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CONSTITUIÇÃO EUROPÉIA

A mídia em campanha

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Na França, diferente de outros países, o debate sobre o projeto constitucional esquenta, e já não se descarta uma vitória do “não” – para espanto da mídia, que joga tudo, em vão, na campanha em favor do texto liberal

Serge Halimi - (01/05/2005)

Para os papas do jornalismo, a “via parlamentar” para aprovar a Constituição teria sido menos difícil e mais vantajosa

É imprudente infantilizar pessoas adultas. Quando uma votação lhes dá a palavra, sua franqueza talvez possa até ser contagiosa. “Valéry Giscard d’Estaing cometeu um único erro: o de chamar o texto do tratado de ‘Constituição’”, observou, no jornal Le Figaro, Alain Minc, que atualmente apresenta o programa “Face à Alain Minc” no novo canal Direct 8. “Foi precisamente essa denominação que impediu uma ratificação por via parlamentar. O atual plebiscito é como uma ‘varíola’ antidemocrática que a França tivesse propagado por toda a Europa1.”

Para os papas do jornalismo, a “via parlamentar” teria sido menos difícil e mais vantajosa. Por que menos difícil? Porque, por ocasião da sessão do Congresso de 28 de fevereiro de 2005, em Versalhes, o projeto de lei constitucional que antecedia a ratificação do tratado europeu por via parlamentar foi aprovado por 91,7% dos votos, inclusive o do senador Serge Dassault, dono de boa parte dos jornais e revistas franceses. Por que vantajosa? Porque, uma vez arquivada a questão européia no sentido desejado, a imprensa teria podido prosseguir lançando artigos sobre as chances de Nicolas Sarkozy em 2007 e imaginando as peripécias que lhe colocariam como eventuais adversários Jacques Chirac, François Hollande ou Jack Lang. Desgraçadamente, um início de revolta popular obrigou a maioria dos dirigentes políticos a cerrarem fileiras, posando juntos, para defenderem com entusiasmo comum a “economia social de mercado”. E os pobres dos comentaristas são obrigados a examinar rápida e superficialmente um texto incompreensível que fala de moeda, de circulares, de serviços “de interesse econômico geral”... Pode ser sério, mas é tão chato...

Inversão de expectativas

Quando deveria responder “sim” com a mesma indiferença unânime dos parlamentares, o eleitor ameaça fazer o contrário

Ora, precisamente, chato é que não é. Este é, em parte, o problema. Quando os grandes meios de comunicação esperavam apatia, generalidades rapidamente empacotadas sob um clima de paz e do céu azul da Europa, o interesse foi despertado, o conhecimento tornou-se evidente e indócil: quando deveria responder “Sim” com a mesma indiferença unânime dos parlamentares, o eleitor ameaça fazer o contrário. Mas só pode ser por ignorância. “O plebiscito ocorre num momento em que a França está sonâmbula”, diz no canal LCI, desolado, Claude Imbert, fundador e editorialista da revista Le Point. “Teria sido mais prudente um sistema de democracia representativa. Imagine um rapaz que dá duro o dia inteiro numa fábrica ao lado de Nancy. Chega em casa já tarde, de noite. Eu até diria que ele teria vontade de tomar uma cerveja. Ele não vai compreender a Constituição em detalhes. Para que servem os Parlamentos2?”

E, principalmente, para que servem editorialistas que pensam como os parlamentares – mas numa proporção ainda mais maciça? Como ocorre freqüentemente, o concorrente de Claude Imbert na mídia partilhava de seus sentimentos. Aliás, o diretor-adjunto do Nouvel Observateur já o escrevera dezoito meses antes: “Será necessário submeter o projeto de Constituição européia aprovado na convenção Giscard a um plebiscito? No atual estado de coisas, minha resposta é ‘não’.” E Jacques Julliard ainda acrescentou: “O desejo de um plebiscito atende mais ao fantasma do contrato inaugural de Rousseau do que a uma autêntica necessidade democrática3.” Muitas vezes, na verdade, a democracia é menos útil do que um “debate” no canal LCI.

