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DOSSIÊ ISLÃ

Viagem ao interior das madrassas

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Centros do pensamento islâmico fundamentalista e únicas escolas acessíveis aos pobres, em muitos países, elas são vistas com freqüência, no Ocidente, como "escolas de terror". É uma visão preconceituosa

William Dalrymple - (01/03/2006)

O rosto do diretor se ilumina: "Nosso trabalho é propagar a ideologia islâmica. Fornecemos grátis instrução, roupas e livros. Podemos hospedar. Somos os únicos a educar os pobres"

Próximo ao rio Indo, acima de Akora Khattack, na Província Fronteiriça do Noroeste paquistanês, perto da estrada de Islamabad com seu zumbido de caminhões, encontra-se a Haqqania, uma das mais radicais escolas religiosas conhecidas como "madrassas". Vários chefes talibãs, inclusive o próprio mulá Omar, foram formados por essa instituição. Ela foi acusada de ter inspirado a versão brutal e ultra-conservadora da lei islâmica colocada em prática pelo regime talibã no Afeganistão. No entanto, nada aqui faz pensar que a Haqqania teria vergonha de seus antigos alunos. Pelo contrário: o diretor da madrassa, Maulana Sami ul-Haq, diz com orgulho: no dia em que os talibãs novamente convocarem combatentes, ele fechará a madrassa e enviará todos os seus alunos para o exército. O nome Akora Khattack encarna, de várias maneiras, tudo o que os comandantes norte-americanos mais temem e detestam nessa região, bastião de uma resistência religiosa, intelectual e às vezes militar contra a Pax Americana.

Ao longo do Indo agita-se um poderoso redemoinho. À sombra das sólidas muralhas da fortaleza de Attock, que até recentemente protegia a Índia contra as invasões afegãs, a estrada é cercada por choupanas. Ao longe, como o dorso dentado de um dragão, alinham-se as colinas de Margall; ao lado, um cemitério, onde as bandeirolas que ornamentam cada tumba agitam-se ao vento. Há alguns quilômetros do rio encontra-se uma fileira de prédios deteriorados de concreto, versões modernas da arquitetura mongol. Roupas secam sobre os telhados e nas varandas dessas torres-dormitório, na rua principal, os estudantes passam apressados. Todos são homens, todos usam turbante e barba espessa.

Para alguém que normalmente é tido como um verdadeiro ícone do ódio contra o ocidente, Maulana Sami revela-se um homem espantosamente vivo e alegre. Ele usa um fraque azul de corte vitoriano e sua barba cuidadosamente aparada parece pintada à hena. O rosto de traços bem talhados, o nariz protuberante e os olhos cercados de rugas risonhas. Em seu escritório, ele apresenta sua filhinha de dois anos, que brinca tranqüilamente com uma bexiga. Poucos sinais de que Haqqania teria sofrido as medidas repressivas que o presidente Pervez Musharraf declarou querer tomar contra os centros de radicalismo islâmico. O rosto de meu interlocutor se ilumina: "Isso é para americano ver", diverte-se, rindo francamente. "Não passam de declarações à imprensa. Não aconteceu nada."

Os sauditas já destinam um milhão de dólares por ano apenas para a construção de novas madrassas na Tanzânia. No Mali, elas já acolhem 25% das crianças escolarizadas

Desavenças "para americano ver"

Ele não considera a atmosfera irrespirável nesse momento? "Pelo contrário: agora nós estamos mais fortes. Bush acordou todo o Islã. Somos gratos a ele." Seu sorriso se alarga. "Nosso trabalho é propagar a ideologia islâmica. Fornecemos gratuitamente instrução, roupas e livros. Podemos inclusive hospedar pessoas. Somos os únicos a educar os pobres."

Maulana Sami faz uma pausa e seu sorriso se esvai. "A pessoas estão desesperadas, elas estão cansadas dos velhos costumes do Paquistão, dos partidos laicos e do exército. Há muita corrupção. Musharraf apenas combate os mussulmanos e diz amém a tudo o que os ocidentais querem. Ele não se interessa pelo povo. Enquanto hoje todos procuram respostas islâmicas - e nós podemos ajudar a encontrá-las. Apenas nosso sistema ialâmico pode trazer a justiça."

