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Vinte e cinco anos depois de despontar no Brasil, a cultura hip-hop está bombando como nunca. Ligou-se ao showbizz, mas é capaz de manter, mesmo assim, seus princípios e essência. É claramente periférica. Dez eventos a celebram, a partir deste fim de semana, em São Paulo
Como alternativa à anestesia da música bem-comportada, artistas e grupos como D’, La Rumeur e Keny Arkana propõem crítica social, resistência e resgate de direitos. Fincados nas periferias "problemáticas" e ligados à migração, eles não recuam nem diante dos boicotes, nem da censura
Mídia tradicional multiplica referências a Machado e a Rosa, rendendo-lhes homenagens previsíveis e banais. Coluna destaca outro centenário: o de Solano Trindade. Poeta, dramaturgo, ator e artista plástico, ele cantou a dignidade, as lutas, amores e dores dos negros e dos que vivem do trabalho
Vamos fazer de conta que esses três jovens são brancos e da classe média. Vamos abraçar a Lagoa Rodrigo de Freitas, usar fitinha branca. Chama a Hebe, a Ivete. Ué, cadê todo mundo, porra? Quando morre pobre ninguém quer... E o silêncio é mais covarde e violento do que bala de fuzil
Tragicamente simbólicos, os assassinatos da Previdência põem a nu o que a República brasileira tem de pior. Os jovens mortos habitavam um morro que evoca Canudos, e do qual surgiu o próprio termo favela. O episódio revela a persistência do apartheid social — que a mídia se empenha em disfarçar...
Um evento em São Paulo, um site inusitado e dois filmes ajudam a revelar a vida e cultura destes personagens de nossas metrópoles. Sempre oprimidos, por vezes violentos, eles vivem quase todos na periferia, são a própria metáfora do caos urbano e estão construindo uma cultura peculiar
São Paulo saúda, a partir de 27/3, o grafite. Surgido nos anos 70, e adotado pela periferia no rastro do movimento hip-hop, ele tornou-se parte da paisagem e da vida cultural da cidade. As celebrações terão colorido, humor e barulho: contra a prefeitura, que resolveu reprimir os grafiteiros
Cada vez mais presentes nas grandes metrópoles, os hiper-arranha-céus tornaram-se simbolos do capitalismo pós-moderno. Concentradores e poluentes, eles são expressão de um sistema que despreza o ambiente e precisa demonstrar, também na arquitetura, poder e desigualdade
Num texto preconceituoso, jornal de São Paulo "denuncia" agito na periferia e revela: para parte da elite, papel dos pobres é trabalhar pesado. Duas festas são, no feriado, opção para quem quer celebrar direito de todos ao ócio, à cultura, à criação e aos prazeres da mente e do corpo
Às margens da represa de Guarapiranga, Varal Cultural é grande mostra de arte da metrópole. Organizado todos os meses, revela rapaziada que é crítica, autogestionária, cooperativista e solidária — mas acredita em seu trabalho e não aceita receber migalhas por ele
Apresentamos quatro propostas muito concretas contra a devastação do planeta. Por trás delas, uma reflexão: a defesa do ambiente exige mudanças individuais de atitude — mas elas só produzem efeitos reais quando também resultam em políticas que alteram hábitos coletivos de consumo
Lançado no Rio, movimento para atrasar o imposto abre debate entre a esquerda. Para Elizabeth Carvalho é um sinal de vida na cidade, e pode evoluir para a reivindicação do Orçamento Participativo. Alexandre Mendes rebate: "a nobreza carioca teme a emergência da periferia — e quer barrá-la"
Não é contra o prefeito que se volta a grita dos mais ricos. Diante das ocupações de prédios abandonados, da luta pela urbanização das favelas e de acesso dos bairros pobres aos serviços públicos, eles reagem exigindo estratificação, ordenação e hierarquização dos territórios produtivos
Ao unir todas as regiões da cidade, o movimento pelo atraso no pagamento do IPTU é uma resposta poderosa à arrogância do prefeito César Maia. Mas precisa evoluir, para não ser cooptado por oportunistas. Uma boa alternativa pode estar no Orçamento Participativo
Há uma década, os Racionais lançavam Sobrevivendo no Inferno, seu CD-Manifesto. O rap vale mais que uma metralhadora. Os quatro pretos periféricos demarcaram um território, mostrando que as quebradas são capazes de inverter o jogo, e o ácido da poesia pode corroer o sistema