Apavorado com o “erro terrível que a França está às vésperas cometer”, Bernard Guetta, editorialista da France Inter, quase chegaria a “sacudir os defensores do ‘sim’ que estão dormitando em seus assentos4”. Mas, principalmente, ele não consegue compreender. Como é possível que o povo do Iluminismo, que dispõe, para assimilar o que está em pauta, de crônicas favoráveis ao “sim” de Alain Duhamel, de Dominique Reynié e de Alexandre Adler; das abordagens militantes a favor do “sim” de Stéphane Paoli, de Jean-Pierre Elkabbach e de Christine Ockrent; de programas políticos comandados por partidários do “sim” na rádio France Inter (“Feux croisés”), no canal LCI (“Ferry/Julliard”) e na rádio France Culture (“La rumeur du monde”); de editoriais favoráveis ao “sim” no jornal Libération, nas revistas Paris Match e Alternatives économiques, mas também nas publicações Charlie Hebdo, Le Figaro e Inrockuptibles; das interpretações do texto constitucional, tendenciosas em favor do “sim”, da emissora France 3 (“Pour un Oui, pour un Non”), do jornal Le Monde (Henri de Bresson) e do canal de televisão Arte – como ousaria esse povo, apesar de tudo isso, responder “não”? Como conceber uma tal incapacidade de repetir uma lição que lhe foi cem vezes ministrada?

Reação crescente

Os partidários do “não” crescem com a mobilização e as conversas ao pé do ouvido, ampliadas pela Internet

A explicação de Bernard Guetta, cronista na France Inter, na revista L’Express e no jornal Le Temps, de Genebra, esclareceu, com tristeza, a futilidade de toda essa fastidiosa repetição diária, inclusive a sua: “A mobilização, as conversas que se fazem ao pé do ouvido, ampliadas pela Internet, por seus chats, seus blogs e suas meticulosas e falsas análises do projeto que aí podem ser encontradas em abundância. Um radicalismo pré-político do tipo norte-americano que encontra a velha tradição revolucionária francesa. Sente-se, no ar, algo de maio de 68, ainda com mais ódio5.”

O ódio contra a razão... Ousando um pouco mais, seria possível identificar outro gênio do mal. O grupo de 83 jovens que enfrentou o presidente da República no último dia 14 de abril, num programa da TF1, fica devendo de longe às hilariantes crônicas dos cabotinos do jornalismo, com complôs imaginários e as “falsas análises” da Internet. Para os 83, o exame de suas condições de existência contribuiu com instrução cívica. Afinal, o que conheceram eles além dessa “Europa social” que lhes anunciavam já há treze anos, na esteira do Tratado de Maastricht6, e que continuam lhes prometendo? O único inconveniente é o de avaliar o valor de seu compromisso no despertar de suas vidas de estudante, de desempregado, de trabalhador. Sentem-se frágeis e ameaçados e são convocados para um novo esforço de adaptação. Mas nunca parecem dignos das “reformas” que lhes são destinadas, nunca suficientemente sutis para os comentários sábios que lhes impingem, nunca à altura do destino europeu “altamente competitivo” que se imaginou para eles. Então, trata-se de submetê-los a uma nova rodada de explicações, de “pedagogia”. E depois, mais outra.

Recentemente, foi a vez de um jornalista do Nouvel Observateur os repreender na televisão: “Infelizmente, acho que é necessário dizer-lhes: ‘Sim, os problemas sociais, o confortozinho pessoal de vocês terá que passar para segundo plano7.” E seus anfitriões compartilham, alarmados, de seus “medos” da opinião pública, da “irracionalidade” de “cidadãos furiosos”, do “eterno padrão tradicional gaulês do mau humor e da rabugice”. Quando o presidente da República desabafou “Eu não os compreendo”, ele falava um pouco em nome de todos aqueles que, como ele, sentem “no ar” algo de incompreensível.