Para o melhor e para o pior, a evolução das atitudes políticas que Maulama Sami observa a partir da madrassa de Akora Khattack está se reproduzindo por todo o Paquistão. Um estudo do ministério do interior, realizado depois do 11 de setembro, revelou que existem 27 vezes mais madrassas no país do que em 1947. Na época da independência, existiam 245; em 2001, esse número cresceu para 6 870 [1]. E uma parte significativa delas é dirigida ou ligada a uma união de partidos islamistas batizada como Aliança para a Ação Muttahida Majlis-e-Amal (MMM), a qual, sob a vice-presidência de Sami, acaba de impor um regime do tipo Taleban na Provícia Fronteiriça do Noroeste. Proibiu a música em público e qualquer representação da figura humana. Por bizarro que pareça, a única exceção à regra é a imagem do "Coronel Sanders", no outdoor do Kentucky Fried Chicken, em Peshawar. Dizem que a barba do coronel é considerada convenientemente islâmica, o que o permitiu de escapar à iconoclastia, que se espalha por todos os cantos.

Os partidos islâmicos conhecem os benefícios que podem obter do controle desses locais de instrução. Não se intimidam. A sede do Jamaat-e-Islami em Lahore, por exemplo, também se apresenta como uma madrassa, onde 200 estudantes aprendem o Corão por meio de uma pedagogia de orientação claramente política. Um porta-voz do partido foi bastate explícito: "A transformação política conduzida por nossa madrassa está em vias de mudar radicalmente o futuro do Paquistão. Entre os recentes sucessos eleitorais dos partidos islâmicos e o trabalho que desenvolvemos na nossa madrassa, a ligação é estreita."

A catequização de pobres-coitados não tem nada a ver com a formação de terroristas capazes de operar modernas tecnologias, como os da Al-Qaida

Através de todo o Paquistão, o discurso dos credos religiosos conseqüentemente se radicalizou. A variamte barelvi do islã, tolerante, influenciada pelo sufismo, está bastante fora de moda, largamente ultrapassada pelo crescimento súbito de reformismos mais radicais, mais politizados: as correntes deobandi, wahhabita e salafista.

A multiplicação rápida dessas madrassas começou nos anos 80, sob a égide do general Zia ul-Haq [2], no contexto da jihad afegã, e foi financiada principalmente pelos sauditas. Se muitas das madrassas criadas nessa época não passavam de um cômodo ligado à mesquita de uma vila, outras tornaram-se instituições bastante desenvolvidas: o Dar ul-Uloom, no Baluquistão, por exemplo, acolhe atualmente 1 500 rapazes em internato e outros 1 000 externos. Ao todo, existem 800 mil estudantes nas madrassas paquistanesas: todo um sistema educativo islâmico, livre e gratuito, que concorre com um setor público moribundo.

No Paquistão, o orçamento para o ensino público não passa de 1,8% do PNB. Por isso, 15% das escolas não possuem prédios adequados, 40% não têm água corrente e 71% não têm eletricidade. O absenteísmo é comum entre o corpo docente e na verdade muitas dessas escolas exitem apenas no papel. Em 2004, quando Imran Khan, antigo capitão da equipe nacional de críquete, entrou na política e pesquisou sobre as escolas públicas do seu departamento, descobriu que um quinto das inscritas nos registros não existiam; e 70% estavam quase sempre fechadas.

Em todo o mundo muçulmano

O atraso do Paquistão em relação à Índia em matéria de educação é espetacular: na Índia, 65% da população é alfabetizada e a porcentagem aumenta a cada ano. No Paquistão, o índice de alfabetização não passa de 42% e essa proporção está diminuindo. Em lugar de investir na educação, o governo militar equipa a aeronáutica com uma nova geração de aviões F16. A quase-falência da educação nacional significa que, para uma grande parte da população, a única esperança de melhorar seu futuro é enviar suas crianças às madrassas, onde estarão seguros de receber alguma educação - sem dúvida, severamente tradicional; mas totalmente gratuita.

