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Rotulando todo e qualquer conflito na região como um confronto global entre o Bem e o Mal, a política neoconservadora dos Estados Unidos estabeleceu vínculos antes inexistentes entre crises locais, municiou o fanatismo islâmico e criou o maior foco de instabilidade do planeta
As divergências no interior do stablishment norte-americano tornam-se agudas, num sinal de que a guerra contra o Iraque pode ter revelado as debilidades do exército e, ainda mais grave, devastado a "legitimidade mundial da América"
Entre sua origem, nos anos 1990, e hoje, a rede terrorista mudou o perfil de seus adeptos, revela Laurence Wright neste trecho de O vulto das Torres
Contra todas as evidências, o governo Bush e alguns intelectuais europeus procuram identificar movimentos e governos islâmicos como próximos a Hitler ou Mussolini. Há oportunismo e planos de guerra por trás desta imprecisão
Defensor de idéias como a “transferência” dos árabes israelenses para a Cisjordânia, o vice-premiê Lieberman representa um setor da elite que desconhece a democracia. Após o fracasso do ataque ao Líbano, esta fração apela para militarização ainda mais profunda do país
A entrada de um extremista no governo de Telavive atiça, no Oriente Médio, as forças mais capazes de desencadear, a partir da região, um conflito de dimensões mundiais
A idéia de choque de civilizações, freqüentemente retomada para explicar os conflitos entre ocidente e oriente, vê os mulçumanos como uma cultura petrificada
Com a “guerra contra o terrorismo” e o “choque entre civilizações”, as divisões deixam de ser entre fortes e fracos, entre os opulentos e os deserdados e passem a ser entre “eles” e “nós”. Ou seja, a “luta de classes” dá lugar à bandeira da “luta contra o Outro”, um conflito eterno e sem solução
Como o trabalhador do século XIX, o muçulmano é, atualmente, considerado muitas vezes com uma mistura de medo e desprezo. E os EUA representam para o terrorista da Jihad o que o Estado burguês era para seu predecessor anarquista: o símbolo da arrogância e do poder
As aventuras literárias nos colocam diante da questão crucial: como pensar a forma de totalitarismo nova que se sente apontar, ao mesmo tempo que a liberdade parece ser o paradigma supremo
O controle social não é mais visto como relação política de dominação e sim como elemento necessário e bem aceito por cidadãos que a ele se submetem voluntariamente
Por suas alianças, interesses, influência ideológica, relações de família, de cultura ou de religião, o conflito entre palestinos e israelenses já estava presente no mundo externo. Inserida no contexto pós-11 de setembro, esta questão tornou-se mais universal e perigosa para o mundo, ao ser desfigurada no lógica do “choque de civilizações”
Ateando mais fogo à intolerância, membros da comunidade judaica da França apelam para difamação, tachando de anti-semitas jornalistas e pesquisadores insensíveis ao charme do primeiro-ministro Ariel Sharon, como o sociólogo Edgar Morin
A degradação da situação da Palestina torna-se terreno fértil para a até então marginal propaganda anti-semita no mundo árabe, suscitando inclusive o renascimento do panfleto czarista “Protocolos dos Sábios do Sião”
Ao privilegiar a estabilidade, a ordem e a autoridade, obra de 1968, tratada como clássico da ciência política nos Estados Unidos, deixa clara uma concepção de democracia bastante distante do modelo alardeado pelos norte-americanos
As forças da coalizão não só trucidaram e humilharam o povo e a cultura do Iraque, mas esbofetearam a civilização ao permitir os saques e o vandalismo no Museu Nacional. O legado iraquiano perdido nesta guerra pertencia a toda a humanidade
Em 1995, o cidadão Daniel Pipes, hoje assessor de Bush, acusou os islamitas de terem perpetrado o mega-atentado de Oklahoma. Os atentados de 11 de setembro o transformariam em profeta. Seu pai já contribuíra para criar o “Império do Mal”
Hoje como ontem, a Casa Branca não tem interesse na volta dos inspetores, mas num pretexto para uma aventura militar que pode acentuar ainda mais o fosse que separa o mundo muçulmano do Ocidente
Embora apoiando a Convenção sobre Armas Biológicas, o presidente Clinton sucumbiu às pressões das indústrias biotecnológicas e farmacêuticas. Em resumo, somente uma fração das instalações de defesa biológica norte-americanas podia ser inspecionada
Dois anos após a eleição do presidente Mohamed Khatami, o Irã continua dividido. A essência da disputa entre reformadores e conservadores é o cenário interno, o lugar do islã e das suas relações com a política. O desfecho dessa luta determinará o futuro do país, e terá profundas repercussões em todo o mundo muçulmano.