Um poder ameaçado

Um revés na frente européia romperia a confiança que a mídia tem de seu poder e estaria demonstrado que é possível vencê-la

Nas redações, um “não” soaria como uma catástrofe, não tanto devido à cantilena de justificativas insistentemente repetidas (perda de divisas fiscais do tratado, isolamento da França, impotência da Europa etc.), as quais decorrem principalmente da parafernália da propaganda comum. O mais importante é que uma rejeição do tratado confirmaria a perda de impacto dos raciocínios editoriais de uma confraria inundada de pretensão e que nada aprecia tanto quanto o convívio com os Grandes e os Inteligentes. Note-se que os jornalistas deixariam de ser admirados se continuassem pensando ser influentes e temíveis. Ora, somando-se à derrota da candidatura (lançada pelos grandes meios de comunicação) de Edouard Balladur à eleição presidencial de 1995 e à popularidade da maioria dos movimentos sociais de 1995, um revés na frente européia romperia a confiança que a mídia tem de seu poder8. E sugeriria que, após lhe haver concedido tudo – muitas vezes, por covardia – também é possível juntar forças e vencê-la.

Para a mídia, uma derrota do projeto constitucional também seria perigosa devido à identidade dos que se opõem a ele. Longe de constituírem uma bancada de celebridades de cujo viveiro se pode pescar graças aos serviços de Jack Lang, exibindo os troféus num aquário cintilante por ocasião de cada consulta eleitoral9, os adversários do tratado são, muitas vezes, militantes “comuns” que leram um projeto que não existe. Organizam reuniões, distribuem panfletos, colam cartazes. E mantêm relações distantes, e até hostis, para com os meios de comunicação. Isso, como se sabe, não é muito democrático...

Numa avaliação dos convidados aos programas de maior audiência nacional, a tendência favorável ao “sim” é esmagadora, evidentemente. Mas não o é unicamente pelo desejo de ser parcial. Os jornalistas-vedetes convidam principalmente outras “vedetes” que conhecem e a quem, às vezes, tratam por “tu10”. Para quem distribui a palavra, a notícia é, antes de tudo, o que é esculpido pelos dirigentes políticos e pelas velhas raposas da política – todos eles, pelo menos tão unânimes em relação ao “sim” quanto os parlamentares convocados a Versalhes. Tanto faz se entrevistam um ministro, um artista famoso, um industrial, um professor de ciência política ou um candidato “com alguma chance” à próxima eleição presidencial: inevitavelmente, os jornalistas tropeçam, quase por unanimidade, em defensores do “sim”. Resumindo, mesmo que Jean-Pierre Elkabbach, Stéphane Paoli ou Christine Ockrent se impusessem um esforço de imparcialidade, como exigir deles que ali se mantenham por tempo indefinido? “Eu sou a favor do ‘sim’. Não deveria dizê-lo, mas sou a favor do ‘sim’. Mas sou objetivo!”, foi a frase que soltou, no último dia 8 de fevereiro, o apresentador da rádio Europe 111.

Campanha esmagadora

Todos os caminhos da mídia levam ao “sim”: nas coberturas jornalísticas, nos programas de entrevista, no rádio...

Todos os caminhos levam ao “sim”. Roma enterra o papa? Convidado a comentar a cerimônia, o prefeito Walter Veltroni não poderia deixar escapar a oportunidade de dizer a Jean-Pierre Elkabbach (que o incentivou) que “espero que a França confirme sua vocação européia” (7 de abril). Bertrand Delanoë, prefeito socialista de Paris, não conseguiria evitar uma pergunta sobre a escolha certa no próximo dia 29 de maio: “A França está mobilizada e entusiasmada com os Jogos Olímpicos de Paris, em 2012 – e talvez a própria Europa, se é que estou certo.” Estava... (22 de março). O grupo Caisse d’épargne12 veicula um anúncio sobre a remuneração das contas correntes? Talvez para agradecer ao jornalista que o convidou a debitar seu clip gratuitamente, Charles Milaud, chefão da empresa, sugere que devemos à Europa nossa próxima felicidade de depositantes (14 de abril). O ministro da Educação, François Fillon, é convidado a comentar as manifestações estudantis? Não sairia do estúdio sem uma resposta à seguinte pergunta: “No fundo, como convencer os franceses que votar ‘sim’ significa introduzir o azul-branco-vermelho no azul estrelado da Europa de 2010? Como? 13” (25 de março). Pairam dúvidas sobre a possibilidade de Jean-Pierre Elkabbach ter solicitado alguns conselhos naquela manhã.