A amostra da Marc Sageman revela: o terrorismo islâmico, assim como o terrorismo judeu e cristão que o precederam, é essencialmente uma atividade de burgueses

A hegemonia das madrassas sobre o sistema educacional paquistanês é sem dúvida única, mas a tendência é a mesma em todo o mundo muçulmano. No Egito, o número de institutos de educação que dependem da universidade de Al-Azhar, no Cairo, passou de 1.855, em 1986, a 4.314, dez anos mais tarde. Os sauditas aumentaram o financiamento e já destinam um milhão de dólares por ano apenas para a construção de novas madrassas na Tanzânia, por exemplo. No Mali, as madrassas já acolhem 25% das crianças escolarizadas.

Visto dentro desse contexto mais amplo, Maulana Sami e suas madrassas levantam muitas questões importantes. Até que ponto elas estão na origem dos problemas que levaram ao 11 de setembro? Elas são algo mais do que fábricas de fazer terroristas? O ocidente não deveria pressionar os Estados clientes dos Estados Unidos (Paquistão e Egito), para que simplesmente as fechem?

No clima de pânico que se seguiu aos ataques islâmicos contra os Estados Unidos, a resposta a essas questões parecia evidente. O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, e o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, não compartilhavam da mesma visão em matéria de política estrangeira, mas concordavam sobre a ameaça as madrassas supostamente constituíam. Em 2003, Rumsfeld colocou a questão da seguinte maneira: "Nós estamos de fato capturando, matando, neutralizando ou dissuadindo cada vez mais islamistas que as madrassas e os radicais eclesiásticos recrutam, treinam e lançam contra nós?" Um ano mais tarde, Colin Powell concluía que as madrassas eram viveiros "de fundamentalistas e de terroristas".

No entanto, a ligação entre as madrassas e o terrorismo internacional pode ser tudo, menos simples. Novos estudos, recém-surgidos, colocam em dúvida a teoria freqüentemente reproduzida, mas intelectualmente contestável, segundo a qual as madrassas seriam centros de treinamento da Al-Qaida. É certo que muitas madrassas são fundamentalistas e literalistas, em sua abordagem das santas escrituras; e várias delas aderem às correntes de pensamento mais radicais do pensamento islâmico. Pouquíssimas são as que preparam seus alunos para atuar em uma sociedade moderna e pluralista. É igualmente verdadeiro que certas madrassas podem estar diretamente ligadas ao radicalismo islâmico e a explosões ocasionais de violência. Da mesma forma que existem yeshivás e colônias na Cisjordânia conhecidas por sua violência contra os palestinos, e monastérios na Sérvia que abrigaram criminosos de guerra, estima-se que até 15% das madrassas do Paquistão exaltam uma jihad violenta e algumas delas fornecem treinamento militar clandestino. Estudantes de madrassas tomaram partido na jihad no Afeganistão e na Cachemira e estiveram evolvidos várias vezes em casos de violência, principalmente contra os xiitas, minoritários em Karachi.

No entanto, a fabricação de carne de canhão para os Talebans e a catequização de pobres-coitados de seitas locais não têm nada a ver com a formação de terroristas experientes em modernas tecnologias como os da Al-Qaida, que executaram os ataques tão sofisticados quanto horríveis contra o destróier U.S.S. Cole, as embaixadas norte-americanas na África do Leste, o World Trade Center ou o metrô de Londres. Muitos estudos recentes ressaltam a necessidade de distinguir entre os diplomados das madrassas - normalmente camponeses devotos vindos dos lugares mais pobres e pouco ao par de questões técnicas - e o tipo cosmopolita, de classe média, que planeja as operações da Al-Qaida pelo mundo.

