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» De la guerre comme matériau romanesque
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» As eleições europeias e os novos desafios à soberania
» Será preciso desobedecer à Europa?
» Madrid, refúgio latino-americano
» O ambiente sacrificado ao agronegócio
Vasily Grossman só foi salvo dos “gulags” porque Stalin morreu. Mas seus textos foram tirados de circulação. Censurado, reduzido à penúria e com poucos amigos, faleceu de câncer em 1964
“Trocando em miúdos”, segundo livro de contos de Luiz Paulo Faccioli, escapa das armadilhas do amor como tema capturando seus momentos mais sôfregos
Colocou o papel com a citação à carne de ovelha na boca. Ele a macerou com a língua. Molhou-a. Tentou fazer brotar dela o enigmático sabor do animal estranho. Sentiu a tinta se desprender. Era a única coisa a conferir algum sabor exótico àquele repugnante alimento
Testemunha do horror
Vasily Grossman só foi salvo dos “gulags” porque Stalin morreu. Mas seus textos foram tirados de circulação. Censurado, reduzido à penúria e com poucos amigos, faleceu de câncer em 1964
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A palavra em compasso de urgência
“Trocando em miúdos”, segundo livro de contos de Luiz Paulo Faccioli, escapa das armadilhas do amor como tema capturando seus momentos mais sôfregos
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São Paulo: heterogenética cidade literária
“Há uma história da literatura que se projeta na cidade de São Paulo; e há uma história da cidade de São Paulo que se projeta na literatura.”(Antonio Candido)
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O erudito
Colocou o papel com a citação à carne de ovelha na boca. Ele a macerou com a língua. Molhou-a. Tentou fazer brotar dela o enigmático sabor do animal estranho. Sentiu a tinta se desprender. Era a única coisa a conferir algum sabor exótico àquele repugnante alimento
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Ainda hoje, apesar de todas as transformações vividas pela sociedade nas últimas décadas, leitores adultos ainda torcem o nariz para livros que fogem ao estereótipo de simplicidade e didatismo comumente associado ao “livro para crianças”
José Luis Sampedro não nos permite tirar a dignidade de seu protagonista: não há como sentir pena dele
A pobre senhora inspirou profundamente, inclinou-se para um lado e se pôs a tatear a superfície encardida da calçada
Ao notar o vazio editorial e a tendência de crescimento da literatura fantástica, Fábio Fernandes e Jacques Barcia idealizaram a revista “Terra Incognita”
Nascido em 1876, Max Jacob participou das vanguardas poéticas e artísticas européias, ao lado de Jean Cocteau, Georges Braque e Pablo Picasso
No fundo, o único ponto realmente importante na literatura é o exercício da idéia
Ele, minha Alice, minha primeira Barbie, me olhou como quem faz um favor. Em seguida, arrastou as plataformas até o banheiro e sacou o batom da bolsa
Ao reencontrar as fisionomias, sou tomado pelo alívio. Estão todos ali, onde deveriam estar, indiferentes, na plataforma do metrô. Vejo-as congeladas, num estranho estado de suspensão, enquanto esperam o trem para subir
Nos textos de Babel transitam desde retratos avassaladores de guerra e paz até histórias de amor pouco convencionais
Em “La bodega”, Noah Gordon constrói um panorama detalhado da cultura catalã
No fundo do meu sentimento, dou a última palavra, juro, até para ser ouvido na minha revolta: “quero água, abençoada água para não morrer; Deus, encha o céu de nuvens de chuva”
Libertado e traído pela revolução
Nos textos de Babel transitam desde retratos avassaladores de guerra e paz até histórias de amor pouco convencionais
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A saga do “casteller”
Em “La bodega”, Noah Gordon constrói um panorama detalhado da cultura catalã
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De volta aos rostos
Ao reencontrar as fisionomias, sou tomado pelo alívio. Estão todos ali, onde deveriam estar, indiferentes, na plataforma do metrô. Vejo-as congeladas, num estranho estado de suspensão, enquanto esperam o trem para subir
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Nossa seca
No fundo do meu sentimento, dou a última palavra, juro, até para ser ouvido na minha revolta: “quero água, abençoada água para não morrer; Deus, encha o céu de nuvens de chuva”
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Machado de Assis, antes de tudo artista, é um grande fazedor de tramas, que embaralha maliciosamente as cartas e o leitor
Publicado pela primeira vez em 1970, “Crônica na Pedra” é fundamental para os que desejam se aprofundar no universo peculiar da criação do escritor albanês
“O sonho dos heróis” não é apenas a história de um indivíduo em busca de seu destino, mas a de certa Argentina no final dos anos 20
As lições de “A cartomante”
Machado de Assis, antes de tudo artista, é um grande fazedor de tramas, que embaralha maliciosamente as cartas e o leitor
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O sonho (e o destino) dos heróis
“O sonho dos heróis” não é apenas a história de um indivíduo em busca de seu destino, mas a de certa Argentina no final dos anos 20
Aqui
Kadaré e sua cidade-pedra fundamental
Publicado pela primeira vez em 1970, “Crônica na Pedra” é fundamental para os que desejam se aprofundar no universo peculiar da criação do escritor albanês
Aqui
Mais que filosofia, ciência e literatura
O mistério é o lugar onde não estamos, nem chegamos, a não ser por acreditar nele como algo a aceitar
Aqui
Os sertões: contemporâneo da posteridade
“O livro número um do Brasil”– que neste dezembro completa 106 anos de publicação – diz muito de um drama da história nacional, e também de dramas dos tempos atuais
Aqui
Bandeira religioso (e libertino)
A edição cuidadosa da antologia “Poemas religiosos e alguns libertinos”, de Manuel Bandeira, organizada por Edson Nery da Fonseca, nos permite observar alguns dos caminhos da inspiração banderiana pouco percorridos pela crítica
Aqui
Nós ao espelho