É claro que os truques mais grosseiros conservam seus atrativos: um presidente da Comissão Européia proibido pelo palácio presidencial de aparecer na televisão; uma foto de Jean Jaurès adulterada pelo Partido Socialista; um pedido em favor do “sim” enviado a todos os eleitores e disfarçado como uma exposição de motivos do tratado; um “livreto pedagógico” construído por militantes defensores do tratado; um membro do Conselho Constitucional que, lixando-se para seu dever de abstenção, está em plena campanha; um aumento perceptível nas tarifas de eletricidade etc.

Porém, o que prevalece daqui em diante é o instrumento da agenda, do filtro, da triagem. Para compreender isso, basta observar Dominique Reynié, professor de Ciência Política, que, com uma paciência de santo, desfila, três vezes por dia, sua “crônica pedagógica” no canal i-télévision. O que vai bem, deve-se à Europa; o que vai mal, à ausência de Constituição. Avanços na paridade das Assembléias? Direitos dos assalariados? Renúncia de um ministro demasiado pródigo com verbas públicas? Deve-se à Europa, é claro! Uma circular em discussão? Uma diplomacia alinhada à dos Estados Unidos? A mudança das empresas para outros países? Deve-se à ausência de Constituição, naturalmente! Nesse jogo, Reynié mereceria um Oscar.

Debate sem contraditório

“Estamos longe de um debate esclarecido e democrático; estamos mais próximos da injúria e dos exageros verbais”

Foram muitos os que criticaram Henri Emmanuelli quando ele aproximou a bancada atualmente minoritária do Partido Socialista dos ex-adversários do marechal Pétain: “Estamos longe de um debate esclarecido e democrático; estamos mais próximos da injúria e dos exageros verbais” (Dominique Reynié, i-télévision, 14 de março). Porém, mostraram-se menos “chocados” quando, dirigindo-se aos adversários do tratado, Martine Aubry os censurou por “um populismo que levou a Itália de outros tempos ao que todos conhecemos”. Seria Mussolini muito menos grave do que Pétain? Outra assimetria: uma frente comum européia contra a nomeação de Paul Wolfowitz, por George W. Bush, para a presidência do Banco Mundial, teria unificado os comentaristas partidários do “sm” e provado que a União Européia tinha condições de “resistir aos Estados Unidos”. Nada disso ocorreu: e passou-se, portanto, a outro assunto.

No último dia 11 de abril, a rádio France Inter convidou dois especialistas a falarem sobre a Alemanha. O primeiro, Stefan Collignon, tinha acabado de assinar uma convocação a votar “sm”. O segundo, Daniel Cohn-Bendit, fazia, de há muito, campanha no mesmo sentido, com aquela discrição televisiva que tanto apreciam em sua terra. O que poderia acontecer? “Se disserem ‘não’ a esta Constituição, imobilizam a França e a Alemanha”, mandou o veterano de maio de 68. “O ‘não’ não contribuiu com solução alguma para os problemas da França, nem para os da Alemanha, nem para os da Europa”, retrucou, de imediato, Collignon. A briga ficou tão feia que Stéphane Paoli teve que intervir, isto é... tentar evitar o envio de uma nova onda de mensagens irritadas para a emissora e para sua caixa de correio eletrônico: “Alguns ouvintes irão pensar que a France Inter, definitivamente (sic), faz campanha pelo ‘sim’. Só gostaria de lembrar [...] que o debate na França deixa os alemães perplexos, pois eles nem compreendem que possa existir [...]. Mas seus esclarecimentos talvez devolvam o equilíbrio em um instante.”

Dessa forma, os ouvintes herdaram a responsabilidade de reequilibrar um debate cuja própria existência aparentemente deixa “perplexos” seus participantes. E eles esperam, impacientes, que se adivinhe o roteiro das capitais européias e a opinião de especialistas, ministros e jogadores de futebol – belgas, italianos, bálticos, luxemburgueses... – que, um a um, irão defender o tratado. É mais ou menos o que faz, na France Inter, Stéphane Paoli, que entrevista Bernard Guetta, que dá lugar a Pierre Le Marc, que dá lugar a Jean-Marc Sylvestre. Isso porque nenhum desses cronistas manifesta uma posição contrária. A diretora da France Culture, por sua vez, assinou explicitamente a convocação em favor do “sim”.