Bin Ladem despreza a abordagem jurídica dos teólogos das madrassas. Considera seu próprio islamismo violento muito melhor, para resolver os problemas do mundo muçulmano

Perfil oposto ao dos homens de Bin Laden

Descobriu-se que a maioria desses homens têm antecedentes laicos e tecnológicos. Nem Osama Bin Laden, nem nenhum dos homens que perpetraram os ataques contra os Estados Unidos ou a Grã Bretanha, eram formados pelas madrassas, nenhum foi qualificado pelo clero. Os homens que planejaram e executaram os ataques do 11 de setembro foram freqüentemente tratados pela imprensa anglo-saxã como "fanáticos medievais". Seria mais justo os denominar como profissionais altamente educados mas politicamente confusos. Mohammed Atta era arquiteto; Ayman al-Zawahiri, o Chefe de Estado Maior de Bin Laden, era cirurgião pediatra; Ziad Jarrah, um dos fundadores da "célula de Hamburgo", era estudante de odontologia antes de se especializar na contrução aeronáutica; Omar Cheikh, autor do sequestro de Daniel Pearl, era formado pela London School of Economics.

Isto é o que ressalta, por exemplo, a análise mais sutil do jihadismo transnacional publicado esse ano, Understanding Terrorist Networks de um antigo agente da CIA, Marc Sageman [3] . Ele estudou a biografia de 172 terroristas ligados à Al-Qaida. Suas conlusões colocam em xeque a maioria dos clichês midiáticos sobre a personalidade dos recrutas: 2/3 de sua amostra é composta de pequenos burgueses que tiveram formação universitária e são em geral profissionais familiarizados com a tecnologia. Vários possuem um diploma de doutorado. Tampouco são jovens desmiolados: têm em média 26 anos, a maior parte casados, muitos têm filhos. Apenas dois pareciam sofrer de perturbações mentais. O terrorismo islâmico, assim como o terrorismo judeu e cristão que o precederam, é essencialmente uma atividade de burgueses.

É claro, existem alguns casos de diplomados das madrassas radicais que se integraram à Al-Qaida: Maulana Masood Ashar, por exemplo, chefe da organização jihadista denominada Jaish-e-Muhammuad e colaborador direto de Bin Laden, fez seus primeiros estudos em Karachi na madrassa ultra-militante Binori Town; um aluno que abandonou os estudos em uma outra madrassa tomou parte no atentado contra o cortejo do presidente Musharraf em 2003.

Mas, no geral, os alunos das madrassas absolutamente não têm o conhecimento técnico necessário para levar a cabo atentados tão sofisticados quanto os reinvindicados pela Al-Qaida neses últimos anos. As preocupações dos diplomados das madrassas continuam mais tradicionais: cumprir corretamente os ritos, lavar-se adequadamente antes das preces, cuidar do tamanho apropriado de sua barba. Todas essas questões fazem parte do programa de estudos do Corão nas escolas. Os diplomados se preocupam também em combater o que ele entendem como práticas anti-islâmicas de seus correligionários, como por exemplo o fato de fazer preces sobre o túmulo de um santo ou de assistir às lamentações xiitas durante as cerimônias que comemoram a morte de Ali, genro do profeta, na batalha de Kerbala [4].

O próprio Bin Laden observou, na época das últimas eleições norte-americanas: se os homens da Al-Qaida estivessem em guerra contra a liberdade eles estariam atacando a Suécia...

Duas visões de fé muçulmana

Ou seja: sua preocupação não é tanto combater os não-muçulmanos do ocidente - obsessão dos adeptos da jihad transnacional - mas promover o que eles entendem por comportamentos convenientemente islâmicos em seu mundo, regidos por essa lei pessoal que é o principal objeto do ensinamento das madrassa. Por outro lado, a maior parte dos agentes da Al-Qaida parece possuir apenas conhecimentos rudimentares das leis e dos saberes islâmicos. Além disso, indicadores convergentes sugerem que na verdade o próprio Bin Ladem despreza a abordagem jurídica dos teólogos vindos das madrassas, que ele considera seu próprio islamismo violento muito melhor para resolver os problemas do mundo muçulmano.