Os espelhos de Eduardo Galeano são cristalinos e impiedosos: pequenas visões que ferem apenas os muito vaidosos e os que acreditam que os valores estão na superfície dos corpos, nas imagens ideais e nas verdades inventadas
Aqui
Reconstrução da memória
“Pó de parede”, da gaúcha Carol Bensimon, é formado por três histórias que têm como base a casa (no sentido físico, familiar e metafórico) e a memória
Aqui
“Pó de parede”, da gaúcha Carol Bensimon, é formado por três histórias que têm como base a casa (no sentido físico, familiar e metafórico) e a memória
A edição cuidadosa da antologia “Poemas religiosos e alguns libertinos”, de Manuel Bandeira, organizada por Edson Nery da Fonseca, nos permite observar alguns dos caminhos da inspiração banderiana pouco percorridos pela crítica
Os espelhos de Eduardo Galeano são cristalinos e impiedosos: pequenas visões que ferem apenas os muito vaidosos e os que acreditam que os valores estão na superfície dos corpos, nas imagens ideais e nas verdades inventadas
“O livro número um do Brasil”– que neste dezembro completa 106 anos de publicação – diz muito de um drama da história nacional, e também de dramas dos tempos atuais
No quinto número de nossa seção Vice-Verse, coordenada pela jornalista e tradutora Marina Della Valle e dedicada a traduções de poesia e prosa em língua inglesa, apresentamos novos poemas de Ezra Pound, traduzidos do livro "Lustra"
As narrativas de José Cardoso Pires e Jean-Dominique Bauby funcionam de modo a resgatar a dignidade do homem diante de situações que teriam tudo para reduzi-lo à condição de simples joguete do destino, de “ser” impotente diante de uma condição que lhe escapa à compreensão
No fundo, “Flores azuis” é a jornada de Marcos em busca da compreensão de si mesmo. As cartas misteriosas são uma espécie de catalisador para a sua transformação pessoal
Os objetos da física, os monumentos do quotidiano, os sabores, cores e temperaturas são aquilo que deles sentimos e vemos, imagens de um qualquer coisa bruto que está lá fora e que só aceitamos como mais real do que os sonhos porque temos a consciência e a convicção de estarmos despertos
A valsa das borboletas
As narrativas de José Cardoso Pires e Jean-Dominique Bauby funcionam de modo a resgatar a dignidade do homem diante de situações que teriam tudo para reduzi-lo à condição de simples joguete do destino, de “ser” impotente diante de uma condição que lhe escapa à compreensão
Aqui
Mais poemas de Pound
No quinto número de nossa seção Vice-Verse, coordenada pela jornalista e tradutora Marina Della Valle e dedicada a traduções de poesia e prosa em língua inglesa, apresentamos novos poemas de Ezra Pound, traduzidos do livro "Lustra"
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Os mal-entendidos da escrita
No fundo, “Flores azuis” é a jornada de Marcos em busca da compreensão de si mesmo. As cartas misteriosas são uma espécie de catalisador para a sua transformação pessoal
Aqui
Scherzo com física e moleskine
Os objetos da física, os monumentos do quotidiano, os sabores, cores e temperaturas são aquilo que deles sentimos e vemos, imagens de um qualquer coisa bruto que está lá fora e que só aceitamos como mais real do que os sonhos porque temos a consciência e a convicção de estarmos despertos
Aqui
“O passado”, de Alan Pauls, é uma viagem, uma vertigem cortazariana ao fundo do coração de um homem dilacerado, feito em pedacinhos como os bilhetes e papelotes que consome sem nem mesmo saber ao certo por quê
A impressão que tenho ao ler e reler qualquer um dos textos de Fernando Sabino é a de que tudo nele era puramente literário
Assim como “Respiração artificial”, de Ricardo Piglia, “História do pranto” já pode ser considerada uma obra importante sobre o período de exceção latino-americano
O passado dói
“O passado”, de Alan Pauls, é uma viagem, uma vertigem cortazariana ao fundo do coração de um homem dilacerado, feito em pedacinhos como os bilhetes e papelotes que consome sem nem mesmo saber ao certo por quê
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Impressionismo em tons de cinza
Assim como “Respiração artificial”, de Ricardo Piglia, “História do pranto” já pode ser considerada uma obra importante sobre o período de exceção latino-americano
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Copacabana classic
Poema
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Tabuleiro sem limites
A impressão que tenho ao ler e reler qualquer um dos textos de Fernando Sabino é a de que tudo nele era puramente literário
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Não se dão conta do óbvio: partir de Marianna, por causa da própria natureza da cidade, significa voltar a ela
O começo do livro é engraçado, cheio de brincadeiras do tipo perco-o-leitor-mas-não-perco-a-piada
Anne Cheng consegue encontrar uma perspectiva equilibrada ou correta para apresentar aos ocidentais uma história do pensamento chinês
A mim, ninguém oferecia um gole, ao velho que já passou do tempo. Mas eu não sentia. Minha boca, enrijecida, já se acostumara à posição de paralisia, lábios e gengivas endurecidas sem ambição alguma de falar
A aventura intelectual chinesa
Anne Cheng consegue encontrar uma perspectiva equilibrada ou correta para apresentar aos ocidentais uma história do pensamento chinês
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Um mapa dos corações humanos (de São Paulo e do Brasil)
O começo do livro é engraçado, cheio de brincadeiras do tipo perco-o-leitor-mas-não-perco-a-piada
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Três minicontos
Não se dão conta do óbvio: partir de Marianna, por causa da própria natureza da cidade, significa voltar a ela
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Nenhum romance ou conto, nem a soma do que li, me humanizou ou me induziu a ser uma pessoa melhor
Rubens Borba de Morais pesquisou bibliotecas européias, norte-americanas e brasileiras para escrever sua “Bibliografia brasiliana”, descritiva de livros raros sobre o Brasil de 1504 a 1900, verdadeiro monumento de erudição e pesquisa
Como o escritor brasileiro escolhe escrever seus livros? Geralmente se apegando a somente uma forma de sofrer
De quando a literatura se despede de suas histórias