Parcialidade grotesca

Dirigentes favoráveis ao projeto constitucional alarmaram-se com a possibilidade de uma parcialidade excessivamente visível

Dirigentes políticos favoráveis ao projeto constitucional alarmaram-se com a possibilidade de uma parcialidade excessivamente visível, o que poderia pôr em risco a causa comum. Ainda em outubro de 2004, Nicolas Sarkozy repreendeu um Bernard Guetta já em plena cruzada federalista contra uma França “pusilânime” e “voltada para si mesma”. “Sinto muito”, disse-lhe, na época, o ministro da Economia, “mas ninguém é obrigado a dizer ‘sim’ a tudo. As coisas não se podem resumir a uma opção binária: de um lado, os que têm medo e do outro, os que são inteligentes e generosos. Isso porque, nesse caso, nunca houve debate14 .” Alguns meses depois, respondendo a jornalistas do Monde e dos canais de televisão LCI e RTL, seu efêmero sucessor no Ministério, Hervé Gaymard, advertiu contra os “euro-idólatras beatos que dizem que a Europa é uma terra em que fluem o leite e o mel” e recomendou a todo mundo que não fosse repetido “o que foi feito por ocasião de Maastricht, pois foi absolutamente grotesco15 ”.

Por fim, no dia 1º de março de 2005, François Bayrou, presidente da UDF, passou um sermão em Christine Ockrent e Serge July no canal France 3: “Eu gostaria – e vocês têm tanta responsabilidade quanto os dirigentes políticos – que não se pensasse que há uma França dos poderosos que se puseram todos de acordo e não levam a sério os argumentos que manifestam alguns franceses16 .” Foram palavras ao vento.

Os meios de comunicação sempre pretenderam ser “pedagógicos”. E tornaram a sê-lo. Mas não do jeito que imaginavam.

(Trad.: Jô Amado)

1 - Le Figaro, 11 de abril de 2005.
2 - Programa “Imbert/Julliard”, canal LCI, 15 de abril de 2005.
3 - Le Nouvel Observateur, 23 de outubro de 2003.
4 - France Inter, 18 de março de 2005, e L’Express, 21 de março de 2005.
5 - Ler, de Bernard Guetta, “Mai 68, la haine en plus”, Le Temps, Genebra, 16 de abril de 2005.
6 - “A União Européia significará mais empregos, mais proteção social e menos exclusão”, prometeu, por exemplo, Martine Aubry em Béthune, no dia 12 de setembro de 1992 (citada pela revista PLPL nº 23).
7 - Serge Raffy, i-télévision, 29 de março de 2005.
8 - Ler “Combats pour les médias”, Manière de Voir nº 80.
9 - Observa-se uma certa coincidência entre os signatários da lista de apoio ao Tratado de Maastricht (1992), de apoio à candidatura de Lionel Jospin (2002) e, em março de 2005, de apoio ao atual projeto de Constituição (Alain Touraine, Bernard-Henri Lévy, Alain Decaux, Philippe Sollers, Jean Peyrelevade, Jacques Attali...). Considerando a média de idade avançada dos signatários, o decalque se torna mais evidente se analisarmos somente as duas últimas iniciativas de Jack Lang.
10 - “É verdade que trato Sarko (Nicolas Sarkozy, ex-ministro da Justiça e atual ministro da Economia) por tu e, aliás, ele trata todo mundo por tu. E daí? Isso não impede que eu o xingue”, revelou Laurent Joffrin, diretor de redação do Nouvel Observateur.
11 - Algumas semanas após essa corajosa confissão, Jean-Pierre Elkabbach recebeu das mãos de Arnaud Lagardère, de forma totalmente inesperada, a direção da estação de rádio e herdou um assento na diretoria administrativa da Lagardère Active Broadcast.
12 - N.T.: Cadernetas de poupança.
13 - Azul, branco e vermelho são as cores da bandeira francesa; a bandeira da União Européia é azul, com estrelas.
14 - France Inter, 13 de outubro de 2004.
15 - Programa “Le Grand jury”, RTL-LCI, 13 de fevereiro de 2005.
16 - Programa “France Europe Express”, canal France 3, 1º de março de 2005.




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