Isso foi confirmado pouco depois dos atentados de 11 de setembro, quando Bin Laden disse a um grupo de visitantes sauditas que "os jovens que conduziram essas operações não aceitam nenhum fich (escola de direito islâmica) popular, mas aceitam o fich trazido pelo profeta Maomé." É uma citação pesada: Bin Laden não tem o que fazer com a formação jurídica e as estruturas tradicionais da autoridade islâmica. Os autores dos atos que comandou, dava a entender, dedicavam-se a ações práticas, ao invés de perder tempo discutindo textos da lei. Ele se apressentava como aquele que desafiava as madrassas e os teólogos, que ultrapassa os modelos tradicionais do estudo religioso para tirar sua inspiração diretamente do Corão.

Um exame minucioso da usurpação, por Bin Laden, do papel dos teólogos nas madrassas, se encontra do ensaio Landscapes of the Jihad (Paisagens da jihad) de Fayçal Devji [5], professor da New School for Social Research de New York. Devji ressalta até que ponto Bin Laden se afasta da ortodoxia, com seu culto aos mártires e suas alusões a seus sonhos e visões - tudo o que deriva das tradições populares, místicas e do islã xiita, contra as quais os teólogos sunitas ortodoxos lutam desde sempre. Bin Laden e seus fiéis "criticam regularmante os eclesiásticos mais veneráveis, acusando-os de serem escravos de regimes desertores. Eles também disparam suas próprias fatwas sem ter nem o conhecimento nem a autoridade clerical para tanto".

Nas madrassas de Delhi, no século XVI, hindus e muçulmanos estudavam ao mesmo tempo o Corão (em árabe), a poesia sufi (em persa) e a filosofia Veda (em sâncscrito), além de ética, astronomia, medicina, lógica, história e ciências naturais

Em busca de explicações mais convincentes

Tudo isso deixa claro até que ponto a polêmica sobre a Al-Qaida no mundo ocidental está mal informada. Repete-se à exaustão que o terrorismo está ligado à miséria e à formação religiosa de base das madrassa. Afirma-se que os jovens que se dedicam a essas atividades são loucos e detestam "nossas" riquezas e "nossa" liberdade, com quem nenhuma discussão é possível, uma vez que "pretendem nos liqüidar" (como disse um ministro britânico à BBC, depois dos atentados de Londres, em 7 de julho de 2005). Constantemente, nega-se que a hostilidade dos islamistas possa estar ligada à política externa dos Estados Unidos em relação ao Oriente Médio - e em particular às empresas alnglo-americanas no Iraque e no Afeganistão, apesar de todos os indícios em contrário.

Na verdade, a maior parte dos agentes da Al-Qaida são estremamentes educados e seus objetivos são explícitamente políticos. Nunca houve a menor ambigüidade com relacção a isso nos comunicados de Bin Laden. Como ele mesmo observou laconicamente, durante uma entrevista na época das últimas eleições norte-americanas, se os homens da Al-Qaida estivessem em guerra contra a liberdade eles estariam atacando a Suécia. Os que organizaram os atentados de 11 de setembro não são produtos do sistema de educação islâmico tradicional, são formados por instituições tipicamente ocidentais.

A polêmica sobre a suspeita ligação entre madrassas e terrorismo tendeu a ignorar ao mesmo tempo a longa história das madrassas e as diferenças entre elas. Durante um longo poríodo da história do Islã, elas foram a principal fonte do saber religioso e científico, no mesmo patamar das escolas e universidades religiosas da Europa. Entre os séculos VII e XII, as madrassas formaram sumidades do livre-pensamento como Al-Biruni, Avicena e Al-Khuwarizmi [6].

Quando os invasores mongóis destruíram os centros de erudição no coração do islã, muitos intelectuais se refugiaram em Delhi, fazendo do Norte da Índia, pela primeira vez, um importante pólo de conhecimento. Desde Akbar, imperador no século XVI, o prograna de estudos nas madrassas da Índia vai associar o saber do oriente muçulmano ao da tradição hindu. Estudantes hindus e muçulmanos estudavam ao mesmo tempo o Corão (em árabe), a poesia sufi de Sa’adi (em persa) e a filosofia Veda (em sâncscrito), bem como ética, astronomia, medicina, lógica, história e ciências naturais. Muitos dos pensadores hndus mais brilhantes, como por exempro o grande reformador Ram Mohan Roy (1772-1833), vieram das madrassas.