Como o escritor brasileiro escolhe escrever seus livros? Geralmente se apegando a somente uma forma de sofrer
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Sobre literatura e outros defeitos
Nenhum romance ou conto, nem a soma do que li, me humanizou ou me induziu a ser uma pessoa melhor
Aqui
Três poemas
Poema
Aqui
Impossível deixar de admirar, linha após linha, página após página, o trabalho do artesão tapeceiro, que dedicado a cada detalhe não perde de vista o todo da composição e deita cada ponto no exato e único lugar em que precisa estar
O mundo das Adriennes não mudou tanto assim. É gente que você sabe que nunca escapará a uma sina de pequenez, sovinice, tristeza, exílio, desespero. Porque essa sina é tudo que tem, é sua explicação, seu nexo ontológico
Os contos de Machado de Assis carecem não apenas de edições adequadas, mas também e principalmente de estudos condizentes com sua relevância literária, que inclusive forneçam uma visão completa do conjunto
Viagem a Havana
Impossível deixar de admirar, linha após linha, página após página, o trabalho do artesão tapeceiro, que dedicado a cada detalhe não perde de vista o todo da composição e deita cada ponto no exato e único lugar em que precisa estar
Aqui
Grito provinciano – eco universal
O mundo das Adriennes não mudou tanto assim. É gente que você sabe que nunca escapará a uma sina de pequenez, sovinice, tristeza, exílio, desespero. Porque essa sina é tudo que tem, é sua explicação, seu nexo ontológico
Aqui
Do inútil (ao fútil)
O fútil, porque está tão aquém de nossa melhor dedicação, deixa entrever a existência de algo que é seu oposto absoluto
Aqui
Não são poucos os poemas em que Bandeira aborda a infância como região idealizada, cuja simples rememoração pode amenizar o espaço presente da solidão, dor, perda, doenças e aporias que todo adulto precisa lidar [2]
“Maria de Sanabria – a lendária expedição das mulheres que atravessaram o Atlântico no século XVI”, do ítalo-uruguaio Diego Bracco, é um romance histórico sobre a aventura dessa nobre sevilhana que, em 1550, chegou ao litoral de Santa Catarina
As lições de um velho mestre incluem algo que deveria ser essencial para todos: a literatura
A trama de Saramago é simples mas não é agradável. Seus personagens abandonaram toda a esperança, como se diz no pórtico do inferno dantesco
Um longo adeus que não termina
Não faltam aos versos de Pedro Salinas a substância palpável e viva da experiência amorosa, que os afasta da mera abstração
Aqui
Uma estranha num país estrangeiro
Em “O encontro”, de Anne Enright, ganhador do Man Booker Prize de 2007, o passado ressurge como um país coberto de neblina
Aqui
Mês de desgraça ou descanso
Não tente viver como um francês em Paris em agosto. Já ao longo do ano essa é uma idéia de turista com complexo de superioridade; no verão, simplesmente não é possível
Aqui
Eclipse
Ela dava a volta por um lado da casa, ele partia correndo na direção oposta, mas era no armário de tia Argentina que acabavam os dois, fundidos naquele silêncio e naquela imobilidade
Aqui
Ela dava a volta por um lado da casa, ele partia correndo na direção oposta, mas era no armário de tia Argentina que acabavam os dois, fundidos naquele silêncio e naquela imobilidade
Em “O encontro”, de Anne Enright, ganhador do Man Booker Prize de 2007, o passado ressurge como um país coberto de neblina
Não tente viver como um francês em Paris em agosto. Já ao longo do ano essa é uma idéia de turista com complexo de superioridade; no verão, simplesmente não é possível
Não faltam aos versos de Pedro Salinas a substância palpável e viva da experiência amorosa, que os afasta da mera abstração
Noites que ela guardaria pelo cheiro do cigarro, da terra batida das estradas furtivas, do desodorante impreciso que ele passava, e, por fim, de muito usá-la, aprová-la, repeti-la, ele a tinha declarado única, nunca conhecera carne, cheiro melhor
Quase ri dessa idéia absurda, outra que me cruzava o pensamento sem que eu soubesse de onde nem por que ela vinha. Mas me contive a tempo diante de um par de olhos que pareciam estar levando bem a sério a aventura
Espalham rapidamente as fotografias anteriores na mesa e decidem onde colocar a moça. Ela já está com um vestido longo, azul, semelhante aos usados na virada para os anos sessenta
Os escritores estrangeiros são recebidos aqui — e não há diferença se bem ou mal: eles são sempre mais importantes — com um tipo de sorriso bastante comum
Solaris é uma revista-portal que não pode ser encontrada em livrarias ou nas bancas – porque ela é mais uma ação viral que uma publicação
“Meio sol amarelo”, de Chimamanda Ngozi Adichie, põe a história da tragédia de Biafra no mapa da geração Google
Vladimir Nabokov escrevia um texto como quem tece uma estrutura delicada, respeitando a etimologia do texto como "tessitura", como tecido, algo que é mais tramado e costurado do que criado do nada.
“Jaboc”, de Otto Leopoldo Winck, é um livro em homenagem às palavras, para que elas se guardem até na desgraça por vezes incompreensível que é escrever a qualquer custo.
Qual seria a desse cara? Por um instante imaginei que talvez sua preferência sexual fosse outra, e isso me deixou preocupado, ou talvez aquilo ainda fosse parte de algum plano macabro
No quarto número de nossa seção Vice-Verse, coordenada pela jornalista e tradutora Marina Della Valle e dedicada a traduções de poesia e prosa em língua inglesa, apresentamos poemas de Ezra Pound, do livro "Lustra".
Vice-Verse 4
No quarto número de nossa seção Vice-Verse, coordenada pela jornalista e tradutora Marina Della Valle e dedicada a traduções de poesia e prosa em língua inglesa, apresentamos poemas de Ezra Pound, do livro Lustra.
Aqui
A Defesa Lujin – ou a precisão literária
Vladimir Nabokov escrevia um texto como quem tece uma estrutura delicada, respeitando a etimologia do texto como tessitura, como tecido, algo que é mais tramado e costurado do que criado do nada.
Aqui
Os limites da doença literária
Jaboc, de Otto Leopoldo Winck, é um livro em homenagem às palavras, para que elas se guardem até na desgraça por vezes incompreensível que é escrever a qualquer custo.