Programação completa da Semana de Arte Moderna da Periferia
Semana de Arte Moderna da Periferia começa dia 4, em São Paulo. Programa desmente estereótipos que reduzem favela a violência, e revela produção cultural refinada, não-panfletária, capaz questionar a injustiça com a arma aguda da criação
Proposta: lançar, na cidade mais individualista e caótica do país, um movimento de ecologia urbana, capaz de questionar a civilização do automóvel e abrir debate sobre políticas que permitam uma existência digna
No templo do capitalismo brasileiro, um movimento age para superar o desencanto com a política afirmando a autonomia da sociedade civil frente ao mercado e ao Estado. Seu primeiro desafio: questionar o automóvel, a mercadoria que melhor simboliza as relações sociais alienadas
Nove meses após as explosões de 2005, uma reflexão contesta análises preconceituosas da direita e da esquerda e sugere: o levante dos jovens pode ser caminho para uma integração social menos hipócrita
Pesquisa entre professores expõe os mecanismos da segregação escolar e da geração de racismos nos bairros e colégios pobres. Proposta: para fazer valer os valores da escola única, seria preciso estimular a diversidade de soluções organizativas
A tentativa de criminalizar a revolta popular e armar contra ela uma grande coalizão conservadora tem precedentes. Desde os anos 60, a direita norte-americana serve-se deste expediente, para esvaziar a democracia e transformá-la em um rito oco
Adotadas a pretexto de preservar a paz civil, as medidas de repressão e vigilância impostas pelo governo francês esgarçarão ainda mais um tecido social já frágil. Cada cidadão é convidado a ver no próximo um inimigo em potencial
Um olhar em profundidade sobre o desabamento das velhas relações sociais nas periferias, a criminalização da pobreza e a busca, pelos jovens, de novas formas de identidade. Um alerta: é preciso recriar um projeto de transformação, para que crise não vire pretexto para retrocessos
Não basta condenar a atitude grosseira da direita e seu novo símbolo – o ministro do Interior Nicolas Sarkozy. Para dialogar com o mundo dos imigrantes, quem sonha com a transformação social precisa estar disposto a rever visões de mundo e formas de agir
Depois do Iraque, o grande negócio da reconstrução entra em ação em Nova Orleans. Desta vez, para “purificar” a cidade de sua população negra e pobre
Moradias coletivas e precárias, refúgios dos sem-teto, sem-lenço e sem-documento, eles são, ao mesmo tempo, centros de associação, aprendizado e dignidade
Tornar a luta contra a delinqüência urbana um perpétuo espetáculo moral – como querem policiais e políticos ávidos por explorar o problema - permite reafirmar simbolicamente a autoridade do Estado, justamente no momento em que se manifesta sua impotência na frente de batalha econômica e social
Com o aumento da população carcerária em vários países, estabelecimentos penitenciários e até seus serviços de vigilância engordam as contas bancárias de grandes grupos privados, enquanto aumenta o número de denúncias de maus-tratos contra os presos
Entre dez milhões de pessoas que ocupam os dez bairros urbanos do centro da metrópole chinesa, 2,5 milhões já perderam suas casas depois dos anos 1990. Hoje, o barulho das pás cobre a voz dos expropriados
Produto de exportação da cultura norte-americana, jovens delinqüentes salvadorenhos, sem perspectiva de vida, se espalham pela periferia de San Salvador, se dedicando a pequenos crimes e, sobretudo, a uma guerra cujo único objetivo é destruir a gangue rival
Única metrópole indiana, Bombaim exerce uma atração mítica por ser o centro financeiro e econômico do país. Mas nesse pesadelo demográfico, onde encontra-se champanha pagando o preço – três vezes o salário da classe média – não se tem água potável para beber
Nos últimos trinta, o governo norte-americano vem cortando progressivamente as verbas destinadas à habitação social. A justificativa é desconcertante: a necessidade de limpar bairros insalubres, onde famílias carentes vivem isoladas do resto da cidade
Conseqüência direta de uma mutação demográfica (imigração), do desemprego e da exclusão social, surge, na França, uma nova elite urbana, que vive em verdadeiros ’bunkers’ para classe média alta: são os “guetos para ricos”...