Em seguida da destituição do último imperador mongol, Bahadur Shah Zafar, em 1858, pensadores insatisfeitos criaram em Deobad, a 160 quilômetros ao norte da capital mongol, Delhi, uma madrassa "wahhabita", muito influente mas de uma grande mesquinhês de espírito, Seus fundadores, sentados ao pé das muralhas, queria reagira contra a degeneração das velhas elites. Retornando aos fundamentos do Corão, eles expugaram tudo o que poderia restar de hindu ou de europeu em se seu programa de estudos [7].

Infelizmente são essas madrassas puritanas deobadi que irão se difundir através do Norte da Índia e do Paquistão no século XX, e que se beneficiaram especialmente da proteção do general Zia ul-Haq e seus aliados sauditas nos anos 80. Por ironia do destino, os Estados Unidos desempenharam um papel importante no envolvimento das madrassa na guerra santa no contexto da juhad afegã. A CIA financiou, por intermádio da U.S. Agency for Internacional Development, a confecção, para uso nas madrassa, de certos manuais particularmente sanguinários repletos de imagens violentas e de prescrições militares. Em uma das páginas via-se a imagem de um jihadista portando um fusil, mas cuja cabeça havia sido arrancada, acompanhada de um verso do Corão e de uma nomenagem aos mujahidins "obedientes a Alá... esses homens sacrificaram suas riquesas e suas vidas para impôr a lei islâmica." Quando os Talebans tomaram o poder, esse manuais foram distribuídos para servir nas escolas [8].

Quando pergunto a um estudante barbudo que música ele escuta, lança-me um olhar horrorizado: o aparelho serve apenas para escutar sermões. Toda música é proibida

O papel dos EUA na construção do Taleban

O programa de muitas madrassas no Paquistão é arcaico: existem algumas onde a geometria ensinada á a euclidiana e a medicina é a de Galeno. Aprende-se o Corão de cor, em lugar de se fazer um estudo crítico. Ainda se prestigia fortemente os hafiz - que se tornam de memorizar todo o Corão. Nas madrassas deobandi, aprende-se que o Sol gira em torno da Terra e há até mesmo assentos reservados para os espiritos islâmicos invisíveis, os djins. Mas não é assim em todas as madrassas. Algumas são, ao contrário, espantosamente evoluídas.

Em Karachi, a madrassa mais importante é a Dar ul-Uloom. Com seus enormes gramados, ela, é ao mesmo tempo, um hotel cinco estrelas e um campus universitário de alto nível. É muito limpa e próspera: as elegantes salas de aula e de informática têm vista para jardis de palmeiras copiosamente regadas. Ao redor, encaixadas em andaimes, novas bibliotecas e dormitórios surgem do chão.

No interior, o ambiente é sisudo, reflexivo. Os estudantes, sentados sobre tapetes, lêem o Corão aberto diante de si sobre pequenas mesinhas de madeira. Em ourtras salas, escutam atentamente um mestre idoso discorrer sobre o sentido dos versos do Corão, os hadiths e as tradições do profeta. Uma sala de informática está repleta de barbudos que se aplicam nos mistérios da informática servindo-se de versões urdu ou árabe de Microsoft Word e de Windows XP: os estudantes do último ano devem redigir todos os seus trabalhos no computador e distribuí-los encadernados. É claro, as outras madrassas não são tão equipadas.

Os estudantes são quase todos bastante empenhados, amáveis e inteligentes - mas terrivelmente radicais. Quando perguntei a um estudante barbudo qual música ele escuta em seu novo toca-fitas, ele me lançou um olhar horrorizado: o aparelho serve apenas para escutar sermões. Toda música é proibida.