Aqui
Portas e vãos
Qual seria a desse cara? Por um instante imaginei que talvez sua preferência sexual fosse outra, e isso me deixou preocupado, ou talvez aquilo ainda fosse parte de algum plano macabro
Aqui
Para encontrar prazer na leitura de O conto do amor, o leitor precisa suspender suas crenças e se entregar à premissa de Contardo Calligaris – acredite ou não em reencarnação ou vidas passadas
Como praticamente tudo neste início de século, o nacionalismo sobrevive transferido para a esfera das relações pessoais. Os dialetos, a música, o futebol, os ídolos, a cozinha, as paisagens
Aperto a bolsa contra o peito, cerro as pálpebras e encosto-me à pia, esperando que a vertigem se dissipe. Ouço, então, com alguma clareza, meu nome. Chamado, como num lamento, repetidas vezes
Quase matei
Aperto a bolsa contra o peito, cerro as pálpebras e encosto-me à pia, esperando que a vertigem se dissipe. Ouço, então, com alguma clareza, meu nome. Chamado, como num lamento, repetidas vezes.
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Sobre a Flip 2008
Cees Nooteboom e Fernando Vallejo – estávamos diante de duas realidades completamente distintas: a latinidade tosca e furibunda do sul-americano em contraposição à placidez fleumática do norte-europeu puro-sangue.
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A nação e o baile
Como praticamente tudo neste início de século, o nacionalismo sobrevive transferido para a esfera das relações pessoais. Os dialetos, a música, o futebol, os ídolos, a cozinha, as paisagens.
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Em nome do pai
Para encontrar prazer na leitura de O conto do amor, o leitor precisa suspender suas crenças e se entregar à premissa de Contardo Calligaris – acredite ou não em reencarnação ou vidas passadas.
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Jorge Gaitán Durán: a poesia no alto de um instante
Uma impressionante fusão entre erotismo e morte, luz e sombra
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Lídia Jorge, esse amor exigente
O vento assobiando nas gruas, oitavo romance da autora portuguesa, exige tempo e dedicação, mas recompensa com uma obra única, que perdura na mente após o fim da leitura
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Nada de novo
Poema
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O vento a areia e o nada
Antônio Xerxenesky conduz o leitor ao inevitável clichê da montanha-russa de sentimentos: numa página, altíssimas gargalhadas; na seguinte, a torcida pelo casal; mais à frente, uma vontade descomunal de duelar. Ou então de saber para onde o vento leva a areia
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“Moby Dick” conquistou admiradores nos mais diferentes quadrantes do planeta. Albert Camus, um deles, chamou seu autor de o “Homero do Pacífico”
Somos criados para aplaudir a mais dramática das desgraças; estamos acostumados a rir do sofrimento e derreter de comiseração pelas misérias. Mas a reação que temos diante de uma alegria pacata, digamos, de atirar pedrinhas no lago, é bem diferente. Bocejamos, viramos a página, mudamos de canal. A bonomia é coisa muito fastidiosa, sobretudo a dos outros
Quando demoramos a morrer, logo entramos na lista dos que já morreram. É inevitável. Não temos o direito de não morrer
Como lidar com o peso daquilo que é criação e que é inexistente, mas que ainda assim sobrevive ao tempo e nunca se desgasta?
No Pequod - em busca de Moby Dick
Moby Dick conquistou admiradores nos mais diferentes quadrantes do planeta. Albert Camus, um deles, chamou seu autor de “o Homero do Pacífico”
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Um discurso quando o desejo é calar
Somos criados para aplaudir a mais dramática das desgraças; estamos acostumados a rir do sofrimento e derreter de comiseração pelas misérias. Mas a reação que temos diante de uma alegria pacata, digamos, de atirar pedrinhas no lago, é bem diferente. Bocejamos, viramos a página, mudamos de canal. A bonomia é coisa muito fastidiosa, sobretudo a dos outros
Aqui
Odradek e os personagens
Como lidar com o peso daquilo que é criação e que é inexistente, mas que ainda assim sobrevive ao tempo e nunca se desgasta?
Aqui
O dia da morte
Quando demoramos a morrer, logo entramos na lista dos que já morreram. É inevitável. Não temos o direito de não morrer
Aqui
A mão ensangüentada não segurava mais a gilete, mas ela não devia estar longe. Os dedos semidobrados estavam pretos, e em volta do pulso a branquidão extrema da pele era realçada por uma pulseira de sangue seco
Diferente de muitos de sua geração, Miranda July não é dada a pirotecnias visuais ou malabarismos narrativos. Suas histórias são bem diretas, e os personagens densamente construídos
A literatura me atraiu porque nela encontrei histórias distintas, personagens mais humanos do que os reais, mundos que talvez eu nunca alcance
Há quem tenha comparado Flannery O’Connor com Tchekhov, o que pode não dizer muito, já que se popularizou certa idéia, bastante redutora, de que qualquer conto de “atmosfera” seria tchekhoviano. Mas a comparação pode ser procedente, se considerarmos a objetividade da frase de Tchekhov, e a materialidade de suas descrições, muito ao gosto de O’Connor
Cheguei a fantasiar que o catalisador de toda a história desapareceria de repente ou revelaria ser um demônio, um duende, qualquer ser sobrenatural. Mas qual, o velho continuou encalacrado, olhos nos joelhos, como se nada se passasse à sua volta
Em "Pantaleão e as visitadoras", de Vargas Llosa, a sofisticação do risível está justamente nas sutilezas que o cercam e produzem o humor no seu sentido mais elaborado: no lugar que ocupa entre o cômico e o trágico
Em coletânea de colunas publicadas no jornal inglês "The Guardian", Xinran se esforça para explicar as diferenças entre a China e o Ocidente – e acaba engrossando o coro dos atarantados pela complexidade e velocidade das mudanças naquele gigante asiático
Murilo Mendes escreveu sobre Pierre Jean Jouve em duas oportunidades, para os "Retratos-relâmpago" e para os "Papiers", textos em francês reunidos na edição cuidadosa de Luciana Stegagno Picchio
No caso de Joanna Kavenna, apesar de ter 34 anos, foi preciso um amadurecimento de sete romances terminados e rejeitados pelas editoras para que finalmente tivesse um reconhecimento
Lope Félix de Vega Carpio, chamado por Miguel de Cervantes de “monstro da natureza”, é um caso singular de fertilidade criativa
