a região, a URSS não superou as lacunas manifestadas na crise iraniana e turca de 1946. O velho sonho do grande poder continental, de findar seu isolamento marítimo, é reavivado em 1956, mas por pouco tempo.

Um ano que mudou a geopolítica mundial

E as conseqüências do outono de 1956? São conhecidas as mais imediatas: a consolidação de Nasser, do "socialismo" árabe e de um arabismo fundido a partir de uma referência anti-imperialista; o surgimento de Israel como um poder militar regional. Sabe-se também as mais indiretas: a passagem definitiva da França e do Reino Unido à condição de poderes subalternos, o distanciamento das esperanças de reforma no Leste Europeu, a emergência da URSS no Mediterrâneo e, concomitantemente, a preparação do terreno para a aproximação entre Estados Unidos e Israel – que não funcionou em 1956. E a conseqüência de maior impacto a longo prazo: a evolução divergente de três tipos de império.

1. O império colonial manifesta sua obsolescência. O fracasso franco-britânico aparece como a continuação direta de Bandung. Os grandes vencedores a curto prazo são os nacionalistas argelinos, legitimados internacionalmente pela vitória de Nasser. Em 1956, o mundo assiste "a transplantação da luta argelina para a causa islâmico-árabe" [12]. Querendo preservar seus interesses financeiros imediatos, os dois poderes europeus perderam seus impérios.

2. O império soviético se mantém, mas paga um preço por grandes contradições. As contestações do Leste são juguladas na superfície, mas legitimadas pelos episódios polonês e húngaro: a "revolução anti-totalitária" húngara anuncia a "Primavera de Praga". Além disso, 1956 é o ano em que emerge a alternativa chinesa. Para fazer frente ao deslocamento de seu bloco, Kruschev é obrigado a buscar uma aliança com Mao, depois de testar em vão uma aliança com Tito. Aparentemente, o gigante chinês não questiona a hegemonia da URSS sobre o bloco: na conferência internacional de novembro de 1957, Mao se apresenta como bom aluno dos soviéticos. Mas transformou-se em arauto dos conservadores, aqueles que consideram que o "oportunismo" continua sendo o "principal perigo". O espaço europeu da União Soviética está garantido, mas perde-se a oportunidade de uma desestalinização controlada: a falha final de Gorbatchev estava escrita em letras miúdas na de Kruschev.

3. O império norte-americano firma-se de maneira original. Em 1956, estendeu sua rede de alianças para todos os continentes. Até então, esta rede servira de modo defensivo, para conter a ameaça soviética. Em 1956, a lógica se altera: os Estados Unidos posicionam-se não como líderes de um bloco, mas como reguladores da ordem mundial. Neste ponto, a "doutrina Eisenhower" de dezembro de 1956, que segue a dupla crise do outono, tem valor premonitório: não teria ela prefigurado, à sua maneira, a "doutrina Bush"?

Vemos no ano de 1956 um momento atípico. Trata-se de uma crise do século 20, marcada por uma relação entre os poderes derivada da Segunda Guerra Mundial. Ela é também um presságio do nosso século 21 e sua "ordem-desordem" imperial. Mas são sempre os olhos do pós-golpe que reconhecem os sinais premonitórios...

Tradução: Silas Martí
silas.marti@revistaflan.com

> Leia também, nesta edição:

>> Um olhar radical sobre a revolução Heterodoxa e provocadora, “Socialismo ou Barbárie”, a revista de Castoriadis e Lefort, contesta a visão capitalista sobre o levante húngaro, e enxerga nos Conselhos a possibilidade de um socialismo que vai muito além da estatização das fábricas

>> Cronologia 1956 Em nove meses, uma sucessão de fatos que teria grande influência sobre as décadas seguintes



[1] Sobre o tema: "Um olhar radical sobre a revolução", Le Monde Diplomatique-Brasil, outubro de 2006

[2] Moshe Lewin, Le Siècle soviétique, Fayard-Le Monde diplomatique, Paris, 2003.

[3] Lily Marcou, Le Kominform, Presses de Science-Po, Paris, 1977.

[4] Giuseppe Boffa, "Le repercussioni internazionali del XX Congresso dei comunisti sovietici", Il XX Congresso del Pcus (collectif), Franco Angeli, Rome, 1988.

[5] François Fejtö, Budapest, l’insurrection, Complexe, Bruxelles, 1990 ; Csaba Bekes, Malcom Byrne, Janos Rainer (ed.), The 1956 Hungarian Revolution: A History in Documents, CEU Press, Budapest, 2003.

[6] William Taubman, Khrushchev. The Man and his Era, Free Press, Londres, 2003.

[7] Hugh Thomas, The Suez Affair, Penguin, 1970.

[8] Alain Gresh, Dominique Vidal, Les 100 clés du Proche-Orient, Hachette, Paris, 2006. Henry Laurens, Paix et guerre au Moyen-Orient, Armand Colin, Paris, 2005.

[9] Jacques Lévesque, L’URSS et sa politique internationale de Lénine à Gorbatchev, Armand Colin, 1987.

[10] Ler Jean Lacouture, "Bandung ou la fin de l’ère coloniale", Le Monde diplomatique, abril de 2005.

[11] Christian Pineau, 1956, Suez, Robert Laffont, Paris, 1976.

[12] Marc Ferro, Suez 1956. Naissance d’un tiers-monde, Complexe, Bruxelas, 2006.


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