O Mujahid situa-se na vanguarda da educação para mulheres muçulmanas no Kerala. Muitas de suas madrassas têm bem mais mulheres do que homens

Fechar madrassas, tentação obtusa

Mas mesmo tão puritana quanto parece, é evidente que a Dar ul-Uloom, como muitas das madrassas paquistanesas, prestam um enorme serviço em um país que padece de um enorme índice de analfabetismo. Mesmo que sua filosofia educacional seja muitas vezes atrasada, as madrassas proporcionam aos pobres uma esperança real de ascenção social. Em algumas matérias tradicionais - retórica, lógica e jurisprudência - a qualidade do ensino costuma ser excelente. E se elas são em geral ultra-conservadoras, apenas algumas são militantes. Fechá-las sem antes lançar um programa de reconstrução do sistema público de ensino seria condenar à ignorância uma grande parte da população. Seria o mesmo que dizer aos fiéis que devem deixar de se instruir na sua religião, o que certamente não é uma maneira de conquistar os espíritos muçulmanos.

Não é preciso ir muito longe do Paquistão para encontrar um sistema de madrassas que se ocupa ao mesmo tempo do problema do militantismo e do déficit educacional. Porque se a Índia é o país de origem das madrassas deobandi, seus colegas na Índia jamais produziram, que se saiba, islamistas violentos, e são estritamente apolíticas. Alguns dos maiores sábios indianos - como o historiador Muzzafar Alam da universidade de Chicago - foram formados pelas madrassas.

Um importante estudo sobre as madrassas da Índia - Bastions of the Believers do pesquisador hindu Yoginder Sikand - mostra o dinamismo e o modernismo de algumas delas. O Estado de Kerala, por exemplo, no sudeste da Índia, é dotado de uma cadeia de instituições educativas geradas pelo Mujahid, um movimento de profissionais e homens de negócios que se estabeleceu com o objetivo de cobrir o abismo entre as formas modernas do conhecimento e a visão de mundo islâmica. O Mujahid situa-se na vanguarda da educação para mulheres muçulmanas no Kerala, e muitas de suas madrassas têm bem mais mulheres do que homens. Os intelectuais do Mujahid têm escrito bastante sobre direito feminino em uma perspectiva islâmica, e Sikand cita as palavras de Zohra Bi, diretor de um dos colégios do movimento: "Pelos esforços de nossa escola, esperamos mostrar que na verdade o Islã encoraja a autonomia feminina."

Isso parece confirmar que as madrassas em si causam menos problemas que o ambiente de militantismo e doutrinamento que reina ao seio de um pequeno número de centros ultra-radicais famosos, como a madrassa de Binori Town, em Karachi, onde os estudantes eprendem que a jihad é legítima e nobre.

(Trad. : Patrícia Andrade)



[1] Há uma polêmica quanto ao número real de madrassas no Paquistão e sobre a proporção de estudantes do país que elas educam.

[2] Ditador paquistanês. Governou entre 1977 e 1988 (morreu num misterioso acidente de avião).

[3] Tradução francesa, Le vrai visage des terroristes, Denoël, Paris, 2005.

[4] Cf. o excelente artigo de Barbara Metcalfe "Piety, Persuasion anbd Politics: Deoband’s Model of Social activism" em Aftab Ahmad Malik (ed.) The Empire and the Crescent: Global implications for a New American Century, Amal Press, Bristol (Reino Unido), 2003, p. 157.

[5] University of Pennsylvania Press, 2005.

[6] O primeiro foi astrônomo, filósofo e historiador (973-1050), o segundo foi filósofo (século XI) e o terceiro, matemático (século IX).

[7] Os Deobandis foram objeto de um excelente estudo na obra magistral de Barbara Daly Metcalf, Islamic Revival in British I8ndia : Deoband, 1860-1900, Princeton University Press, 1982. Cf. também Colonisation of Islam : Dissolution of Traditional Institutions in In Pakistan, New Delhi, Manohar, 1988).

[8] Um relatório extenso sobre estes manuais, "From US, the ABC’s of Jihad", de Joe Stephens et David B. Otway, encontra-se no site do Washington Post: www.washingtonpost.com/ac2/w...


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