Se tivesse nascido uns trinta ou quarenta anos antes, Lobato provavelmente teria sido convidado para fazer parte da Fabian Society, que tinha entre seus membros H. G. Wells e Bernard Shaw, pregava o socialismo científico ou utópico e previa o progresso da humanidade por meio da ciência
Em “Ruído branco”, tecnologia e consumo são citados em profusão, e não apenas como parte do modo de vida prático, mas como elementos com que os personagens também criam ligações íntimas de pavor ou fascínio
Para boa parte dos seguidores de Pitágoras, o divino Um era a manifestação inteligível do universo, o Dois colocava diante do homem a presença dos opostos, o Três escancarava os portais do múltiplo
Ainda não havia feito a barba. Áspera. E, na narina, aquele pêlo. Pirata. Não, não era seu aquilo. Um pêlo que crescia de dentro pra fora, a incomodar-lhe, a roçar-lhe o buço, a lembrar-lhe a existência, minuto a minuto, a roubar-lhe tempo
A voz do homem está mais baixa e rouca, como se ele fosse chorar. Aqui, ó, aqui! Os olhos parecem que vão saltar do rosto e rolar na sarjeta. Agarra a mão e guia para a virilha. Há ali uma coisa cega e sem nome
Hoje, o jornal que passa por debaixo da minha porta, salvo honradas exceções, é ilegível. Já fiz pesquisas em jornais antigos na Biblioteca Nacional e cheguei a sentir os olhos marejados – de raiva – pela comparação com o jornal pelo qual pago hoje
Creio que a insistência em tentar reconhecer (inutilmente) na literatura contemporânea a semelhança com roteiros de filmes parte apenas primeiramente do leitor, que não consegue mais diferenciar de forma clara as duas (ou mais) artes
No terceiro número de nossa seção dedicada à tradução de poesia e prosa em língua inglesa, coordenada pela jornalista e tradutora Marina Della Valle, apresentamos dois poemas de Erín Moure
E eu não tinha uma droga de um par de algemas. Puxei o cadarço do meu tênis e o usei para amarrar os pulsos de Joana. Apertei o nó com força. Ela não resistiu. Pareceu-me que estava sorrindo
Iuri talvez se aborrecesse com minha afirmação. Ele preferia chegar pelas bordas. Senti que me lançava um de seus olhares de censura, mas eu estava prestando atenção na reação de Jônatas. O homem não se moveu. Não havia como ficar mais branco. Porque havia desconfiado do que estava por vir
De manhã, domingo, o tapete cristalino sobre o chão denuncia a madrugada em que a rua, tão desimportante, pertenceu a pessoas que costumam só ter com ela uma relação de passagem ou compromisso. O bar, portas fechadas, recobriu-se de seu aspecto simplório, por trás da bandeira puída
Histórias novas, e algumas reinterpretadas, vêm outra vez salvar o romance do pecado da falta de originalidade, tendo em vista a existência de seus antecessores. Passei por quase todas elas com o desdém de um “connaisseur” enfastiado
O cachorro tinha uma mancha de sangue na cabeça e estava próximo a uma porta que devia sair para o lado de fora. O chão me pareceu limpo. Ou sujo o suficiente para que o sangue sequer aparecesse. Inclinei-me por sobre o cachorro e olhei a porta. Dedos na maçaneta
Um dos momentos em que mais se pode reconhecer, reconquistar e exercer a individualidade é durante uma lenta leitura. A mim, a literatura vale muito mais, ou melhor, tem seu real valor quando a atenção despretensiosa mas inevitável é o que move a leitura
Dona de uma visão extremamente singular do mundo, a autora demonstra maestria ao tecer enredos que, no melhor estilo do suspense norte-americano, muitas vezes dependem do elemento surpresa, do engenho ao manipular os elementos narrativos para causar sensações e sugestões
A história está longe de terminar para a FC brasileira. Graças às comunidades de Web, novos autores, que não tinham a menor ligação com o CLFC nem com os autores citados anteriormente, foram surgindo e ocupando um lugar fundamental na literatura do gênero e em suas discussões críticas
É possível imaginar que o sonho de Petrônio seria o de criar uma obra que não fosse uma imitação piorada do modelo, mas uma outra, capaz de expressar essa inadequação; para isso, optou por um gênero ainda pouco prestigiado, o romance, e de um estilo baixo, que não abrisse mão da paródia aos clássicos. O resultado é uma obra de caráter realista
Ao fim do percurso pude ver uma casa pequena – suja como tudo mais naquela região. Com o carro parado, Iuri abriu a porta e foi até um matagal amarelado na direção oposta da casa. Daquele lado o mato seguia até onde eu podia enxergar, mas por todos os outros era tudo uma terra seca e pálida. E a casa velha. Para trás dela era possível enxergar uma parte de um carro vermelho. O Escort
Enquanto espia o chuvisco sobre a folhagem da rua, não percebe como a memória apagou os sofrimentos e fechou as feridas. Restam só as imagens de terras exóticas que o fascinaram, lugares não raro ausentes dos mapas
Talvez a palavra resolva seguir ao lado da literatura, mas também se mantém sozinha, também é seu próprio alicerce. Apenas ela pode se narrar
Sem a desconfiança dos primeiros homens da Igreja, ciosos em preservar o dogma cristão contra aquilo que identificavam como um vestígio das idolatrias pagãs, Charbonneau-Lassay vai buscar não só a interpretação religiosa, mas as numerosas fontes pagãs e o modo como os primeiros cristãos se apropriaram de antigos emblemas locais: a águia, o golfinho, a fênix, o íbis no Egito, o leão em Roma
Lá fora, nos Estados Unidos e na Europa, a ficção científica já saiu da infância há muito tempo. A zona de sombra, a zona do crepúsculo, a Twilight Zone da incerteza aumenta cada vez mais. Os tons de cinza estão cada vez mais ricos. E é nessas frestas entre os tentáculos da besta que a ficção científica atual tem encontrado seu nicho
John Fowles aproxima-se do modelo do romance vitoriano para negá-lo, ao final. Não sem antes lhe reservar um último golpe: o final em aberto. Não que o romance termine inconcluso; mas possui dois finais possíveis. Na verdade três
Está claro, mas não nítido, por que o desgraçado é assim tão familiar. As paralelas que deveriam se encontrar no infinito podem sofrer desvios. Podem chocar-se ainda no tempo. Eventualmente, acontece
A presença da cultura japonesa na obra de José Watanabe não se limita a elementos biográficos, mas está arraigada numa série de características que revelam um longo convívio com a tradição literária do haicai
(Poema singelo contra a morte)
Em torno de 1.500 guaranis, reunidos em quatro aldeias, habitam a maior cidade do país. A grande maioria dos que defendem os povos indígenas, na metrópole, jamais teve contato com eles. Estão na perferia, que vêem como lugar sagrado.
"Carta a D." não é um livro que somente conta a história de um amor, é o registro de um significado. Um querer teorizar para si mesmo, ver de forma intelectualizada algo que o próprio autor percebeu que não poderia ser transformado em teoria
Ao extrair do inimigo sua força e sapiência, Pullman diminuiu o valor deste e, por conseqüência, o desfecho nada mais é do que uma vitória de Pirro, que não convence a ninguém
O que mais impressiona na engenhosa construção de “O Quarteto...” é a perícia com que Durrell, a partir de uma trama obscura, repleta de ambigüidades, racionaliza e vai contrapondo novos elementos para criar um universo perfeito que o leitor depois irá desvendar — e que irá surpreendê-lo
Lorde Asriel arregimenta um exército composto por homens que sofreram a intercisão, portanto não têm medo, nem imaginação, nem vontade própria
A literatura policial brasileira contemporânea é quase inexistente, mas o mesmo pode ser dito da ficção científica, ou da literatura romântica, ou do romance histórico. Em outras palavras, o que falta no cenário literário nacional hoje não é apenas literatura policial, é literatura de gênero como um todo
Em 2008, com a publicação de sua 8ª edição, a ser lançada no próximo dia 17 de abril, a Cadernos de Literatura em Tradução introduz duas mudanças editoriais. Uma delas é a periodicidade, que passa de anual a semestral. A segunda é a introdução de edições temáticas, que serão alternadas com volumes de tema livre
Em Paris, a beleza brota como uma resposta à opressão do inverno, uma vitória daqueles que sobreviveram, uma ressurreição mitológica revivida a cada ano. A mística em torno do equinócio é profunda, ancestral, dionisíaca. O movimento é patente
No segundo número de nossa seção dedicada à tradução de poesia e prosa em língua inglesa, coordenada pela jornalista e tradutora Marina Della Valle , apresentamos um poema que se encontra entre os primeiros de Sylvia Plath
É terrível e fascinante sujeitar-se à objetividade de si mesmo. Há volúpia e desânimo em sair de si e olhar-se como um objeto midiático, um produto, uma possibilidade. Posicionar-se em relação aos outros idiotas cheios de som e fúria
Na internet, a proximidade do escritor com as opiniões dos leitores é tão instantânea quanto a reação deles ao ler cada linha de suas próprias narrações
O que Lêdo Ivo realiza em versos – e também em alguns de seus ensaios – serve de motivação para a crítica, isto é, deve-se analisar a relação entre modernistas e parnasianos em suas contraposições, mas também em suas convergências.
De súbito, faltou fôlego. Cessou a confusão do batismo cego. Poderia decidir-se por qualquer daqueles nomes, ou qualquer outro; subsistiria o mais terrível dos atributos, sempre. O que trazia nas mãos, nelas teria de seguir.
Se a mitologia penetrante e luminosa da Paris de Hemingway não é mais reproduzível, Vila-Matas acaba por conceber um tipo de mitologia pessoal e específica sobre seu romance de estréia.
Ninguém em sã consciência decide ser escritor para que um dia lhe roubem suas idéias e façam o que quer que seja com elas.
Preso no ano de 1939, depois da vitória de Franco, Miguel Hernández escreve no cárcere seus poemas mais intensos, frutos da experiência da injustiça, da morte e da ausência.
Ao deixar um pouco de lado a trama principal para enveredar por um desses caminhos secundários e quase sempre tortuosos, Durrell revela toda sua competência como ficcionista.
Os grandes mestres compõem um subtexto hitchcockiano, com violinos ao fundo, para o leitor. Eles deixam a dúvida e não a certeza. Em vez de “será que é a pessoa X”, o leitor fica se perguntando “será que essa pessoa existiu ou foi só muito bem-inventada?”.
Se os antigos, em pastorais de telas e sinfonias, exultavam de retratar o alívio explosivo das cores a brotar, os modernos têm a ousadia insolente de desmerecer as rosas, reduzidas a atavio.
A Catalunha está no auge de sua prosperidade, pois domina o Mediterrâneo. Mas esse poderio comercial não esconde as marcas de uma sociedade profundamente estratificada.
A exposição nos permite questionar os códigos morais ou o que parece se estabelecer como moralmente aceitável, a partir dessa literatura que vai justamente pesquisá-los, como, por exemplo, o Marcel Proust de Sodoma e Gomorra e o drama dos “invertidos”.
Para Górki, o bravo homem russo é aquele que vive plenamente o real, que coloca a mão na massa, e que o intelectual nada mais faz que concluir o que, em realidade, o homem que vive plenamente o real já concluiu, passando por dissabores e fazendo, ele mesmo, a História.
Alguns poderiam dizer que saber toda a história antes de escrever tira toda a graça da escrita. Mas literatura policial é um troço assim. É um artesanato com uma técnica.
Os detetives Espinosa e Mandrake, aquele mais do que este, são conseqüência de uma necessidade de auto-afirmação que ainda permeia a literatura de entretenimento no Brasil.
Percebo que não conheço São Paulo. Acredito que ninguém conheça. Pois a cidade não se deixa conhecer. Como se precisasse esconder o rosto, ela abafa a própria voz natural, uma vibração produzida a cada instante pelo flutuar de seus habitantes.
Citar é estar de tal forma na literatura que só a própria criatividade não é suficiente, deve-se buscar ferramentas criadas por diferentes autores, desconstruir pensamentos e identificar até migalhas espalhadas que ainda não haviam sido vistas.
“Freud e o estranho – contos do inconsciente”, mesmo sendo irregular, não deixa de ser interessante. Em primeiro lugar, pela caprichada apresentação do volume, com notas bastante explicativas acompanhando os contos, além de comentários reunidos ao final do volume.
De que matéria, afinal, é feita a ficção — Górki parece perguntar — e por que ela o cativa de maneira tão impressionante e, ainda, por que o que é ficcional pode ser tão belo, apropriado, sublime e, por vezes, inapropriado, já que não se cola ao real?
Um país de não-leitores
Em 2002, um quarto da população brasileira com mais de 10 anos de idade tinha menos de quatro anos de estudos completos: 32 milhões de analfabetos funcionais. Estatisticamente, o brasileiro não estuda, e quem não estuda não lê
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A fantástica fábrica de salsichas
O curso de P. E. também realiza visitas guiadas a editoras. Essa, sim, foi a parte mais empolgante do meu treinamento de agente secreta (com licença, sofro de imaginação galopante): me infiltrar no terreno inimigo e desvendar seu modus operandi
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Sob a luz de Matisse
“O autêntico criador não é apenas um ser dotado, é um homem que soube ordenar em vista de seus fins todo um feixe de atividades, cujo resultado é a obra de arte.” – Henri Matisse
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Os cheiros da terra
Que a terra na França exale um perfume rústico e irresistível quando chove sobre ela, admito com prazer. Mas empenho minha palavra como não é igual ao que inspirei nesta manhã em Guarulhos e experimentei tantas vezes, em inúmeros recantos do país
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Que a terra na França exale um perfume rústico e irresistível quando chove sobre ela, admito com prazer. Mas empenho minha palavra como não é igual ao que inspirei nesta manhã em Guarulhos e experimentei tantas vezes, em inúmeros recantos do país.
Em 2002, um quarto da população brasileira com mais de 10 anos de idade tinha menos de quatro anos de estudos completos: 32 milhões de analfabetos funcionais. Estatisticamente, o brasileiro não estuda, e quem não estuda não lê
A organização caótica da narrativa passou, em dado momento, a dispersar minha atenção. Chega uma hora em que belas figuras de linguagem e descrições primorosas tornam-se insuficientes para cativar um leitor que preza uma condução mais segura da história.
Publicado pela primeira vez em 1960, na Inglaterra, “Beijo”, de Roald Dahl, é formado por onze contos em que prevalece o tom sombrio, com detalhes do cotidiano que, aos poucos, constroem um clima de suspense e terror.
Quando encontro uma literatura feita a partir de certo surrealismo fantástico, ela tende a me agradar muito mais. João Paulo Cuenca mergulha nessa classe com maestria.
É interessante notar a maestria do autor em elaborar ficcionalmente e em detalhes as suas memórias daqueles anos, sem deixar de dar-nos um painel, ainda que muito sutilmente, do modo de viver do russo, do “homem comum”, no século 19.
Imagine, quanta identificação, quanta empatia, quando o povo soubesse que o presidente é tão normal, "como todo mundo", que foi até traído pela mulher! Mas, estranhamente, houve pouco mais do que alguns comentários chistosos, nos botecos e nos cartuns, sobre o "reizinho corno". E o assunto morreu.
Com mais de cem mil exemplares vendidos na Espanha, traduzido na Alemanha, França, Itália, Holanda, Sérvia, Israel e Romênia, e às vésperas de ser transformado em filme, "Os girassóis cegos" passou despercebido da grande imprensa.
Nenhum escritor está disposto a se colocar como um escritor menor, um mero escritor de literatura de entretenimento. Dos poucos escritores brasileiros de literatura policial, a maioria ainda pretende se colocar uma importância que não deveria ter.
A partir deste número, damos início a uma seção de tradução de poesia e prosa em língua inglesa, coordenada pela jornalista e tradutora Marina Della Valle marina_dellavalle@yahoo.com.br.
O que caracteriza o conjunto de ensaios de J. K. Huysmans é a alternância entre a militância inicial ao lado da pintura impressionista, dos salões dos independentes ou de vários artistas e o caminho religioso que o faria aproximar-se da pintura de Fra Angelico ou de Mathias Grünewald
João Antônio alega ter buscado firmar um compromisso com o leitor brasileiro, o qual procurou conhecer a fundo, a fim de desmistificar a sentença de que “não temos leitores”.
Os que conhecem a autora americana Janet Malcolm sabem que não encontrarão em ’Two lives – Gertrude and Alice’, seu último livro, uma biografia no sentido estrito da palavra.
O escritor é o leitor que acompanha detalhadamente cada passo de um texto e cabe a ele decidir os rumos — mesmo que depois os encontre errados — de sua criação.
Sem colocar seu detetive no divã, Garcia-Roza conseguiu, de livro a livro, criar uma figura carismática capaz de comportar questões graves de maneira bastante verossímil.
Cynthia Cruttenden mobiliza sol e lua para construir um mito quase de fecundação. Keiko Maeo encena a descoberta e o crescimento sensorial do homem.
Há tradutores por aí que, por falta de humildade ou excesso de preguiça, recusam-se a abrir qualquer dicionário. Mesmo os eletrônicos. Eles sabem tudo, e o que não sabem, podem adivinhar. Ou inventar.
São os orientais, hoje, que não respeitam nada do que já há; pensam no que ainda haverá, e interpretam o presente como mera matéria-prima, tão bruta e maleável como a areia da praia.
A escassez da obra de Porchia é uma decorrência natural, necessária, da sua capacidade de condensação: uma única voz parece requerer uma eternidade de silêncio e meditação.
Assim Assis Brasil se mostrou em seu romance: mantendo um ritmo sensatamente emocionante do começo ao fim, com a honesta prioridade não de impactar, mas de ser fiel ao texto, ao tom de narração escolhido.
Que o leitor mais exigente não se engane: há, em tais best-sellers, algo que cativa e que aparece justificado num fazer literário que, não sendo fruto da mente de gênios da literatura, ainda assim, tem o seu lugar.
"As provas da existência do inimigo interior são imensas e as de seu poder esmagadoras. Creio no inimigo porque, todos os dias e todas as noites, eu o encontro em meu caminho. O inimigo é aquele que, do interior, destrói o que vale a pena. É aquele que lhe mostra a decrepitude contida em cada realidade."
Amélie Nothomb, Cosmética do inimigo
Ao dar o título do seu livro a uma personagem obscura e que pouco aparece na narrativa, o autor sugere uma visão sobre o lugar que a literatura possui nos dias de hoje.
Para um escritor com ambição total, a busca por todos os leitores possíveis não implica condescendência ou simplificação; ao contrário, ela implica excelência e versatilidade
No romance Uma questão de loucura, Ismail Kadaré empresta ao narrador aguda capacidade de observação e de fantasia, para recuperar, como em outras obras, a história da Albânia
Nos poemas aqui traduzidos, inéditos no Brasil, Yves Bonnefoy fala de um eterno renascer, contra os desígnios da morte e do esquecimento.
A edição bilíngüe de "O olho imóvel pela força da harmonia", seleção de poemas de Wordsworth, traz, pela primeira vez em português, trechos do prefácio ao livro Lyrical ballads, volume escrito por Wordsworth e Coleridge, considerado um marco do Romantismo nas letras inglesas
Nem o mais aloprado dos econometristas haverá de encontrar traços de eficiência no ato de mandar cento e sessenta policiais (escrevo por extenso para aumentar o impacto) para combater uma pequena, digo mais, minúscula greve de estudantes.
Até que ponto é possível reduzir o gênero policial a um punhado de características?
Entre o romantismo e a modernidade
Em contraste com a sintaxe e o léxico sonoros e altissonantes das obras de Espronceda e Zorilla, os poemas de Bécquer apresentam uma linguagem depurada e concisa
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Dois poemas
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Sabores, cheiros e cores
"O homem tinha (eu achava) cara mesmo de pescador: faces descarnadas, secas de sol, a barba cinzenta e rala encompridando o bigodão. Enfiados nos braços, os cestos de vime: gingando no passo dele, tampas saltando, os peixes querendo fugir, voltar ao Guaíba, ao Taquari – nadar"
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A essência esquecida
Se o crítico é o maior defensor da literatura, ele tem o dever de saber que o melhor livro já escrito não vai cair em suas mãos nesta vida.
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Em A estrada não há gratidão ou reconhecimento, mas apenas o impacto causado pelo encontro entre seres de uma raça que se aproxima da extinção, num pessimismo similar ao de Samuel Beckett.
"O corpo de um matemático de renome, professor de cursos disputados, pesquisador das equações mais abstrusas, foi encontrado sentado em seu gabinete, a cabeça sobre uma pilha de papéis, os olhos arregalados, fixos, a boca escancarada, os dedos ainda apertando a caneta"
As histórias de Karen Blixen – em Sete narrativas góticas – negam as obviedades da tradição que evocam no título. Antes, sugerem novas sombras, disfarces e duplos. A começar por aquele que é o grande tema do livro, a identidade. [3]
O perfeito bibliotecário
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Sutilezas entre ocultar e dizer
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Percepção de méritos
Quem julga um texto pela personalidade do escritor é incapaz de construir um argumento para sustentar boas idéias.
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Clarice Lispector: uma escrita indigesta
Em Clarice, os traços convencionais da narrativa são refundidos numa escrita não raro dura de roer, principalmente para leitores desabituados aos fluxos de consciência, às tramas pouco lineares, a espaços fragmentários, às fusões entre narrador e objetos descritos, à mistura de gêneros.
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Quem julga um texto pela personalidade do escritor é incapaz de construir um argumento para sustentar boas idéias
Em Clarice, os traços convencionais da narrativa são refundidos numa escrita não raro dura de roer, principalmente para leitores desabituados aos fluxos de consciência, às tramas pouco lineares, a espaços fragmentários, às fusões entre narrador e objetos descritos, à mistura de gêneros.
A ficção literária ainda coloca grandes desafios para os cineastas e, assim, guarda potencial para inspirar boas surpresas, direta ou indiretamente.
Ainda temos pela frente o Natal, o Ano-bom, o Carnaval; mas meu sonho é com o mês de abril, das cerejeiras em flor, das tulipas maiores do que meu punho, da reabertura dos jardins, que acolherão os piqueniques e os violões.
Após anos de silêncio, as cartas do poeta Ted Hughes são uma rara chance de conhecer seu lado da história que terminou com o suicídio de Sylvia Plath.
É exatamente isso que também faz do grande escritor um grande leitor. Acredito ser o espírito da profissão: a busca pelo conhecimento infindável da língua, para que a pessoa possa se expressar de todas as formas possíveis e atingir as improváveis.
Espiei a janela. Voltei-me para o editor de texto e pousei as mãos sobre o teclado. Ouvia as batidas do meu coração. Delírio!
Lançado Na praia, novo romance de Ian McEwan. Com uma narrativa inicialmente fluente e interessante, o texto escorrega para o tédio quando o autor faz uso, num primeiro momento, do recurso da digressão.
para a Dri
São 42 pequenas entrevistas. Profundas, às vezes. Deliciosas, sempre. Fui direto às minhas predileções e curiosidades.
Estrangeiro em tudo e todos. O autor incursiona pelo encanto sombrio da Cidade Luz, onde seus sentimentos mesclam-se de forma sinestésica e paradoxal entre o medo e o fascínio diante da outra face de Paris
O que penso ser preciso para escrever (e ler) é que jamais se deve abandonar as próprias marcas em nome de um conforto que, na verdade, não existe fora delas
O editor da seção anuncia: “a cada semana, uma nova edição, para reverenciar a literatura – ou, antes dela, a Palavra”
Isa Fonseca analisa autora norte-americana que se suicidou em 1962, aos 31 anos, semanas após escrever um dos grandes romances século 20
"No rádio, tocou Sampa, justamente quando eu cruzava a esquina da São João. Nenhuma coisa aconteceu no meu coração"
[1] O texto do título foi extraído do livro São Paulo, a cidade literária, do próprio Mauro Rosso, publicado em 2004 e próximo de ser reeditado.
[2] Este artigo é um fragmento – especialmente preparado pelo autor para esta edição do Palavra – do livro Manuel Bandeira e a música: com três poemas visitados, que Pedro Marques lançou recentemente pela Editora Ateliê, em co-edição com a FAPESP.
[3] O título dessa resenha é uma referência ao conto de Jean Lorrain, chamado precisamente de “Os buracos da máscara” e que pode ser lido em Contos fantásticos do século XIX, escolhidos por Ítalo Calvino. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.